terça-feira, 31 de julho de 2018

Sobre o acesso à Lagoa do Fogo

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Em defesa das árvores

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Memória: Ilhéu de Vila Francado Campo

Cagarro

quarta-feira, 18 de julho de 2018

TOURADA DESUMANA E PRETENSAMENTE BENEFICENTE



COMUNICADO
TOURADA DESUMANA E PRETENSAMENTE BENEFICENTE

O Movimento pela Abolição da Tauromaquia de Portugal (MATP) vem por este meio demonstrar o seu desagrado pela realização de uma alegada tourada beneficente, a ter lugar no próximo dia 22 de julho na ilha Terceira, pretensamente para apoiar o “Lar de Idosos da Vila de são Sebastião”.
O MATP considera cínica a atitude de quem promove touradas de “caridade” quando querendo ajudar outrem poderia muito bem organizar qualquer outro tipo de espetáculo, como musical ou cultural, sem maltratar animais e sem ferir igualmente a sensibilidade de todos os humanos que sofrem com a desnecessária dor infligida a outros seres vivos.

Por último, o MATP recorda e subscreve as palavras da professora Vitória Pais Freire de Andrade (1883-1930) que escreveu o seguinte: “E àqueles que nos disserem que as touradas são precisas, porque são uma bela fonte de receita para obras de beneficência, dir-lhe-emos simplesmente o seguinte: que infelizmente, ainda transigimos com o facto de se organizarem festas para delas se tirar recursos para os mais necessitados […] mas que ao menos se junto o útil ao agradável. Que essas festas produzam o pão indispensável para o estômago e a não menos indispensável luz para os espíritos. Que nem uma só ideia reservada presida à sua orientação, sob pena de serem imediatamente desmascarados os seus falsos organizadores. Que uma única divisa se admite: fazer o bem pelo bem.”
Porto e Açores, 15 de julho de 2018

quarta-feira, 11 de julho de 2018

A propósito do PSD e do NEP


A propósito do PSD e do NEP

O termo “ambiente”, que deixou de ser uma moda, pelo menos nos discursos de políticos, foi substituído por “sustentável”, por vezes para justificar muitas barbaridades que são feitas em nome da defesa daquele, indica de uma forma genérica tudo o que está em redor.

Muitas vezes confundido com o termo natureza, que é apenas uma parte do ambiente, este pode ser definido, de acordo com a Lei de Bases do Ambiente (1987) como “o conjunto dos sistemas físicos, químicos, biológicos e suas relações e dos fatores económicos, sociais e culturais com efeito direto ou indireto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a qualidade de vida do homem.”

O modo como as pessoas se comportam afeta de modo diverso a qualidade do ambiente, nalguns casos levando à sua degradação com consequências por vezes desastrosas para as próprias pessoas e para os restantes seres vivos. Mas, se há comportamentos que contribuem para a degradação do ambiente há comportamentos que são pro-ambientais, isto é, ajudam à proteção do meio.

Os comportamentos favoráveis ao ambiente, segundo alguns autores, dependem de várias variáveis, entre elas, os comprometimentos verbais e as atitudes ambientais, podendo estas ser definidas como “atributos psicológicos do indivíduo que determinam a sua tendência para agir de determinado modo em determinada situação”.

A posição das pessoas em relação ao mundo varia desde uma visão antropocêntrica (PSD- Paradigma Social Dominante) a uma visão ecocêntrica (NEP- Novo Paradigma Ecológico).

Que diferenças existem entre as duas visões?

O PSD carateriza-se por “uma crença no não esgotamento dos recursos naturais, progresso contínuo e necessidade de desenvolvimento; expressa uma confiança na resolução de problemas pela ciência e tecnologia e um forte compromisso com a economia de livre-mercado e propriedade privada”.

O NEP, por sua vez, “deriva da metáfora da Terra como uma espaçonave, onde as fontes naturais são delicadas e limitadas, e onde, portanto, a possibilidade de crescimento humano é limitada e o esforço humano para sobrepor a natureza pode levar a graves problemas para toda a humanidade”.

Para a análise das atitudes face ao ambiente de uma dada população, usa-se a escala NEP que foi proposta, em 1978, por Dunlap e Van Liere e que após uma reformulação em 2000 era constituída por 15 itens.

Não estando no âmbito deste texto a apresentação da escala referida, aproveitamos para relembrar que nos Açores foi feito um estudo sobre o assunto, tendo os dados obtidos dado origem ao livro, publicado em 2007, “As atitudes face ao ambiente em regiões periféricas, coordenado por Emiliana Silva e Rosalina Gabriel, que recomendamos a quem quiser aprofundar o tema.

Não pretendendo dar a conhecer os resultados, com o pormenor que merecem, apenas mencionamos que nas “duas zonas periféricas estudadas - Açores e Castelo Branco – parecem predominar, de um modo geral, atitudes favoráveis face ao ambiente e uma diluição da visão antropocêntrica. Ou seja, os açorianos e albicastrenses estão dispostos a preservar o ambiente e são sensíveis às questões ambientais”.

Estando as pessoas preocupadas com o ambiente e tendo uma visão pró-ambientalista como se compreende os atentados diários ao mesmo que são cometidos diariamente nos Açores?

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31 568, 11 de julho de 2018, p. 17)

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Novo Livro

terça-feira, 3 de julho de 2018

Homenagem a Afonso Cautela, pioneiro do Movimento Ecologista em Portugal


Homenagem a Afonso Cautela, pioneiro do Movimento Ecologista em Portugal

“As bestas do Apocalipse juraram que haviam de por nas mãos da humanidade os instrumentos da sua própria destruição. E nada melhor do que as armadilhas do consumo para que a própria humanidade acione o botão que a há-de destruir” (Afonso Cautela)

Faleceu na madrugada do passado dia 29 de junho, Afonso Cautela, o fundador, em maio de 1974, da primeira organização ecologista portuguesa, o MEP- Movimento Ecológico Português. Nascido em Ferreira do Alentejo, em 1933, Afonso Cautela foi professor do primeiro ciclo, poeta e jornalista, sendo autor de várias publicações de temática ambiental.

Não tendo conhecido pessoalmente Afonso Cautela, com ele troquei alguma correspondência, nos primeiros anos da década de oitenta do século passado. Na ocasião tive a oportunidade de adquirir algumas das suas publicações, de que destaco, a título de exemplo, as seguintes: “Contributo à Revolução Ecológica”, “Manifesto Ecológico Contra a Inflação e o Custo de Vida: Ecomania ou Ecologia?”, “Luta Ecológica e Luta de Classes”, “Essa Ecologia de que Somos Cobaia”, “Viva a Doença Abaixo a Medicina” e “Ecologia e Informação: Como os jornalistas nos lavam o cérebro”.

Foi, essencialmente, inspirado na leitura das suas publicações, de tiragens muito reduzidas, que, em julho de 1982, fundei, com alguns amigos, na ilha Terceira, a Associação “Luta Ecológica” que tinha, entre outros, os seguintes objetivos, defender o ambiente, contra o Nuclear e a sociedade a caminho da autodestruição; defender o equilíbrio ecológico, as espécies animais e vegetais, dia a dia ameaçadas pela nossa civilização e divulgar alternativas energéticas.

Afonso Cautela que achava que os males deviam ser extirpados pela raiz, não era homem de meias-tintas, não poupando nas palavras para dizer o que pensava, doesse a quem doesse.

Homem de ideias próprias, dizia ele que era a sua indústria, o seu mau negócio, “num País de Burrocratas”, Afonso Cautela inspirou-se em outros pensadores como “Ivan Illich, Michel Bosquet, Emanuel Mounier, Paulo Freire, Hélder Câmara e outros … profetas da Sociedade Pós- Industrial.”

Sobre o vazio de ideias em que se vivia na década de setenta do século passado – hoje, não sei se estamos melhor- escreveu o seguinte: “O ano de 1978 confirma que a indústria das ideias continua em decadência …Os partidos contentam-se com slogans. Os intelectuais traduzem os mestres de Vincennes e chega. Os poderosos bebem uísque. Os nuclearistas exigem uma conversão prévia dos ecologistas à tecnocracia para iniciar então o debate que eles comandarão. O povo, claro, prefere bacalhau com batatas à ideia” e acrescentou: “Mas será possível viver sem ideias?” perguntava Antero de Quental dirigindo-se aos compatriotas. Mas quem se lembra hoje de Antero, que até nem escreveu nenhum amor da perdição, já que as suas ideias eram o seu ofício e elas o perderam (mataram)”.

Afonso Cautela foi uma das pessoas que mais combateu a tentativa de introdução de centrais nucleares em Portugal.

Sobre o nuclear, Afonso Cautela não distinguia os “átomos pacíficos”, das bombas, nem, ao contrário de alguns outros, fazia a distinção entre o nuclear bom, o dos países ditos socialistas, nem o mau, o dos países capitalistas.

Sobre os resíduos nucleares escreveu que eram “um dos muitos poluentes para os quais não há antipoluentes nem lixeira nem retretes” e perguntou “se afinal o crime é nosso, se dos que deitam os resíduos ou dos que, embora não os deitando, logo a seguir os esquecem, ou dizem não ter importância, ou (demagogicamente) afirmam que para todo o poluente há um antipoluente”.

Como jornalista, esteve ligado aos jornais “A Escola Nova”, “O Pintassilgo”, “República” (1965-1968), “O Século” (1972-1977) e “A Capital” (1982-1996).

Poeta de valor, viu editado em março de 2017 o primeiro volume de “Lama e Alvorada”, com quase 600 páginas, organizado por outro pioneiro do movimento ecologista, José Carlos Costa Marques, estando para breve a edição do segundo volume que reunirá alguns inéditos e obras editadas anteriormente.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31561 de 3 de julho de 2018, p.10)