terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Energia das Ondas por um canudo

O Estado investiu 1 milhão e 250 mil euros para a construção do Parque de Ondas da Aguçadoura, mas só funcionou... 3 meses


A Central das Ondas do Cachorro, na ilha do Pico foi mais “rápida” apenas funcionou 30 a 40 horas.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

TEMPORAL NA MADEIRA

Raimundo Quintal, geógrafo madeirense, aborda as causas naturais e a responsabilidade humana dos danos ocorridos nos últimos dias em infra-estruturas rodoviárias e balneares, armazéns e habitações.
A visualização destes vídeos é de importância para o cidadão comum e para os nossos políticos, esperando que, para os crentes, o Menino Jesus lhes ilumine as mentes a respeitar as Leis da Natureza.



terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Fracasso de Copenhaga





Duas visões de mundo se confrontam em Copenhague

Leonardo Boff

Em Copenhaga nas discussões sobre as taxas de redução dos gases produtores de mudanças climáticas, duas visões de mundo se confrontam: a da maioria dos que estão fora da Assembleia, vindo de todas as partes do mundo e a dos poucos que estão dentro dela, representando os 192 estados. Estas visões diferentes são prenhes de consequências, significando, no seu termo, a garantia ou a destruição de um futuro comum.
Os que estão dentro, fundamentalmente, reafirmam o sistema atual de produção e de consumo mesmo sabendo que implica sacrificação da natureza e criação de desigualdades sociais. Crêem que com algumas regulações e controles a máquina pode continuar produzindo crescimento material e ganhos como ocorria antes da crise.
Mas importa denunciar que exatamente este sistema se constitui no principal causador do aquecimento global emitindo 40 bilhões de toneladas anuais de gases poluentes. Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo.
Ocorre que estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana.

Não passa pela cabeça dos representantes dos povos que a alternativa é a troca de modo de produção que implica uma relação de sinergia com a natureza. Reduzir apenas as emissões de carbono mas mantendo a mesma vontade de pilhagem dos recursos é como se colocássemos um pé no pescoço de alguém e lhe disséssemos: quero sua liberdade mas à condição de continuar com o meu pé em seu pescoço.
Precisamos impugnar a filosofia subjacente a esta cosmovisão. Ela desconhece os limites da Terra, afirma que o ser humano é essencialmente egoista e que por isso não pode ser mudado e que pode dispor da natureza como quiser, que a competição é natural e que pela seleção natural os fracos são engolidos pelos mais fortes e que o mercado é o regulador de toda a vida econômica e social.
Em contraposição reafirmamos que o ser humano é essencialmente cooperativo porque é um ser social. Mas faz-se egoísta quando rompe com sua própria essência. Dando centralidade ao egoísmo, como o faz o sistema do capital, torna impossível uma sociedade de rosto humano. Um fato recente o mostra: em 50 anos os pobres receberam de ajuda dois trilhões de dólares enquanto os bancos em um ano receberam 18 trilhões. Não é a competição que constitui a dinâmica central do universo e da vida mas a cooperação de todos com todos. Depois que se descobriram os genes, as bactérias e os vírus, como principais fatores da evolução, não se pode mais sustentar a seleção natural como se fazia antes. Esta serviu de base para o darwinismo social. O mercado entregue à sua lógica interna, opõe todos contra todos e assim dilacera o tecido social. Postulamos uma sociedade com mercado mas não de mercado.
A outra visão dos representantes da sociedade civil mundial sustenta: a situação da Terra e da humanidade é tão grave que somente o princípio de cooperação e uma nova relação de sinergia e de respeito para com a natureza nos poderão salvar. Sem isso vamos para o abismo que cavamos.
Essa cooperação não é uma virtude qualquer. É aquela que outrora nos permitiu deixar para trás o mundo animal e inaugurar o mundo humano. Somos essencialmente seres cooperativos e solidários sem o que nos entredevoramos. Por isso a economia deve dar lugar à ecologia. Ou fazemos esta virada ou Gaia poderá continuar sem nós.
A forma mais imediata de nos salvar é voltar à ética do cuidado, buscando o trabalho sem exploração, a produção sem contaminação, a competência sem arrogância e a solidariedade a partir dos mais fracos. Este é o grande salto que se impõe neste momento. A partir dele Terra e Humanidade podem entrar num acordo que salvará a ambos
*Leonardo Boff é teólogo e escritor.

Fonte: http://blog.forumeducacao.zip.net/

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Contra os brinquedos de guerra


Se gostas de viver…, porquê então, jogar e brincar a matar os outros?

Quando falamos de violência de imediato vem à nossa mente as guerras, mortes, golpes militares, etc, mas há também aquela violência do quotidiano que nos aparece como se fosse normal e que se vai reproduzindo persistentemente.
O autoritarismo, a repressão, a exclusão assim como muitíssimas relações assimétricas resultantes das nossas sociedades machistas, adultocêntricas, homofóbicas e racistas, ilustram suficientemente aquela realidade.
A influência social dissemina-se por via da reprodução e transmissão social para todos os segmentos sociais, mas é nas crianças que ela se exerce com particular força até pela simples razão que aí se estabelece com bastante nitidez uma forte relação vertical.
Também quando os ensinamos a jogar ou a distrair-se não deixa de se exercer aquela influência social que conduz à reprodução social das ideias dominantes.
Desgraçadamente, quando pensamos em dar um brinquedo, o que cuidamos é saber se o seu destinatário irá ou não apreciar, e não nos lembramos que ele serve também para educar. Procuramos, por isso, em oferecer a última novidade tecnológica, o jogo da moda ou então o que estiver mais à mão.
Não prestamos atenção ao papel e função que o jogo ou o brinquedo podem assumir na sociedade e a muitos nem sequer reflectem sobre se aquele concreto brinquedo ( ou jogo) serve ou não para perpetuar um determinado modelo social. Ora se queremos mudar as nossas sociedades importa atender aos brinquedos que compramos para as crianças. É assim que os brinquedos bélicos iniciam a crianças numa atitude militarista inculcando-lhe hábitos e conotações de agressividade e violência. Através dos
brinquedos de guerra está-se a legitimar as instituições agressivas, já para não dizer que através daqueles se garante o contínuo rearmamento das sociedades.
Não é por via dos brinquedos de guerra que as crianças vão entender a realidade social da violência e da guerra. Apenas conseguem apreender estereótipos. E pior que isso, os brinquedos de guerra servem as mais das vezes para deformar e ocultar as verdadeiras causas das guerras e da violência social, ocultando ainda as suas consequências irreparáveis.
A ideia de ver o jogo como um ingrediente importante na formação infantil leva-nos à necessidade de procurar alternativas não violentas onde se promova e relações de cooperação e amizade, num processo mais abrangente que favoreça às crianças e aos jovens a perspectivação das relações sociais numa óptica diferente.
Com efeito, depende de nós todos saber qual é a sociedade que pretendemos.

Através dos brinquedos as crianças vão interiorizando e fazendo como seus os comportamentos sociais e os valores implícitos num jogo ou num brinquedo. Daí que não tenhamos dúvidas ao dizer que os brinquedos bélicos não são neutrais. Por seu intermédio pode ser perpetuado todo um sistema social baseado em modelos comportamentais competitivos, violentos, incentivadores de uma vontade de domínio como um fim em si mesmo. A violência torna-se então o árbitro das relações sociais: é o mais forte que triunfa, que tem sempre razão e a quem cabe o papel do bom da fita.
Os brinquedos bélicos são uma verdadeira iniciação ao modelo militar-machista prevalecente nas nossas sociedades. O rapazito descobre aos poucos que o seu futuro papel de homem é diferenciado do da mulher, procurando por conseguinte identificar-se com as figuras machistas do guerreiro.
Acontece que os brinquedos de guerra cumprem ainda a função de legitimar as instituições militares e repressivas, a cujo processo não é estranho a simplificação da divisão entre bons e maus.
Os videojogos mais não fazem que modernizar este esquema reprodutor de uma forma mais insidiosa e insolente.
Claro que há quem argumente que não se deve ocultar as realidades da violência social e das guerras. E não falta quem considere que os brinquedos bélicos respondem a uma necessidade das crianças em canalizar a sua agressividade.
A tais objecções há que alegar que os brinquedos de guerra, mais que a ajudar as crianças a entender a realidade, o que fazem realmente é ocultar as causas e as consequências daquele fenómeno.
Cabe também perguntar porque é que outras realidades sociais como os suicídios e a prostituição não fazem parte dos inúmeros jogos infantis, sabendo todos que são, ao lado da guerra e da violência social, factos civilizacionais incontornáveis.
Por outro lado, importa frisar que existem brinquedos muito mais adequados para orientar a criatividade natural da criança que não passam forçosamente pelos brinquedos de guerra. A tensão física poderá ser muito melhor compensada com exercícios corporais e outros movimentos.
Recorde-se que os brinquedos devem cumprir duas funções capitais, a saber: serem veículo de expressão da emotividade, imaginação e estado de espírito, e serem instrumento de aprendizagem de um determinado comportamento social. Sendo assim, a agressividade não deve ser eliminada, mas devendo antes garantir a sua livre expressão, através de um desenvolvimento positivo que não se reconduza à violação dos direitos dos outros nem ao seu domínio. Ou seja: a uma agressividade que não se traduza numa violência destrutiva.

A verdadeira razão para o desejo de ter brinquedos de guerra está na publicidade destilada ao jovem ou à criança indefesa.
Está pois nas nossas mãos estimular a posse e o uso dos brinquedos de guerra ou cortar o mal pela raiz, oferecendo brinquedos e jogos que tornem desnecessários objectos que promovam a guerra, a violência social e a dominação de uns sobre os outros.


MEMORANDUM
O Parlamento Europeu aprovou em 13 de Setembro de 1982 uma resolução sobreos brinquedos de guerra, alertando para a problemática


Fonte: http://pimentanegra.blogspot.com/2005/12/contra-os-brinquedos-de-guerra.html

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Associativismo, Política e Protecção Animal


“Amamos mais o lucro que a vida, estamos mais empenhados em salvar o sistema económico-financeiro que a humanidade e a Terra”
Leonardo Boff, teólogo brasileiro

Neste texto, pretende-se dar início a uma reflexão sobre a possibilidade ou não de na sociedade actual, capitalista e neoliberal, haver respeito para com os animais não humanos e tentar encontrar explicações para o facto da questão animal não ser uma causa das associações ambientalistas.

Embora sempre presente no nosso espírito, consideramos que a necessidade da reflexão veio à tona aquando da recente campanha contra a introdução da sorte de varas (e touros de morte), nos Açores. Assim, algumas pessoas aconselhavam-nos a não introduzir, nas nossas posições públicas, argumentos de carácter económico e ou político e outros, ligados ao movimento ambientalista, questionavam a razão de uma ONGA- Organização Não Governamental de Ambiente de âmbito regional estar, entre as pessoas singulares e colectivas, envolvida na mencionada campanha, alegando que a questão dos maus tratos (tortura, no caso em apreço) nada ter a ver com a defesa do ambiente.

O não ou o quase nulo envolvimento da maioria das ONGAS na campanha contra a sorte de varas tem várias razões de que destacamos as seguintes: a quase inactividade de muitas delas, a baixa participação dos associados, a transformação de algumas em extensões dos serviços governamentais, o facto de outras não passarem de prestadoras de serviços e o entendimento de ambiente como uma mera questão de carácter “científico”, a ser tratado, apenas, no âmbito da biologia, da ecologia e da engenharia do ambiente, ignorando o facto dos problemas ambientais serem problemas sociais.

Não sendo a temática do bem-estar animal ou dos direitos dos animais abordada ao longo do currículo escolar de alguns dirigentes associativos e não trazendo a sua abordagem qualquer mais-valia, pensam eles, ao seu curriculum vitae, fica, à partida, excluída das suas preocupações. Por outro lado, apesar das suas declarações de amor ao ecocentrismo, continuam, na prática, agarrados aos velhos valores do antropocentrismo, não atribuindo qualquer valor intrínseco aos animais, a não ser àqueles que consideram que desempenham algum papel importante na manutenção dos ecossistemas.

Sendo o referido o que se passa nas associações ambientais, por que razão houve um silêncio quase absoluto, por parte das associações de defesa dos animais em relação a uma causa que lhes deveria ser muito querida, o não incremento dos maus tratos animais, no caso da campanha mencionada aos touros?

Por algumas das razões apontadas para as ONGAS e pelo facto da maioria dos activistas actuar por amor e compaixão para com os animais e não tendo uma visão global delimitam o seu campo de acção ao estado dos canis municipais e ao bem-estar dos cães e gatos. Outra razão, bastante forte, está relacionada com o facto dos principais dinamizadores das associações de protecção dos animais não possuírem consciência política ou, tendo-a, por uma razão ou outra, não querem perder as migalhas que as suas organizações recebem por parte de políticos e governantes, aos mais diversos níveis, adeptos da tortura animal legalizada.

Por último, será que a promoção dos direitos dos animais pode ter algum sucesso na sociedade actual?

É sabido que o objectivo primeiro do capitalismo é a maximização dos lucros e a socialização dos prejuízos, contando para tal com o imprescindível apoio dos Estados, intitulem-se eles liberais, democratas, populares ou socialistas, escravizando parte dos humanos e desrespeitando os animais.

Com a crise mundial em que estamos mergulhados, tem havido recuos nos direitos sociais e laborais e a democracia consiste apenas em eleger, de vez em quando, quem melhor vai servir os interesses capitalistas, depois de campanhas publicitárias muito semelhantes às de quem pretende vender sabonetes. Mas não são só as pessoas as vítimas, os animais não ficam à margem. Só assim se compreende a vergonhosa tentativa de introduzir touradas picadas (e touros de morte, a seguir) e o aparente sucesso conseguido com a introdução recente de touradas à corda e vacadas na ilha de São Miguel com o único objectivo de tentar salvar a tauromaquia de alguns terceirenses, que é uma indústria em dificuldades que só sobrevive graças a apoios, declarados ou escondidos, de fundos europeus, governamentais e autárquicos.
Mas, nem tudo está perdido, na sociedade açoriana, também, tem havido alguns avanços de que são exemplos, o empenho de muitas pessoas na campanha contra as touradas picadas, o número crescente de colaboradores na campanha SOS- Cagarro e o cada vez maior número de pessoas que trata convenientemente dos seus animais de companhia.
O desrespeito para com os animais merece, de todos nós, uma posição firme de denúncia pública dos prevaricadores e uma profunda reflexão acerca das causas que levam à sua persistência e de como combatê-las.

Para nós, a causa profunda do deplorável estado em que se encontram os animais radica no modelo de sociedade que, para conseguir os seus objectivos, transformou grande parte da humanidade e dos animais em máquinas descartáveis. Daí considerarmos que, embora respeitando todas as motivações, a luta pelos direitos dos animais deverá assumir um carácter assumidamente anti-capitalista.

Mariano Soares

sábado, 12 de dezembro de 2009

12 de Dezembro - Dia de acção global pela Justiça climática: Mudemos de sistema, não de clima!


Hoje, 12 de Dezembro, dezenas de milhares de pessoas vão marchar em Copenhague para exigir acções concretas e efectivas contra as mudanças climáticas. Muit@ s ainda têm esperança que «reunião de cúpula dos líderes mundiais seja capaz de chegar a um acordo que seja bom para o povo e o clima. Mas nós bem sabemos que as negociações não vão resolver a grave crise climática em que estamos metidos.

Na verdade, não estamos mais perto de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa do que no início, quando as negociações começaram há quinze anos: as emissões continuam a aumentar a ritmo acelerado, enquanto o comércio de carbono permite que os criminosos do clima continuam a poluir e a ganhar lucros com isso. Diante da profunda crise da nossa civilização, tudo o que vemos é um circo político a defender os interesses empresariais das grandes corporações capitalistas.

Em resposta a esta loucura, um movimento internacional pela justiça climática tem vindo a reivindicar poder sobre o nosso próprio futuro. Como parte deste, um novo movimento global pela justiça climática surgiu para reivindicar o poder sobre o nosso futuro. Não podemos confiar, em 1º lugar, naqueles que criaram o problema, e que têm grande interesse para diminuir o poder sobre o nosso futuro, nem alimentar a nossa fé nas tecnologias inseguras, insustentáveis e que não oferecem garantias.

Ao contrário daqueles que escolhem o capitalismo 'verde', nós sabemos que no nosso planeta finito é impossível ter um crescimento infinito. Em vez de tentar reparar um sistema destrutivo, devemos:

• Deixar os combustíveis fósseis no subsolo
• Socializar e descentralizar a energia
• Re-localizar a nossa produção de alimentos
• Reconhecer e restaurar a dívida ecológica e climática
• Respeitar os direitos dos povos indígenas
• Regenerar o nosso ecossistema

A única maneira de conseguir isso é não mais estarmos à espera que alguém actue, ou que corrija problemas em outros lugares - pois, devemos e podemos tomar o poder nas nossas próprias mãos e construir um movimento forte, que lute pela justiça climática: um mundo onde as soluções para a crise do clima não sejam pagas pelos que fizeram o mínimo para causar o problema, e que lute por um mundo onde a qualidade vida de alguém não signifique a exploração de outros, e para um mundo com mais tempo para o prazer, a solidariedade e um desenvolvimento mais humano real, enfim, para um futuro brilhante sem o capitalismo.


Juntem-se ao bloco às 13:00 no Slotsplads Christiansborg (Praça do Parlamento), em Copenhague centro para pedir


MUDEMOS DE SISTEMA, NÃO DE CLIMA!


http://www.climate-justice-action.org

http://www.climatecollective.org/

Fonte: http://pimentanegra.blogspot.com/

domingo, 6 de dezembro de 2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Cimeira de Copenhaga para continuar os negócios do costume?

Entrevista do "pai" dos alertas para as alterações climáticas ao “The Guardian”

Considera ser o desafio moral do século: a luta contra as alterações climáticas. James Hansen, um dos mais eminentes estudiosos do clima, o homem que alertou para os perigos das alterações climáticas muitos anos antes de Al Gore abrir os olhos ao mundo com o seu documentário “Uma Verdade Inconveniente”, falou ao “The Guardian” nas vésperas da cimeira de Copenhaga. E o que tem a dizer não é agradável. Hansen diz que é preferível que a cimeira redunde em fracasso, dado que o ponto de partida é profundamente defeituoso. Mais valia começar tudo do zero, argumenta.

Peter Andrews/Reuters

Hansen opõe-se veementemente aos esquemas de compra e venda de emissões de CO2 para a atmosfera entre nações.

“Preferia que não acontecesse [um acordo em Copenhaga], se as pessoas aceitarem a cimeira como sendo a ‘via certa’, em vez de a ‘via do desastre’”, indicou Hansen, que dirige o Instituto Goddard para os Estudos Espaciais, da NASA, em Nova Iorque.
O cientista que convenceu o mundo a prestar atenção ao perigo crescente do aquecimento global é muito claro quando diz ao “The Guardian” que seria melhor para o Planeta e para as futuras gerações que a cimeira de Copenhaga acabasse num desastre. James Hansen considera que qualquer acordo que venha a emergir das negociações será tão profundamente defeituoso que mais valia começar tudo de novo a partir do zero.

“Toda a abordagem é tão profundamente errada que é melhor reavaliar a situação. Se isto for uma coisa ao estilo Quioto, então as pessoas irão demorar anos a tentar determinar o que é que aquilo quer dizer exactamente”, criticou Hansen.

Hansen começou a apresentar-se diante do Congresso americano em 1989, alertando para as consequências do aquecimento global, e fez mais do que qualquer outro cientista na educação dos políticos norte-americanos acerca das mudanças climáticas e das suas consequências.

Apesar de se considerar um relutante orador, diz que foi forçado a entrar na esfera pública depois de as catástrofes naturais se terem começado a multiplicar.

Esta entrevista ao “The Guardian” acontece numa altura em que se registaram alguns progressos na cimeira de Copenhaga, com a Índia a anunciar um limite à emissão de CO2 para a atmosfera. Os quatro maiores produtores de gases com efeito de estufa - EUA, China, UE e Índia - já se comprometeram com limites para as emissões, mas ainda há muito a fazer e muitos obstáculos a serem ultrapassados.

Hansen opõe-se veementemente aos esquemas de compra e venda de emissões de CO2 para a atmosfera entre nações. Compara este sistema às indulgências vendidas pelo Clero na Idade Média, quando os fiéis compravam a redenção das suas almas dando dinheiro aos padres. Neste caso os países ricos dão dinheiro aos países pobres em troca de emissões de carbono.

Hansen é igualmente muito crítico das actuações de Barack Obama e de Al Gore, afirmando que estes líderes mundiais falharam aquele que é considerado hoje o desafio moral da nossa era. Porque o problema do corte das emissões de CO2 para a atmosfera não se pode ajustar aos interesses políticos e económicos internacionais. “Neste tipo de assuntos não pode haver compromissos”, avalia. “Não temos um líder que seja capaz de entender o que se passa e que diga o que realmente importa dizer. Em vez disso, estamos todos a tentar continuar com os negócios de sempre”.

Apesar de tudo, Hansen permanece optimista: “Podemos já nos ter comprometido com um aumento do nível do mar em pelo menos um metro - ou mais - mas isso não quer dizer que desistamos. Porque se desistirmos, em vez de um poderemos ter de lidar com dezenas de metros. Por isso acho contraproducente as pessoas dizerem que atingimos um ponto de não retorno e que é demasiado tarde. Nesse caso, em que é que estamos a pensar: vamos abandonar o Planeta? Devemos minimizar os estragos”, vaticinou.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009