terça-feira, 20 de agosto de 2013

TOURADAS E GOLPE DE CALOR




TOURADAS E GOLPE DE CALOR

A energia térmica presente no organismo de um animal homeotérmico (de temperatura constante), como o bovino, é na sua maior parte gerada pelos processos metabólicos (da contracção muscular no exercício físico e outros) e o resto é procedente do meio ambiente, por meio da radiação (solar e outras).
Quando a temperatura ambiente sobe acima de 29°C, a via de perda de calor mais eficiente será por evaporação (transpiração e respiração) sendo responsável, por exemplo, em bovinos a 85% das perdas de calor. Esse tipo de perda é dependente da humidade relativa do ar.
O mecanismo físico de termólise (para evitar o sobre aquecimento e manter a temperatura do corpo constante) considerado mais eficaz é por evaporação. Porém, em ambientes muito húmidos, a evaporação pode tornar-se muito lenta ou nula.
Se a região for húmida (Açores), a perda de calor por evaporação será prejudicada, proporcionando um elevado stress calórico.
A perda de calor latente por evaporação através das glândulas sudoríparas é um dos mecanismos de adaptação ao stress calórico em bovinos, ovinos, equinos, caprinos e bubalinos (família a que pertencem os búfalos). Quando um animal é submetido a altas temperaturas, ocorre um aumento da circulação sanguínea para a epiderme, proporcionando uma quantidade adicional para as glândulas sudoríparas e estimulando a sua acção (transpiração).
A evaporação respiratória tem sido apontada como o principal mecanismo de termólise (para evitar o sobre aquecimento e manter a temperatura do corpo constante). Para perder calor por evaporação respiratória, o animal aumenta a sua frequência respiratória.
DESIDRATAÇÃO
Desidratação é a falta de água no organismo causada por falta de ingestão de líquidos ou perdas exageradas sem reposição (transpiração, respiração, diarreias , insolação).
O transporte de nutrientes e a remoção de resíduos dos órgãos do corpo são feitos pelo sangue (essencialmente constituído por água) dentro dos vasos sanguíneos. A diminuição de volume diminui o transporte, provoca queda da pressão sanguínea levando a um quadro de choque (falta de sangue em todos os órgãos) . Se houver perdas acentuadas (diarreia) piora a situação pela perda de sais minerais (electrólitos).
Isto provoca um forte transtorno do estado geral, acompanhado de grande sofrimento, que pode levar à morte.
O mesmo se aplica ao gado bravo, antes e depois das touradas, inclusivé nas touradas à corda, onde desidratados ficam horas dentro de gaiolas ao sol, sem água, antes e depois de correrem e ficarem extenuados e aquecidos num vasto arraial de provocações e movimento.
Isto já levou a muitas mortes, que são escondidas pelos aficcionados.
É mais uma etapa do sofrimento a que os animais estão sujeitos na tauromaquia.
Achamos que isto deve ser investigado e divulgado.
Vasco Reis
BULLFIGHTING AND HEAT STROKE

(by Veterinary Doctor Vasco Reis) 


The thermal energy present in the body of an homeothermic animal (with constant temperature), is mostly generated by metabolic processes (of muscle contraction in the exercise and others) and the rest is coming from the environment, by means of radiation (solar and others).

When the environment temperature rises above 29° C, the most efficient heat loss is by evaporation (perspiration and breathing), being responsible, for example, in cattle to 85% of the heat loss. This type of loss is dependent on the relative humidity of the air.
The physical mechanism of thermolysis (to avoid overheating and to keep body temperature constant) is due mainly to evaporation.

However, in very humid environments, evaporation may become very slow.
If the region is humid (Azores), evaporative heat loss will be difficult, providing a high caloric stress.

The loss of heat by evaporation through the sweat glands is one of the mechanisms of adaptation to caloric stress in cattle, sheep, horses, goats and buffaloes.
When an animal is subjected to high temperatures, there is an increased blood flow to the skin, providing an additional amount to the sweat glands and that stimulates its action (perspiration).

Respiratory evaporation has been pointed as the main mechanism of thermolysis (to avoid overheating and to keep body temperature constant).
The respiratory rate increases when respiratory evaporative heat loss is needed for example by exercise.


DEHYDRATION

Dehydration is the lack of water in the body caused by lack of fluid intake or excessive losses without replacement (sweating, breathing, diarrhea, sunstroke, ...).

The transport of nutrients and removal of waste from the body organs are made by blood (essentially consisting of water) within the blood vessels.
The decrease of blood volume decreases transportation, causes the fall of blood pressure leading to a shock (lack of blood in all organs). If there are sharp losses (diarrhea) it worsens the situation because of the loss of mineral salts (electrolytes).
This causes a strong general organism disorder, accompanied by great suffering, which can lead to death.

The same applies to bovines, before and after of bullfighting, inclusive in bullfighting with the rope (tourada à corda, corrida à corda - Azores), standing hours under the Sun inside cages without water, before and after the intense run.
This has led to many deaths, which are hidden by the fans. 
It is just one more step of suffering to which animals are subjected in bullfighting.

It should be investigated and reported.


Vasco Reis

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Vila Franca do Campo no início do associativismo de conservação da natureza


Vila Franca do Campo no início do associativismo de conservação da natureza 
Parece que longe vão os tempos em que as associações ditas ambientalistas estavam no seu auge, quer em termos de ações no terreno, quer no que se refere à sua presença na comunicação social, tanto divulgando as atividades que iam realizando como denunciando situações anómalas.
Hoje, ao contrário do que seria de esperar por todos os que acreditavam que, com o decurso do tempo, a democracia seria cada vez mais participada e os cidadãos seriam mais ativos quer individualmente quer organizados em associações, cooperativas, etc., assiste-se a um definhar das mais diversas instituições que se vão mantendo graças à abnegação de muito poucos.
Há três anos escrevia que o movimento ambientalista nos Açores encontrava-se na fase da “instrumentalização e da prestação de serviços”. Esta fase foi marcada pela entrada do Partido Socialista para o governo, em 1996, a qual teve implicações positivas e negativas.
De positivo, destacou-se a colaboração entre as associações e a secretaria que tutelava o ambiente, tendo-se institucionalizado o financiamento público a todas as associações, o que criou condições para que estas crescessem em termos de implantação ou mantivessem as suas sedes abertas, como aconteceu com a Quercus.
A outra face, diria que negativa, foi a lenta transformação de algumas associações, que mantinham um perfil de intervenção mais político, em prestadoras de serviços, de que é exemplo a associação Amigos dos Açores, sobretudo com a gestão das Ecotecas de Ponta Delgada e da Ribeira Grande.
Outro aspeto negativo para as associações foi o esvaziamento de algumas delas, com a saída de alguns dirigentes que foram ocupar os mais diversos cargos quer no governo quer na Assembleia Legislativa Regional.
Infelizmente hoje, esta fase mantém-se e o esvaziamento parece que não foi estancado, assistindo-se à quase inatividade de grande parte das associações e as que se mantêm ativas têm as suas atividades reduzidas à componente recreativa ou à vertente desportiva.
Ao contrário do que por vezes se escreve, não foi o Centro de Jovens Naturalistas de Santa Maria nem a associação os Montanheiros as primeiras associações dedicadas à conservação da natureza nos Açores, mas sim o NPEPVS-DA-Núcleo Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem/Delegação dos Açores.
A associação “Os Montanheiros”, fundada em 1963, na ilha Terceira, tinha como objetivos iniciais a realização de atividades de ar livre e depois, durante muitos anos, a exploração de cavidades vulcânicas.
O Centro de Jovens Naturalistas de Santa Maria (CJN), cuja atividade foi mais intensa nas décadas de 70 e 80 do século passado, tinha, entre outros, como objetivos principais “iniciar os jovens nas coleções ou preparações com elementos diversos da História Natural”.

Foi sim o NPEPVS/Delegação dos Açores, que esteve em atividade em São Miguel, de 1982 a 1984, o verdadeiro herdeiro dos movimentos naturalistas surgidos no século XIX que se preocupavam com a evolução da civilização e pretendiam essencialmente preservar a natureza selvagem.

O NPEPVS/Delegação dos Açores que tinha, de acordo com os seus estatutos, como objetivo prioritário a proteção da natureza, em especial da fauna e da flora, teve a sua sede localizada na rua Padre Manuel José Pires, localizada na freguesia de São Pedro, pertencente ao concelho de Vila Franca do Campo.

Para a concretização daquele objetivo o NPEPVS-DA conseguiu organizar, na sua sede, um centro de documentação com diversas publicações e filmes sobre a vida de aves e lançou duas campanhas, uma em defesa das aves marinhas e outra para proteção das aves de rapina. Da mesma associação, destaca-se a edição de dois números (Primavera de 1983 e Inverno de 1984) do “Priôlo - Boletim para a Conservação da Natureza nos Açores”, onde para além dos temas ligados à conservação da natureza, continham artigos contra o uso da energia nuclear e sobre problemas ligados à vida em meios urbanos.

Tendo como principais dinamizadores e fundadores o francês Gerald le Grand e o vila-franquense Duarte Soares Furtado, que dirigia o boletim, colaboraram naquele, entre outros, os seguintes naturais de vila Franca do Campo: António Frias Martins, na altura Prof. Auxiliar Convidado da Universidade dos Açores, Maria Furtado, da então Divisão de Ambiente da SRES e Teófilo Braga, que para além de ser membro do NPEPVS-DA, também havia sido um dos fundadores do Grupo Luta Ecológica, com sede na ilha Terceira.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, nº 2871, 14 de Agosto de 2013, p.15)

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Priôlo nº 2

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Priôlo nº 1

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Terra Livre 60

quinta-feira, 8 de agosto de 2013



Andar a pé, regressar à terra

São diversas as razões que poderão ser apresentadas para justificar o facto das pessoas, tendo a possibilidade e os meios de viajar sem fazerem esforço físico, o fazerem cada vez mais usando os próprios pés.
Muitas vezes é por iniciativa própria, outras vezes por recomendação médica, como forma de combater o sedentarismo induzido pelo estilo de vida que é seguido pela grande maioria das pessoas (bem) integradas nas sociedades atuais.
Mas, mais do que “queimar gorduras”, andar a pé pode ser, como foi para Henry David Thoreau (1817-1862), um dos grandes vultos da cultura norte americana e um dos inspiradores do movimento naturalista, uma forma de “sentir e comunicar com uma inteligência pura e subtil que ultrapassa o pobre saber do homem comum”.
Thoreau, que vivia num perpétuo e constante desejo de mergulhar a cabeça em atmosferas que os seus pés desconheciam, não se sentia bem se ficasse sem fazer uma boa caminhada num único dia.
Para Thoreau a caminhada não era um simples exercício físico pelo que ele recomendava que se caminhasse “como um camelo, que segundo dizem, é o único animal que rumina enquanto caminha”.
Tal como Thoreau que chegou a viver mais de dois anos numa pequena cabana construída junto a um lago, onde cultivou a terra, observou a natureza, caminhou e escreveu, Aldo Leopold (1887-1948) também aproveitou o isolamento de uma quinta adquirida pela família para fazer observações e escrever muitos textos.
Aldo Leopold, desde criança demonstrou um interesse muito grande pela observação da fauna, sobretudo pelas aves e da flora, tendo passado muito tempo da sua vida a aventurar-se por bosques e pradarias que na altura estavam quase em estado selvagem.
De acordo com Martins Ferro, “para Leopold, o que é importante no usufruto da natureza não é propriamente o troféu de caça ou o «consumo» dos espaços naturais. Na era da mecanização, o «entusiasmo» pela natureza (todo-o-terreno, motas de água, armas de fogo) pode tornar-se numa força destruidora, e isso podemos nós constatá-lo diariamente. O que é importante, para o grande conservacionista, é o enriquecimento da perceção”.
Leopold que defendia o regresso à terra justifica-o do seguinte modo:
"A capacidade de apreender o valor cultural da natureza selvagem reduz-se, em última análise, a uma questão de humildade intelectual. O homem moderno de mente artificial, que perdeu o seu enraizamento na terra, julga que descobriu já o que é importante; ele é do género de palrar de impérios, políticos ou económicos, que hão-de durar mil anos. Só o estudioso compreende e aprecia que toda a história consiste em sucessivas excursões a partir de um único ponto de partida, ao qual o homem regressa uma e outra vez para organizar mais uma busca com vista a uma escala de valores. Só o estudioso compreende por que razão a crua natureza selvagem confere nitidez e significado à aventura humana."

A bióloga e escritora norte-americana Rachael Carson (1907-19649) era adepta das caminhadas e costumava fazê-las na companhia de seu sobrinho Roger, mesmo em dias de chuva. Para ela “os prazeres duradouros do contacto com o mundo natural não são reservados aos cientistas mas encontram-se ao alcance de quem quer que se coloque sob a influência da terra, do mar e do céu e da sua assombrosa vida”.

Para a autora de “Primavera Silenciosa”, “explorar a natureza com uma criança resume-se em grande parte a sermos recetivos a tudo o que nos rodeia. A reaprender a usar os nossos olhos, os ouvidos, as narinas, as pontas dos dedos, desobstruindo os abandonados e mal usados canais das impressões dos sentidos”

Por último uma breve referência a Antero de Quental que também gostava de caminhar.
O grande poeta açoriano, pelo menos durante o período em que frequentou a Universidade de Coimbra, entre 1856 e 1864, adorava fazer longas caminhadas na companhia de amigos. Manuel de Arriaga conta que “Antero era a alma viva, o ponto de convergência das nossas discussões, o mais dileto dos nossos companheiros” nas “largas excursões pelos arredores de Coimbra, Buçaco, Figueira, Senhor da Serra e Lousã”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 2865, 7 de Agosto de 2013)