segunda-feira, 31 de maio de 2010

PROTESTE CONTRA A MÁ UTILIZAÇÃO DE VERBAS DA EU


Não permitamos que dinheiros da EU sejam usados para pagar a feira taurina das Sanjoaninas de 2010

Envie mails de proteste, com o texto abaixo ou outro que achar mais adequado para o seguinte endereço:

dacian.ciolos@ec.europa.eu

com conhecimento a:
roger.waite@ec.europa.eu, angra@cm-ah.pt, presidencia@azores.gov.pt

e cópia para:
acoresmelhores@gmail.com

Exmo Senhor

Comissário da Agricultura e Desenvolvimento Rural
(c/c ao Presidente do Governo Regional dos Açores e à Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heróismo)

Como é do conhecimento público, a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo (ou a empresa Municipal Culturangra) possui uma dívida que ascende a mais de 1,5 milhões de euros, a maior parte desta quantia destinada ao pagamento das touradas de praça que se têm realizado nos últimos anos aquando das Sanjoaninas.
Recentemente a comunicação social dos Açores informou que a próxima feira taurina, a ocorrer em Junho, irá custar cerca de 380 mil euros, sendo os prejuízos, com a mesma, avaliados em cerca 149 mil euros.

Através de notícia do Diário Insular, do passado dia 20 de Maio, foi divulgada a intenção da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo de recorrer a fundos europeus para suportar os prejuízos.
Vimos, junto de V. Exª denunciar esta situação e solicitar a intervenção de V. Exª. No sentido de impedir que as touradas inseridas na referida feira taurina ou outras sejam financiadas com fundos europeus, nomeadamente do programa LIDER, em nome de um pretenso desenvolvimento rural.
Com os melhores cumprimentos

(Nome)
(Localidade para os residentes em Portugal ou País)

domingo, 30 de maio de 2010

Frederico Lopes (João Ilhéu) e as Touradas


“Estes divertimentos tinham muito de barbarismo, pois as rezes eram espicaçadas com fortes aguilhões usados nas extremidades dos varapaus (bordões) de que quase todos os homens iam munidos para sua defesa.

“Corridas trauliteiras ou touradas de pau e corda” lhes chamou José Pedro do Carmo no seu livro “Touros”, após ter transcrito parte da descrição que delas faz Maximiliano de Azevedo em “Histórias das Ilhas”. Alfredo da Silva Sampaio, na “Memória sobre a ilha Terceira” também se insurge contra tais barbarismos (pág. 360).

Felizmente, essas práticas forma postas de lado, para o que muito concorreram as restrições legais impostas ao uso do aguilhão, não só pelas razões apontadas, mas ainda pelo dano causado nas peles destinadas à cortimenta.

A Reforma das Posturas do Concelho de Angra em 1655, insere já várias disposições relativas à repressão desses abusos, nomeadamente a nº 21 que diz:
“Nenhuma pessoa traga consigo aguilhada que passe o aguilhão de uma polegada, e quem a trouxer pagará de couma outo sentos reis”.

Hoje, graças à legislação em vigor, pode bem dizer-se que as touradas à corda são muito mais humanas que as de praça, onde continua o uso das bandarilhas e do estoque.”

sábado, 22 de maio de 2010

VAMOS PERMITIR FUNDOS DA EU PARA PAGAR VIOLÊNCIA E TORTURA?





Dinheiro europeu pode pagar feira taurina

Está em curso uma tentativa para financiar a feira taurina das Sanjoaninas 2010 com fundos da União Europeia.
A autarquia angrense e a empresa municipal Culturangra estão a desenvolver esforços no sentido de enquadrar as touradas no apoio europeu ao desenvolvimento rural.
O programa-alvo é o Lider Mais, gerido pera GRATER, uma associação de desenvolvimento que abrange as ilhas Terceira e Graciosa e de cujos corpos sociais faz parte a própria Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.
A tentativa em curso foi confirmada ao DI por fontes autorizadas da Câmara de Angra, da Culturangra e a própria GRATER.
Segundo DI apurou, o principal problema é de ordem normativa, uma vez que os corpos técnicos que estão a estudar o dossiê sentem muitas dificuldades para enquadrar a feira taurina no desenvolvimento rural.
O facto de a candidatura ainda não ter avançado tem, sobretudo, a ver com receios de um chumbo técnico e eventual fricção dentro dos órgãos diretivos da própria GRATER, onde o financiamento de toiros com dinheiro da Europa não tem apoio unânime.

PRECEDENTE

Segundo fontes da GRATER, um segundo problema, que inclusive pode transformar-se num grande problema, tem a ver com o precedente.
Caso a feira taurina das Sanjoaninas 2010 seja apoiada com fundos do Lider Mais, há quem na GRATER tenha por certo que se seguirão candidaturas de outras feiras taurinas nas ilhas Terceira e Graciosa e de perto de 250 touradas à corda que se realizam anualmente na ilha Terceira.
Uma quantidade tão elevada de candidaturas seria difícil de financiar através das verbas europeias ao dispor da GRATER, comprometendo outros programas que não oferecem dúvidas sobre o seu enquadramento.
A feira taurina das Sanjoaninas 2010 está orçada em perto de 400 mil euros, prevendo-se que acabe por ser um dos principais buracos financeiros da festa, como tem sido em festas anteriores.

Fonte: Diário Insular

Retirado de: http://acoresmelhoressemmaltratosanimais.blogspot.com/

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ciclo de cinema – Que alimentação para o século XXI?


Neste início de século, a forma como nos relacionamos com o mundo está a ser transformada em todos os aspectos.


Vivemos concentrados em grandes centros urbanos com uma vida cultural abundante. Os centros comerciais oferecem-nos um sem número de opções onde gastar o nosso dinheiro, e parece ser isso que define o nosso conceito de qualidade de vida. As viagens de avião de baixo custo fazem parecer que estamos mesmo a viver numa aldeia global… Ao mesmo tempo, com a internet e os “gadgets” electrónicos, queremos estar sempre perto de tudo. Enquanto isso esquecemos a importância de algumas necessidades básicas, como a alimentação. Não sabemos, ou não queremos saber o que se esconde por detrás das prateleiras dos supermercados. Mas devíamos!

A agricultura moderna divorciou-se completamente da natureza e já é um dos maiores consumidores de energia e água, bem como causadora de poluição. A agricultura intensiva destrói a biodiversidade e contamina a terra com pesticidas e fertilizantes artificiais. A isso vem somar-se a contaminação biológica e outras ameaças da introdução de organismos geneticamente modificados.

As regras do mercado livre globalizado aplicadas ao sector estão a destruir o modo de subsistência de milhões de pessoas e comunidades ao redor do mundo. E o resultado final disso também é péssimo para nós consumidores. Os alimentos estão repletos de resíduos químicos que se acumulam no nosso corpo com potenciais efeitos graves para a saúde.

Que decisões individuais ou colectivas podemos tomar para mudar este rumo? Este ciclo de cinema pretende lançar algumas ideias.

24 de Maio

* Filme “Quem alimenta o mundo?” (duração 93 minutos)
* Prova de produtos da Quinta de Segade.

31 de Maio

* Filme “o futuro dos alimentos” (duração 89 minutos)
* Prova de produtos da Naturocoop.
* Debate sobre agricultura biológica.

7 de Junho

* Filme “Carne, uma verdade mais que inconveniente” (duração 74 minutos)
* Prova de produtos da Casa da Horta.
* Debate sobre alimentação vegetariana.

14 de Junho

* Filme “TranXgenia – A História da Lagarta e do Milho” (duração 37 minutos)
* Prova de produtos do Projecto Raízes.
* Apresentação da Plataforma Transgénicos Fora e debate sobre organismos geneticamente modificados.

As sessões terão lugar sempre às 21h30 no auditório do Clube Literário do Porto – Rua Nova da Alfândega, 22.

Entrada livre. Mais informações em www.campoaberto.pt/cicloalimentacao

Organização:
Movimento Pró-Informação para a Cidadania e Ambiente,
Campo Aberto,
Plataforma Transgénicos Fora

Apoios: Clube Literário do Porto,
Quinta de Segade,
Casa da Horta,
Naturocoop,

http://www.campoaberto.pt/cicloalimentacao/

PS- Uma ideia a ser seguida nos Açores. As associações têm que promover a reflexão sobre as questões alimentares e da agricultura e deixarem-se de serem meras figurantes das "telenovelas" realizadas por outros.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O imperio do Consumo





Eduardo Galeano

O sistema fala em nome de todos, dirige a todos as suas ordens imperiosas de consumo, difunde entre todos a febre compradora; mas sem remédio: para quase todos esta aventura começa e termina no écran do televisor.

A maioria, que se endivida para ter coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar dívidas as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir fantasias que por vezes materializa delinquindo.
Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas para que outro mundo vamos mudar-nos?

A explosão do consumo no mundo actual faz mais ruído do que todas as guerras e provoca mais alvoroço do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco: quem bebe por conta, emborracha-se o dobro. O carrossel aturde e confunde o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo soa muito, tal como o tambor, porque está vazia. E na hora da verdade, quando o estrépito cessa e acaba a festa, o borracho acorda, só, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos partidos que deve pagar. A expansão da procura choca com as fronteiras que lhe impõe o mesmo sistema que a gera. O sistema necessita de mercados cada vez mais abertos e mais amplos, como os pulmões necessitam o ar, e ao mesmo tempo necessitam que andem pelo chão, como acontece, os preços das matérias-primas e da força humana de trabalho.

O direito ao desperdício, privilégio de poucos, diz ser a liberdade de todos. Diz-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são submetidas a luz contínua, para que cresçam mais depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão condenadas à insónia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que se vendem legalmente no mundo, e mais da metade das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm apenas cinco por cento da população mundial.

"Gente infeliz os que vivem a comparar-se", lamenta uma mulher no bairro do Buceo, em Montevideo. A dor de já não ser, que outrora cantou o tango, abriu passagem à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. "Quando não tens nada, pensas que não vales nada", diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, de Buenos Aires. E outro comprova, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: "Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas e vivem suando em bicas para pagar as prestações".

Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.

O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde a quantidade com a qualidade, confunde a gordura com a boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a "obesidade severa" aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou uns 40% nos últimos 16 anos, segundo a investigação recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado. O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar só sai do automóvel par trabalhar e para ver televisão. Sentado perante o pequeno écran, passa quatro horas diárias a devorar comida de plástico.

Triunfa o lixo disfarçado de comida: esta indústria está a conquistar os paladares do mundo e a deixar em farrapos as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêem de longe, têm, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade, são um património colectivo que de algum modo está nos fogões de todos e não só na mesa dos ricos. Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão a ser espezinhadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hamburguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida à escala mundial, obra da McDonald's, Burger King e outras fábricas, viola com êxito o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.

O campeonato mundial de futebol de 98 confirmou-nos, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola brinda eterna juventude e o menu do MacDonald's não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército de McDonald's dispara hamburguers às bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O arco duplo desse M serviu de estandarte durante a recente conquista dos países do Leste da Europa. As filas diante do McDonald's de Moscovo, inaugurado em 1990 com fanfarras, simbolizaram a vitória do ocidente com tanta eloquência quanto o desmoronamento do Muro de Berlim.

Um sinal dos tempos: esta empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. A McDonald's viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama a Macfamília, tentaram sindicalizar-se num restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas no 98, outros empregados da McDonald's, numa pequena cidade próxima a Vancouver, alcançaram essa conquista, digna do Livro Guinness.

As massas consumidoras recebem ordens num idioma universal: a publicidade conseguiu o que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que o televisor transmite. No último quarto de século, os gastos em publicidade duplicaram no mundo. Graças a ela, as crianças pobres tomam cada vez mis Coca-Cola e cada vez menos leite, e o tempo de lazer vai-se tornando tempo de consumo obrigatório. Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor e o televisor tem a palavra. Comprados a prazo, esse animalejo prova a vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as virtudes dos automóveis último modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas taxas de juro que este ou aquele banco oferece. Os peritos sabem converter as mercadorias em conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm atributos humanos: acariciam, acompanham, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados. As angústias enchem-se atulhando-se de coisas, ou sonhando fazê-lo. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas te escolhem e te salvam do anonimato multitudinário. A publicidade não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias: Em quem o senhor quer converter-se comprando esta loção de fazer a barba? O criminólogo Anthony Platt observou que os delitos da rua não são apenas fruto da pobreza extrema. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social do êxito, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade, mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX pôs fim a sete mil anos de vida humana centrada na agricultura desde que apareceram as primeiras culturas, em fins do paleolítico. A população mundial urbaniza-se, os camponeses fazem-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação, e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em toda parte, mas por experiência sabem que atende nas grandes urbes. As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os que esperam vêem passar a vida e morrem a bocejar; nas cidades, a vida ocorre, e chama. Apinhados em tugúrios, a primeira coisa que descobrem os recém chegados é que o trabalho falta e os braços sobram. Enquanto nascia o século XIV, frei Giordano da Rivalto pronunciou em Florença um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam "porque as pessoas têm o gosto de juntar-se". Juntar-se, encontrar-se. Agora, quem se encontra com quem? Encontra-se a esperança com a realidade? O desejo encontra-se com o mundo? E as pessoas encontram-se com as pessoas? Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente se encontra com as coisas? O mundo inteiro tende a converter-se num grande écran de televisão, onde as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos. As estações de auto-carros e de comboios, que até há pouco eram espaços de encontro entre pessoas, estão agora a converter-se em espaços de exibição comercial.

O shopping center, ou shopping mall, vitrina de todas as vitrinas, impõe a sua presença avassaladora. As multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora submete-se ao bombardeio da oferta incessante e extenuante. A multidão, que sobe e baixa pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago, e para ver e ouvir não é preciso pagar bilhete. Os turistas vindos das povoações do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas bênçãos da felicidade moderna, posam para a foto, junto às marcas internacionais mais famosas, como antes posavam junto à estátua do grande homem na praça. Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam ao centro. O tradicional passeio do fim de semana no centro da cidade tende a ser substituído pela excursão a estes centros urbanos. Lavados, passados e penteados, vestidos com as suas melhores roupas, os visitantes vêm a uma festa onde não são convidados, mas podem ser observadores. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas. A cultura do consumo, cultura do efémero, condena tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje a única coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia e o trabalho que as gera. O dinheiro voa à velocidade da luz: ontem estava ali, hoje está aqui, amanhã, quem sabe, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shopping centers, reinos do fugaz, oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, para além das turbulências da perigosa realidade do mundo.

Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como esgotam, pouco depois de nascer, as imagens que dispara a metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas a que outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar no conto de que Deus vendeu o planeta a umas quantas empresas, porque estando de mau humor decidiu privatizar o universo? A sociedade de consumo é uma armadilha caça-bobos. Os que têm a alavanca simulam ignorá-lo, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.

Fonte: Resistir.info

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Todos Somos Um

domingo, 9 de maio de 2010

O Terceirense Alfredo da Silva Sampaio e as Touradas


"Alfredo da Silva Sampaio (Angra do Heroísmo, 19 de Setembro de 1872 — Angra do Heroísmo, ?) foi um médico açoriano que se notabilizou como naturalista e fundador do primeiro posto de obeservação meteorológica na ilha Terceira. Publicou uma vasta obra sobre a história, a geografia e a história natural da Terceira.

Bacharel em medicina e cirurgia formado pela Universidade de Coimbra em 1888, foi guarda-mor da estação de saúde de Angra do Heroísmo, médico municipal e do Hospital de Santo Espírito da mesma cidade. Foi professor provisório do Liceu Nacional também de Angra do Heroísmo e eminente historiador que muito contribuiu para o conhecimento da História dos Açores" Fonte (http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfredo_da_Silva_Sampaio)


(clique na imagem para aumentar)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Touradas- Reflexão

Tenho andado a estudar um pouco da história das touradas nos Açores e verifico que os adeptos da festa (?) brava têm razão quando dizem que o argumento da tradição não lhes serve por razões diferentes que são:

1- Em praticamente em todas as ilhas existiram "touradas" que foram desaparecendo com o evoluir da sociedade;

2- As touradas à corda já foram mais cruéis do que são hoje, devendo-se a alteração ao aumento da sensibilidade das pessoas e a imposições legais;

3- Na Terceira o argumento não serve pois o que se pretende não é mantê-la mas sim legalizar práticas não existentes como a sorte de varas e os touros de morte;

4- A única actividade tauromáquica que faz mover o povo (a maioria?) da Terceira são as touradas à corda, as outras são puro negócio para meia dúzia;

5- Os adeptos da touradas à corda são sensíveis ao sofrimento dos touros, e facilmente aceitariam medidas conducentes à minimização do memso;

6- Nas outras ilhas, nomeadamente em São Miguel, todas as tentativas mais recentes de introduzir touradas à corda falharam por razões sobretudo económicas. Como não é tradição neste ilha, o argumento também não serve aos pró-touradas.

Para terminar esta breve reflexão, passo a analisar a estratégia que tem sido seguida pela recente investida com o objectivo de popularizar as touradas em São Miguel.

1- Não sendo as touradas auto- sustentáveis do ponto de vista económico, o recurso tem sido à sua promoção por entidades oficiais ou por elas apoiadas directa ou indirectamente. Assim as touradas à corda têm sido promovidas em São Miguel sobretudo pela Junta de Freguesia das Capelas, cujo presidente era até recentemente presidente do IROA, Câmara Municipal da Lagoa e pela Associação Agrícola de São Miguel. Embora não possa confirmar para todas estas entidades sabe-se que nalguns casos há a mão do Director Regional do Desenvolvimento Agrário, residente na Terceira e aficionado.

2- Não negando que entre a população micaelense haja adeptos, a estratégia tem passado por começar a divulgar as touradas entre os mais frágeis quer do ponto de vista da instrução, da cultura ou dos rendimentos económicos. Não terá sido por acaso que a maioria das touradas se realizaram em zonas piscatórias, como Lagoa, Caloura ou Rabo de Peixe.

Por último, não se está a promover a pretensa ruralidade, pelo contrário está-se a fomentar a utilização de animais para divertimento, a banalizar os maus tratos, a promover o alcoolismo,etc., em suma a deseducar.

Face a esta situação não podemos ficar de braços cruzados, temos que apostar na educação junto das escolas e continuar a denunciar o mau uso de dinheiros públicos já que com eles poderíamos alterar em grande medida a situação de maus tratos e abandono de animais que tem ocorrido na nossa terra.

Mariano Soares

sábado, 1 de maio de 2010