terça-feira, 27 de outubro de 2015

SIM


Os animais têm direitos?
Uma princesa inglesa afirmou, recentemente, que os animais não têm direitos porque não têm conta bancária, não votam e que só deve ter direitos quem paga impostos.
Entre nós, um acérrimo defensor da tauromaquia afirmou que não há qualquer problema em torturar os touros por não terem quaisquer direitos já que só deverão ter direitos quem for capaz de resolver o teorema de Pitágoras.
Esta última afirmação, tal como a anterior, é deveras preocupante pois se a estendermos aos humanos, bebés, crianças e todos os que nunca aprenderam o dito teorema ou os que já o esqueceram não deverão ser titulares de quaisquer direitos, podendo consequentemente ser vítimas de maus tratos, discriminados, torturados, escravizados, etc.
Não pretendendo discutir aqui a questão dos direitos dos animais, o nosso objetivo com este curto texto é dar a conhecer um livro, publicado recentemente, intitulado “Sim! Os animais têm direitos”, da autoria de André Nunes, licenciado em direito pela Universidade Católica Portuguesa, que, desde 2009, se dedica ao estudo dos direitos dos animais, quer sob o ponto de vista jurídico, quer filosófico.
Por muito que custe a algumas cabeças pouco abertas à evolução das mentalidades, é cada vez maior o número de pessoas que em todo o mundo se preocupam com a vida dos animais não humanos e lutam para que a sua situação melhore. Segundo Paulo Borges, autor do prefácio, ao referido livro, “a ética animal, a par da ambiental, é hoje uma das áreas de investigação mais florescentes nos estudos académicos e a questão dos direitos dos animais e da natureza tornou-se central ao debate filosófico-jurídico contemporâneo”.
O livro, de fácil leitura, possui cinco capítulos, sendo o primeiro mais teórico, onde o autor define “o limite a partir do qual devem os animais ser considerados eticamente”. No segundo capítulo, o autor responde às objeções feitas à defesa dos direitos dos animais, no terceiro é rebatida a argumentação “que se centra mais no mensageiro do que na mensagem argumento”, no quarto capítulo é desmascarada a estratégia “assente no rótulo do tratamento bom e humanitário” nas várias indústrias de exploração de animais. Por último, no quinto capítulo o autor propõe-se “encontrar uma resposta para a questão: como devemos tratar os animais não-humanos””
As opiniões do autor, que não aceita “que a espécie humana se coloque a ela própria num patamar à parte” da mesma maneira que não aceita que os animais sejam colocados “numa redoma inquebrável”, com certeza irão causar algum desconforto a quem não tem o espírito aberto a admitir ideias diferentes das suas ou a quem, por preguiça mental, não está habituado a refletir, sem preconceitos, sobre os mais diversos assuntos.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30768, de 27 de outubro de 2015, p.6)

domingo, 25 de outubro de 2015

Tradições?


Correio dos Açores, 23 de outubro de 2015

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Tourada à corda não é nem será Património Cultural Imaterial



Tourada à corda não é nem será Património Cultural Imaterial

A Associação de Mordomos das Festas Tradicionais da Ilha Terceira veio a publico recentemente manifestar a sua discordância pelo facto da Direção Regional da Cultura (DRaC) não querer avançar com o processo da candidatura da tourada à corda a Património Cultural Imaterial da UNESCO.

Mais recentemente, ficou-se a saber que a DRaC, portanto o Governo Regional dos Açores, dará afinal todo o apoio à integração da tourada à corda na lista de Património Cultural Imaterial da UNESCO, desde que a referida associação avance com o necessário processo de inventariação.

O Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia dos Açores (MCATA) considera que esta nova tentativa de classificar a tourada à corda como Património Cultural Imaterial, a ser assumida pelo Governo Regional dos Açores, não passará de uma absurda perda de tempo e de recursos que poderiam ser muito melhor utilizados em prol da evolução cultural dos açorianos.

Além disso, entende o MCATA que a tourada à corda não pode nem é digna de figurar como Património Cultural Imaterial, pois:

1- É uma tradição associada à crueldade contra animais que ao contrário do que é afirmado pelos promotores, frequentemente, se traduz no ferimento e também na morte dos mesmos. Assim sendo, é contrária a vários documentos internacionais que condenam os maus tratos aos animais e colide frontalmente com os princípios definidos na Declaração Universal dos Direitos dos Animais;

2- É uma prática que anualmente é responsável pela morte de alguns participantes e de cerca de trezentos feridos, alguns com bastante gravidade;

3- A presença de crianças e adolescentes como participantes ou simples assistentes nas touradas à corda contraria a recomendação, de 2014, do Comité dos Direitos da Criança da ONU para afastar as crianças da tauromaquia e que, entre outras medidas, recomenda a promoção de campanhas de informação sobre “a violência física e mental associada à tauromaquia e ao seu impacto nas crianças”;

4- É uma atividade não consensual na sociedade açoriana, onde parte significativa da população não só não se identifica como repudia as diversas modalidades tauromáquicas, não sendo por isso “um elemento vivificador da identidade cultural comum”.

Por não ser uma atividade agregadora da sociedade açoriana, e por crescer em todo o mundo, nomeadamente nos Açores, o número de pessoas que a condena, por ser contrária à salutar evolução da humanidade rumo a um mundo mais justo e respeitador de pessoas e animais, o MCATA não deixará de desenvolver os seus esforços, quer junto de todos os movimentos de defesa dos animais a nível nacional e internacional, bem como junto da UNESCO e do Comité dos Direitos da Criança da ONU com o objetivo de denunciar a verdadeira natureza das touradas à corda e travar qualquer tentativa de classificação da mesma baseada em informações falsas.


Comunicado do
Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA)
http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/
15/10/2015

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Como se faz um aficionado de touradas?



Como se faz um aficionado de touradas?

Em todo o mundo, cresce a condenação à presença de crianças em espetáculos tauromáquicos, quer como participantes ativos, quer como simples assistentes, havendo alguma legislação que considera mau trato infantil, o mau trato animal cometido na presença de crianças.

O Comité dos Direitos da Criança da ONU já se pronunciou por duas vezes, em 2014, em relação a Portugal, e em 2015, em relação à Colômbia, sobre o assunto tendo-se manifestado contra a presença de crianças e adolescentes como participantes ou simples assistentes em touradas ou outras atividades tauromáquicas. O referido comité, também, recomendou que os mencionados países implementassem medidas para a aplicação efetivada Convenção dos Direitos da Criança e promovessem campanhas de informação sobre “a violência física e mental associada à tauromaquia e ao seu impacto nas crianças”.

Como é sabido, tanto a nível nacional como nos Açores, nada se faz para que as recomendações da ONU sejam respeitadas. Pelo contrário, a indústria tauromáquica, com a conivência das autoridades, continua a incentivar a presença de crianças em atividades tauromáquicas, promovendo, como a Tertúlia Tauromáquica Terceirense, atividades para elas especialmente dedicadas.

Então, por que razão nem o governo nacional, nem o regional fazem algo para travar a contínua investida da indústria tauromáquica no sentido de garantir que a sua atividade sangrenta e deseducativa perdure ao longo dos tempos?

Não temos dúvida que é a cobardia face a um poderoso lobby que não se importa de manchar o bom nome da região a nível internacional, pois o que lhe interessa é apenas prosseguir com a sua atividade ruinosa, para a economia regional, mas altamente rentável para as suas empresas, já que para elas são canalizados fundos de uma hipócrita Comunidade Europeia.

Além do exposto, os diretamente beneficiados com a indústria tauromáquica, eles também alvo de lavagens cerebrais enquanto crianças, para garantir os seus negócios sabem que apesar do repúdio inicial das crianças face aos maus tratos infligidos aos touros e cavalos, com a repetição, aquelas acabam por os aceitar e, tal como acontece com as drogas, acabam por ficar delas dependentes.

Para terminar, apresenta-se um extrato de um interessante livro da autoria do Dr. Augusto Ataíde, editado, em 2006, pela Bertrand, onde o autor explica como se tornou aficionado:

Ainda numa infância remotíssima, fui pela primeira vez com o Avô Valenças e os Pais à tourada na velha praça de Algés. Logo à chegada, marradas, cornetas e gritarias fizeram-me dar berros de pavor. Que obrigaram o meu pobre Pai, então gordíssimo, primeiro a furar pela multidão com o trambolho ao colo, tropeçando em direcção à saída e, depois — como oportunamente me tivesse calado e manifestasse o desejo de voltar para a Mãe — a subir o mesmo calvário na direcção inversa... Assinalo que o reencontro com a Mãe foi construtivo: logo assegurou o meu bom comportamento para o resto da tarde, não propriamente com o corte de orelhas ou rabo, mas por meio de um bom puxão das primeiras e de algumas palmadas no segundo. As minhas pazes com a «festa» ficaram estabelecidas logo ali e a afición, embora moderada e pouco assídua, durou a vida inteira.


Açores, 11 de outubro de 2015

Mariano Soares

terça-feira, 6 de outubro de 2015

O semi-aficionado de touradas Joel Neto


O semi-aficionado de touradas Joel Neto

Joel Neto publicou recentemente no Diário de Notícias um texto intitulado Tauromaquia, onde diaboliza, e muito bem, as touradas de praça e endeusa, e muito mal, as de corda.

Antes de demonstrar que Joel Neto asneirou, quero dar os parabéns por, finalmente, ter reconhecido que na tourada de praça o touro é massacrado. Mas como ainda no seu íntimo há uma pontinha de “afición” encontra “galhardia numa pega de caras”, depois do touro já se ter esvaído em sangue e de estar a pouco tempo de ser morto no matadouro.

Concordamos com Joel Neto que o grau de barbaridade numa tourada à corda é menor do que numa de praça. Contudo, as justificações apresentadas pelo senhor Neto para demonstrar a bondade para o touro das touradas à corda não passam de um chorrilho de asneiras, algumas muito comuns a todos os adeptos das touradas e outras originais da lavra de um ou mais professores universitários do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores completamente desacreditados.

Não vamos perder muito tempo, mas dizer que numa tourada à corda o que acontece é apenas isto: “O animal é preso a uma trela e passeado estrada fora” não passa de tolice pegada. O senhor Neto por acaso não vê, ao vivo ou nos famosos vídeos das marradas, touros ensanguentados, touros que ficam feridos e outros que por vezes morrem ao embaterem em muros e outras vedações?

Outra justificação característica dos aficionados da “tortura suave” é a de que enquanto o touro é respeitado, as pessoas é que se lixam. Vejam o que diz o senhor Neto:” Mas, no fim, é ele quem mais se diverte, ceifando bêbedos e debruçando-se às varandas”.

Como sabe o senhor Neto que o touro se diverte? Não é sadismo divertir-se com o sofrimento de outros humanos, mesmo que estejam “bêbados”?

Disparate que não devia ser repetido por alguém que devia usar o cérebro é afirmar que “Não há, nas nove ilhas dos Açores como na província portuguesa em geral, muitas regiões tão magnificamente preservada como o interior da Terceira. Esse milagre tem uma só origem: o toiro é o seu guardião”.

Pense um bocadinho e consulte toda a bibliografia disponível e verifique que um dos problemas para as espécies endémicas é o seu pisoteio. Esta afirmação consta de todos os documentos oficiais relativamente à Rede Natura 2000 cujos estudos foram feitos por quem na Universidade dos Açores vem agora dizer que os touros da Terceira contribuem para a conservação da natureza. Talvez fosse verdade, se os touros terceirenses soubessem distinguir endemismos e se tivessem asas.

José da Agualva.