Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
terça-feira, 15 de novembro de 2016
Envenenamento de gaivotas
Alguém pensou nas crianças?
Nos últimos dias do mês passado, a comunicação social e as redes sociais divulgaram notícias sobre o que uns chamam controlo e outra matança de gaivotas por parte de uma entidade oficial. Também foram referidos a morte de alguns cães presumivelmente associada à morte das mesmas e de um milhafre.
Não querendo aprofundar este tema, tal é minha indignação no momento em que escrevo, vou apenas fazer uma breve referência ao assunto e dar a conhecer o que se passava no passado já longínquo. Assim, entre outros possíveis exemplos, mencionarei o referido por Alice Moderno, em 1911, e uma opinião datada de 1952.
Sobre o ocorrido apenas queria mencionar que o combate à presença de gaivotas deve ser feito primeiramente fora do aterro sanitário, tomando medidas para que o seu número não cresça. Para isso é preciso não disponibilizar alimento, acabando com as pequenas lixeiras e vazadouros a céu aberto e isto só se consegue se uma parte da população deixar de ser “porca”. Tal só é possível com uma educação a sério e não com campanhas para inglês ver e, por último ou ao mesmo tempo, com castigos exemplares para todos os prevaricadores.
Evitando os depósitos de matéria orgânica, o número de gaivotas diminuiria e as entidades poderiam muito bem, como já se faz por este mundo mais civilizado, optar por estratégias de “sacrifico zero” de controlo de aves.
Há cento e cinco anos, Alice Moderno denunciou, no seu jornal “A Folha”, o uso da estricnina para eliminar cães, nas ruas de Ponta Delgada. Alice Moderno, para além de condenar aquele “bárbaro procedimento”, também, censurava o procedimento dos diretores de farmácias que vendiam o veneno a “criaturas anónimas e inconscientes – que outras não podem ser as que tão cruelmente procedem contra animais inofensivos – habilitando-as assim a, inclusivamente, atentarem contra a vida humana…”
Há sessenta e quatro anos, o senhor Manuel Pereira Duarte, delegado da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, nos Ginetes, denunciou, no Correio dos Açores, num texto intitulado “Em defesa das crianças e também … dos pobres animais”, o facto de na sua freguesia “os facínoras” terem assassinado “algumas dezenas de cães e gatos”, usando para tal “estricnina ou sais deste alcaloide” colocados em “cabeças fritas de chicharro”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31081 de 15 de novembro de 2016 p.16)