quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Clima: Vinte anos a empurrar com a barriga?


Clima: Vinte anos a empurrar com a barriga?

As preocupações com as alterações climáticas terão começado com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro.

Na referida conferência, os responsáveis políticos admitiram que era urgente alterar o modo como era até então encarada a relação do homem com o planeta e que era importante conciliar o desenvolvimento socioeconómico com os recursos finitos da Terra. Também foi reconhecido que o estilo de vida consumista do mundo ocidental, baseado na sobre-exploração dos recursos naturais e no uso dos combustíveis fósseis, estava a alterar o clima.

Em 1995, reuniu pela primeira vez em Berlim, a COP- Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre alterações climáticas, onde teve inicio a negociação de metas e prazos para a redução da emissão de gases com efeito de estufa.

Desde aquela data até hoje, anualmente o clima está (ou devia estar?) na agenda das “preocupações” dos líderes mundiais.

Este ano, tal como tem acontecido em anos anteriores, os acordos alcançados têm sido considerados para uns como a salvação do planeta e para outros, mais pessimistas ou mais realistas, como insatisfatórios.

De entre as organizações insatisfeitas com os resultados da Conferência de Paris, refiro os “Ecologistas en Accion” (Ecologistas em Ação), uma confederação de mais de 300 grupos ecologistas espanhóis defensora do ecologismo social, que entende que os problemas ambientais são originados pelo modelo atual de produção e consumo. Segundo eles, o acordo alcançado foi “dececionante que ignora os cidadãos”.

Para além de dececionante, segundo os Ecologistas em Ação, o acordo também é insuficiente por não apresentar as ferramentas necessárias para combater com eficácia o aquecimento global. Segundo a mesma organização, perdeu-se uma oportunidade de reforçar e internacionalizar uma mudança de modelo baseado no uso das energias renováveis, que mantenha no subsolo 80% dos recursos fósseis, detenha a indústria extrativa e se ajuste aos limites do planeta. Pelo contrário, optou-se pela consagração da mercantilização do clima e pelas “falsas soluções”.

Ainda segundo a mesma fonte, que estamos a citar, o texto adotado é perigosamente vago e aberto, onde os compromissos para a redução de emissões não são vinculantes. Além disso, a meta da descarbonização das economias acabou por ser transformada numa vaga referência, onde se dá primazia à compensação das emissões com efeito de estufa em vez de se apostar claramente na sua redução significativa que só é possível através da alteração da forma de produzir e de consumir.

Para os Ecologistas em Ação não há razões para os cidadãos ficarem de braços cruzados, pois se se fechou uma janela a porta da cidadania, está mais aberta do que nunca. Assim, segundo eles há que implementar e divulgar ao máximo experiências como a agroecologia, a soberania alimentar, a mobilidade sustentável, etc.

Sobre as falsas soluções para o clima, outras organizações já se pronunciaram contra a falácia da energia nuclear como alternativa aos combustíveis fósseis e contra o “financiamento climático para a incineração”, pois consideram que se trata de uma energia suja que contribui para o efeito de estufa e para a contaminação do ar.

Outras organizações consideram que o acordo alcançado não passou de um rol de boas intenções, pois não é possível reduzir as emissões sem por em causa a essência do capitalismo já que ele, dizendo-se de estado ou liberal, é o verdadeiro responsável pela crise global que afeta todo o planeta.

Termino, referindo que “mudar o sistema, não o clima” tem de deixar de ser apenas um “slogan” e passar a ação e, embora ache que é sempre possível mudar de opinião, recordo uma frase de Albert Einstein: “Nenhum problema pode ser resolvido pela mesma consciência que o criou”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30809,16 de dezembro de 2015,p. 14)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Boletim nº 77

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

SOS eucalipto-limão de Vila Franca


SOS eucalipto-limão de Vila Franca

A 18 de junho de 2014, num texto intitulado Jardins de Vila Franca do Campo, chamei a atenção para o estado de alguma degradação em que se encontravam os jardins Antero de Quental e Dr. António da Silva Cabral, que se traduzia, sobretudo, na existência de placas identificativas sem planta associada, a presença de plantas sem os azulejos com a identificação, a plantação de espécies em locais inapropriados e sinais de algumas podas mal executadas.

Hoje, apenas irei fazer referência ao Jardim Dr. António da Silva Cabral, localizado em frente à Igreja dos Frades que deve o seu nome ao presidente da Câmara Municipal de Vila Franca do Campo que “revolucionou” o concelho, tendo sido ele o responsável por muitos melhoramentos, com destaque para o traçado da entrada poente da Vila, com a Avenida da Liberdade e o Jardim, o mercado de peixe, o cemitério e a primeira instalação da luz elétrica pública nos Açores.

Das várias espécies presentes nesse jardim, distingue-se pelo seu porte monumental o eucalipto-limão (Corymbia citriodora) que infelizmente se encontra doente, precisando de ser devidamente tratado para que a incúria humana não seja responsável pelo seu desaparecimento prematuro.

Originário de regiões de clima temperado e subtropical do nordeste da Austrália, o eucalipto-limão encontra-se hoje espalhado pelas mais diversas regiões do mundo, estando presente em África, no Brasil, na China, na Índia, nos Estados Unidos e em Portugal, onde a sua presença é residual e quase circunscrita a jardins.

Não sabemos quem terá fornecido o eucalipto-limão à Câmara Municipal de Vila Franca do Campo, nem temos dados suficientes para apontar o nome de José do Canto como o introdutor da espécie na ilha de São Miguel. Contudo, sabe-se que José do Canto plantou-o no seu jardim, em Ponta Delgada, em 1867, vindo de França.
O eucalipto-limão adaptou-se bem, em São Miguel, de modo que em 1868 já fazia parte de uma listagem de plantas existentes no Jardim José do Canto para doação ou permuta. Esta questão suscita-nos uma interrogação: por que razão hoje o eucalipto-limão quase desapareceu em São Miguel?

O eucalipto-limão também conhecido por eucalipto-cheiroso é uma árvore de médio a grande porte, podendo atingir, atendendo às condições dos solos e climas, 50 metros de altura e 1,2 m de diâmetro à altura do peito, apresentando uma folhagem rala, com folhas estreitas e com um forte aroma a limão, daí uma das suas designações comuns.

A sua madeira, dura mas fácil de trabalhar, é muito utilizada na construção civil, no fabrico de móveis, na arborização de caminhos e estradas em áreas rurais, como combustível e no fabrico de carvão. As suas flores são melíferas e o óleo essencial dele extraído tem muito interesse em virtude de possuir um teor elevado em citronedal que é utilizado, tanto em perfumaria como repelente de insetos.

Para além do tratamento adequado que merece o eucalipto-limão, consideramos que à semelhança de outros exemplares existentes na Região Autónoma dos Açores, é urgente a sua classificação em virtude do seu porte e raridade e por constituir um monumento vivo que enriquece o património natural e paisagístico de Vila Franca do Campo.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30804, 10 de dezembro de 2015, p.15)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Pelo fim dos canis de abate



A Câmara de Ponta Delgada, a Associação Zoófila Portuguesa e a Campanha de Esterilização de Animais Abandonados estabelecem parceria para a esterilização de cadelas no Concelho de Ponta Delgada
Comunicado de imprensa:

A Câmara de Ponta Delgada, a Associação Zoófila Portuguesa e a Campanha de Esterilização de Animais Abandonados estabeleceram uma parceria com vista à esterilização de cadelas no concelho de Ponta Delgada. A esterilização está a decorrer desde 1 de Dezembro e vai prolongar-se até 15 do mesmo mês.
Essa parceria, que conta também com a participação das Clínicas Veterinárias aderentes, visa esterilizar 60 cadelas, tendo como intuito colocar a castração na ordem do dia e transformar o Centro Oficial de Recolha de Ponta Delgada (Canil Municipal) no futuro próximo num “Canil de Abate Zero”.
A campanha foi proposta ao Centro Oficial de Recolha de Ponta Delgada pelas associações acima referidas, tendo em conta o excesso de animais no concelho e a demonstração por parte da Câmara Municipal em mudar estruturalmente as condições existentes.
O licenciamento do canil, o primeiro nos Açores e um dos poucos em Portugal, aliado a uma política de transparência, existência de informação estruturada e ainda uma atitude de pro-atividade na procura de soluções duradouras, destacando-se as boas práticas inerentes da esterilização de todos os animais que são adotados, são condições essenciais e fundamentais para a concretização da Campanha de Esterilização.
As Clínicas Veterinárias que aderiram a esta Campanha (Capelas, Paim, São Gonçalo e Vila Franca do Campo) são o pilar da execução. Aliás, sem a colaboração das mesmas não seria possível levar a cabo um projeto desta envergadura.
O Centro Oficial de Recolha de Ponta Delgada tem parcerias com outras associações ligadas à defesa dos animais, nomeadamente no que respeita ao programa de captura, esterilização e devolução.
Sublinhe-se que a parceria em apreço é de extrema importância porque irá contribuir para a colocação dos concelhos envolvidos (Ponta Delgada, Vila franca do Campo e Nordeste), na rota da melhoria das condições de vida dos cães, evitando no curto prazo o nascimento de várias centenas de crias que previsivelmente acabariam por entrar no Centro Oficial de Recolha de Ponta Delgada.

Ponta Delgada, 7 de Dezembro de 2015
Assessoria de Imprensa
Lubélia Duarte

http://www.cmpontadelgada.pt/Site/FrontOffice/default.aspx?module=News/News&id=93542

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Os animais também sentem


Os animais também sentem

Numa parceria entre duas direções regionais, a da Educação e a da Agricultura, em boa hora foi lançado o concurso escolar “Os animais também sentem” que se vai desenvolver no âmbito do Plano Regional de Leitura e da Campanha contra o abandono dos animais.

Destinado a alunos do 4º ano do ensino básico dos Açores, o concurso tem, entre outros, os seguintes objetivos:
- Sensibilizar os alunos para a defesa dos direitos dos animais e o combate ao abandono e a todas as formas de maus-tratos;
- Promover competências de literacia de leitura e de escrita;
- Fomentar o desenvolvimento de uma cidadania regional e local;
- Sensibilizar para a importância do tratamento digno devido aos animais;
- Divulgar e partilhar com a comunidade educativa os recursos educativos desenvolvidos nas várias escolas.

Embora esteja subentendida a abertura a “todas as formas de maus tratos”, os temas do concurso estão dirigidos para os animais de companhia, nomeadamente para as questões do abandono e das adoções responsáveis, como se pode concluir do seguinte texto do regulamento:

“… Adotar um animal implica estabelecer uma relação duradoira de cumplicidade e satisfação das necessidades do animal. Os cuidados que um bicho requer - alimentação adequada, consultas ao veterinário, passeios e carinho -, significam tempo, dedicação e investimento financeiro. Muitas vezes as pessoas cativam-se com a graciosidade dos filhotes e não se dão conta de que eles crescerão, tornando-se, para alguns, menos atrativos e até um fardo.

Do mesmo modo, e no momento da adoção, as pessoas ignoram o tempo de vida do animal - cerca de 12 anos para cães e 20 anos para gatos. Com o passar do tempo, e o avolumar dos problemas, a tentação de abandonar o animal à sua sorte aumenta. Os trabalhos devem, portanto, promover pelo menos uma destas questões: a adoção responsável, o combate ao abandono dos animais e /ou a todas as formas de maus tratos.

Infelizmente, a oportunidade poderia ter sido aproveitada para uma campanha que abrangesse um leque mais alargado de situações de que são vítimas outros animais e não apenas os de companhia. Assim, seria de todo o interesse chamar a atenção para o sofrimento de alguns animais ditos de produção, como bovinos que vivem parte do ano na lama, em algumas explorações pecuárias, os cavalos famintos e maltratados, os bovinos que são torturados nas diversas modalidades tauromáquicas, com destaque para as ferras desnecessárias, as cruéis tentas e as touradas de praça, que alguns insistem em chamar tauromaquia artística, os animais selvagens enjaulados em parques zoológicos, etc.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30803, 8 de dezembro de 2015, p. 14)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Plátanos, podas e afins



Plátanos, podas e afins

Este ano está a terminar e já começaram as podas de várias árvores pelas mais diversas razões, de que se destacam a segurança das viaturas e seus ocupantes, para evitar trabalhos com a limpeza das folhas, embora abunde a mão-de-obra, para ocupar a mão-de-obra que nada mais tem para fazer e, por último, porque sempre se fizeram.

A falta de preparação de alguns podadores, associada à insensibilidade de quem os dirige, levou a que trabalhos tecnicamente mal feitos fossem transformados em modelos a seguir ou tradição arraigada que dificilmente será mandada para as urtigas, nem mesmo quando das ditas podas resulta aberrações que ferem a vista e fazem doer o coração dos mais sensíveis ou sensatos.

A denúncia dos atentados ao bom senso e ao bom gosto e à paisagem perpetrados contra as árvores não tem surtido qualquer efeito e tem vindo a repetir-se, ano após ano, não sabemos desde quando e até quando.

Depois desta introdução que já vai longa, no restante espaço que me é disponibilizado irei dar a conhecer o debate que ocorreu acerca do embelezamento das nossas estradas em 1953, ano em que pelos vistos já existiam podadores podões.

No mês de Abril de 1953, um colaborador do Correio dos Açores, num texto intitulado “O embelezamento das estradas de turismo”, defendeu que devido às grandes manadas de gado as estradas não poderiam ser ajardinadas com plantas de pequeno porte, frágeis e de crescimento lento e que “o atraso de educação do nosso povo, criado sem o exemplo e sem a noção do respeito devido às plantas e às flores, torna quase impossível a defesa de todas as espécies, que se não defendam por si próprias, crescendo e tornando-se depressa duras ao corte e ao arranque”.

Hoje, através das observações que temos feito e que são do conhecimento público, por mais projetos para o sucesso escolar que se implementem, a deseducação que vem do berço e que a escola não colmata por mais que se esforce, facilmente se chega à conclusão de que as vacas são mais respeitadoras do património que é de todos do que muitos humanos que continuam a roubar pequenas plantas e a partir árvores, algumas das quais localizadas em frente às suas portas para aumentar a área de estacionamento disponível.

O autor referido também manifestou a sua discordância com o uso de algumas espécies que não se adaptaram ao regime de ventos fortes e ao rocio do mar e que depois acabaram por ser substituídas por plátanos. Além disso, também, condenou a mutilação dos plátanos que eram, e pelos vistos continuam a ser, podados “barbaramente” ou mesmo arrancados para plantação de “flores e arbustos numa terra, onde nem na cidade, se cuida sempre dos recantos ajardinados”.

No mês de maio, do mesmo ano, outro colaborador do Correio dos Açores escreveu sobre o embelezamento das estradas, nos seguintes termos: “não sou “contra” o plátano nas estradas. Mas também não sou só pelo plátano; “nem sempre galinha”!”

Este último colaborador não se ficou pela defesa da diversidade, tendo apresentado algumas sugestões de plantas a serem usadas, como ulmeiros, eucaliptos, castanheiros, vulgares ou da Índia, carvalhos, nogueiras, tílias, ligustros, faias, cedros, freixos, azinheiras e cameleiras.

Para acompanhar as árvores e para evitar a monotonia, a sua sugestão era a de alternar as hortênsias com outras plantas de menor porte, como primaveras, azáleas, rododendros, sabugueiros, dálias, boninas, jarros, cravos da Boa Esperança e pervincas.

Concluo, afirmando que, apesar de todo o conhecimento que se adquiriu desde então até agora, nunca é tempo perdido conhecer o que pensava quem viveu antes de nós e que desinteressadamente deu o seu contributo para que a nossa terra fosse melhor.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30799, 2 de dezembro de 2015, p.15)

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Poços-Calhetas

A Campo Aberto e o clima

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Assine e divulgue a petição



Assine aqui: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=tcordanaoepatrimonio


Em Defesa das Crianças, do Bem-estar Animal e dos Açores - Tourada à Corda não é Património Cultural Imaterial

Para: UNESCO, Comité dos Direitos da Criança da ONU, Parlamento Europeu, Governo dos Açores, Governo de Portugal.

Está em curso, na ilha Terceira (Açores), uma tentativa de candidatura da tourada à corda a Património Cultural Imaterial da UNESCO.

Nós, pessoas individuais e coletivas, abaixo assinadas, entendemos que a tourada à corda não pode nem é digna de figurar como Património Cultural Imaterial pelas seguintes razões:

1- É uma tradição associada à crueldade contra animais que ao contrário do que é afirmado pelos promotores, frequentemente, se traduz em ferimentos e mesmo na morte dos mesmos. Assim sendo, é contrária a vários documentos internacionais que condenam os maus tratos aos animais e colide frontalmente com os princípios definidos na Declaração Universal dos Direitos dos Animais;

2- É uma prática que anualmente é responsável pela morte de alguns participantes humanos e de uma média de cerca de trezentos feridos, alguns com bastante gravidade;

3- A presença de crianças e adolescentes como participantes ou simples assistentes nas touradas à corda contraria a recomendação, de 2014, do Comité dos Direitos da Criança da ONU, que pede para afastar as crianças da tauromaquia e que, entre outras medidas, recomenda também a promoção de campanhas de informação sobre “a violência física e mental associada à tauromaquia e ao seu impacto nas crianças”;

4- É uma atividade não consensual na sociedade açoriana, e em todo o mundo, onde parte significativa da população açoriana não só não se identifica como repudia as diversas modalidades tauromáquicas, não sendo por isso “um elemento vivificador da identidade cultural comum”.

Face ao exposto, solicitamos a intervenção das várias entidades a quem é destinada esta petição de modo a ser rejeitada qualquer proposta de candidatura sobre este assunto, bem como que desenvolvam todos os esforços no sentidos de proteger as crianças açorianas e não permitir que uma prática violenta, bárbara e anacrónica seja classificada como Património Cultural Imaterial.


Proponentes

Regionais:
CAES - Coletivo Açoriano de Ecologia Social
GCAT - Grupo Central Anti-Tourada
MATP-DA - Movimento Abolicionista da Tauromaquia de Portugal - Delegação dos Açores
MCATA - Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia dos Açores

Nacionais:
ABRIGO - Associação de Proteção à Fauna e à Flora (Vale do Paraíso-Azambuja)
ADAPO - Associação de Defesa dos Animais e Plantas de Olhão
AEZA - Associação Ecologista e Zoófila de Aljezur
AGIR pelos Animais
Alaar - Associação Limiana dos Amigos dos Animais de Rua
AMIAMA - Amadora
ANIMAL
Animais de Rua
Associação AGIR pelos Animais
Associacao dos Amigos dos Animais Abandonados de Loulé
Associação Cantinho dos Animais Évora
Associação Gato de Rua
Associação Patas Errantes
Campanha Esterilização Cães e Gatos
Cedar Center for Animals
Évora Anti Tourada
Mafranimal - Associação de Ajuda Animal
MAT - Marinhenses Anti Touradas
MATP - Movimento Abolicionista da Tauromaquia de Portugal
MIAR Évora (Movimento para a Integração de Animais de Rua)
MIAT - Movimento Internacional Anti-Touradas
Quebra do Silêncio (Blogue)
Senhores Bichinhos

Internacionais:
AnimaNaturalis - Ecuador
ARCA BRASIL - Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal
ARCA - Fundacion Protetora de Animales – Equador
Asociación Potosina por la dignidad animal A.C. (APDA) - México
CAS International (Comité Anti Stierenvechten) - Holanda
Crac Europe
Perú Antitaurino
Plataforma La Tortura no Es Cultura - Espanha


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ESPAÑOL

En Defensa de la Infancia, del Bien Estar Animal y de las Islas Azores – Toros Ensogados no son Patrimonio Cultural Inmaterial

Está en curso, en la isla Terceira (Azores), un intento de candidatura de los toros ensogados a Patrimonio Cultural Inmaterial de la UNESCO.

Nosotros, personas individuales y colectivos, abajo firmantes, entendemos que los toros ensogados no pueden ni son dignos de figurar como Patrimonio Cultural Inmaterial por las siguientes razones:

1- Es una tradición asociada a la crueldad contra los animales que, al contrario de lo que es afirmado por los promotores, frecuentemente se traduce en heridas e incluso en la muerte de los mismos. Siendo así, es contraria a varios documentos internacionales que condenan los malos tratos a los animales y se opone frontalmente a los principios definidos en la Declaración Universal de los Derechos de los Animales;

2- Es una práctica que anualmente es responsable por la muerte ocasional de algunos participantes y por una media de trescientos heridos, algunos com bastante gravedad;

3- La presencia de niños y adolescentes como participantes o simples asistentes en los toros ensogados contraría la recomendación de 2014 del Comité de los Derechos del Niño de la ONU, que pide alejar a los niños de la tauromaquia y que además, entre otras medidas, recomienda la promoción de campañas de información sobre “la violencia física y mental asociada a la tauromaquia y su impacto en la infancia”;

4- Es una actividad no consensual en la sociedad azoreña, como en todo el mundo, y una parte significativa de la población no sólo no se identifica sino que repudia las diversas modalidades de la tauromaquia, no siendo por eso “un elemento vivificador de la identidad cultural común”.

Frente a lo expuesto, solicitamos la intervención de las varias entidades a quien se destina esta petición de modo a ser rechazada cualquier propuesta de candidatura sobre este asunto, bien como que desarrollen todos los esfuerzos en el sentido de proteger a la infancia azoreña y a no permitir que una práctica violenta, bárbara y anacrónica sea clasificada como Patrimonio Cultural Inmaterial.


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ENGLISH

In Defense of the Children, Animal Welfare and of the Azores – Street Bullfights can not be Immaterial Cultural Heritage

On Terceira Island (Azores) there is now an attempt to make street bullfighting an Immaterial Cultural Heritage of UNESCO.

We, individual and collective persons undersigned, believe that street bullfighting is not, nor can be worthy of being considered Immaterial Cultural Heritage for the following reasons:

1- It is a tradition of cruelty against animals that on the contrary to what is affirmed by the organizers frequently causes wounds and even the death of the same. This being so, it is contrary to many international documents that condemn ill treatment of animals and is totally opposed to all principles defined in the Universal Declaration of Animal rights;

2- It is a practice that is annually the cause of the death of some human participants and an average of about three hundred injured, some seriously;

3- The presence of children and adolescents as participants or watchers of street bullfights is contrary to the recommendation of 2014, of the Comity of Children Rights of the United Nations that recommends that children should be removed from bullfighting and also that campaigns for the promotion of information about physical and mental violence associated with bullfighting and its impact on children;

4- It is not a consensual activity in Azorean society and all over the world, where a significant part of the Azorean population not only repudiates but also condemns the various kinds of bullfights and therefore cannot be considered as a “living element of a common cultural identity”.

For these reasons, we request the intervention of the various entities to whom this petition is destined, to reject any proposal for candidature of this matter, to make every effort to protect the Azorean children and not allow a violent, barbaric and anachronic practice to be classified as Immaterial Cultural Heritage.


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FRANÇAIS

En Defense des Enfants, pour le Bien-Être des Animaux et des Azores - “Taureau à la corde” n’est pas un Patrimoine Culturel Immatériel

On essaye, à l’île Terceira des Açores, la candidature du " Taureau à la corde" de façon qu'elle puisse devenir patrimoine culturel immatériel de l'UNESCO.

Nous sommes des personnes individuels et colléctifs soussignés, et a notre avis la “tourada à corda” ne peut pas et ne mérite pas le classement comme patrimoine culturel immatériel, pour les raisons suivantes:

1- Il s’agit d’une tradition associée à la cruauté envers les animaux que, contrairement à ce qui est indiqué par ses promoteurs, se traduit souvent par des blessures et même la mort des taureaux . Par conséquent, il est contraire à plusieurs documents internationaux condamnant la maltraitance des animaux, et en collision frontale avec les principes énoncés dans la Déclaration Universelle des Droits de l'Animal;

2- Cette pratique est actuellement responsable de la mort de certains participants humains et environ trois cents blessés chaque année, dont certaines très graves;

3- La présence des enfants et des adolescents en tant que participants ou seulement comme des assistants dans les “touradas à corda” est contraire à la recommendation, de 2014, du Comité des Nations Unies sur les droits de l'enfant, dans le but de garder les enfants de la tauromachie et que, entre autres choses, recommande la promotion de campagnes d'information sur la «violence physique et mentale liée à la tauromachie et son impact sur les enfants»;

4- Il s’agit d’une activité non consensuelle dans la société des Açores, comme dans le monde, où une partie importante de la population n’est pas d’accord avec la tauromachie en général, q’elle rejette, et comme ça ce n’est pas vrai que cette activité puisse “vivifier la l'identité culturelle commune”.

Compte tenu de ce qui précède, nous demandons l'intervention des diverses entités à qui est destiné cette pétition afin d'être rejeté toute proposition de candidature sur ce sujet, ainsi que de faire tous les efforts dans le but de protéger les enfants des Açores, ne permettant jamais que une pratique violente, barbare et anachronique soit classé comme patrimoine culturel immatériel.


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Mais informação:
http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/p/tourada-nao-e-patrimonio-cultural.html

domingo, 8 de novembro de 2015

Tradições ou imbecilidades?



Sobre a dificuldade em abandonar tradições: o caso das touradas

As tradições, quer sejam boas quer sejam más, exercem uma indiscutível influência sobre as pessoas, de tal modo que, apesar de toda a evolução científica e cultural existente, tolhem os pensamentos e levam por vezes a que sejam mantidas práticas bárbaras e anacrónicas. Sobre este assunto, a seguinte frase de Karl Marx* é bastante elucidativa: “ A tradição das gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”.

Mas se o peso das tradições é plúmbeo, por que razão na nossa terra há tradições que desaparecem e outras que persistem e expandem-se?

Para tentar responder à questão, vamos dar dois exemplos: as batalhas de flores que eram comuns pelo menos em São Miguel no início do século passado e que caíram no esquecimento e as touradas que estiveram confinadas à ilha Terceira e que se expandiram para outras ilhas.

Tal como outras tradições que foram desaparecendo, as batalhas das flores não tinham a montante nenhuma indústria organizada que necessitava que o seu “consumo” aumentasse para poder viver, daí terem caído no esquecimento sem que houvesse alguém que lutasse pela sua continuidade.

No caso das touradas, vamo-nos restringir às touradas à corda, para além do vício que cria o dito espetáculo, que anda intimamente associado ao consumo de álcool, há a indústria tauromáquica que para sobreviver precisa que a tradição se mantenha e, por causa da concorrência entre ganadarias, necessita que a tradição se expanda. Para exemplificar o exposto, com o apoio indireto da hipócrita Comunidade Europeia e direta dos Governos Regionais e das autarquias, em quarenta anos o número de touradas à corda quase duplicou na ilha Terceira, passando de 121, em 1975, para 226, em 2015.

Para além do referido, se não se tratasse de um negócio “sujo”, pois envolve maus tratos a animais e ferimentos e mortes a outros animais que se dizem superiores e racionais, que interesse teria o lóbi das touradas na sua expansão para outras ilhas?

Por que razão os aficionados terceirenses das touradas não se esforçam por alargar as famosas danças e bailinhos da sua ilha ao resto do arquipélago? Por que razão não se esforçam por classificar as danças e bailinhos como Património Cultural e Imaterial e andam a pressionar para que sejam as touradas classificadas como tal?

Por último, uma nota de humor. Embora sabendo que há outros critérios para a classificação de uma tourada como tradicional, o que obriga a que a mesma se realize há pelo menos 15 anos leva-me a pensar se deve ser tradicional tudo o que se repete.

Assim, é mais do que provado que desde que foi construído o edifício dos Paços do Concelho de Vila Franca do Campo há a tradição de durante os arraiais das festas religiosas utilizar as traseiras do mesmo como mictório.

Será que por já ocorrer há algumas centenas de anos, o urinar contra as paredes daquele edifico poderá ser considerado tradição e como tal, embora a contragosto dos moradores, uma ação a ser devidamente protegida e acarinhada?

*Como se trata de um autor polémico e com muitos críticos sobretudo entre os que nunca o leram, aqui vai uma citação de um autor mais consensual, Albert Einstein: “A tradição é a personalidade dos imbecis”.

José Serrote da Vila

Fonte: https://www.facebook.com/347851085382734/photos/a.352518938249282.1073741828.347851085382734/552548114913029/?type=3&fref=nf

terça-feira, 27 de outubro de 2015

SIM


Os animais têm direitos?
Uma princesa inglesa afirmou, recentemente, que os animais não têm direitos porque não têm conta bancária, não votam e que só deve ter direitos quem paga impostos.
Entre nós, um acérrimo defensor da tauromaquia afirmou que não há qualquer problema em torturar os touros por não terem quaisquer direitos já que só deverão ter direitos quem for capaz de resolver o teorema de Pitágoras.
Esta última afirmação, tal como a anterior, é deveras preocupante pois se a estendermos aos humanos, bebés, crianças e todos os que nunca aprenderam o dito teorema ou os que já o esqueceram não deverão ser titulares de quaisquer direitos, podendo consequentemente ser vítimas de maus tratos, discriminados, torturados, escravizados, etc.
Não pretendendo discutir aqui a questão dos direitos dos animais, o nosso objetivo com este curto texto é dar a conhecer um livro, publicado recentemente, intitulado “Sim! Os animais têm direitos”, da autoria de André Nunes, licenciado em direito pela Universidade Católica Portuguesa, que, desde 2009, se dedica ao estudo dos direitos dos animais, quer sob o ponto de vista jurídico, quer filosófico.
Por muito que custe a algumas cabeças pouco abertas à evolução das mentalidades, é cada vez maior o número de pessoas que em todo o mundo se preocupam com a vida dos animais não humanos e lutam para que a sua situação melhore. Segundo Paulo Borges, autor do prefácio, ao referido livro, “a ética animal, a par da ambiental, é hoje uma das áreas de investigação mais florescentes nos estudos académicos e a questão dos direitos dos animais e da natureza tornou-se central ao debate filosófico-jurídico contemporâneo”.
O livro, de fácil leitura, possui cinco capítulos, sendo o primeiro mais teórico, onde o autor define “o limite a partir do qual devem os animais ser considerados eticamente”. No segundo capítulo, o autor responde às objeções feitas à defesa dos direitos dos animais, no terceiro é rebatida a argumentação “que se centra mais no mensageiro do que na mensagem argumento”, no quarto capítulo é desmascarada a estratégia “assente no rótulo do tratamento bom e humanitário” nas várias indústrias de exploração de animais. Por último, no quinto capítulo o autor propõe-se “encontrar uma resposta para a questão: como devemos tratar os animais não-humanos””
As opiniões do autor, que não aceita “que a espécie humana se coloque a ela própria num patamar à parte” da mesma maneira que não aceita que os animais sejam colocados “numa redoma inquebrável”, com certeza irão causar algum desconforto a quem não tem o espírito aberto a admitir ideias diferentes das suas ou a quem, por preguiça mental, não está habituado a refletir, sem preconceitos, sobre os mais diversos assuntos.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30768, de 27 de outubro de 2015, p.6)

domingo, 25 de outubro de 2015

Tradições?


Correio dos Açores, 23 de outubro de 2015

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Tourada à corda não é nem será Património Cultural Imaterial



Tourada à corda não é nem será Património Cultural Imaterial

A Associação de Mordomos das Festas Tradicionais da Ilha Terceira veio a publico recentemente manifestar a sua discordância pelo facto da Direção Regional da Cultura (DRaC) não querer avançar com o processo da candidatura da tourada à corda a Património Cultural Imaterial da UNESCO.

Mais recentemente, ficou-se a saber que a DRaC, portanto o Governo Regional dos Açores, dará afinal todo o apoio à integração da tourada à corda na lista de Património Cultural Imaterial da UNESCO, desde que a referida associação avance com o necessário processo de inventariação.

O Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia dos Açores (MCATA) considera que esta nova tentativa de classificar a tourada à corda como Património Cultural Imaterial, a ser assumida pelo Governo Regional dos Açores, não passará de uma absurda perda de tempo e de recursos que poderiam ser muito melhor utilizados em prol da evolução cultural dos açorianos.

Além disso, entende o MCATA que a tourada à corda não pode nem é digna de figurar como Património Cultural Imaterial, pois:

1- É uma tradição associada à crueldade contra animais que ao contrário do que é afirmado pelos promotores, frequentemente, se traduz no ferimento e também na morte dos mesmos. Assim sendo, é contrária a vários documentos internacionais que condenam os maus tratos aos animais e colide frontalmente com os princípios definidos na Declaração Universal dos Direitos dos Animais;

2- É uma prática que anualmente é responsável pela morte de alguns participantes e de cerca de trezentos feridos, alguns com bastante gravidade;

3- A presença de crianças e adolescentes como participantes ou simples assistentes nas touradas à corda contraria a recomendação, de 2014, do Comité dos Direitos da Criança da ONU para afastar as crianças da tauromaquia e que, entre outras medidas, recomenda a promoção de campanhas de informação sobre “a violência física e mental associada à tauromaquia e ao seu impacto nas crianças”;

4- É uma atividade não consensual na sociedade açoriana, onde parte significativa da população não só não se identifica como repudia as diversas modalidades tauromáquicas, não sendo por isso “um elemento vivificador da identidade cultural comum”.

Por não ser uma atividade agregadora da sociedade açoriana, e por crescer em todo o mundo, nomeadamente nos Açores, o número de pessoas que a condena, por ser contrária à salutar evolução da humanidade rumo a um mundo mais justo e respeitador de pessoas e animais, o MCATA não deixará de desenvolver os seus esforços, quer junto de todos os movimentos de defesa dos animais a nível nacional e internacional, bem como junto da UNESCO e do Comité dos Direitos da Criança da ONU com o objetivo de denunciar a verdadeira natureza das touradas à corda e travar qualquer tentativa de classificação da mesma baseada em informações falsas.


Comunicado do
Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA)
http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/
15/10/2015

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Como se faz um aficionado de touradas?



Como se faz um aficionado de touradas?

Em todo o mundo, cresce a condenação à presença de crianças em espetáculos tauromáquicos, quer como participantes ativos, quer como simples assistentes, havendo alguma legislação que considera mau trato infantil, o mau trato animal cometido na presença de crianças.

O Comité dos Direitos da Criança da ONU já se pronunciou por duas vezes, em 2014, em relação a Portugal, e em 2015, em relação à Colômbia, sobre o assunto tendo-se manifestado contra a presença de crianças e adolescentes como participantes ou simples assistentes em touradas ou outras atividades tauromáquicas. O referido comité, também, recomendou que os mencionados países implementassem medidas para a aplicação efetivada Convenção dos Direitos da Criança e promovessem campanhas de informação sobre “a violência física e mental associada à tauromaquia e ao seu impacto nas crianças”.

Como é sabido, tanto a nível nacional como nos Açores, nada se faz para que as recomendações da ONU sejam respeitadas. Pelo contrário, a indústria tauromáquica, com a conivência das autoridades, continua a incentivar a presença de crianças em atividades tauromáquicas, promovendo, como a Tertúlia Tauromáquica Terceirense, atividades para elas especialmente dedicadas.

Então, por que razão nem o governo nacional, nem o regional fazem algo para travar a contínua investida da indústria tauromáquica no sentido de garantir que a sua atividade sangrenta e deseducativa perdure ao longo dos tempos?

Não temos dúvida que é a cobardia face a um poderoso lobby que não se importa de manchar o bom nome da região a nível internacional, pois o que lhe interessa é apenas prosseguir com a sua atividade ruinosa, para a economia regional, mas altamente rentável para as suas empresas, já que para elas são canalizados fundos de uma hipócrita Comunidade Europeia.

Além do exposto, os diretamente beneficiados com a indústria tauromáquica, eles também alvo de lavagens cerebrais enquanto crianças, para garantir os seus negócios sabem que apesar do repúdio inicial das crianças face aos maus tratos infligidos aos touros e cavalos, com a repetição, aquelas acabam por os aceitar e, tal como acontece com as drogas, acabam por ficar delas dependentes.

Para terminar, apresenta-se um extrato de um interessante livro da autoria do Dr. Augusto Ataíde, editado, em 2006, pela Bertrand, onde o autor explica como se tornou aficionado:

Ainda numa infância remotíssima, fui pela primeira vez com o Avô Valenças e os Pais à tourada na velha praça de Algés. Logo à chegada, marradas, cornetas e gritarias fizeram-me dar berros de pavor. Que obrigaram o meu pobre Pai, então gordíssimo, primeiro a furar pela multidão com o trambolho ao colo, tropeçando em direcção à saída e, depois — como oportunamente me tivesse calado e manifestasse o desejo de voltar para a Mãe — a subir o mesmo calvário na direcção inversa... Assinalo que o reencontro com a Mãe foi construtivo: logo assegurou o meu bom comportamento para o resto da tarde, não propriamente com o corte de orelhas ou rabo, mas por meio de um bom puxão das primeiras e de algumas palmadas no segundo. As minhas pazes com a «festa» ficaram estabelecidas logo ali e a afición, embora moderada e pouco assídua, durou a vida inteira.


Açores, 11 de outubro de 2015

Mariano Soares

terça-feira, 6 de outubro de 2015

O semi-aficionado de touradas Joel Neto


O semi-aficionado de touradas Joel Neto

Joel Neto publicou recentemente no Diário de Notícias um texto intitulado Tauromaquia, onde diaboliza, e muito bem, as touradas de praça e endeusa, e muito mal, as de corda.

Antes de demonstrar que Joel Neto asneirou, quero dar os parabéns por, finalmente, ter reconhecido que na tourada de praça o touro é massacrado. Mas como ainda no seu íntimo há uma pontinha de “afición” encontra “galhardia numa pega de caras”, depois do touro já se ter esvaído em sangue e de estar a pouco tempo de ser morto no matadouro.

Concordamos com Joel Neto que o grau de barbaridade numa tourada à corda é menor do que numa de praça. Contudo, as justificações apresentadas pelo senhor Neto para demonstrar a bondade para o touro das touradas à corda não passam de um chorrilho de asneiras, algumas muito comuns a todos os adeptos das touradas e outras originais da lavra de um ou mais professores universitários do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores completamente desacreditados.

Não vamos perder muito tempo, mas dizer que numa tourada à corda o que acontece é apenas isto: “O animal é preso a uma trela e passeado estrada fora” não passa de tolice pegada. O senhor Neto por acaso não vê, ao vivo ou nos famosos vídeos das marradas, touros ensanguentados, touros que ficam feridos e outros que por vezes morrem ao embaterem em muros e outras vedações?

Outra justificação característica dos aficionados da “tortura suave” é a de que enquanto o touro é respeitado, as pessoas é que se lixam. Vejam o que diz o senhor Neto:” Mas, no fim, é ele quem mais se diverte, ceifando bêbedos e debruçando-se às varandas”.

Como sabe o senhor Neto que o touro se diverte? Não é sadismo divertir-se com o sofrimento de outros humanos, mesmo que estejam “bêbados”?

Disparate que não devia ser repetido por alguém que devia usar o cérebro é afirmar que “Não há, nas nove ilhas dos Açores como na província portuguesa em geral, muitas regiões tão magnificamente preservada como o interior da Terceira. Esse milagre tem uma só origem: o toiro é o seu guardião”.

Pense um bocadinho e consulte toda a bibliografia disponível e verifique que um dos problemas para as espécies endémicas é o seu pisoteio. Esta afirmação consta de todos os documentos oficiais relativamente à Rede Natura 2000 cujos estudos foram feitos por quem na Universidade dos Açores vem agora dizer que os touros da Terceira contribuem para a conservação da natureza. Talvez fosse verdade, se os touros terceirenses soubessem distinguir endemismos e se tivessem asas.

José da Agualva.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Alice Moderno


Notas Zoófilas (9)

Alice Moderno em exposição

“ Dos seus sentimentos de bondade fala eloquentemente a sua ação não só dentro da benemérita Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, mas também na imprensa, onde frequentemente a pena elegante da srª D. Alice Moderno firmava artigos na defesa vigorosa e inteligente daqueles seres, amigos e companheiros do homem que este, na sua ignorância e ingratidão, tantas vezes maltrata” (João Anglin)

No passado dia 25 de setembro, na sala de exposições da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, foi inaugurada a exposição Alice Moderno (1867-1946): cidadania e intervenção.

A exposição, que surgiu na sequência de uma sugestão do Coletivo Alice Moderno, é uma iniciativa da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta, tendo sido realizada por Ana Cristina Pereira, Iva Matos e Rute Gregório, sendo esta última também responsável pela sua coordenação.

Conhecida pela sua dedicação à causa da defesa animal, Alice Moderno foi uma das fundadoras, em 1911, da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais e sua presidente e principal dinamizadora, desde 1914 até à data da sua morte, em 1946.

No seu labor em defesa dos animais, Alice Moderno não fazia distinções. Com efeito, para além de solicitar às autoridades a criação de legislação que proibisse determinadas práticas que causavam sofrimento e que cuidassem ou modificassem o piso das ruas para facilitar o trabalho dos animais de tiro, denunciou o uso e abuso de aguilhadas, a sobrecarga que vitimava principalmente bois e cavalos, o uso de cabras e ovelhas para puxar carroças, que acabou por ser proibido por lei, a venda por farmácias de estricnina que era usada para matar os cães abandonados, os maus tratos que sofriam os bovinos nas festas do Espírito Santo, o sofrimento dos touros e dos cavalos nas touradas, que ela abominava, e a morte à paulada dos ouriços-cacheiros por parte sobretudo dos rapazes mas também por adultos nas freguesias rurais que ela para os salvar comprava para depois soltar no quintal.

Mas, Alice Moderno não se dedicou apenas à causa animal. Ela, que para sobreviver teve de trabalhar arduamente, pois não herdou nenhuma fortuna, também abraçou outras causas, que estão mencionadas nos vários painéis que integram a exposição, a saber: a instrução/educação, as letras, onde se inclui a poesia, o teatro e o romance, o jornalismo, de que se destaca a fundação, direção e redação do jornal “A Folha”, onde ela dá voz a diversas correntes de pensamento inovadoras e progressistas, o feminismo, onde, para além da luta pela emancipação da mulher, defende a participação cívica da mesma na vida social, a participação política que a desencantou já que muitas das promessas da República não passaram disso mesmo e, por último, o apoio aos mais carenciados que ela, contrária à “caridadezinha”, sempre o fez.

A exposição, que merece a visita de todos os interessados em conhecer a vida e a obra de uma mulher que lutou incansavelmente por uns Açores melhores para todos os seus habitantes, humanos ou não, estará aberta ao público até ao dia 16 de abril de 2016.

Teófilo Braga

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Mais dinheiro para a tortura

sábado, 29 de agosto de 2015

Candidatura de São Jorge a Reserva da Biosfera



CANDIDATURA DE SÃO JORGE A RESERVA DA BIOSFERA

Está em preparação a candidatura da ilha de São Jorge a Reserva da Biosfera, a qual merece todo o meu apoio.

Dada a extensão do texto da proposta de candidatura, nesta minha colaboração semanal apenas farei referência a duas áreas, a espeleologia, que está praticamente ausente, e a tauromaquia, que mereceu uma breve menção, onde para além de não haver referência às sangrentas touradas de praça, felizmente raras em São Jorge, as touradas de corda são apresentadas como “pílulas douradas”

Na proposta de candidatura, encontramos apenas a menção a “grutas não exploradas pelo turismo”, o que é muito pouco para uma ilha que possui várias cavidades vulcânicas que, ao longo dos tempos, têm sido alvo de várias expedições vulcanoespeleológicas que tiveram a participação da comunidade científica nacional e internacional.

A título de exemplo, embora desconheça se a listagem está atualizada, no 6th Internacional Symposium on Vulcanospeleology, que se realizou, em 1991, no Hawaii, foi apresentada uma comunicação da autoria de Paulo Borges, da Universidade dos Açores, e de A. Silva e F. Pereira, da Sociedade de Exploração Espeleológica Os Montanheiros, onde são mencionadas 12 cavidades vulcânicas. Destas, sete são tubos de lava: Furna da Pomba, Furna do Poio, Furna do Pombal, Gruta da Beira, Gruta da Granja, Gruta da Lomba do Gato e Gruta do Leão e cinco são algares: Algar das Bocas do Fogo, Algar do Montoso, Algar do Pico da Maria Pires, Algar do Pico dos Suspiros I e Algar do Pico dos Suspiros II.

Em relação à tauromaquia, no texto da proposta pode ler-se: “Fortemente enraizadas na cultura jorgense, as touradas à corda são corridas de touros adultos da raça brava, ao longo de um arraial montado numa rua, num percurso de cerca de 500 metros. O animal é controlado por uma corda atada ao seu pescoço que é segura pelos pastores (homens que conduzem a lide e impedem sua saída para além do troço de via estipulado. Após a lide, que não inclui farpas ou maltrato dos animais, são devolvidos às pastagens e repetidamente utilizados, depois de um período de descanso mínimo.”

Se é certo que há touradas em São Jorge, atividade criada para satisfazer os interesses económicos de ganadeiros e o vício de quem desde criança foi habituado a elas, também é certo que até há pouco tempo as mesmas estavam confinadas à ilha Terceira. Com efeito, o etnógrafo terceirense Dr Luís Ribeiro, numa comunicação apresentada ao Congresso Luso-Espanhol realizado em Lisboa, em 1950, afirmou: “Em todas as ilhas foi o costume caindo em desuso e hoje só na Terceira há touradas.” Sobre o mesmo assunto, o historiador e também etnógrafo Pedro de Merelim no seu livro Tauromaquia Terceirense, publicado em 1986, cita o professor João Nogueira que escreveu que as ilhas vizinhas mostravam repugnância pelas touradas. O mesmo Pedro de Merelim só em 1977 se refere a touradas na Graciosa e São Jorge nos seguintes termos: “ Mas, com o típico divertimento a estender-se as ilhas próximas. Levaram-se a efeito na Graciosa 21 e em S. Jorge 17”.
Relativamente à apresentada “suavidade” da tourada à corda, discordamos pois embora não haja farpas é sabido que muitas vezes os animais são feridos e alguns acabam mesmo por morrer, como já aconteceu em São Jorge e em Rabo de Peixe. Sobre este assunto, João da Cândida, antigo pastor disse: “De resto é o “bota abaixo” no duro e escorregadio asfalto, provocando, quantas vezes, graves e irreparáveis lesões aos animais” e o antigo médico-veterinário da Praia da Vitória, Dr. Vasco Reis escreveu o seguinte:

“Na tourada à corda o touro arrisca ferimentos, que podem conduzir à morte; é provocado, ludibriado e exausto; sofre susto e ansiedade.
O risco de ferimento, mais ou menos grave, e de morte de pessoas está muito presente na tourada â corda, o que absolutamente a não recomenda.
Por estas as razões, a tourada à corda impressiona negativamente imensas pessoas portuguesas e do estrangeiro e atua para perda da imagem de harmonia e tranquilidade, que seria uma marca da boa qualidade dos Açores”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30715, 26 de agosto de 2015 p.12)

quarta-feira, 19 de agosto de 2015


Está prevista a realização de duas touradas à corda nas freguesias da Ribeira Seca e da Lomba da Maia, na ilha de São Miguel (Açores) integradas em festividades religiosas.
Escreva ao Bispo dos Açores e à Câmara Municipal da Ribeira Grande para impedir que as mesmas se realizem. Divulgue por todos os seus contatos.
Pode usar o texto abaixo ou personalizá-lo a seu gosto.

Contatos:
Para: geral@diocesedeangra.pt, seminariodeangra@mail.telepac.pt, geralcmrg@cm-ribeiragrande.pt, acoresmelhores@gmail.com

Exmo. e Revmo. Senhor
Dom António de Sousa Braga
Exmo Senhor
Dr. Alexandre Gaudêncio

Organizadas por comissões de festas da Igreja Católica está prevista a realização de duas touradas à corda no concelho da Ribeira Grande, no dia 22 de agosto, pelas 13 h 30 min, na Ribeira Seca da Ribeira Grande e no dia 29 de agosto, pelas 13 horas na Lomba da Maia.

Para além da desumanidade das touradas à corda, responsáveis por mais de 300 feridos e uma morte anual, vimos lembrar-lhes que na sua encíclica Laudato Si o papa Francisco escreveu: “sujeitar os animais ao sofrimento e à morte desnecessária não é digno de um ser humano”.

Vimos apelar a Vossas Excelências para que não autorizem a realização das touradas mencionadas que para além do referido não respeitam a legislação que as regulamentam, nomeadamente a alínea a) do ponto 2 do artigo 7º da Portaria nº 27/2003 que menciona que entre 1 de maio e 31 de agosto o início da tourada “pode ocorrer entre as 16 horas e as 18 h e 30 minutos”

Com os melhores cumprimentos,

Nome

domingo, 16 de agosto de 2015

Subida ao Piquinho

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Unescomania


UNESCOMANIA?

A candidatura de quase tudo e mais alguma coisa a património da Unesco parece estar na moda neste arquipélago onde o oceano que devia unir as ilhas tem servido mais para as separar.

São mais do que muitas as intenções de candidatura. Algumas merecem ser trabalhadas e levadas a bom porto, enquanto outras nem merecem que se perca muito tempo com elas, pois a serem apresentadas seriam alvo de chacota e ridiculizariam os seus proponentes.

Em Outubro de 2010, a Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo anunciou a candidatura à UNESCO da Festa Brava da Terceira como Património Imaterial da Humanidade.

Esta pretensão foi imediatamente contestada, tendo na altura sido lançado um abaixo-assinado a pedir à Unesco para não aceitar a candidatura em virtude das touradas “ para além de não criarem riqueza e de desconceituarem os Açores aos olhos da maioria dos povos do mundo …em nada contribuirem para educar os cidadãos e cidadãs para o respeito aos animais, para além de causarem sofrimento aos mesmos e porem em risco a vida das pessoas”.

Desconhecemos se foram dados outros passos, mas tudo leva a crer que o que se pretendeu foi apenas ocupar espaço nos jornais e preencher tempo de antena na comunicação social.

Outra das candidaturas anunciadas foi a das Festas do Espírito Santo. Com efeito, em 2012, a comunicação social divulgou que estava em preparação, por um grupo de investigadores, a candidatura das Festas do Divino Espírito Santo a Património Imaterial da UNESCO.

Segundo Maria Norberta Amorim, uma das investigadoras envolvidas no processo de candidatura, o objetivo era “divulgar por todo o mundo estas festividades, que se caraterizam pela “irmandade, solidariedade, partilha e integração de novas gentes à comunhão na devoção”.

Desconhecemos o que terá emperrado esta candidatura que era apoiada pela Direção Regional das Comunidades. O que sabemos, segundo o Diário Insular, é que a mesma havia surgido depois de uma outra do mesmo género ter sido rejeitada pela UNESCO.

Quer sejamos crentes ou não, as festas do Espírito Santo mereciam ser preservadas como manifestação de verdadeira autonomia e participação das comunidades locais e como espaços de solidariedade para com os menos bafejados pela sorte ou marginalizados pelas políticas implementadas por quem tinha a obrigação de governar ao serviço do bem comum.

Mas, para o sucesso da candidatura e para um regresso aos fins originais, as festas do Espirito Santo deviam ser expurgadas de algumas modernices que levam a que grande parte dos orçamentos seja usada em contratações de artistas, muitas vezes vindos de paragens longínquas, “apoio” a desnecessitados e de maus tratos a animais para divertimento de quem gosta de ver os outros, racionais ou não, sofrer desnecessariamente.

Em abril do presente ano, a Associação de Mordomos das Festas Tradicionais da Ilha Terceira defendeu a classificação, pela UNESCO, da tourada à corda como Património da Humanidade. Tal como a proposta de candidatura da chamada festa brava esta, cremos, não passará disto mesmo, dada a falta de consenso existente sobre o assunto na sociedade açoriana e a quantidade de vídeos de marradas que mostram uma parte, a negra sem a qual os vídeos não se vendiam, do que é a tourada à corda

Por último, está em fase de consulta pública, até ao próximo dia 15 de agosto, a candidatura das Fajãs de São Jorge a Reserva da Biosfera, a que damos o nosso total apoio e apelamos à participação na mesma.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30703, 12 de agosto de 2015, p.14)

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Mais apoios à tortura

sábado, 1 de agosto de 2015

Terra Livre 75

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Alguns apontamentos a propósito do Dia Nacional da Conservação da Natureza


Alguns apontamentos a propósito do Dia Nacional da Conservação da Natureza

“Ainda pensamos em termos de conquista. Ainda não amadurecemos o suficiente para pensar em nós como uma ínfima parte de um vasto e incrível universo. Mas o homem é parte da natureza e a sua guerra contra a natureza é inevitavelmente uma guerra contra si próprio”(Rachel Carson)

O dia Nacional da Conservação da Natureza foi instituído, em 1998, através de uma Resolução do Conselho de Ministros, sendo primeiro-ministro António Manuel de Oliveira Guterres.

Com a instituição do dia, pretendeu-se, por um lado, sensibilizar a sociedade civil para as questões ambientais, através da criação de “um momento anual de especial reflexão sobre os problemas da conservação da natureza em Portugal e no mundo” e, por outro, “homenagear o movimento associativo de defesa do ambiente através de uma das suas mais prestigiadas instituições”, a LPN- Liga para a Proteção da Natureza que havia sido fundada a 28 de Julho de 1948, por iniciativa do Prof. Carlos Baeta Neves na sequência de um apelo do poeta Sebastião da Gama, surgido por ocasião da destruição de uma mata na Arrábida.

O meritório trabalho da LPN infelizmente não teve repercussões nos Açores pois, para além de alguns associados dispersos, nunca foi criado um núcleo daquela associação na região. Apenas se regista uma ténue ligação à LPN por parte do Centro de Jovens Naturalistas de Santa Maria criado e dinamizado pelo senhor Dalberto Pombo que infelizmente não teve ninguém que desse continuidade ao seu trabalho voluntário em prol do património natural dos Açores, como a sua memória impunha.

No que concerne à Conservação da Natureza, alguns passos foram dados, nos Açores, desde a criação das primeiras áreas protegidas, nos últimos meses do Estado Novo. Já sob o chamado regime autonómico, criou-se uma Rede Regional de Áreas Protegidas, criou-se uma Rede Regional de Ecotecas, deram-se alguns tímidos passos no combate às espécies invasoras, sobretudo nas Áreas Protegidas e elaboraram-se alguns documentos importantes como “Perspectivas para a sustentabilidade na Região Autónoma dos Açores”, prefaciado pelo Presidente do Governo Carlos Manuel do Vale César e com apresentação da Secretária Regional do Ambiente e do Mar, Ana Paula Pereira Marques.

Não podemos escrever que antes da tomada de posse do atual governo dos Açores estava tudo perfeito, nem que com o tempo se caminharia para lá, pois acreditamos que só são possíveis mudanças profundas se se optar por outro modelo de produção e de consumo. De qualquer modo, não pondo em causa os fundamentos da sociedade em que vivemos, sempre há a possibilidade da opção por um capitalismo mais ou menos “amigo do ambiente” e o que nos parece que está a acontecer é que se está a regredir de tal modo que já nem o discurso do desenvolvimento sustentável, que não põe em causa o modo de vida atual, é hoje uma bandeira dos atuais detentores do poder político. Com efeito, em vez das três vertentes, a ambiental, a económica e a social, parece que para eles só existe a económica e esta com os (maus) resultados que estão à vista de todos.

Com a junção da pasta do ambiente à da agricultura esta não terá sido beneficiada e o ambiente de certeza perdeu. Com efeito, passados treze anos continua uma miragem o reforço do “valor da componente ambiental na economia regional” defendido pelo presidente do governo regional dos Açores na I Reunião do Conselho Regional da Água, em 2003, e a conservação da natureza parece que deixou de ser prioridade, sendo dada primazia a atividades económicas que só subsistem porque são fortemente subsidiadas.

A conservação da natureza e da biodiversidade só serão possíveis se existir uma aposta séria na educação ambiental e esta ao longo dos anos tem sido relegada para um plano muito secundário.

Uma das principais causas da perda da biodiversidade é a expansão de espécies invasoras, nomeadamente nas Áreas Protegidas. É preocupante a situação atual que se carateriza pelo abandono das ações de erradicação que chegaram a ser implementadas, nomeadamente na Reserva da Lagoa do Fogo, na ilha de São Miguel.

Outro indicador que mostra algum retrocesso foi a aprovação de um Plano Estratégico de Combate às Pragas nos Açores, onde se confunde pragas com espécies endémicas.

Se a situação continuar a involuir como tem acontecido nos últimos anos, está-se a recuar para a época onde se entendia que a conservação da natureza era um empecilho ao progresso. Ou será que sempre se pensou assim e os discursos ambientalistas oficiais nunca passaram disso mesmo?

Teófilo Braga
(Atlântico Express 27 de julho de 2015., p.3)

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Feridos graves e mortos resultantes das touradas à corda


Notícia de 1963 (Correio dos Açores)

Comunicado MCATA: Feridos graves e mortos resultantes das touradas à corda


Feridos graves e mortos resultantes das touradas à corda

O Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA) condena veementemente a violência associada às touradas à corda que causa cada ano centenas de feridos, ligeiros e graves, originando também a morte de pessoas.

Foi recentemente tornada pública, através de um vídeo, a forma como duas pessoas foram gravemente vitimadas numa largada de touros inserida no cartaz das festas Sanjoaninas, as festas concelhias de Angra do Heroísmo. No entanto, o MCATA recebeu a denúncia de que uma outra pessoa teria igualmente sido colhida no mesmo lugar do Alto das Covas.

Desta forma, três pessoas foram assistidas e transportadas na traseira de um veículo para o Hospital de Santo Espírito de Angra do Heroísmo, onde receberem assistência médica, não tendo sequer sido utilizadas ambulâncias na deslocação dos feridos. O MCATA tem conhecimento de que ficaram internados devido aos ferimentos, sendo que um apresentou durante alguns dias um prognóstico reservado devido ao grau de lesão.

O MCATA tem vindo a alertar e sensibilizar as pessoas para o número de vítimas, feridos e mortos, provocado pelas touradas à corda e outros eventos tauromáquicos, nos quais as situações de violência gratuita são uma parte integral. Estima-se que sejam mais de 300 por ano o número de feridos, ligeiros ou graves, resultado das touradas à corda nos Açores. E em média morre uma pessoa por ano como consequência dos ferimentos, tendo sido registadas no mínimo três vítimas mortais nos últimos anos, nas ilhas de São Jorge, Graciosa e Pico.

O MCATA condena a organização e financiamento deste tipo de práticas por parte de algumas autarquias, que insistem em expor absurdamente os seus cidadãos a este grave perigo para a sua integridade física e em fomentar também o maltrato animal, sendo igualmente frequente nestas touradas que os animais resultem gravemente feridos ou morram.

Mas para além do financiamento das autarquias, há também a responsabilidade do Governo Regional dos Açores, que através de subsídios de diversas secretarias mantém apoios a uma indústria que vive destas práticas aberrantes, indiferente às numerosas vítimas que provoca, e revelando-se ainda um sorvedouro de fundos públicos.

O MCATA questiona, mais uma vez, como pode ser possível o Secretário Regional da Educação e Cultura ser conivente com estas situações, pretendendo elevar a Património da Humanidade uma prática violenta, tanto para as pessoas como para os animais e que não acrescenta nada de positivo à sociedade.

Até quando os açorianos vão permitir que a prática violenta da tauromaquia vitime e envergonhe toda uma região? Até quando o Governo Regional dos Açores vai ser cúmplice de situações destas?



Comunicado do
Movimento Cívico Abolicionista da Tauromaquia nos Açores (MCATA)
http://iniciativa-de-cidadaos.blogspot.pt/
21/07/2015

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Ainda a propósito do Caldeirão


Ainda a propósito do Caldeirão

No último número do Correio dos Açores, recordámos que muito próximo da Estrada da Ribeira Grande existiu uma das bocas que permitia o acesso ao Caldeirão para onde alguns desumanos atiravam animais que acabavam por morrer de fome.
No mesmo texto, mencionámos a posição de Manuel Inácio de Melo que defendia que a abertura do Caldeirão devia ser entulhada para evitar a morte lenta de animais e relembrámos uma descida efetuada pelos bombeiros de Ponta Delgada de que resultou o salvamento de alguns cães.
Neste texto, vamos continuar a abordar o mesmo tema, dando a conhecer outras posições sobre a manutenção ou não do acesso ao Caldeirão, começando pela opinião do comandante dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada, Roberto Zagalo Cardoso
Em declarações ao Correio dos Açores, publicadas a 1 de fevereiro de 1963, o comandante Zagalo Cardoso defendeu a dinamitação da boca do Caldeirão “para provocar um desabamento de terras, que parcialmente faria desaparecer aquele abismo misterioso”, fazendo com que aquele deixasse de “continuar a ser prisão de animais e até escoadouro para crimes”.
Dinis da Silva, no dia 8 de fevereiro de 1963, escreveu sobre “Os perigos do caldeirão” que classificou como “lugar sinistro” que não só era feio como “também perigosíssimo, pois nenhum outro lugar, nesta ilha, melhor se ajeita para ocultar qualquer crime, em especial o do assassinato”.
Dinis da Silva, que foi chefe da Polícia de Segurança Pública, também descreveu uma descida anterior, realizada no tempo em que o comando dos bombeiros era da responsabilidade de Alfredo da Câmara, com o objetivo de investigar “dois crimes, que se presumiram de morte – e cujos cadáveres não apareciam: um homem e uma mulher, ele da Fajã de Cima e ela da Fajã de Baixo, na suspeita de que para ali tivessem sido atiradas as vítimas”.
Na referida descida, não foi encontrado nenhum esqueleto humano mas sim “animais das raças cavalar e asinina, cães, ainda em intensa decomposição o que tornava o ar pestilento e, consequentemente, irrespirável. Viram-se, ainda, esqueletos de animais, montes de ossos e, no meio daquele quadro tétrico, cães com vida, já nascidos naquela caverna!”
Dinis da Silva considerou pouco viável a proposta de Manuel Inácio de Melo de atulhar o Caldeirão já que seria muito dispendiosa dada a profundidade “daquela fossa”, “pois seriam precisas muitas toneladas de cascalho para o fazer” e recomendou que o assunto fosse abordado pelos técnicos e propôs que, enquanto não se encontrasse uma solução definitiva, fosse feita uma vedação que impedisse ou dificultasse tudo o que ali se fazia de anormal e perigoso”.
O Caldeirão que foi mencionado por diversos visitantes da ilha de São Miguel, entre os quais Webester, professor de Mineralogia da Universidade de Harvard, no seu livro “A description of the Island of St. Michael”(1820) e W. Halliday, espeleólogo norte-americano, na sua obra “Caves of the Azores. Na initial reconnaissance”(1981), terá sido tapado no final de 1972 ou nos primeiros dias de 1973, pois de acordo com um texto de Manuel Inácio de Melo publicado no jornal “Açores”. a 23 de janeiro de 1973, aquele colaborador escreveu o seguinte: “Tudo falhou e nada se fez! Mas agora, quem lá for, verá em lugar da cratera, um piso raso e direito, que foi cheio de entulho e enormes pedras, isto é, já não há Caldeirão”.
Todo em conta o que sabemos hoje, isto é, o sucesso em termos de utilização turística e como recurso de educação ambiental da Gruta do Carvão, a melhor solução para o Caldeirão teria sido a manutenção do seu acesso como defendeu, no jornal Açores, em texto publicado no dia 10 de fevereiro de 1973, o Padre Castelo Branco, nos seguintes termos:
“Convém conservar o “Caldeirão” no seu estado anterior, vedá-lo com gradeamento, até que seja dotado de escadaria, pela exigência do mais simples bom senso, para torná-lo acessível, em consequência do nosso grau de instrução. É que o turismo não vive exclusivamente de aviões, hotéis, pesca, etc., mas é dotado duma alma espiritual, que tem exigências artísticas”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 30679, 15 de julho de 2015, p.14)

quarta-feira, 1 de julho de 2015

O Papa, o ambiente e os animais


A propósito da Encíclica silenciada

Numa região onde (quase todos) os habitantes, se dizem crentes e seguidores da religião católica, estou a estranhar a falta de reações à recente encíclica do Papa Francisco “Laudato si”.
Espero que o silêncio seja apenas devido a falta de tempo para a leitura do texto, dada a sua extensão, e não a qualquer tentativa de atirar para o caixote do lixo um alerta que, apesar de já ter sido feito pelos movimentos ecologistas de vários matizes ao longo dos tempos, é dirigido tanto a crentes como a não crentes para que cooperem para que seja superada a crise ambiental em que o mundo está mergulhado.
Tal como qualquer outro, este documento terá mais do que uma leitura, dependendo dos olhos e do coração de quem o ler. Mas, uma coisa é certa a sua importância não pode ser menosprezada, pois trata-se de um apelo do líder de uma das instituições mais conservadoras do mundo, a igreja católica, ligada, ou obediente, aos interesses dos mais poderosos do Planeta.
Se há quem tenha recebido com muita satisfação a encíclica, há quem já tenha levantado a sua voz a criticá-la, como é o caso dos que beneficiam do crescimento económico sem ouvir “o clamor da terra” e o “clamor dos pobres”. De entre os que devem estar a espumar de raiva encontram-se os donos e defensores da indústria tauromáquica e de outras imbecis tradições que se traduzem em atos de selvajaria perpetrados sobre animais indefesos.
A propósito da defesa dos direitos e do bem-estar animal, já se pronunciou o presidente a associação Vida Animal, Jorge Ribeiro, que depois de afirmar que a encíclica é um dos documentos mais importantes da igreja, que lança um apelo a católicos ou não, cita algumas passagens da mesma que ou não serão lidas ou nunca serão compreendidas por quem, apesar de se dizer praticante de uma religião que condena a tortura, continua a tratar os animais como pedras de calçada e os outros humanos como bestas de carga.
Para elucidar o leitor, abaixo transcrevo algumas das citações da encíclica mencionadas pelo dirigente associativo referido:
“a indiferença ou a crueldade com as outras criaturas deste mundo sempre acabam de alguma forma por repercutir-se no tratamento que reservamos aos outros seres humanos. O coração é um só, e a própria miséria que leva a maltratar um animal não tarda a manifestar-se na relação com as outras pessoas”.
“é contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas”.
Gostava de ter fé e acreditar que os católicos a partir desta encíclica passarão a deixar de promover barbaridades com animais associando-as oportunisticamente às festividades religiosas, mas o mais certo é a mesma continuar a ser ignorada como o foi a bula do Papa Pio V que proibiu as touradas nos seguintes termos:
“ (…) nós, considerando que estes espetáculos que incluem touros e feras no circo ou na praça pública não têm nada a ver com a piedade e a caridade cristã, e querendo abolir estes vergonhosos e sangrentos espetáculos, não de homens, mas do demónio, e tendo em conta a salvação das almas na medida das nossas possibilidades com a ajuda de Deus, proibimos terminantemente por esta nossa constituição (…) a celebração destes espetáculos (…).”
Esta encíclica, também, vai ao encontro de todos os que no movimento ecologista consideram absurdo a defesa de um crescimento económico ilimitado quando os recursos da Terra são finitos. A este propósito o Papa Francisco escreveu:
“Nunca tratamos a nossa casa comum tão mal (…) como nos últimos dois séculos… o ritmo do consumo, do desperdício e a mudança do ambiente superou a capacidade do planeta de tal modo que o atual estilo de vida só pode conduzir à catástrofe”
O papa Francisco, não se esqueceu, à semelhança dos defensores do decrescimento, de defender que está na hora “de aceitar um certo decréscimo do consumo nalgumas partes do mundo, fornecendo recursos para que se possa crescer de forma saudável noutras partes”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30667, 1 de julho de 2015, p.14)
http://www.correiodosacores.info/index.php/opiniao/14812-a-proposito-da-enciclica-silenciada

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Touradas em São Migeul

Touradas: as primeiras investidas, em São Miguel, no século XX

Em 1924, o jornal Correio dos Açores noticiou “para muito breve, algumas corridas de touros” em Ponta Delgada, esperando-se a chegada do toureiro Angelo Herren que vinha escolher o local onde iriam ser “lidados bravos touros do importante lavrador Corvelo, da Terceira”.
De acordo com o Correio dos Açores, viviam na Terceira dois irmãos Corvelo, o Manuel e o Cândido, que eram os maiores criadores de gado manso e bravo dos Açores.
Ainda de acordo com a notícia que vimos citando, apesar da sua riqueza, “nunca se calçaram e descalços tomavam parte em sessões da Junta Geral, no exercício do mandato de Procuradores, sendo sempre a sua voz escutada com respeito”.
Por último, através do mesmo texto ficamos a saber que, para além de grandes lavradores e proprietários, eram também “dois grandes corações e dois perfeitos homens de bem” que gostavam de bem receber quem os visitava. Tal aconteceu aquando de uma ida à Terceira de um grupo de micaelenses, em 1919, que foram muito bem acolhidos “durante uma ferra de gado organizada em sua honra, a que compareceram alguns milhares de pessoas”.
Em janeiro de 1942, o Correio dos Açores noticiou a vinda de um ganadeiro da ilha Terceira com o objetivo de estudar a possibilidade de introduzir em São Miguel touradas de praça e à corda.
Na mesma notícia, o redator referiu que era “de esperar que sejam satisfatórios os planos de estudo a realizar, devendo já para a próxima época ser corridos em Ponta Delgada touros em praça e à corda nas várias regiões desta ilha”.
Para além das investidas na ilha de São Miguel, alguns terceirenses sempre que acolhiam pessoas de outras paragens com segundas intenções ou não, tudo faziam para que os mesmos assistissem a atividades relacionadas com a tauromaquia. A título de exemplo, menciona-se que, em 1960, aquando da visita à Terceira de um grupo de estudantes micaelenses em que participaram o então aluno João Bosco da Mota Amaral e o vice-reitor Dr. José de Almeida Pavão Jr., logo no primeiro dia, a seguir ao almoço, foram levados para uma tenta que, para Cristóvão de Aguiar, outro dos participantes, é “uma espécie de tourada de praça com novilhos”
Desconhecemos se chegou a haver espetáculos tauromáquicos resultantes destas duas tentativas da indústria tauromáquica, mas a 25 de março de 1961, o Correio dos Açores, num texto intitulado “Touradas em São Miguel” informa que “há muitos anos para os lados da Vitória, houve uma “experiência” tauromáquica em São Miguel, que malogrou”.
Em 1961, de acordo com o referido jornal a indústria tauromáquica voltou a investir no mercado micaelense através da juventude liceal de Angra que se deslocou a Ponta Delgada trazendo consigo touradas de praça e de corda.
No referido ano, a tortura andou à solta, em Ponta Delgada, tendo ocorrido várias touradas que mancharam algumas festas religiosas a que não escapou as realizadas durante as festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
No ano mencionado, “o domingo de Páscoa, assinalado na vida lisboeta, como o da abertura oficial do Campo Pequeno, foi escolhido para ser entre nós o da “moderna” tentativa de uma tourada de praça, a qual terá lugar no recinto do Cine Solar, pelas 16 horas, em que farão a sua aparição dois espadas, três bandarilheiros e um grupo de sete forcados capitaneados por Carlos Alcáçova”.
A publicidade do evento foi entregue à SPAL e o diretor da tourada de praça foi o Dr. Rafael Valadão dos Santos, sendo o empresário Marcelo Pamplona que tinha a pretensão de, se o espetáculo vingasse, passar a exercer a sua atividade em duas ilhas.
No dia seguinte, também pelas 16 horas, realizou-se uma tourada à corda na Avenida Príncipe do Mónaco.
Logo que possível espero voltar ao assunto.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30661, 24 de junho de 2015, p.17)

sábado, 20 de junho de 2015

Protesto pela autorização do abate de três espécies de aves açorianas protegidas


Protesto pela autorização do abate de três espécies de aves açorianas protegidas

Naquilo que é um retrocesso na defesa da natureza e da fauna açoriana, o Governo Regional dos Açores autorizou recentemente e pela primeira vez o abate de três espécies de aves protegidas dos Açores: o Pombo-torcaz (Columba palumbus azorica), o Melro-preto (Turdus merula azorensis) e o Estorninho (Sturnus vulgaris granti). Este abate foi autorizado pela Secretaria Regional da Agricultura e Ambiente, entre 15 de Junho e 15 de Setembro, nos campos da cultura da vinha das ilhas do Pico e da Terceira.

Em protesto por esta surpreendente medida do Governo Regional foi criada uma petição titulada “Em defesa da avifauna açoriana, pela conciliação da protecção das espécies com uma exploração agrícola sustentável” (http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=DefesaAvifaunaAcores) que já reuniu mais de 300 assinaturas em pouco mais de uma semana, incluindo o apoio de associações ambientalistas locais como os Amigos dos Açores, os Amigos do Calhau e de outros grupos e colectivos.

Os peticionários salientam que estas aves, únicas no mundo, possuem um elevado valor natural e desempenham um papel fundamental na manutenção dos frágeis e ameaçados ecossistemas insulares.

Denunciam também que esta autorização governamental é claramente contrária à legislação europeia existente. Essa legislação confere a máxima protecção ao Pombo-torcaz-dos-Açores, proibindo expressamente o seu abate (Directiva Aves, Anexo I). E proíbe igualmente o abate de qualquer espécie protegida durante o seu período reprodutor, como é agora o caso de qualquer uma das três espécies mencionadas.

A petição critica abertamente as razões utilizadas pelo Governo Regional para tentar justificar esta autorização, isto é, a existência de um excesso de população destas aves e a existência de graves estragos na agricultura. No entender dos peticionários, estes argumentos carecem de estudos científicos que os sustentem e também duma devida e rigorosa avaliação no terreno. Para além disso, o argumento principal de que se trata duma medida excepcional não é minimamente credível.

A petição defende o desenvolvimento de um modelo de agricultura sustentável, respeitosa e em harmonia com o meio natural no qual se insere. Neste modelo, os eventuais danos criados sobre as culturas pela fauna nativa devem ser minimizados por métodos não violentos, como a utilização de dispositivos afugentadores, protecções com redes ou a plantação de culturas alternativas e dissuasoras, sendo igualmente os agricultores compensados pela perda de rendimentos nos casos em que tal não for possível.

Causa estranheza entre peticionários que o abate seja permitido precisamente na Paisagem da Cultura da Vinha da ilha do Pico, que é reconhecida pela UNESCO como um exemplo de desenvolvimento sustentável e que possui locais de um elevado valor para a conservação. No seu entender, esta medida coloca em causa o reconhecimento internacional deste valioso património dos Açores, coloca em perigo a sua visitação pelos turistas durante os meses do verão e impede nele o estratégico desenvolvimento do ecoturismo.


Texto da petição:
http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=DefesaAvifaunaAcores


ASSOCIAÇÕES E GRUPOS ASSINANTES:

Amigos dos Açores – Associação Ecológica
Amigos do Calhau – Associação Ecológica
Coletivo Açoriano de Ecologia Social
Avifauna dos Açores

sábado, 6 de junho de 2015

Assine a petição em defesa da avifauna açoriana


Em Defesa da Avifauna Açoriana

Para: Governo Regional dos Açores, Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Comissão Europeia, Parlamento Europeu, UNESCO.

Pela conciliação da proteção das espécies com uma exploração agrícola sustentável.

O Governo Regional dos Açores decidiu permitir pela primeira vez o abate de três espécies de aves protegidas dos Açores: o Pombo-torcaz, o Melro-preto e o Estorninho, em zonas de cultura da vinha das ilhas do Pico e da Terceira (Despachos n.º 378/2015 e n.º 1057/2015). Face a esta deliberação, vimos manifestar o seguinte:

As aves nativas dos Açores são únicas no mundo e possuem um elevado valor natural, desempenhando um papel fundamental na manutenção dos frágeis e ameaçados ecossistemas insulares. Assim acontece com o Pombo-torcaz-dos-Açores (Columba palumbus azorica), com o Melro-preto-dos-Açores (Turdus merula azorensis) e com o Estorninho-dos-Açores (Sturnus vulgaris granti), subespécies só existentes no nosso arquipélago e cuja conservação é fundamental e deve ser motivo de orgulho para todos os açorianos.

A legislação europeia confere a máxima proteção ao Pombo-torcaz-dos-Açores, proibindo expressamente o seu abate (Directiva Aves, Anexo I). Proíbe igualmente o abate de qualquer espécie protegida durante o seu período reprodutor, como é o caso de qualquer uma das três espécies aqui mencionadas: o Pombo-torcaz, o Melro-preto e o Estorninho. Por esta razão a presente autorização é claramente contrária à legislação europeia, e também à legislação nacional e regional dela derivada.

As razões utilizadas agora pelo Governo Regional dos Açores para justificar esta autorização são a existência de um excesso de população destas aves e os estragos causados à agricultura. Do nosso ponto de vista, esta medida, que dizem excecional, carece de uma sólida sustentação científica, pois não são conhecidos quaisquer inventários, e não é conhecida nenhuma avaliação minimamente rigorosa dos danos que estas espécies ocasionam.

Em qualquer sociedade moderna toda a actividade económica, onde a agricultura se inclui, deve respeitar limites e regras, não sendo aceitável que essa actividade atente contra as pessoas, a natureza ou o ambiente.

Uma agricultura que se quer sustentável e com futuro deve adotar necessariamente um modelo de atividade integrado e em harmonia com a natureza, com um respeito crescente pelo ecossistema nativo no qual se insere. Os possíveis e eventuais danos criados sobre as culturas pela fauna nativa devem ser minimizados por métodos não violentos, dos quais existe uma grande variedade, desde os mais tradicionais até aos mais inovadores, como são as culturas alternativas, as proteções com redes ou a utilização de diversos dispositivos afugentadores. E quando tal não for possível os agricultores deveriam ser compensados pela perda de rendimentos.

A Paisagem da Cultura da Vinha da ilha do Pico foi reconhecida pela UNESCO como parte do Património Mundial por ser um exemplo de desenvolvimento sustentável, integrando uma actividade humana tradicional com a manutenção dos seus valores naturais e da biodiversidade. A sua área inclui ainda locais únicos e biótopos de um elevado valor para a conservação. Estes valores e este reconhecimento internacional devem ser potenciados e não colocados em causa.

Assim, nós cidadãos pedimos:

- A retirada imediata dos Despachos governamentais que autorizam a caça destas espécies nativas protegidas.

- A implementação de medidas para criar nas culturas da vinha um modelo de agricultura sustentável e respeitador do ambiente e da natureza.

- Uma decidida aposta no ecoturismo como factor de desenvolvimento das nossas ilhas, nomeadamente da Paisagem da Cultura da Vinha.

Assine aqui: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=DefesaAvifaunaAcores

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Boletim nº 74

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Com o nome de Alice Moderno


Com o nome de Alice Moderno

No passado dia 6 de Maio, o diretor Regional da Agricultura, Fernando Sousa apresentou, na Escola Básica Integrada dos Arrifes, o projeto “Alice Moderno” que tem por objetivo a luta “contra o abandono e maus tratos a animais”.

De acordo com as notícias publicadas o projeto limita-se à “colocação de 'outdoors' nas ruas, distribuição de cartazes e folhetos informativos nas escolas e postos da RIAC”. Não percebi se no âmbito do mesmo será instalado no chamado Hospital Alice Moderno o tão reclamado, pelos ecologistas, Centro de Recuperação de Aves Selvagens do Grupo Oriental.

Em primeiro lugar queria felicitar todos os que, a nível oficial, contribuíram para que este primeiro passo tenha sido dado, mas não queria que passasse despercebido que para se chegar aqui houve o empenho de muitos cidadãos, através de petições à ALRA, artigos de opinião e de muito trabalho, no dia-a-dia, em defesa de uma sociedade melhor para todos, humanos e não humanos.

A notícia oficial da apresentação do projeto refere “a presença de cães da Associação Animais de Rua” que é uma entidade que me merece todo o respeito pelo notável trabalho que está a fazer na ilha de São Miguel em prol dos cães e sobretudo dos gatos maltratados e abandonados por seres que se dizem humanos. Contudo, estranhei a referência aos cães e nenhuma menção às pessoas que são quem implementa as atividades, bem como a não alusão às demais associações de proteção das animais sedeadas na ilha de São Miguel e que, na medida das suas possibilidades, trabalham para a mesma causa. Será que foi apenas esquecimento do redator da notícia ou a APA- Associação de Proteção dos Animais dos Açores, a Cantinho dos Animais dos Açores e a AVIPAA- Associação Vilafranquense de Proteção dos Animais e do Ambiente foram esquecidas?

Um projeto como o que vimos referindo não terá o sucesso que é exigido se se ficar pelos cartazes e “outdoors” e pelos gabinetes do RIAC e ignorar os principais agentes da defesa animal que são os cidadãos sensíveis e as diversas associações existentes, bem como os educadores e professores que trabalham nas escolas açorianas.

A propósito do parágrafo anterior, já que se está a invocar o nome de Alice Moderno, é importante não esquecer que, logo que assumiu a presidência da Sociedade Micaelense Protetora dos Animais, em 1914, uma das primeiras medidas por ela tomada foi o envio de uma comunicação aos professores “pedindo-lhes para que, mensalmente, façam uma prelecção aos seus alunos, incutindo no espírito dos mesmos a bondade para com os animais, que não é mais do que um coeficiente da bondade universal”.

Outra iniciativa no âmbito do referido projeto é a criação, em parceria com a Delegação dos Açores da Ordem dos Médicos Veterinários, do “Voucher Alice Moderno” que não sabemos se será a adaptação de uma iniciativa que já existe a nível nacional ou se se trata de algo novo. Sobre este, pouco temos a dizer, mas tudo o que vier por bem é bem-vindo.

Por último, é preciso não esquecer que, em 2012, os subscritores da petição “ Por uma nova política para com os animais de companhia” reivindicavam mais, muito mais, do que foi agora anunciado.

Para que não caia no esquecimento aqui vai o pretendido:

“Solicitamos que a Região Autónoma dos Açores tome as devidas medidas legislativas no sentido da promoção, por um lado, da esterilização dos animais errantes, como método eficaz do controlo das populações, e, por outro lado, do incentivo à adoção responsável.

Solicitamos ainda que, seja respeitada a memória de Alice Moderno, pioneira da proteção dos animais nos Açores, transformando o atual Hospital Veterinário Alice Moderno, em São Miguel, em hospital público, onde os animais temporariamente a cargo de associações de proteção ou de detentores com dificuldade ou incapacidade económica possam ter acesso a tratamentos a preços simbólicos. Nas restantes ilhas, a função do Hospital Alice Moderno poderia ficar a cargo de um Centro de Recolha Oficial.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30634, 20 de maio de 2015, p.14)