quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

As árvores classificadas de São Miguel



As árvores classificadas de São Miguel


O jornalista Rui Jorge Cabral, num texto publicado no jornal “Açoriano Oriental, no passado dia 20 de novembro, abordou a questão das árvores classificadas nos Açores. Neste texto vou retomar o assunto e fazer o ponto da situação das espécies classificadas na ilha de São Miguel.

Não pondo em causa a legislação que tem servido de base para a classificação e não conhecendo todas as árvores classificadas, à partida parece haver um “desequilíbrio” na sua distribuição geográfica. Assim, só haverá árvores que mereçam figurar na lista das espécies classificadas nas ilhas de São Miguel, Terceira e Faial? Não haverá, em São Miguel, mais nenhuma árvore que mereça ser classificada, para além das sete (12% do número total) classificadas, entre as 58 existentes, nos Açores?

No que diz respeito às três espécies mais classificadas, nos Açores, existem 22 araucárias (Araucaria heterophylla) (37,9 %), 13 dragoeiros (Dracaena draco) (22,4%) e 10 eucaliptos (Eucalyptus diversicolor) (17,4%). Em síntese, as três espécies referidas contribuem com 77,5% para o total das árvores classificadas.

Na ilha de São Miguel, existem sete árvores classificadas: 4 dragoeiros (Dracaena draco), já desaparecidos, um metrosídero (Metrosideros tomentosa (?)), uma árvore-da-borracha (Ficus macrophylla) e uma sequoia (Sequoia sempervirens).

Data de 1965, a classificação da primeira árvore nos Açores, o metrosídero existente no Campo de São Francisco, em Ponta Delgada, que deverá ter cerca de 125 anos.

Para além deste exemplar, talvez o mais conhecido dos Açores, há vários metrosíderos em São Miguel, alguns em jardins, com destaque para os que se encontram no Jardim
António Borges e no Jardim de Santana.

Por se terem adaptado bem aos terrenos de São Miguel e por resistirem bem à “brisa marítima” os metrosíderos são muito usados em sebes vivas.
Pelo mesmo despacho de 1970, foram classificadas a árvore-da-borracha do Jardim António Borges e a sequoia do Lugar do Torninho, nas Furnas.

A árvor-da-borracha (Ficus macrophylla) é uma espécie que atinge grandes dimensões e que terá sido introduzida nos Açores em meados do século XIX. Para além da existente no Jardim António Borges, há exemplares majestosos que mereciam ser classificados no Jardim de Santana e no Jardim José do Canto.

A sequoia da Mata-Jardim José do Canto, nas margens da Lagoa das Furnas, que merece uma visita, é uma das plantas notáveis da ilha de São Miguel referidas pelo Regente Florestal António Emiliano Costa, no Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, nº 17, relativo ao primeiro semestre de 1953, que acerca dela escreveu: “A Sequoia sempervirens End. (Californian redwood) …é um belo exemplar local com 4,27 m de perímetro à altura do peito …”

Embora a madeira de sequoia seja “muito superior à da criptoméria, com a vantagem também de ser leve e ser “ótima para todos os géneros de construções e mesmo marcenaria, tomando um belo aspeto quando polida e envernizada” entre nós a planta, nativa da América do Norte, só é cultivada com fins ornamentais.

Os quatro dragoeiros da Praia de Água d’Alto foram classificados em 1982 e, se não estou em erro, morreram no final da década de 80 do século passado.

Achamos inconcebível que não tenha havido o cuidado de rever a lista das árvores classificadas na Região Autónoma dos Açores, eliminando as plantas que já não existem ou acrescentando uma simples nota com a indicação das que morreram.

No que diz respeito aos dragoeiros também não compreendo por que razão não se encontra classificado o dragoeiro existente na Escola Secundária Antero de Quental, o qual, segundo o Engª. Ernesto Goes é o maior da ilha de São Miguel e terá “sido plantado na altura da construção do antigo Paço, iniciado em 1587”.

Para além daquele, o referido engenheiro destacou três exemplares existentes no Jardim António Borges e destaco o bonito exemplar existente no Jardim da Casa do Povo do Pico da Pedra que tem cerca de 29 anos.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31114, 28 de dez de 2016, p.23)

domingo, 18 de dezembro de 2016

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Sobre zoológicos


Ainda sobre zoológicos

No momento em que escrevo este texto mais de mil e cem pessoas já subscreveram uma petição dirigida ao presidente da Câmara Municipal da Povoação, pedindo para que o mesmo repense o projeto de recuperação do chamado parque zoológico e procure uma alternativa que não implique a manutenção de animais em cativeiro.

O sucesso da petição, lançada por pessoas que acompanham a situação daquele espaço, situado no centro da Povoação, pelo menos desde 2009, deve-se ao facto de não só no estrangeiro, mas também entre nós ser cada vez maior o número de pessoas preocupadas com os direitos dos animais.

A preocupação crescente, a nível mundial, com a situação dos animais e com a deseducação dos humanos associada à criação de animais selvagens em cativeiro tem levado ao encerramento de muitos zoológicos ou à sua reconversão.

De acordo com um “dossier” da responsabilidade do Projeto ZOOXXI, entre os países que têm fechado mais parques e jardins zoológicos estão os Estados Unidos, a China, a Inglaterra, a Austrália e o Canadá.

Ainda segundo o mesmo Projeto, as principais causas para o encerramento de zoológicos são as crises económicas, as condições precárias e um inadequado manejo dos animais e a pressão pública para a sua melhoria ou eliminação, quando estão a causar danos aos animais ou mesmo a prejudicar a imagem das localidades onde estão instalados.

O conhecido escritor inglês Desmond Morris, responsável durante dez anos pelos mamíferos do Zoo de Londres, um dia afirmou: “Sei que os bons jardins zoológicos são importantes por muitas razões, mas aprendi o suficiente para me aperceber dos danos causados aos animais ao mantê-los cativos. E simplesmente não quis continuar”


De entre as razões importantes referidas por Desmond Morris, estarão a função educativa e o seu papel na conservação das espécies, as quais são contestadas por vários autores.

No que diz respeito à sua função educativa, o facto dos animais enjaulados em pequenos recintos apresentarem comportamentos anormais em nada contribui para o real conhecimento das diversas espécies.

Alguns pedagogos sustentam mesmo que o cinema, a televisão, as animações informáticas constituem um recurso muito mais útil do que os parques zoológicos.

A segunda ideia, a de que os jardins zoológicos contribuem para a preservação de algumas espécies com vista à sua reintrodução na natureza, é também posta em causa pelos autores que vimos citando. Com efeito, aqueles autores referem que são muito poucos os casos em que tal aconteceu e mencionam o facto de nos anos 90 das três mil espécies em cativeiro em zoológicos apenas 66 estavam em vias de extinção.

No ano 2000, a presidente da Liga Para a Protecção da Natureza, afirmou que “o que se verifica é que os parques zoológicos são meras instituições de atividades lúdicas e até de alguma exploração animal ligada a atividades financeiras, quase industrializadas.”

De então para cá pouco se modificou e no caso da Povoação, para além da manutenção dos animais em condições precárias, mesmo ilegais perante a legislação em vigor, o parque nunca teve nem tem condições para ter uma função pedagógica nem nenhum papel para a conservação de espécies e é insuficiente querer aumentar o tamanho das jaulas quando o que importa é mudar de paradigma.

Termino, apelando ao bom senso da Câmara Municipal da Povoação e citando um comentário, deixado na página web da petição referida no início, de Milou van Mulken, que visitou o local e não gostou: “Eu vi pessoas dando cigarros aos macacos !! E não havia pessoal responsável para evitar que tal fosse feito. Este não é lugar para macacos. Muito pequeno e eles parecem deprimidos.”


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31103, 14 de dezembro de 2016, p.16)

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Um zoológico para São Miguel


São Miguel precisa de um zoológico?


Com o aumento do número de visitantes à ilha de São Miguel, nos últimos tempos, quase só se pensa em sacar dinheiro aos mesmos, não importa como e com que custos, nomeadamente ambientais. Há quem venda gato por lebre, como peças de “artesanato” que nada têm de açoriano e há quem imagine novas atrações que já tiveram a sua época, mas que hoje estão completamente ultrapassadas, como aquários e zoológicos.

Não me vou pronunciar sobre o anunciado aquário para Ponta Delgada porque os governantes já deram o seu aval, embora não queiram assumir a sua responsabilidade se o dito for à falência por falta de visitantes. Para poderem lavar as mãos inventaram a realização um referendo que à partida terá uma participação ridícula, pensando que a vitória do sim ao mesmo é mais do que garantida, pois uma população desinformada e deseducada facilmente opta pela megalomania e por música mesmo desafinada e roqueiras.

Nadando a favor da maré, tal como faz o peixe moribundo, a Câmara Municipal da Povoação, depois da desistência do Nordeste em criar um jardim zoológico, anuncia que vai investir cerca de 250 mil euros para remodelar o seu parque zoológico pois segundo ela atrai turistas e crianças.

Não posso negar que o referido parque não atraia visitantes e a prova foi que, por curiosidade, e por já ter ouvido falar tão mal da situação em que se encontravam os animais, o ano passado lá fui e saí desolado com o que vi e com o que ouvi de alguns continentais que tal como eu tiveram a oportunidade de ver os macacos a comerem uma pomba que havia ficado detida na prisão onde eram obrigados a sobreviver.

Mas o meu desapontamento ainda é maior ao saber que gente jovem que está à frente dos destinos da autarquia pensa como pensavam os velhos do século XIX, com a agravante de quererem, para não maçar as vistas, fazer a rotação dos animais em exposição, com animais vindos de Lisboa. A que preço para os contribuintes e com que custos para os animais?

Esta ideia enclausurar animais não é de hoje. Com efeito, em 1972, houve uma tentativa de criar um mini zoológico e um aquário em Ponta Delgada, no Parque da Cidade (Jardim António Borges).

De acordo com informações colhidas, já havia a possibilidade de conseguir, a título gratuito, alguns animais nas Províncias Ultramarinas bem como o seu transporte. O Dr. Carlos Medeiros, na altura, defendeu que não fosse sacrificado o Jardim António Borges e que fosse adquirido um terreno “situado no lado nascente daquele jardim para ali se ir instalando o futuro Mini-Zoo” e acrescentou que “no referido terreno se encontra um edifício que poderia, salvo melhor opinião, ser utilizado para se instalar um aquário nos moldes do que foi proposto por nós à Exma. Comissão Executiva da Junta Geral em 8 de maio de 1970”.

Não sei porque falhou a criação do zoológico e do aquário, mas uma explicação plausível foi dada através do seguinte diálogo, entre caçadores, publicado no jornal “A Ilha”:

“ Ouvi que vamos ter um jardim Zoológico? Não é como o de Lisboa, mas será coisa para se ver. Diz que a Câmara é que faz isso? Creio que sim, amigo Xico. Mas por todos os lados se diz que a Câmara não tem dinheiro e até o preço das licenças dos cães subiu, etc.. Como é isso? Os passeios das ruas da cidade mal-amanhados e outras necessidades urgentes mas não há bala, para o Zoo vai aparecer. O que diz o irmão? Ó Xico os tempos são outros e há dinheiro apenas para o que convém…

Passados mais de 40 anos, o que não terá sido feito por falta de dinheiro ou porque o mesmo era usado com parcimónia, volta a estar em discussão.

A grande diferença é que hoje faz-se muita asneira por haver dinheiro a mais e por não haver qualquer receio dos projetos não serem bem-sucedidos pois, quer sejam públicos ou privados, o contribuinte é que acaba por os pagar.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31087, 23 de novembro de 2016, p.16)

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

AS GAIVOTAS SÃO REALMENTE UMA PRAGA?


COMUNICADO: Perante as alarmantes notícias sobre o abate e envenenamento de gaivotas nos aterros sanitários dos Açores, sendo esta espécie qualificada frequentemente como uma “praga” pelos responsáveis destes aterros e também pela comunicação social, as seguintes Associações e Grupos ecologistas da região, assim como diversas pessoas a título individual, querem fazer público e manifestar o seguinte:


AS GAIVOTAS SÃO REALMENTE UMA PRAGA?


O que é realmente uma praga?

O conceito de praga tem vindo a evoluir no tempo, passando de ser uma simples palavra de uso na linguagem comum a ser actualmente um conceito com um significado técnico e científico muito mais rigoroso.

Tradicionalmente entende-se como praga qualquer tipo de organismo capaz de causar danos consideráveis nas produções agrícolas ou florestais. Estes organismos podem ser animais, plantas ou microorganismos, sendo então habitual falar, respectivamente, de pragas animais, de ervas daninhas ou de doenças das plantas.

O conceito de praga, no entanto, tem-se alargado posteriormente a outros tipos de danos, não apenas às culturas agrícolas ou florestais, e também inclui actualmente os danos causados à saúde humana, aos animais domésticos ou a determinados interesses económicos.

Se antigamente os organismos (animais, plantas ou microorganismos) eram considerados de forma simplista como bons ou maus segundo a sua capacidade de converter-se em pragas, actualmente o conceito de praga não está centrado no organismo mas na situação na qual ele acaba por se converte em praga. Assim, um organismo poderá ser benéfico num determinado lugar e poderá ser, ao mesmo tempo, uma praga noutro lugar diferente. Isto é, não existem espécies-praga, mas espécies que em determinadas condições se convertem em praga.

E em que condições um organismo se converte em praga? Habitualmente isto acontece naquelas condições em que um determinado organismo passa a multiplicar-se de forma rápida e sem controlo, criando subitamente uma superpopulação que é causadora de danos. Ora, estas condições são precisamente as que caracterizam às espécies exóticas invasoras. Estas espécies, introduzidas pelo homem, têm exactamente como característica crescer e multiplicar-se sem controlo por não existir no ecossistema no qual foram introduzidas nenhum factor de equilíbrio sobre a sua população, como poderia ser por exemplo a existência de predadores, de competidores, de parasitas ou de doenças. Assim, as espécies exóticas invasoras facilmente podem converter-se em praga.

Muito mais raras são as condições nas quais uma espécie nativa pode converter-se também em praga, e implicam que esta espécie tenha uma alta taxa de natalidade capaz de criar um aumento súbito da sua população, como acontece por exemplo na África com as pragas nativas de gafanhotos. Estando as espécies nativas em equilíbrio com o seu ecossistema, esse aumento súbito acabará no entanto por ser anulado naturalmente, registando-se assim apenas uma situação de ciclos periódicos de aumento da sua população.


As gaivotas são uma praga?

A Gaivota-dos-Açores (Larus michahellis atlantis) é uma subespécie de gaivota endémica do nosso arquipélago. É portanto uma subespécie que só existe nas ilhas dos Açores (alguns autores, no entanto, incluem nesta subespécie as gaivotas existentes na Madeira e nas Canárias, enquanto outros elevam a Gaivota-dos-Açores à categoria de espécie independente). Calcula-se que exista uma população total de mais de quatro mil casais reprodutores de Gaivota-dos-Açores, distribuídos pelas diferentes ilhas açorianas [1].

A Gaivota-dos-Açores não é, portanto, uma espécie exótica invasora que cresça sem controlo, mas antes uma espécie nativa cuja população está em equilíbrio com o ecossistema do qual faz parte. E tendo ainda uma taxa de reprodução bastante baixa, sem capacidade de ter aumentos rápidos nem súbitos da sua população, não tem objectivamente condições para converter-se ou ser considerada alguma vez uma praga.

O mesmo pode dizer-se de outras espécies e subespécies de aves nativas endémicas dos Açores, como o Pombo-torcaz (Columba palumbus azorica), o Melro-preto (Turdus merula azorensis) e o Estorninho (Sturnus vulgaris granti). Estas espécies não têm capacidade de ser praga, apesar de erroneamente serem muitas vezes referidas como tal na comunicação social açoriana. Também não é uma praga o priolo (Pyrrhula murina), que no passado foi levado quase ao extermínio por ser considerado como tal nas culturas de laranja. Apesar de que todos eles podem causar ou causam danos pontuais em determinadas culturas, nem têm as características nem ocasionam um volume de danos suficientes como para poder ser alguma vez considerados uma praga.

A população de Gaivota-dos-Açores, no entanto, tem sofrido ultimamente um aumento significativo no arquipélago como consequência do desequilíbrio criado pelo homem no seu ecossistema. A incorrecta e negligente gestão dos resíduos sólidos urbanos tem proporcionado a esta espécie um aumento importante de alimento disponível. Assim, nas ilhas de maior dimensão as gaivotas passaram a frequentar principalmente lixeiras e aterros para se alimentar, sendo nelas actualmente o lixo a sua principal fonte de alimentação. Com isto a população de gaivotas tem vindo ultimamente a crescer, estimando-se ter aumentado até num 60 % em duas décadas [1].

As gaivotas, para além dalguns incómodos pontuais, na realidade não ocasionam danos consideráveis ao ser humano. No entanto, a nível sanitário, há uma importante preocupação pela possível transmissão de doenças que possam apanhar nas lixeiras e nos aterros mal geridos onde se alimentam. Também, a nível natural, é preocupante o possível aumento da pressão de predação que podem exercer sobre outras aves nativas, ou ainda, por exemplo, o possível aumento da eutrofização da Lagoa do Fogo, lugar onde está situada a principal colónia de cria destas gaivotas.


O que fazer com as gaivotas?

O aumento da população da Gaivota-dos-Açores é consequência do desequilíbrio criado pela negligente gestão dos resíduos sólidos urbanos. Uma gestão eficiente dos resíduos, onde a fracção orgânica do lixo fosse recolhida e tratada separadamente, sem ir parar às lixeiras ou ao aterro, eliminaria esta fonte extraordinária de alimentação das gaivotas e sua população voltaria automaticamente a níveis normais. Outras melhoras possíveis, como o tratamento biológico dos resíduos ou uma melhor utilização dos aterros, reduziria igualmente a população actual de gaivotas. O problema não está portanto em saber o que fazer com as gaivotas senão em corrigir os maus hábitos e o desequilíbrio causado pelo homem no ambiente e nos ecossistemas das ilhas.

Entretanto, caso se queira insistir por mais tempo num modelo erróneo e insensato de gestão dos resíduos, existe a possibilidade de tomar algumas medidas sobre a população de gaivotas que, sem chegar nunca a solucionar as causas, podem minorar transitoriamente os possíveis danos que possam causar. Estas medidas, especialmente por se tratar de uma subespécie endémica dos Açores, devem ser obrigatoriamente realizadas dentro das normas éticas que merece uma espécie única da nossa ornitofauna. Deste tipo de medidas pode ser um bom exemplo a esterilização de ovos de gaivota que tem vindo a realizar-se na colónia da Lagoa do Fogo e que tem conseguido reduzir em parte a natalidade desta espécie.

Existem no entanto na nossa região numerosos exemplos recentes de uma total falta de ética no tratamento da população de gaivotas, realizados mais ou menos secretamente nos aterros da região e também fora deles. É disto um vergonhoso exemplo a opção de disparar e abater gaivotas no aterro da ilha Terceira, onde recentemente as gaivotas foram mortas às centenas (ou aos milhares se acreditamos no anunciado pelo próprio aterro) [2]. Ou também a opção de colocar iscos envenenados no aterro de São Miguel com um veneno tão perigoso como o pentobarbital sódico, utilizado na eutanásia animal e humana, que tem matado recentemente não só gaivotas, como também outras aves nativas e até vários cães [3].

Olhando para estas acções que atentam de forma vergonhosa contra a natureza, realizadas ou autorizadas pelas administrações regionais e locais, percebemos que o respeito pela fauna nativa continua a ser uma miragem na nossa região. E isto num momento no qual se faz propaganda dos Açores como uma região moderna e sustentável e tenta atrair-se a ela o chamado turismo verde e de natureza.

Há ainda cargos públicos na nossa região que consideram que as gaivotas são “ratos com asas”. E até os próprios deputados regionais, numa recente Resolução de 2015 [4], chegam a equiparar legalmente espécies endémicas como são as gaivotas, os pombos e os melros a espécies exóticas invasoras como são os ratos ou as térmitas, o que diz muito do seu respeito pela fauna dos Açores. Afinal, apetece dizer que a pergunta não será o que é que nós podemos fazer com as gaivotas, senão o que é que as gaivotas e a natureza poderão fazer connosco.



REFERÊNCIAS
[1] Neves, V.C., N. Murdoch, R.W. Furness. 2006. Population status and diet of the Yellow-legged Gull in the Azores. Arquipélago. Life and Marine Sciences 23A: 59-73.
[2] Telejornal. RTP Açores, 11/05/2015.
[3] Produto usado no controlo de gaivotas nos Açores pode ter implicações na saúde pública. Público, 28/10/2016. https://www.publico.pt/local/noticia/produto-usado-no-controlo-de-gaivotas-nos-acores-pode-ter-implicacoes-na-saude-publica-1749131
[4] Plano estratégico de combate às pragas dos Açores e controlo de densidade de espécies protegidas. Resolução da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores n.º 14/2015/A.



ASSOCIAÇÕES E GRUPOS ECOLOGISTAS:

Amigos dos Açores – Associação Ecológica
Amigos do Calhau – Associação Ecológica
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
Coletivo Açoriano de Ecologia Social
Avifauna dos Açores


APOIOS INDIVIDUAIS:

Alexandra Manes
Andrea Fernandes Simões Ribeiro
Ana Margarida de Medeiros Henrique
Ana Teresa Fernandes Baia Simões
António Eduardo Soares de Sousa
Carlos de Bulhão Pato
Clara Rego Costa Oliveira Cymbron
David M. Santos
Erica Del Rei de Sá Perello
Filipe de Chantal Borges Sancho
Gonçalo de Portugal de Almeida Tavares
Helena Câmara
Helena Melo Medeiros
Helena Primo
José Melo
Luís Noronha Botelho
Maria do Carmo Barreto
Maria Margarida Soares de Sousa
Miguel Fontes
Paula Costa
Rita Patuléia Pereira Bernardino
Rui Soares Alcântara
Sérgio Diogo Caetano
Sofia Cassiano de Medeiros
Teófilo José Soares de Braga

As trapalhadas da incineração

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Envenenamento de gaivotas


Alguém pensou nas crianças?

Nos últimos dias do mês passado, a comunicação social e as redes sociais divulgaram notícias sobre o que uns chamam controlo e outra matança de gaivotas por parte de uma entidade oficial. Também foram referidos a morte de alguns cães presumivelmente associada à morte das mesmas e de um milhafre.

Não querendo aprofundar este tema, tal é minha indignação no momento em que escrevo, vou apenas fazer uma breve referência ao assunto e dar a conhecer o que se passava no passado já longínquo. Assim, entre outros possíveis exemplos, mencionarei o referido por Alice Moderno, em 1911, e uma opinião datada de 1952.

Sobre o ocorrido apenas queria mencionar que o combate à presença de gaivotas deve ser feito primeiramente fora do aterro sanitário, tomando medidas para que o seu número não cresça. Para isso é preciso não disponibilizar alimento, acabando com as pequenas lixeiras e vazadouros a céu aberto e isto só se consegue se uma parte da população deixar de ser “porca”. Tal só é possível com uma educação a sério e não com campanhas para inglês ver e, por último ou ao mesmo tempo, com castigos exemplares para todos os prevaricadores.

Evitando os depósitos de matéria orgânica, o número de gaivotas diminuiria e as entidades poderiam muito bem, como já se faz por este mundo mais civilizado, optar por estratégias de “sacrifico zero” de controlo de aves.

Há cento e cinco anos, Alice Moderno denunciou, no seu jornal “A Folha”, o uso da estricnina para eliminar cães, nas ruas de Ponta Delgada. Alice Moderno, para além de condenar aquele “bárbaro procedimento”, também, censurava o procedimento dos diretores de farmácias que vendiam o veneno a “criaturas anónimas e inconscientes – que outras não podem ser as que tão cruelmente procedem contra animais inofensivos – habilitando-as assim a, inclusivamente, atentarem contra a vida humana…”

Há sessenta e quatro anos, o senhor Manuel Pereira Duarte, delegado da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, nos Ginetes, denunciou, no Correio dos Açores, num texto intitulado “Em defesa das crianças e também … dos pobres animais”, o facto de na sua freguesia “os facínoras” terem assassinado “algumas dezenas de cães e gatos”, usando para tal “estricnina ou sais deste alcaloide” colocados em “cabeças fritas de chicharro”.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31081 de 15 de novembro de 2016 p.16)

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

São Martinho sem vacadas



Animal ferido sem um chifre - Lagoa


Para: Câmara Municipal da Lagoa e Junta de Freguesia de Santa Cruz

Exmos Senhores
No próximo dia 12 de novembro está programada a realização duma “vacada”, integrada nas comemorações de São Martinho, na freguesia de Santa Cruz, concelho da Lagoa, na ilha de São Miguel.
- Considerando que as touradas ou “vacadas” em nada contribuem para educar os cidadãos e cidadãs para o respeito aos animais, além de causarem sofrimento aos mesmos;
- Considerando que põem em risco, de forma absurda, a integridade física e até em algumas ocasiões a vida das pessoas;
- Considerando que não há tradição ou divertimento que justifiquem o sofrimento e maus tratos a um animal;
Vimos apelar:
- À Câmara Municipal da Lagoa e à Junta de Freguesia de Santa Cruz para que não apoiem a iniciativa, como fazia o antigo presidente João Ponte;
- Aos lagoenses e demais micaelenses para boicotarem a iniciativa e participarem noutros convívios onde não há o gasto inútil de dinheiros para alimentar a indústria tauromáquica terceirense, como o São Martinho da Freguesia do Cabouco.

Assine aqui:
https://www.change.org/p/c%C3%A2mara-municipal-da-lagoa-e-junta-de-freguesia-de-santa-cruz-s%C3%A3o-martinho-sem-vacadas

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Tourada é tortura


A Batalha n 271 de Set Out de 2016

domingo, 30 de outubro de 2016

Não à caça


A Folha, 6 de maio de 1915

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Pegada ecológica

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Terra Livre 80

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Goya e a tauromaquia


Goya e a tauromaquia

Muito recentemente adquiri a publicação “A Vida e a Arte de Goya”, inserida na publicação quinzenal “Iniciação – Cadernos de Informação Cultural”, editada, em 1943, pelo Professor Agostinho da Silva.

Francisco José de Goya y Lucientes (1746 - 1828) foi um pintor e gravador espanhol que, segundo Agostinho da Silva, embora mantendo relações com gente da corte não perdeu a independência e o “gosto de livre crítica”, continuando a ser um “homem do povo do nascimento à morte”.

Nos últimos anos da sua vida, “apesar da velhice e da doença, a sua capacidade de trabalho não diminui” tendo gravado “os Provérbios e a Tauromaquia”

Talvez pelo simples facto de ter obras sobre a tauromaquia, Goya foi, durante muitos anos, considerado um defensor das touradas, tendo sido um dos grandes vultos da cultura citado pelos adeptos das mesmas em defesa da sua continuação. A título de exemplo, ainda em 2010, Ignacio Gonzalez, vice presidente da Comunidade de Madrid socorria-se do “interesse de grandes artistas pelo espetáculo taurino”, entre eles Goya, para anunciar que o seu governo iria declarar as touradas como “bem de interesse cultural”.

Através de uma leitura mais recente da obra de Goya, os especialistas chegaram à conclusão de que ao contrário de ser defensor das touradas aquele terá sido um crítico da violência tauromáquica.

José Manuel Matilla, conservador do Museu do Prado, referindo-se a uma exposição sobre Goya que esteve patente naquele museu escreveu:

"A crítica romântica apresenta um Goya taurino, que inclusive na juventude chegou a tourear, mas essas gravuras são uma grande crítica à tauromaquia, especialmente pela enorme violência para toureiros e cavalos. A série termina com a morte de Pepe Hillo na Praça de Madrid, o mais famoso toureiro, que levou à proibição de touradas. Para Goya, as touradas não são ações heroicas, mas sim o medo e o terror, a morte, a violência e a irracionalidade”.
Segundo Sabela Rodríguez Álvarez, aquando da inauguração da referida exposição o escultor, Juan Bordes, destacou “quatro pinturas batizadas como Los toros de Burdeos, que mostram “o touro como o único inocente”, frente aos rostos do público e dos toureiros, que são representados de forma "monstruosa", como a personificação de "quem quer se alimentar de sangue”.
Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31058,18 de outubro de 2016, p. 14)

terça-feira, 4 de outubro de 2016

NO DIA DO ANIMAL



NO DIA DO ANIMAL

“É bendita a propaganda que se faça a favor dos animais; e é bendita, porque significa Bondade, porque sobretudo tende a minorar o sofrimento dos maiores amigos do homem” (Alice Moderno)
Hoje, 4 de Outubro, celebra-se, uma vez mais, o Dia Mundial do Animal que, de acordo com algumas fontes, terá sido declarado em 1929, num Congresso de Proteção Animal realizado na Áustria.
A escolha do dia está relacionada com a data da morte de São Francisco de Assis, 4 de Outubro de 1226, que em sua vida amou e protegeu os animais, tendo chegado a comprar aves engaioladas apenas com o objetivo de as soltar e de as ver de novo em liberdade.
Nos Açores, quando se comemora o Dia do Animal não se pode esquecer todos os que ao longo da sua vida tudo fizeram para que os animais tivessem uma vida mais digna. Entre estas pessoas, destaca-se a figura de Alice Moderno, uma das fundadoras e grande dinamizadora da SMPA- Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, de 1914 a 1946.
A maioria das associações e das pessoas que se dedicam à causa animal têm com o seu ativismo um duplo objetivo, defender os animais e educar os humanos. Este desiderato, que não é recente, é bem evidenciado no extrato seguinte, publicado no Zoophilo em 1877: “(…)minorar as sevecias inuteis contra os animaes prestadios, melhorar as condições da sua, forçadamente curta e precaria existência entre nós, seus senhores naturaes, e em summa, e principalmente, por meio do irracional civilisar o homem; essa é a nossa questão; a isso tendem os nossos esforsos (…) levantar o seu nível moral”.

Apesar do Dia do Animal já ser comemorado há cerca de 90 anos e da (pretensa) evolução das mentalidades, hoje os militantes da causa animal continuam a ser vítimas da incompreensão por parte de um sector da sociedade, que por vezes nada faz para que tanto pessoas como animais tenham uma vida mais digna.

O principal argumento usado por alguns políticos, aos mais diversos níveis, para humilhar os defensores dos animais e para menosprezar a causa é o de sempre, isto é considerar que há sempre outra causa que merece ser defendida e que é prioritária. Dar-lhes-ia o benefício da dúvida se eles não fossem os principais responsáveis pelas dificuldades e injustiças de que são vítimas os humanos, para além de também serem corresponsáveis pela falta de civismo e de educação.

Uma resposta a estes ataques já foi dada, em 1909, pela SPAP-Sociedade Protetora dos Animais do Porto que respondeu da seguinte forma: “a proteção contra os maus tratos dos animaes não humanos não prejudica a prática da caridade, antes educa para a bem exercer”. Não sei em que sentido a SPAP usou a palavra caridade, mas apenas concordo com ele se for o que é atribuído por Agostinho da Silva que escreveu: “tempo virá de caridade, entendendo-se caridade não como aquele suplemento de humilhação que se leva aos que caíram na luta, mas como amor irrestrito que, embora consciente dos defeitos do amado, o ama sem pensar em saldo positivo ou negativo”.

Teófilo Braga
( Correio dos Açores, 31047, 4 de outubro de 2016, p.13)

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A propósito das pragas no século XIX


A propósito das pragas no século XIX

Há diferentes definições para o vocábulo praga. Caroline Faria na página brasileira InfoEscola escreve que “Praga biológica é um termo que pode ser utilizado para designar organismos que, quando se proliferam de forma desordenada ou fora de seu ambiente natural, podem causar algum tipo de dano ao ambiente, às pessoas ou à economia”.

Entre nós, no século XIX, o termo praga, segundo Francisco Maria Supico era usado para designar “as aves daninhas à agricultura”. Francisco Supico no jornal “Persuasão”, publicado no dia 4 de setembro de 1895, refere que a Câmara Municipal de Ponta Delgada, em 1839, “premiava com razoável quantia quem lhe apresentasse cada dúzia de bicos daquelas aves, que se inutilizavam cuidadosamente para evitar burlas”. Ainda de acordo com a mesma notícia, em 1895, a praga já não eram as aves mas os ratos.

Através da “Persuasão”, de 8 de julho de 1896, fica-se a saber que a perseguição às aves já se fazia no século XVIII, existindo uma postura em cuja certidão, passada a 13 de maio de 1792, obrigava a “que todos os lavradores hortelões, ou quaisquer outras pessoas sem exceção que cultivarem terras, quintas, vinhas ou matas, ou sejam próprias ou por arrendamento, tragam à Câmara duas cabeças de pássaros por cada um alqueire de propriedade que assim lavrarem ou cultivarem, até ao fim do mês de junho de cada um ano, com pena de pagarem 10 reis por cada uma das cabeças com que faltarem até à quantidade de dois moios de terra, ou de qualquer outra propriedade que tiverem por sua conta”.

Muitas posturas se seguiram até ao último ano em que a Câmara de Ponta Delgada cobrou o imposto de praga. De acordo com Supico, tal ocorreu no ano de 1875-1876, sendo o valor recebido de 296554 reis.

Mas, que aves eram incluídas na categoria de praga?

Ainda de acordo com a mesma fonte, no século XVIII todas as aves “eram condenadas ao extermínio”, na postura de 1824 não eram abrangidas “as codornizes, galinholas e perdizes, “para caça da mocidade que devesse dar-se a esse entretenimento nobre”” e na última, a de 1842, eram perseguidos o canário, o melro-negro e o tentilhão.

Em relação ao número de aves mortas, em Ponta Delgada, o Açoriano Oriental estimava que “para mais de 40 000 cabeças de praga daninha foram entregues às chamas”, em 1851. Em 1854, foram queimados, em Ponta Delgada mais de 100 000 “bicos de praga daninha” e no ano seguinte só entre 1 de janeiro e 23 de fevereiro foram queimados 39 067 bicos.

Mas os massacres não ocorreram só em Ponta Delgada, por exemplo em Vila Franca do Campo no ano de 1834 foram mortas 32 968 aves, em 1835, 18 109, e em 1836, 39 247.

Francisco Maria Supico, na Persuasão do dia 14 de setembro de 1898, menciona o “brutal e perigoso emprego de veneno”, arsénico, para ajudar no combate às aves durante alguns anos. Segundo ele “a selvajaria do emprego do arsénico para matar pássaros, não continuou. Desde logo se lhe reconheceriam os grandes perigos”.

A perseguição às aves não mereceu a unanimidade da sociedade micaelense, não tendo merecido a aceitação por parte do Padre João José do Amaral e de Tomaz Hickling.

A propósito da contestação ao combate à praga, Francisco Maria Supico escreveu:

“Tantos anos decorreram e tantas gerações se sucederam a praticar estes dois males: matar inocentes e cercear interesses agrícolas.

Porque afinal veio a conhecer-se que é menor o mal causado pelos pássaros do que o benefício que eles produzem nutrindo-se da bicharada que se desenvolve nos terrenos”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31037 de 14 de setembro de 2016, p. 16)

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Priolo


O priolo: de praga a jóia da coroa

Penso que hoje ninguém põe em causa o trabalho que tem sido feito em prol da conservação do priolo, ave única no mundo, que vive na zona montanhosa situada a leste da ilha de São Miguel nem os milhões de euros já investidos nos vários projetos que têm sido implementados nos concelhos do Nordeste e da Povoação.

Se hoje o priolo é classificado como uma espécie em perigo, no passado foi, a par com outras aves, considerado uma praga agrícola e como tal foi combatido pelas entidades oficiais, que incentivavam o seu abate, e foi perseguido pelos agricultores.

Embora a principal causa para o seu quase desaparecimento tenha sido a destruição e redução do seu habitat, sobretudo para a plantação de criptomérias e para a criação de pastagens, a perseguição movida pelos agricultores, que recebiam incentivos para os matar, a sua captura e morte por parte de colecionadores também contribuíram para que o seu número se reduzisse drasticamente.

Segundo uma nota publicada no Correio dos Açores, no dia 18 de novembro de 1971, chegou-se a duvidar da sua existência como se pode ler: “Nos últimos anos tem sido por mais de uma vez discutida ou posta em dúvida, nos sectores mais diretamente ligados aos estudos de ornitologia, a presença em S. Miguel de uma ave rara, que segundo parece, hoje só existe nesta ilha”.

Na mesma notícia, é mencionado o aparecimento de um priolo “na Lagoa das Furnas, na propriedade ao lado do antigo Jardim José do Canto”, tendo o exemplar sido apanhado e ido para o Museu Carlos Machado, “onde se encontra a enriquecer a coleção ali existente”.

Hoje, embora a evolução das mentalidades não tenha acompanhado a evolução da tecnologia, ninguém de bom senso considera mais importante uma ave empalhada num museu do que uma ave viva e em liberdade.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31017, 23 de agosto de 2016, p.16)

Imagem daqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Priolo

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Quantas?

sábado, 30 de julho de 2016

Ave rara


Açores, 12 de abril de 1973

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Terra Livre nº 79

terça-feira, 26 de julho de 2016

Vitória Pais Freire de Andrade e a oposição às touradas


Vitória Pais Freire de Andrade e a oposição às touradas

Tenho lido alguma bibliografia sobre touradas, quer de adeptos, quer de defensores da abolição das mesmas, mas até recentemente não havia encontrado nenhuma publicação escrita por uma mulher.

No texto de hoje, farei uma breve referência a Vitória Pais Freire de Andrade (1883 - 1930), professora, natural de Ponte de Sor, e ao texto da sua autoria “A acção dissolvente das touradas”, que foi apresentado numa conferência proferida, a 29 de março de 1925, na Associação de Classe de Empregados de Escritório e editado por várias entidades, entre as quais a associação mencionada, a Associação de Professores de Portugal, a CGT-Confederação Geral do Trabalho, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, a Universidade Livre e a Universidade Popular.

Vitória Pais Freire de Andrade ao longo da sua vida abraçou várias causas, entre elas a do associativismo dos professores e o feminismo, tendo militado em várias associações, como a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, a Associação de Propaganda Feminista e o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas. Foi, também uma militante no combate à prostituição e liderou o movimento pela abolição das touradas.

A dado passo da sua conferência, Vitória Freire de Andrade, depois de classificar as touradas como “essa vergonhosa tradição que o passado nos legou […], mas que a ciência histórica de hoje nos diz ser, por vezes, bem pouco dignificante como herança moral” manifestou a sua oposição às mesmas já que era “por natureza e por educação” contrária a todas as violências.

Nada suave nas suas palavras, Vitória Freire de Andrade, que considerou as touradas como “a arte dos brutos” defendeu que enquanto aquelas não acabassem se devia pelo menos proibir “que criancinhas ainda inocentes, ainda livre do contágio dos sentimentos grosseiros, se conspurquem em tal ambiente”.
Sobre as chamadas touradas de caridade, a companheira de Alice Moderno na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas disse:

“E àqueles que nos disserem que as touradas são precisas, porque são uma bela fonte de receita para obras de beneficência, dir-lhe-emos simplesmente o seguinte: que infelizmente, ainda transigimos com o facto de se organizarem festas para delas se tirar recursos para os mais necessitados […] mas que ao menos se junte o útil ao agradável. Que essas festas produzam o pão indispensável para o estômago e a não menos indispensável luz para os espíritos. Que nem uma só ideia reservada presida à sua orientação, sob pena de serem imediatamente desmascarados os seus falsos organizadores. Que uma única divisa se admite: fazer o bem pelo bem.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30994, 26 de julho de 2016, p. 16)

terça-feira, 19 de julho de 2016

As touradas à corda da Terceira e o PIB da nossa desgraça


As touradas à corda da Terceira e o PIB da nossa desgraça

Este texto terá duas partes, na primeira faremos uma breve referência ao PIB que para alguns autores é um indicador medíocre e ultrapassado, na segunda reagiremos a um estudo sobre o contributo das touradas para o PIB dos Açores e para a desgraça da sua economia.

1- O PIB
De acordo com alguns autores do PIB- Produto Interno Bruto, indicador que “reflete o valor total da produção de bens e serviços em um país em um determinado período”, surgiu na década de 30 do século passado nos Estados Unidos da América e depois da Segunda Guerra Mundial passou a ser usado em todo o mundo.

O Doutor Ladislau Dowbor numa entrevista que concedeu, em 2014, sobre o PIB disse o seguinte: “o PIB é uma cifra que, tecnicamente, ajuda a medir a velocidade que a máquina gira, mas não diz o que ela produz, com que custos ambientais e nem para quem. É ridículo tentar reduzir a avaliação de um País a um número, isso não faz nenhum sentido”.

A título de exemplo, enumeramos algumas atividades económicas que poderão contribuir para o aumento do PIB mas que em nada beneficiam a qualidade de vida das suas populações, como a indústria de armamento durante as guerras declaradas ou não que é responsável pela destruição de muito património e pela morte de milhares de vidas inocentes ou o crescimento da indústria mortuária associado à guerra ou a acidentes em larga escala, como o de Bophal ou outros.

As deficiências apontadas ao PIB fizeram com que a partir de 1993 o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento passasse a usar outro indicador, também alvo de algumas críticas, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que é obtido a partir de informações sobre a esperança de vida ao nascer, a educação e o PIB.

2- O PIB DAS TOURADAS

A abertura da época da tortura animal, que ocorre anualmente a 1 de Maio, este ano teve a novidade da divulgação de um estudo que apresentou o contributo das touradas para o PIB. Segundo o mesmo, as touradas à corda movimentam verbas que correspondem a 2,74% do PIB dos Açores e a 11,4% do PIB da ilha Terceira, no ano de 2015.

Olhando friamente para os números e comparando com outros, como é o caso do setor leiteiro que diz-se que contribui com uma quota de 9% para o PIB regional, facilmente se conclui que algo há de errado nestes números. Com efeito, para além de estarmos em presença de métodos diferentes de fazer os cálculos, parece-nos que os números apontados para as touradas são um perfeito disparate que nenhum economista se deu ao trabalho de contestar. Sem fazer cálculos, quem conhece a realidade da economia regional e o peso das duas atividades, facilmente, chegará à conclusão de que, se as touradas contribuem com 2,74%, o setor leiteiro ultrapassará os 100%.

Mas, não perderemos tempo a esgrimir argumentos nem números, pois como se sabe a bota não bate com a perdigota. O que faremos de seguida é mostrar que a grande maioria das parcelas das touradas para o PIB são atividades improdutivas ou no máximo de transferência de dinheiros de uns para os outros, onde não é criada qualquer riqueza.

Antes de mais, importa mencionar que tal como acontece com qualquer tipo de espetáculo, as touradas não são uma atividade produtiva, não contribuindo em nada para a economia real. Será que contribuem para melhorar a vida das pessoas os seguintes contributos para o PIB mencionados no estudo: o dinheiro pago aos ganadeiros (transferência de dinheiro para particulares), o pagamento de licenças (transferência de dinheiro para as autarquias), o consumo de comidas e bebidas (na maioria a partir de produtos importados e que aconteceria na mesma se a tourada fosse substituída por outra atividade festiva) ou o combustível e o desgaste de veículos de quem se desloca para as touradas (que estarão associados a um aumento da importação de derivados do petróleo e de carros ou peças para os mesmos).

Para rematar os seus cálculos com chave de ouro, o estudo também devia apresentar os custos com as despesas com as ambulâncias e com os tratamentos dos feridos, bem como com os funerais pois, como se sabe, também ocorrem mortes nas touradas.

Enfim, desgraçada a economia que se baseia em despesas e não em criação de riqueza.

José Ormonde

9 de julho de 2016

O Padre João José do Amaral e a perseguição às aves


O Padre João José do Amaral e a perseguição às aves

A primeira sociedade agrícola portuguesa, a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense (SPAM), criada a 11 de janeiro de 1843, foi aprovada por Decreto de 24 de abril de 1844. Entre outros objetivos, a SPAM pretendia promover o desenvolvimento da agricultura, o melhoramento dos gados insulares e a divulgação dos mais adiantados princípios da agrologia.

Noutro espaço e noutra ocasião terei oportunidade de fazer referência ao trabalho meritório da SPAM que pretendia fazer “uma revolução regeneradora, pacífica, e vagarosa” que consistia, entre outros pontos, em “suprir pela produção própria, quanto possível, a importação estranha”.

Uma das iniciativas da SPAM que não foi consensual na altura foi a do combate aos “pássaros daninhos”. Sobre o assunto, foi publicado no jornal “O Agricultor Micaelense”, órgão daquela instituição, um anúncio onde era pedido aos párocos para fazer chegar a todos os “fregueses” a notícia da criação de dois prémios destinados a todos os indivíduos que demonstrassem ter morto o maior número de pássaros daninhos.

Sobre o combate às pragas, o Padre João José do Amaral (1872-1853), no Agricultor Micaelense, deu a conhecer extratos de dois textos divulgados por duas publicações estrangeiras.

No primeiro, é mencionada a perseguição pelos agricultores à gralha acusada de prejuízos que ela não podia causar em virtude do seu regime alimentar e no segundo, um correspondente da “Gardner’s Chronicle” escreveu que não consentia que nas suas hortas e herdades se matasse qualquer pássaro pois como resultado da presença dos mesmos evitava os danos causados por lagartas. A mesma pessoa afirmou que nos locais vizinhos, onde criaram comissões para a destruição da praga, era “incrível o estrago causado por lagartas e caracóis”.
~
Hoje, como sabemos a Química resolve (quase) tudo. Com que custos?

Teófilo Braga
(Correio dos Açores 30988 de 19 de julho de 2016, p. 10)

domingo, 10 de julho de 2016

Energia renovável


Sem queimar lixos, sem destruir o ambiente e sem comprometer a saúde dos cidadãos.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

As Sanjoaninas e a tortura animal


As Sanjoaninas e a tortura animal

Como é do conhecimento público e como tem sido hábito pelas sanjoaninas, Angra do Heroísmo transforma-se na capital da tortura de bovinos e da deseducação de jovens e crianças. Tal só é possível com o apoio por parte da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, nos últimos cinco anos, de um milhão e trezentos mil euros e este ano de cem mil euros.

Se formos investigar os programas das festas ao longo dos tempos facilmente se concluirá que a “nobreza” angrense sempre associou umas festas com uma forte componente recreativa ao mais arcaico e vil ato de torturar e matar animais para divertimento de seres que se dizem humanos.

Não vamos ser exaustivos e comentar ano a ano os diversos programas apresentados pelas diversas comissões organizadoras das sanjoaninas para não massacrar os corações dos seres humanos mais sensíveis. Neste texto, limitar-nos-emos a dar a conhecer alguns aspetos menos conhecidos que não abonam a favor do bom nome dos angrenses, pois nem todos têm culpa de na sua terra viverem pessoas sem escrúpulos e sanguinárias.

Entre 1812 e 1814, o inglês Briant Barret visitou as sete ilhas dos Açores do grupo central e oriental, tendo assistido na ilha Terceira às festas do Espírito Santo e às festas em honra de São João.

Num manuscrito ainda inédito, existente na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, Barret relata as barbaridades que observou numa tourada onde, para além dos touros, eram vítimas de maus tratos outros animais, como gatos, coelhos e pombos.

Em 1839, segundo o jornal “O Angrense”, no último dia dos festejos, houve uma simulação de uma caçada, sendo as vítimas coelhos e pombas e algozes quem matou não por necessidade de alimento mas por puro sadismo. Para os leitores ficarem com uma ideia do divertimento abaixo transcrevemos o relato do que ocorreu:

“Depois de sair a Dança, quando todos os espetadores estavam mutuamente aplaudindo o espetáculo, e não esperavam senão pela cavalhada, um novo entretenimento inesperado deu entrada na Praça, que obteve muita aceitação. Alguns mascaras era trajes de caçadores, trazendo uma matilha de cães, e a tiracolo os seus furões, fizeram introduzir na Praça uma coluna artificial, coberta de arbustos e fetos, dentro da qual estava invisível um indivíduo, que lançando amiudadamente pombas e coelhos, dava aos caçadores aquele prazer que sentem em empregar um tiro. O latido dos cães que corriam atrás dos coelhos, a sagacidade do furão que desalojava, e trazia os que se escondiam nas covas do monte; a bulha, os gestos, e vozearias dos caçadores, dava perfeitamente uma ideia do que é uma caçada, e satisfez por extremo aos que nunca tinham visto aquele divertimento”.

Num texto publicado em 1925, Gervásio Lima descreveu como eram as festas de São João na Ilha Terceira. Através da sua leitura ficámos a saber que houve grandes alterações, uma das quais foi o facto dos responsáveis pelas mesmas terem sobrevalorizado a componente profana e mandado às urtigas a religiosa. Na componente profana, com a bênção da igreja que se agarra a tudo para não perder seguidores, nunca faltaram as touradas, primeiro com touros em pontas “até que um decreto ordenou que se serrassem as pontas, pelas muitas mortes que causavam…”

Sobre o assunto, escreveu Gervásio Lima: “os jogos de luta e destreza, as justas e torneios, que terminavam sempre por corridas de toiros, em pontas, nos primeiros anos, em que chegaram a matar segundo o uso de Espanha e, talvez, por influência da dominação filipina que na alvorada do século XVII exerceu predomínio nos costumes terceirenses”.

Nem no ano em que Portugal saiu de uma ditadura que, para além de torturar e matar os seus cidadãos que pensavam de modo diferente ou os que, sendo da mesma laia, caiam em desgraça, sempre acarinhou a tortura animal, as festas de São João de Angra do Heroísmo deixaram de torturar touros e cavalos.

Em 1974, para além de uma tourada à corda e de uma espera de gado, realizaram-se três touradas de praça. A primeira tourada de praça mereceu um texto publicado no Diário Insular assinado por Bruges da Cruz que demonstra a sua falta de humanidade já que nem uma palavra escreveu sobre a tortura animal, sendo a única preocupação com a mansidão dos touros. Segundo ele “na verdade, com touros tão mansos não se pode tourear” .

Não podia terminar este texto sem dedicar uma frase ao senhor Bruges da Cruz e a todos os promotores e frequentadores de touradas: “com gente tão reles, sádica e retrógrada o mundo não pode evoluir”.

20 de junho de 2016

Mariano Soares

sábado, 18 de junho de 2016

As touradas nas sanjoaninas: uma mentira repetida não pode ser transformada em verdade



As touradas nas sanjoaninas: uma mentira repetida não pode ser transformada em verdade

No passado dia 12 de junho, a revista de péssima qualidade “Açores”, que se publica aos domingos com o jornal “Açoriano Oriental”, brindou os seus cada vez menos leitores com um suplemento sobre as sanjoaninas.

Como não podia deixar de ser, os amantes da tortura de bovinos voltaram a ter um espaço dedicado a divulgar a barbaridade das touradas, tendo aproveitado o mesmo para demonstrar a sua falta de humanidade e de cultura.

Não conhecendo ou deturpando a história da sua terra, num texto publicado o presidente de uma agremiação que promove a desumana “Festa Brava” veio a público dizer que as touradas são quase tão antigas como as festas de São João, o que é um perfeito disparate, e que “houve um tempo em que as próprias sanjoaninas eram as corridas de touros”, o que é outro disparate já que, ao longo dos tempos, sempre houve outras atividades, infelizmente por vezes também associadas a maus tratos a alguns animais,

Para os leitores poderem conhecer, sem distorções, um pouco das tradições das festas de São João, na ilha Terceira, aconselhamos a leitura do texto “As festas de São João” da autoria do historiador Frederico Lopes (João Ilhéu) que se encontra no livro “Notas Etnográficas”, publicado pelo Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Outra falsidade repetida é a de que há muitas pessoas a visitar a Terceira por causa das touradas. A verdade é que já este ano o número de turistas a visitar a ilha cresceu, durante o período em que não torturam animais.

Todos os anos (e este não foi exceção) repete-se o argumento da ida à Terceira de muitos turistas para verem as touradas da Feira de São João. A verdade é que bastava comparar o número total de visitantes e o número dos que vão às touradas de praça para facilmente se chegar à conclusão de que o primeiro é esmagadoramente maior e que aos “espetáculos de tortura” vão os do costume repetidamente e outros cidadãos que se dizem humanos, mas que não respeitam os outros seres vivos que devem viver e morrer com dignidade.

A ilha Terceira vale pelas suas belezas naturais, pelo saber receber das duas gentes, pelo património arquitetónico de Angra e as sanjoaninas seriam melhores e atrairiam muito mais pessoas, se não estivessem associadas a práticas arcaicas e sangrentas como são as touradas.

17 de junho de 2016

José Brazil

terça-feira, 7 de junho de 2016

Animais nas instalações pecuárias


Animais nas instalações pecuárias

A Diretiva nº98/58/CE, de 20 de Julho, relativa à proteção dos animais nas explorações pecuárias; foi transposta para a ordem jurídica nacional através Decreto-Lei nº 64/2000, de 22 de Abril.

Embora aquém do desejado, pois não proíbe “prisões” e preveja algumas exceções subtilmente ou hipocritamente para beneficiar algumas indústrias do divertimento, já que estão excluídos do âmbito de aplicação do referido diploma “os animais destinados a concursos, espetáculos e manifestações ou atividades culturais, desportivas ou outras similares”, é importante que os cidadãos tenham conhecimento deste Decreto-Lei para, por um lado, cumprirem com o que está estipulado e por outro poderem denunciar a quem de direito todas as situações anómalas.

Neste texto, que não tem como objetivo divulgar todo o diploma dada a sua extensão, pretendemos dar a conhecer apenas alguns itens do anexo A.

Sobre os animais com problemas de saúde, o diploma diz o seguinte: “os animais que pareçam estar doentes ou lesionados devem receber cuidados adequados e, quando necessário, serem tratados por um médico veterinário” e acrescenta “sempre que se justifique, os animais doentes ou lesionados devem ser isolados em instalações adequadas e equipadas, se for caso disso, com uma cama seca e confortável”.

Sobre a liberdade de movimentos, o diploma refere que a mesma “não será restringida de forma a causar-lhes lesões ou sofrimentos desnecessários e, nomeadamente, deve permitir que os animais se levantem, deitem e virem sem quaisquer dificuldades” e acrescenta que sempre que “os animais estejam permanente ou habitualmente presos ou amarrados, deverão dispor do espaço adequado às necessidades fisiológicas e etológicas, de acordo com a experiência prática e os conhecimentos científicos”.

Sobre os animais criados ao ar livre o diploma refere que os mesmos “devem dispor, na medida do possível e se necessário, de proteção contra as intempéries, os predadores e os riscos sanitários”.
Por último, relativamente à alimentação e à água necessária aos animais, o diploma menciona que “todos os animais devem ser alimentados com uma dieta equilibrada, adequada à idade e à respetiva espécie e em quantidade suficiente para os manter em bom estado de saúde e para satisfazer as suas necessidades nutricionais, não devendo ser fornecidos aos animais alimentos sólidos ou líquidos de um modo tal, ou que contenham substâncias tais, que possam causar-lhes sofrimento ou lesões desnecessários” e que “devem ter acesso a uma quantidade de água suficiente e de qualidade adequada ou poder satisfazer as necessidades de abeberamento de outra forma”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30952, 7 de junho de 2016, p.14)

sábado, 28 de maio de 2016

Espírito Santo


Há uma ligação íntima entre touradas à corda e festas do Espírito Santo?

Os defensores das touradas à corda, nomeadamente aqueles que querem que aquela brutalidade seja considerada património imaterial da humanidade, pretendem fazer crer que não há festas do Espírito Santo sem touradas à corda.

Se formos às origens das festas do Espírito Santo em Portugal Continental ou mesmo nas várias ilhas dos Açores facilmente se concluirá que tal não corresponde à verdade. Com efeito, consulte-se os micaelenses Armando Corte Rodrigues ou Aníbal Bicudo e não verão qualquer referência a touradas nas festas do Espírito Santo. De igual modo, sendo a introdução das touradas em São Jorge e na Graciosa datadas do século passado, a partir da Terceira, prova-se que só passou a haver associação entre as duas coisas a partir de então.

Na ilha de São Miguel, sendo a reintrodução das mesmas mais recente, também se confirma que só por oportunismo da indústria tauromáquica e falta de fé, de compaixão, de educação e de escrúpulos, por parte dos mordomos de algumas irmandades é que se associam impérios do Espírito Santo a touradas à corda que até, em abono da verdade, não o são.

Se formos à ilha Terceira, onde as duas coisas parecem estar intimamente associadas, a verdade é que tal se deve ao oportunismo da indústria tauromáquica que se aproveita da ingenuidade, da deseducação e do vício das pessoas para sacar dinheiro. A confirmar o mencionado, o insuspeito historiador terceirense Frederico Lopes, no seu livro Notas Etnográficas, afirmou que as touradas à corda são o “remate certo de todas as festas, quer religiosas quer profanas”.

Como afirmou Frederico Lopes a indústria tauromáquica também associou touradas às festas do Espírito Santo, mas como se verá a seguir nem sempre às de corda. Com efeito, uma consulta ao jornal “O Angrense”, que se publicou na ilha Terceira entre 1836 e 1910, verifica-se que se realizavam touradas de praça para apoiar impérios e claro os ganadeiros e outros.

A título de exemplo, abaixo transcrevemos as seguintes notícias:

“Realiza-se amanhã, 30, uma corrida de touros, na praça de São João em benefício do Espírito Santo de S. João de Deus” (O Angrense, 3 de agosto de 1874).

“Deve realizar-se, no próximo domingo, a corrida de touros, na praça de S. João, em benefício do Império dos Quatro Cantos”(O Angrense, 31 de outubro de 1875)

Embora desconheçamos mais pormenores, parece-nos que no passado há algo de diferente com o que se passa hoje. Assim, se no passado as touradas, embora condenáveis, eram de beneficência, isto é, em princípio destinavam-se a financiar os impérios, hoje, com a inclusão das touradas nos programas dos impérios o objetivo é precisamente sacar dinheiro dos irmãos ou da irmandade, que se devia destinar à solidariedade com os mais desfavorecidos, para o entregar a uma indústria anacrónica e imoral.

Face ao exposto, por que mantém um silêncio cúmplice a hierarquia da Igreja Católica?

Açores, 26 de maio de 2016

José Ormonde

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Tourada de beneficência?


Por favor, mostre a sua indignação e peça ao Governo Regional de repudie a realização de uma tourada supostamente para angariação de fundos para um hospital público.

Contactos:
Para: presidencia@azores.gov.pt, sres@azores.gov.pt,
CC: sres-drs@azores.gov.pt, sres-hseit@azores.gov.pt, hseit.adm.secretariado@azores.gov.pt, deputados@alra.pt, acoresmelhores@gmail.com

Exmo. Senhor
Presidente do Governo Regional dos Açores

Exmo. Senhor
Secretário Regional da Saúde

A Tertúlia Tauromáquica Terceirense e o Núcleo dos Açores da Liga Portuguesa Contra o Cancro anunciaram a realização de uma tourada de praça “de beneficência” para o próximo dia 29 de Maio que foi, muito bem, repudiada pela Direção Nacional da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

No entanto, depois da recusa desta organização, a verdadeira organizadora da tourada, a Tertúlia Tauromáquica Terceirense, não desiste dela e como forma de lavar a imagem das sangrentas e cada vez mais repudiadas touradas alteram o beneficiário, que passa a ser Hospital de Angra do Heroísmo, nomeadamente o seu Serviço Especializado de Epidemiologia e Biologia Molecular.

Considerando que é um insulto ao sentir generalizado da maioria dos açorianos e de todas as pessoas que, em todo o mundo, respeitam todos os seres vivos, associar a tortura de animais a fins e propósitos nobres de beneficência,

Considerando que é um gravíssima afronta a todos os açorianos que um hospital do Serviço Regional de Saúde e, por extensão, o Governo Regional dos Açores e a própria Região, figurem publicamente como promotores de uma tourada,

Tendo em conta que é possível a angariação de fundos através de práticas pacíficas e consensuais, que não envolvem sofrimento de animais para divertimento de pessoas pouco sensíveis,

Pedimos ao Secretário Regional da Saúde, Sr. Luís Mendes Cabral, e ao Presidente do Governo Regional dos Açores, Sr. Vasco Alves Cordeiro, que repudiem, da mesma forma como já fez a Liga Portuguesa Contra o Cancro, a realização desta tourada e não permitam que a Região Autónoma dos Açores, ou um qualquer dos seus serviços públicos, figure como promotora de um espectáculo de tortura animal.

Com os melhores cumprimentos

Nome

Projetos do passado




Projetos do passado


Desde sempre, nos Açores, foram sonhados projetos que pela sua megalomania, pela sua desadequação à evolução dos tempos, por serem sorvedouros de dinheiros públicos, muitas vezes para benefício de interesses privados, nunca deviam sair das cabeças dos seus promotores.

Neste texto vou recordar algumas tentativas de criação de prisões para os animais e a instalação de “fábricas” onde se queima o futuro.

Com os olhos postos no passado, chegou a existir em São Miguel um esboço de zoológico que terminou depois de algumas denúncias que alertavam para o facto de não estarem garantidas as condições de segurança para os visitantes, para os habitantes das vizinhanças e para os próprios animais e não estarem salvaguardados todos os parâmetros de bem-estar para os animais (alojamentos, fatores do ambiente, enriquecimento do meio, agrupamento social, rotinas de maneio, alimentação, disponibilidade de água, etc.).

Desaparecido há mais de uma década o chamado Jardim Zoológico do Pico da Pedra, a ideia de instalação de um zoológico na ilha de São Miguel foi agarrada pela Câmara Municipal de Nordeste que chegou a ter um espaço reservado para tal. Não sabemos se chegou a haver projeto, o que sabemos é que felizmente o projeto que seria ruinoso para o orçamento camarário e não seria bom para os animais, pois como escreveu Desmond Morris, que durante dez anos foi responsável pelos mamíferos do Zoo de Londres: “Sei que os bons jardins zoológicos são importantes por muitas razões, mas aprendi o suficiente para me aperceber dos danos causados aos animais ao mantê-los cativos. E simplesmente não quis continuar”.

Morta a ideia da criação de zoológicos, que em São Miguel já vem dos últimos anos do Estado Novo, surgiu recentemente um projeto que pretende a criação de um aquário em Ponta Delgada.
Não vou esgrimir argumentos contra prisões para animais por serem por demais conhecidos, apenas quero reafirmar a minha discordância com a implementação de tal projeto que tal como os zoológicos é um projeto sem futuro.

Outro projeto que vai atrapalhar o futuro dos açorianos, nomeadamente dos micaelenses e dos terceirenses é o da incineração (queima) de resíduos sólidos que é apresentado como um projeto economicamente viável e ambientalmente sem mácula, o que não corresponde à verdade. Com efeito, se assim fosse cada fornecedor de resíduos em vez de pagar por os produzir devia receber, tal como acontece nas restantes indústrias. Além disso, se a queima de resíduos polui menos do que o fumo de um cigarro ou do que o fogo-de-artifício usado uma noite em Ponta Delgada por que razão “andam às aranhas” para escolher os equipamentos mais “seguros”?

Mas, não vou voltar a perder o meu precioso tempo com a apresentação de argumentos contrários, irei sim dar a conhecer que a ideia de queimar resíduos não faz parte da última geração de inventos e que não foram os senhores da AMISM, com ou sem senhas de presença, a terem o infeliz pensamento. Pelo contrário, pelo menos na ilha de São Miguel, a incineração de resíduos é uma ideia do passado, dos tempos do marcelismo.

Em 1972, os resíduos de Ponta Delgada, eram depositados na Rocha Quebrada, na freguesia da Relva, o que era contestado pelos donos e rendeiros dos terrenos confinantes que viam as suas terras, tal como os caminhos de acesso, serem cobertas de papéis e plásticos transportados pelos ventos.

Numa tentativa de resolver o assunto, a 23 de dezembro de 1971, em reunião ordinária, a Câmara Municipal de Ponta Delgada decidiu, por unanimidade, solicitar a uma firma especializada, um orçamento para o fornecimento e montagem dum equipamento de incineração de lixos com a capacidade de processar de 50 a 100 toneladas diárias.

Possivelmente o que não abundava ou era usado com parcimónia na altura, o dinheiro, não terá chegado e o projeto não avançou.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30942, 25 de maio de 2016, p.14)

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Tourada da Liga Cancelada


A Direcção Nacional da Liga Portuguesa Contra o Cancro anulou a decisão do seu Núcleo Regional dos Açores de organizar uma tourada.

Parabéns a uma instituição que se rege pelos princípios da ética e do compromisso e que não se deixa submeter aos interesses da indústria tauromáquica, que possui tentáculos em várias organizações.

Por favor, escrevam à Direcção Nacional para agradecer a anulação deste atentado contra os animais e contra as pessoas (info@ligacontracancro.pt).



RESPOSTA DA LPCC:

Exmo. Senhores,
Os meus melhores cumprimentos.

Venho informar que a Direcção da Liga Portuguesa Contra o Cancro é absolutamente contra a realização de Touradas ou de espetáculos semelhantes e, que, de imediato, providenciamos no sentido da anulação do espetáculo programado pelo Núcleo Regional dos Açores.

Apresentamos as nossas desculpas por tão insólita organização que só por descuido, desatenção e inexperiência foi anunciado,

Com a certeza que não pactuamos com este tipo de espetáculo, reiteramos os melhores cumprimentos.

Dr. Vítor Veloso
Presidente Nacional
Liga Portuguesa Contra o Cancro

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Paulo Varela Gomes e as touradas


Em memória de Paulo Varela Gomes

“Que será preciso para acabar com a tradição da tourada? Que sobressalto do coração será necessário para despertar em nós a piedade pelos animais?” (Paulo Varela Gomes)

No passado sábado, dia 30 de abril, faleceu o historiador, escritor e jornalista Paulo Varela Gomes que nasceu em 1952. Era filho de João Varela Gomes e Maria Eugénia Varela Gomes, dois combatentes pela liberdade e opositores ao Estado Novo.

Enquanto lutava contra um cancro, escreveu um magnífico texto que merece uma reflexão de todos nós que, transitoriamente, habitamos neste planeta, tão maltratado, intitulado “Morrer é mais difícil do que parece”.

Do referido texto, publica-se, abaixo, um excerto:

«A vida é muito menos cheia de prosápia do que a morte. É uma espécie de maré pacífica, um grande e largo rio. Na vida é sempre manhã e está um tempo esplêndido. Ao contrário da morte, o amor, que é o outro nome da vida, não me deixa morrer às primeiras: obriga me a pensar nas pessoas, nos animais e nas plantas de quem gosto e que vou abandonar”.

De entre os vários combates que travou ao longo da vida, integrado em organizações estudantis, políticas, sindicais ou individualmente, não podemos esquecer a defesa dos animais, sendo de destacar a sua clarividente opinião relativa à tauromaquia.

Num texto publicado no jornal Público intitulado “Morrer como um touro”. Paulo Varela Gomes manifesta-se contra a criação por parte do Ministério da Cultura de uma seção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura, alegando que se tratava de uma tradição que devia ser mantida.

De entre os argumentos dos defensores das touradas, Paulo Varela Gomes refere-se ao da tradição nos seguintes termos:

“Mas a tradição é mais antiga, do tempo em que humanos e animais lutavam na arena para excitar os nervos da multidão com o sangue e a morte anunciada. A piedade, que é um valor mais antigo do que Cristo, veio, na sua interpretação cristã, salvar disto os humanos. Esqueceu-se, porém, dos animais”.

E acrescenta:

“…Por desespero, coragem ou raiva (não é o mesmo?), o touro arremete pela última vez. Em Espanha morre. Aqui, neste país de maricas, é levado lá para fora para, como é que se diz? ah sim: ser abatido. A multidão retira-se humanamente, portuguesmente, de barriga cheia de cultura portuguesa, na tradição milenar à qual nenhuma piedade chegou.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30925, 4 de maio de 2016, p.13)

terça-feira, 3 de maio de 2016

Nem mais um euro para a Liga Portuguesa Contra o Cancro


NEM MAIS UM EURO
PARA O NÚCLEO REGIONAL DOS AÇORES DA LIGA PORTUGUESA CONTRA O CANCRO
Está prevista a realização de uma tourada de praça, no próximo dia 29 de maio, organizada pelo Núcleo dos Açores da Liga Portuguesa Contra o Cancro com a colaboração da Tertúlia Tauromáquica Terceirense e respetivos forcados.
De acordo com a organização a receita reverterá para a criação de uma bolsa de investigação em oncologia.
Tendo em conta que há mil um processo de angariar fundos para as pessoas que sofrem com doenças oncológicas sem o recurso à tortura de animais, a iniciativa do Núcleo dos Açores da Liga Portuguesa contra o Cancro, para além de mostrar a falta de sensibilidade dos seus dirigentes da ilha Terceira, descredibiliza aquela organização.
O CAES – Coletivo Açoriano de Ecologia Social desenvolverá esforços para dar a conhecer, a todos os humanos de bom coração, esta iniciativa repugnante e apelará a que os açorianos não contribuem com as suas economias para alimentar uma instituição que não tem quaisquer escrúpulos em maltratar animais com o pretexto de estar a apoiar humanos que para além dos seus problemas de saúde também sofrem ao verem animais a serem torturados.
Açores, 3 de maio de 2016
CAES


segunda-feira, 2 de maio de 2016

Maio mês da tortura


Maio de 2016, mês da tortura

Tal como manda a tradição e impõe o vício adquirido por muita deseducação que começa quase no berço, a 1 de Maio começa a época oficial das touradas à corda.

Hoje, na ilha que as importou e as manteve e que é centro difusor das mesmas, a ilha Terceira, estão marcadas três touradas à corda e este mês realizar-se-ão 35 (trinta e cinco).

Segundo um economista que deve ser bom no excell mas má na vida real, isso será um grande contributo para o PIB pois há muitas despesas na realização das ditas, como o pagamento aos ganadeiros, as taxas e licenças cobradas pelas autarquias, as licenças para os foguetes, a gasolina e o gasóleo para os transportes, os custos dos tratamentos dos feridos, se houver mortes há ainda as despesas com os funerais, etc. Enfim, não se cria riqueza, mas é uma alegria e haverá sempre alguém que pagará a crise, distribuindo migalhas pelos mais desfavorecidos e milhões pelos empresários chupistas.

Como se isso não bastasse, uma associação que devia ser solidária, mas que é adepta da caridadezinha e pouco açoriana, decide organizar a 29 de maio uma tourada para angariar fundos para a criação de uma bolsa para estudos na área da oncologia.

Sobre a sua falta de açorianidade todos sabemos que desde sempre a direção da Liga- Liga Portuguesa Contra o Cancro esteve centrada na ilha Terceira e as delegações noutras ilhas nunca tiveram qualquer autonomia, o que não sabíamos era que, para além da localização, havia ligação à indústria tauromáquica que como se sabe vive da exploração, tortura e morte de animais para divertimento humano.

Conhecendo como se conhece os dirigentes terceirenses da Liga e os da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, entidades parceiras no infeliz evento, não é difícil concluir que se o objetivo fosse a criação de uma bolsa, eles a título individual ou através das suas empresas possuem meios mais do que suficientes para a criação de três ou quatro bolsas.
Mas, a bolsa não é mais do que um pretexto para organizarem mais uma tourada que é o que, no fundo, eles gostam.

José Ormonde

Açores, 1 de maio de 2016

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Liga Portuguesa Contra do Cancro dos Açores promove tourada


No dia 29 de Maio terá lugar na Ilha Terceira, Açores um espectáculo tauromáquico de beneficência organizado pelo Núcleo Regional da Liga Portuguesa Contra o Cancro em parceria com a Tertúlia Tauromáquica Terceirense e os forcados da TTT.

A receita deste bárbaro espectáculo que foi apresentado na sede do Núcleo Regional da LPCC reverte para a criação de uma bolsa de investigação em oncologia.

Tenham vergonha meus senhores se necessitam de dinheiro para investigação existem muitas formas de o angariar sem recorrer à tortura de seres sencientes ou será que o sofrimento dos animais humanos que padecem desta terrível doença não vos basta?

A vossa falta de sensibilidade é repugnante portanto, não se admirem, que de ora em diante, muita gente se recuse a dar donativos a uma instituição que não tem qualquer escrúpulo em aceitar dinheiro manchado de sangue.

Prótouro
Pelos touros em liberdade

Fonte: https://protouro.wordpress.com/2016/04/29/liga-portuguesa-contra-o-cancro-organiza-tourada/

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Cuidado com as introduções


Cuidado com as introduções

No passado dia 4 de abril, a AAC- Associação Amigos do Calhau denunciou à Câmara Municipal de Ponta Delgada, à Junta de Freguesia de São Roque, à Direção dos Assuntos do Mar, à Brigada Sepna da GNR, à Policia Marítima e ao Parque de Ilha de São Miguel uma plantação ilegal de chorão trepadeira (Carpobrotus edulis) na Avenida do Mar, em São Roque.
O chorão trepadeira é uma planta originária da África do Sul, introduzida nos Açores com fins ornamentais, que facilmente se naturalizou, sendo uma invasora que facilmente ocupa o espaço das plantas nativas. Por este motivo está “incluído entre as cem espécies infestantes da fauna e da flora macaronésica determinadas como potencialmente mais perigosas no âmbito do projeto BIONATURA”.
Para além do mencionado, o texto da AAC refere que a legislação regional (Decreto Legislativo Regional n.º 15/2012/A, Regime jurídico da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade) classifica o chorão como “um taxon com risco ecológico conhecido” e "prioritário para controlo ou erradicação".
Não sabemos que entidade procedeu às plantações e quem as mandou retirar pouco tempo depois, mas, uma coisa é certa, não deviam ignorar a legislação e deviam ter conhecimento que a AAC tem em curso um plano de erradicação do chorão “na zona da Praia das Milícias, plano este devidamente autorizado pela Direção dos Assuntos do Mar”.
Infelizmente, nos Açores, por mais sensibilizações que se façam, por mais informação que se difunda, continua-se a cometer os mesmos erros e a assobiar para o ar, chegando-se ao cúmulo de ignorar os apelos para a conservação ambiental e a menosprezar as cada vez menos vozes que ainda não se calaram.
Podia preencher o espaço que me resta deste texto com exemplos semelhantes mas, para não maçar os leitores, refiro-me, apenas, à plantação de lantana (Lantana camara) uma planta invasora que existia cá, mas que os responsáveis importaram de viveiros, se não estou em erro, do Porto e as mais recentes plantações de erva-confeiteira (Polygonum capitatum) nas Portas do Mar, esta imediatamente retirada, e do penacho (Cortaderia selloana), ao longo das estradas, e que só agora está a ser retirado. Nos três casos mencionados estão envolvidos custos desnecessários que indiretamente ficam a cargo de todos nós contribuintes.
A chamada de atenção para o perigo de introdução de espécies animais ou vegetais exóticas em arquipélagos insulares não é de agora. No que aos Açores diz respeito, se não estou enganado, os primeiros alertas foram dados pelo NPEPVS - Núcleo Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem- Delegação dos Açores, organização não-governamental de ambiente que teve sede em Vila Franca do Campo e que teve como principais dinamizadores o vila-franquense Duarte Furtado e o francês Geral de Grand, que durante alguns anos esteve ligado à Universidade dos Açores.
Numa altura em que as entidades oficiais estavam pouco sensíveis para as questões ambientais e não existiam muitos estudos disponíveis, no início da década de oitenta, o NPEPVS chegou a esboçar uma campanha de sensibilização, tendo editado alguns autocolantes com os seguintes dizeres: “Cuidado com as introduções. Uma bela exótica pode esconder um monstro”.
Cerca de dez nos depois, os Amigos dos Açores iniciaram uma campanha, que mantiveram durante alguns anos, no âmbito da qual editaram algumas dezenas de milhares de exemplares de um folheto intitulado “Cuidado com as Introduções”, dirigido a jovens e adultos, e também uma brochura intitulada “As Plantas Invasoras, uma história contada pela faia-da-terra”, com tiragem semelhante.
Hoje, passados cerca de 30 anos, depois de tantas brochuras distribuídas pelas escolas e depois de tanta informação fornecida pela comunicação social, é incompreensível que se continue a agir como se agia no século passado.
Será que as ONGA e as entidades oficiais, que timidamente têm tentado atacar o problema, não souberam ou não sabem transmitir a mensagem ou as pessoas não estavam e continuam a não estar abertas a recebê-la?
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30909, 13 de abril de 2016, p.10)

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Terra Livre 78

Dinheiros públicos usados na construção da Praça de Touros de Angra do Heroísmo


Dinheiros públicos usados na construção da Praça de Touros de Angra do Heroísmo

Em 1983, começou a construção da atual praça de touros da ilha Terceira, cujo projeto foi da autoria do Eng.º Fernando Ávila e a primeira fase foi adjudicada por 25 mil contos à firma Matos & Santos.

No ano seguinte, em 1984, o centro de tortura de Angra do Heroísmo, foi inaugurado no dia 21 de junho, tendo assistido à cerimónia pessoas sem coração, como o ministro da República, general Conceição e Silva; o presidente do Governo Regional dos Açores, Dr. Mota Amaral e Manuel de Sousa Mancebo, o maior acionista da Praça, emigrante nos Estados Unidos.

Com a “mania” das grandezas, os promotores fizeram uma praça maior do que a do Campo Pequeno, mais dois metros de diâmetro, com 28 camarotes e com uma lotação de 5.028 lugares, destes 4720 destinam-se a venda e 308 destinados às autoridades. Mas a cereja no topo do bolo ou o cúmulo da hipocrisia está na presença de uma capela que tinha como orago Nossa Senhora do Pilar.

A praça da tortura era (é) pertença da Sociedade Tauromáquica Progresso Angrense- promotora de espetáculos taurinos, SARL, sendo a Tertúlia Tauromáquica Terceirense um dos sócios fundadores.

De acordo com o historiador Pedro de Merelim, “o redondel custou 50 milhões de escudos. O Executivo Regional comparticipou com 17.500 contos e o industrial Manuel de Sousa Mancebo, radicado em Tulare desde 1922, comprou ações no valor de 16.500.000$” e como se não bastasse o dinheiro de todos nós dado pelo governo “a Camara Municipal, por si, cedeu o terreno necessário a construção”.

De acordo com a ata nº 5/2015, da Reunião da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, realizada no dia 6 de março de 2015, ficou decidido, por unanimidade, “Doar à Sociedade Progresso Tauromáquica Terceirense, com o NIPC 512009481 e sede na Avenida Jácome de Bruges, o direito de propriedade plena relativamente ao prédio onde se encontra edificada a Praça de Toiros da Ilha Terceira, correspondente ao lote n.º 1, inscrito na matriz sob o artigo 1381 provisório, sito na Avenida Jácome de Bruges, referente ao loteamento titulado pela Certidão emitida pelos serviços municipais, no dia 1 de outubro de 2014, atribuindo para efeitos do mesmo contrato o valor de € 200.000,00 (duzentos mil euros).

Para além da deliberação anterior a Câmara “exige” que o fim principal seja a tortura de animais, como se poderá ver pelo ponto dois da referida deliberação: “ Incluir no contrato de doação uma cláusula que limite o fim de utilização do mesmo lote à manutenção e funcionamento em pleno da Praça de Toiros da Ilha Terceira para o exercício de atividades taurinas, sem prejuízo de outras atividades que visem a respetiva sustentabilidade económico financeira, sob pena da respetiva resolução caso se verifique o incumprimento desta obrigação, tendo por consequência a reversão do prédio objeto de doação para a esfera jurídica do Município, nos termos do artigo 960.º do Código Civil”.

5 de abril de 2016

José Ormonde