quinta-feira, 1 de setembro de 2011

LAGOA DAS FURNAS: INFORMAÇÃO E PROPAGANDA



1- Os primeiros passos
Em Julho de 1988, pela mão da então denominada associação “Amigos da Terra” foi pela primeira vez denunciado publicamente o facto de algumas lagoas de São Miguel, nomeadamente a das Furnas e a das Sete Cidades, apresentarem sintomas de eutrofização. Na ocasião aquela organização apelou a diversas entidades governamentais ou não para que unissem esforços com vista à “implementação de acções de carácter técnico, formativo e informativos tendentes a melhorar o cada vez mais degradante estado da água de algumas das nossas lagoas”.
Por aquela altura tomei conhecimento da existência de um estudo da bacia hidrográfica da Caldeira das Sete Cidades, da autoria da Engª do Ambiente Regina T. da Cunha que apontava um conjunto de medidas para a recuperação das lagoas, “cuja aplicação ordenada e adequada importa iniciar, logo que possível, numa atitude de responsabilidade perante o lamentável e degradante estado das águas daquelas lagoas”.
O apelo lançado pelos Amigos da Terra caiu em saco roto pois nenhuma das entidades contactadas (SRES, SREC, Universidade dos Açores, Câmaras Municipais, Associações de Agricultores/Lavradores, ACRA, Associações Culturais e Recreativas e Associações de Escuteiros) se deu trabalho de dar qualquer resposta ao ofício enviado.
A 20 de Agosto de 1988, o jornal Açoriano Oriental publica um texto da Secretaria Regional do Equipamento Social que refere que havia solicitado ao Departamento de Ciências e Engenharia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa uma avaliação do estado trófico das lagoas das Furnas, Sete Cidades e Fogo e que só após a realização do estudo poderia “equacionar medidas preventivas e/ou curativas para o controlo a curto e a longo prazo da eutrofização”.
Tendo em conta que ou as medidas não passavam do papel ou não surtiam quaisquer efeitos, em 1992, surge o movimento SOS LAGOAS que apareceu publicamente com o lançamento de um abaixo-assinado onde, depois de considerar que o estado de eutrofização das lagoas era um fenómeno comprovado há mais de uma década, apelava para que a marcha dos acontecimentos fosse invertida e que para tal no orçamento da Região para o ano de 1993 fossem afectadas verbas realistas e compatíveis com a gravidade do problema.
2- A situação actual
Hoje, um quarto de século depois de detectado o problema, depois de resmas de estudos e de milhões de euros investidos a situação aparentemente parece que não se alterou. E em vez de, pedagogicamente, se explicar o que se passa ou informar devidamente os cidadãos, continua-se a tentar tapar o sol com uma peneira ou a atirar poeira aos olhos de quem mais se preocupa.
Assim, considero que se devia explicar o que efectivamente se está a fazer, o que tem sido bem sucedido e o que tem falhado.
Por exemplo, eu que não sou dos mais mal informados, ainda não percebi bem qual foi o resultado da “campanha de apanha de carpas” na Lagoa das Furnas. Foi um fracasso ou tratou-se de uma investigação da qual se tiraram os devidos ensinamentos? E quais?
Quando alguém se preocupa com o estado (coloração) das águas das lagoas, em vez de uma explicação surge, por um lado uma justificação – a responsável é peça da máquina que está avariada - ou a desvalorização, isto é o fenómeno não tem qualquer importância.
E para por um ponto final no assunto, a frase mágica é sempre a mesma: já investimos tantos milhões de euros/escudos. Pura poeira, já que uma coisa é a execução financeira outra coisa é o facto de as verbas terem sido bem aplicadas. No caso da Lagoa das Furnas, foram as verbas usadas no combate à eutrofização ou uma parte dela serviu para a construção de edifícios ou outros acessórios?
Hoje, é com alguma satisfação que vejo que a luta começada no século passado não terminou pois está a ser divulgado um apelo para uma presença na Lagoa das Furnas no próximo dia 11 de Setembro.
Embora me pareça que falta alguma “organização” ao “movimento”, faço votos para que até ao referido dia seja preparado um evento que, para além de permitir um são convívio aos que lá forem, constitua uma manifestação inequívoca de defesa de um património que é de todos nós.
Sabendo-se que há conhecimentos mais do que suficientes para a resolução de problemas ambientais, como o da eutrofização, por que razão não são resolvidos?
Porque, por mais confissões de ambientalismo, de amor ao património natural ou de adesão ao desenvolvimento sustentável se façam, o que continua a fazer mover o mundo é a crença no não esgotamento dos recursos naturais e no crescimento contínuo da economia, esquecendo-se de que “não há interesses particulares – nem direitos de propriedade nem lucros – que se sobreponham aos direitos humanos a um ar limpo, a uma água limpa e a uma atmosfera que permita a continuação da vida na Terra” (Walter Cronkite).

Teófilo Braga