quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Memória: O professor Alvernaz e o ambiente



Através do Correio dos Açores do passado dia três de Setembro, tomei conhecimento do falecimento do professor João Brum Alvernaz ocorrido a 3 de Agosto.
Conheci o professor João Alvernaz, em 1984, e com ele conversei inúmeras vezes, enquanto ele ocupou o cargo de Director da Casa da Cultura de Ponta Delgada, sempre que me deslocava às instalações daquele organismo localizadas na Rua Luís Soares de Sousa, em Ponta Delgada, a solicitar apoio para diversas publicações editadas pelo então núcleo dos Açores dos Amigos da Terra.
Foi graças ao seu bom acolhimento e ao apoio financeiro da Casa da Cultura de Ponta Delgada que foram editadas as primeiras brochuras, o boletim dos Amigos dos Açores “Zimbro” e implementados alguns dos projectos.
Na sequência bom relacionamento que com ele mantinha, por sugestão minha acolhida pela Direcção dos Amigos da Terra, o professor João Alvernaz presidiu, nas instalações da Casa do Povo do Pico da Pedra, no dia 5 de Junho de 1988, Dia Mundial do Ambiente, ao acto inaugural da instalação de um Jardim de Flora Indígena dos Açores que entretanto, por razões diversas, não foi bem sucedido.
Mas não eram apenas as questões ambientais que sensibilizavam o professor Alvernaz. A sua abertura de espírito fez com que, em 1985, fosse possível a minha deslocação e a dos alunos Pedro Raposo, Paulo Oliveira e Ricardo Cabral, da Escola Secundária Antero de Quental, ao continente para participar nas Olimpíadas de Física, onde obtiveram o primeiro lugar a nível nacional. Sobre este evento recebi da sua parte um ofício de felicitações, onde a dado passo se pode ler: “venho com sentido regozijo e muito sinceramente felicitar V. Ex.ª e os Jovens e briosos elementos que tornaram possível este êxito. Mais informo V. Ex.ª que dentro de tudo quanto nos for possível, estamos à vossa inteira disposição para ajudarmos à realização de iniciativas idênticas ou mesmo outras.”
Também em 1985, na sequência da edição pelos Amigos da Terra de uma brochura sobre a Filarmónica Lira Camponesa, da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, o professor João Alvernaz pensou publicar um boletim dedicado a cada uma das filarmónicas da ilha de São Miguel. Para o efeito, solicitou o meu apoio, tendo passado uma declaração de cujo teor, constava o seguinte: “confirmo que encarreguei o nosso colaborador […] da recolha de elementos e dados históricos e socioculturais junto das Direcções de cada uma das filarmónicas micaelenses”. O muito trabalho que tinha na escola, em início de carreira, e o meu crescente envolvimento nas questões ambientais fizeram que o projecto não passasse do papel.
No ano seguinte, 1986, foi o professor João Alvernaz que apoiou, a Comissão Coordenadora das Comemorações dos 150 anos de Elevação do Pico da Pedra a Freguesia, na reedição das Memórias do Pico da Pedra, importante obra do Padre António Furtado de Mendonça, que havia sido publicada, no início do século XX, em três números da “Revista Michaelense”.
O recurso ao Director da Casa da Cultura deveu-se, segundo a referida Comissão, ao facto daquele ser “pessoa sensível à preservação do património cultural e sua divulgação”. Como naquele tempo o dinheiro não abundava, o apoio traduziu-se na montagem e impressão do livro pelo pessoal ao serviço da Casa da Cultura e nas instalações desta.
Foi ainda o professor Alvernaz que, em 1988, apoiou a edição, pelos Amigos da Terra/Açores (designação no núcleo dos Açores dos Amigos da Terra apões a sua legalização como associação regional), da Monografia do Pico da Pedra escrita por Gilberto Bernardo.
Através das declarações recentes do Dr. José de Almeida confirmei que o professor Alvernaz foi um defensor da independência dos Açores, pois a mim nunca o transmitiu nem nunca me perguntou qual a minha opção relativamente ao assunto nem qual a minha posição ideológica ou partidária.
Com certeza pressentiu que, tal como ele, pensava pela minha cabeça.

Teófilo Braga