sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Documentos para a história da defesa dos cagarros nos Açores

Aqui vão alguns documentos sobre a espécie/campanha em sua defesa.


Texto do Grupo de Ecologistas de Santa Maria (1984)


Texto de Miguel de Figueiredo Corte-Real (1988)


Texto da responsabilidade do Núcleo de Ornitologia dos Amigos da Terra Açores (1989)


Publicidade da Direcção Regional do Ambiente (1997)

Vamos participar, nos próximos dois meses, activamente, na salvação do cagarro!

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Alice Moderno e as Touradas


ALICE MODERNO E AS TOURADAS

“Lembra-te sempre que ao maltratares um animal vais ferir a tua própria dignidade” (Alice Moderno)

Alice Moderno que foi jornalista, escritora, agricultora e comerciante foi uma mulher que pugnou pelos seus ideais republicanos e feministas, sendo uma defensora da natureza e amiga dos animais.
Na sua luta em defesa dos animais, Alice Moderno não foi especista, isto é não discriminava os animais tendo em conta a sua espécie. Assim, no seu jornal “A Folha” todos os animais (cães, gatos, cavalos, aves, touros, etc.) foram dignos da sua atenção e dos seus colaboradores. Mas como em São Miguel na altura em que ela viveu os grandes problemas estavam relacionados com a morte, por envenenamento e por atropelamento, de cães e os maus tratos aos animais de tiro, foram estes últimos que foram alvo de uma maior referência.
Para além dos apelos de das denúncias tornados públicos através de “A Folha” e do seu envolvimento na criação e no funcionamento da Sociedade Micaelense Protectora dos Animais, uma das suas grandes preocupações foi a criação de um posto veterinário para tratamento de todos os animais. A propósito da necessidade de tratar todos os animais dizia ela:
“Caridade não é apenas a que se exerce de homem para homem: é a que abrange todos os seres da Criação, visto que a sua qualidade de inferiores não lhes tira o direito aos mesmos sentimentos de piedade e de justiça que prodigalizamos aos nossos semelhantes”.
Alice Moderno, também não foi indiferente às touradas, pois não seria coerente consigo mesmo condenar o uso da aguilhada que não é mais do que um “pau delgado e comprido, ordinariamente com ferrão na ponta, para picar os bois na lavoira e na carretagem” e nada dizer sobre os ferros com que são martirizados os touros nas touradas de praça.
Assim, o jornal “A Folha” deu guarida a diversos textos sobre touradas, a maioria dos quais da autoria do zoófilo Luís Leitão.
Numas notas de Luís Leitão, datadas de 1910, este faz referência à proibição das touradas na República da Argentina e à tentativa, dos espanhóis, de organizar touradas em Paris, em 1889, por ocasião de uma exposição, o que levou a que alguém protestasse nos seguintes termos: “As corridas de touros exibidas na época actual, em Paris, no coração da França, no meio de tanta maravilha da arte e da indústria seriam um anacronismo, uma monstruosidade, uma acção má”.
Foi convidada e assistiu contrariada a uma tourada, na ilha Terceira, e não ousou comunicar aos seus amigos, considerando-os “semi-espanhóis no capítulo de los toros”, o que pensava pois, escreveu ela, “não compreenderiam decerto a minha excessiva sentimentalidade”.
Na sua carta XIX, referindo-se à tourada a que assistiu escreveu o seguinte:
“É ele [cavalo], não tenho pejo de o confessar, que absorve toda a minha simpatia e para o qual voam os meus melhores desejos. Pobre animal, ser incompleto, irmão nosso inferior, serviu o homem com toda a sua dedicação e com toda a sua lealdade, consumindo em seu proveito todas as suas forças e toda a sua inteligência! (…) Agora, porém, no fim da vida, é posto à margem e alugado a preço ínfimo, para ir servir de alvo às pontas de uma fera, da qual nem pode fugir, visto que tem os olhos vendados!”
“E esta fera [touro], pobre animal, também, foi arrancada ao sossego do seu pasto, para ir servir de divertimento a uma multidão ociosa e cruel, em cujo número me incluo! (…) Entrará assim em várias toiradas, em que será barbaramente farpeada até que, enfurecida, ensanguentada, ludibriada, injuriada, procurará vingar-se, arremessando-se sobre o adversário que a desafia e fere. Depois de reconhecida como matreira, tornada velhaca pelo convívio do homem, será mutilada”.
O terceirense Adriano Botelho tem uma opinião muito semelhante a Alice Moderno, como se pode concluir através da leitura do texto que abaixo se transcreve:

”…fazem-se por outro lado, reclames entusiastas de espectáculos, como as touradas de praça onde por simples prazer se martirizam animais e onde os jorros de sangue quente, os urros de raiva e dor e os estertores da agonia só podem servir para perverter cada vez mais aqueles que se deleitam com o aparato dessa luta bruta e violenta, sem qualquer razão que a justifique”.

Teófilo Braga

Correio dos Açores, 28 de Setembro de 2011

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O fim das touradas na Catalunha



Diário Liberdade - Ontem celebrou-se a última tourada em chão do Principado da Catalunha. O ambiente foi muito tenso, com presença de um forte aparelho policial. O Partido Popular entregou propaganda. O repórter do Diário Liberdade nos Países Catalães esteve em Barcelona para acompanhar o final das touradas na Catalunha e a manifestação do movimento 15M contra os desalojamentos hipotecários.
O Parlamento da Catalunha aprovou, em julho de 2010, a proibição dos touros no Principado, graças a uma Iniciativa Legislativa Popular. Não foi, porém, até hoje que se fez efetiva. A 25 de setembro de 2011 celebrou-se a última tourada do Principado da Catalunha, na Praça Monumental de Barcelona. A capital do país fica livre da selvagem prática espanhola.

O dia de hoje foi de celebração para as e os ativistas pelos direitos animais, que brindaram com champanha pelo final de "cinco séculos de tortura". No meio de um ambiente muito tenso e com forte aparelho policial, várias dúzias de manifestantes conseguiram, em poucos minutos, juntar um numeroso grupo de simpatizantes. Durante mais de uma hora recriminaram as pessoas que se dirigiam ao cenário da tourada a sua atitude, classificando-as de "assassinas" e desejando-lhes um "desfrutem da execução".

Produziram-se vários enfrentamentos verbais entre os animalistas e os ultraespanholistas que assistiram o brutal espectáculo. Um destes chegou a fazer o saúdo fascista diante das pessoas manifestantes, ao tempo que na outra mão assegurava um panfleto do neoliberal Partido Popular. Os ativistas pelos direitos animais responderam com gritos de "Assassino" e "Fascista".

E se tinha esse panfleto é porque o dito partido, que junta nas suas filas um importante número de franquistas (incluindo como Presidente de Honra o ex-ministro durante a ditadura Manuel Fraga), não duvidou em utilizar um dos mais humilhantes e tristemente famosos espectáculos espanhóis para recrutar para si a mais rançosa minoria da sociedade catalã, que rejeita amplamente as touradas.

Precisamente, foi graças aos movimentos sociais que a proibição se faz hoje efetiva: o Parlamento votou devido a uma Iniciativa Legislativa Popular que levou a questão à Câmara Catalã.

Não faltaram, ainda, imagens nostálgicas de Franco, o ditador fascista responsável pela morte de milhares de pessoas durante os quarenta anos da sua ditadura, bandeiras da limítrofe Espanha e gritos como "menos tontería y más pasodobles toreros!". O Diário Liberdade pede desculpas por não poder transmitir com completa fidelidade a caste dos personagens que esta tarde desfilaram nas ruas barcelonesas.
Para este ensangüentado final, chegaram ônibus de vários pontos do país vizinho -origem de grande parte do público assistente-, de forma que os e as mais fanáticas chegaram a pagar até 3,000 euros para presenciarem a "fiesta nacional" espanhola.
Não fica livre ainda o país inteiro que, dividido em várias comunidades pelo imperialismo espanhol, conserva a selvagem tradição no País Valenciano e nas Ilhas Baleares, além do Ponent.

Também a Galiza é, ainda, um território ocupado pela insanidade das touradas. As maiores são "celebradas" em Ponte Vedra e na Corunha (onde 90% da população se declara contrário a elas), graças apenas à colaboração institucional e ao financiamento com recursos públicos. Portugal é cenário deste lamentável espectáculo, embora na maioria dos casos o animal não sofre morte neste país. As Ilhas Canárias, território insular ainda hoje ocupado pela Espanha nas costas africanas, já proibiu as touradas em 1991.

Seja como for, a parte dos Países Catalães administrada pela Comunidade Autónoma da Catalunha libertou-se hoje de dois elementos importantes: primeiro, a tortura e execução de seres inocentes que sofrem a sede de sangue de uma minoria. Segundo, a imposição de um símbolo cultural do país vizinho, Espanha, que através dele, somado a muitos outros, exerce um eficiente domínio das várias nações que mantém submetidas.

Fonte: http://diarioliberdade.org/

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O que pensam as ONGA dos Açores sobre a incineração?



Os Amigos dos Açores estão contra.

A Quercus, de São Miguel, está muda.

A Gê-Questa, da Terceira, nada diz.

A Azórica, do Faial, perdeu o pio.

Os Montanheiros têm sempre a posição do governo.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A incineração é segura, o nuclear também.




Eles dizem que o processo é seguro, o mesmo dizem os defensores da energia nuclear e os resultados estão à vista em Chernobil e em Fukushima.

Para eles as máquinas não falham e os homens são sobrenaturais.

Vamos fazer com que a petição seja discutida em plenário na Assembleia Legislativa Regional dos Açores. São precisas mais assinaturas, assine aqui:

http://amigosdosacores.pt/incineracao-nao/

Teófilo Braga

NÃO NOS LIXEM NÚMERO 6 - JUNHO 1996




A INCINERAÇÃO E A SAÚDE
As incineradoras libertam para a atmosfera toda uma série de compostos químicos, produto da combustão incompleta, tal como informou a Agência de Protecção Ambiental dos E.U.A (E.P.A.) como as dioxinas, furanos, benzeno, tetracloroetileno, fosgeno, etc... e metais pesados em forma gasosa: chumbo, cádmio, mercúrio, crómio e arsénico, com efeitos importantes todos eles para a saúde.
Além disso, como resíduos da incineração produzem-se escórias, igualmente ricas em dioxinas e metais pesados, que vão requerer um tratamento especifico como resíduos tóxicos e perigosos para a saúde que são.
A incineração de resíduos sólidos urbanos manifestou-se, em todos os países onde se pôs em marcha, como a principal fonte de contaminação por dioxinas do meio ambiente. As dioxinas são substâncias organocloradas com capacidade para afectar o sistema imunitário. Em cobaias comprovou-se o seu enorme poder cancerígeno, teratógeno e mutagénico.
O CANCRO E O MEIO AMBIENTE
Depois de numerosos estudos epidemiológicos a nível internacional chegou-se à conclusão de que 70 a 80% dos cancros que se observam na população vêem-se favorecidos por factores ambientais que afectam os indivíduos independentemente de que estes tenham predisposição genética ou não a tenham. Calcula-se que só 2% dos cancros são de origem exclusivamente genética e uns 20% desenvolvem-se na ausência de influências ambientais ou genéticas evidentes.
O resto entre uns 70 a 80% tem a ver com factores ambientais e estilos de vida, estando em relação com o ar que a população respira ou com a água que bebe, com o meio ambiente em que trabalha ou vive, com a sua dieta ou sua forma de vida ou com hábitos nocivos como fumar tabaco ou beber álcool em excesso.
Na actualidade a maior parte das investigações sobre as causas de cancro baseiam-se na hipótese de que "todos os cancros são de origem ambiental até que se demonstre o contrário".
O cancro tem uma etiologia multifactorial na maior parte dos casos.
Na sua origem podem-se encontrar muitas substâncias químicas de uso comum. Identificaram-se mais de 80.000 substâncias químicas diferentes de uso habitual, e todos os anos se incorporam no mercado várias centenas de novos produtos cujo uso acaba por tornar-se habitual, apesar de que em muitos casos os seus possíveis efeitos para a saúde, especialmente a longo prazo, não chegaram a ser suficientemente conhecidos.
O cancro geralmente manifesta-se muito diferido no tempo, aparecendo muitos anos depois da exposição à substancia cancerígena, o que dificulta seriamente o estabelecimento de uma relação causal. A isto junta-se o facto de que em muitos casos em que se produz uma exposição simultânea ou sequencial a vários carcerinógenos, os riscos de desenvolver cancro adicionam-se ou multiplicam-se, com um incremento da incidência de cancro de tipo sinérgico, como sucede com o cancro bronquial, quando se associa a inalação de asbesto (amianto) com o uso de tabaco, situação na qual a probabilidade de desenvolver um cancro se multiplica por oito.
AS DIOXINAS E A SAÚDE
Neste contexto devem valorizar-se as consequências para a saúde da instalação de uma incineradora.
As dioxinas libertam-se para o meio ambiente em diversos processos industriais, como a fabricação de papel quando se utiliza cloro para o seu branqueamento, na fabricação de policloreto de vínilo (PVC) e fundamentalmente na incineração de resíduos, na qual se queimam produtos clorados.
Estas substâncias organocloradas, as dioxinas, são aliás de alta persistência no meio ambiente, transferindo-se através da cadeia alimentar e chegando a acumular-se no organismo, especialmente nos tecidos gordos, donde se podem movimentar em períodos como a lactância, chegando assim a aparecer em concentrações importantes no leite materno.
CANCRO, DÉFICES IMUNITÁRIOS E DIOXINAS
Em relação à capacidade imunosupressora das dioxinas, uma equipe de investigadores da Universidade de Columbia (New York), Paul Brandt-Rauf e colaboradores, detectaram em sangue de doentes de SIDA níveis de dioxinas e dibenzofuranos mais altos que no resto da população, incluindo indivíduos seropositivos que não desenvolveram a doença. Especulou-se por isso com a possibilidade que actuem como cofactor no desenvolvimento da SIDA.
Além dos efeitos teratogénicos e mutagénicos já comprovados em animais, num recente estudo da E.P.A. (Agência para a Protecção do Meio Ambiente dos E.U.A.), dado a conhecer pela Organização ecologista Greenpeace, confirmou-se que os danos sobre o desenvolvimento fetal e o sistema imunitário são alguns dos riscos mais graves para a saúde derivados da exposição às dioxinas.
Neste estudo da E.P.A., levado a cabo durante três anos e que foi dado a conhecer em 1994 mediante uma fonte a que a Greenpeace teve acesso, a Agência para a Protecção do Meio Ambiente assegura que não há um nível de exposição seguro para as dioxinas e que qualquer dose, por mais baixa que seja, pode provocar danos à saúde, pelo que continuam a ser feitos apelos como o da Greenpeace à Organização Mundial de Saúde e aos governos de todo o mundo para que adoptem o "Nível Zero" de emissões de dioxinas, já que nenhum limite pode, à luz deste estudo, considerar-se "aceitável", sobretudo tendo em conta a alta persistência das dioxinas e a sua tendência para a acumulação no meio ambiente e no organismo humano.
Associação para a Defesa da Saúde Pública Biscaia (Pais Basco)

http://www.ieeta.pt/~mos/cnct/jornal/nnl6/art5.html

domingo, 18 de setembro de 2011

Incinerando as provas do fracasso



D.M. Santos

O Governo Regional continua empenhado na construção de duas incineradoras para queimar os resíduos sólidos urbanos (RSU) das ilhas de São Miguel e Terceira. E isto apesar dos elevadíssimos custos económicos que implica, perto de 130 milhões de euros só na construção, e dos grandes prejuízos que coloca para a saúde e o ambiente. E também, especialmente, apesar da incapacidade para resolver correctamente o problema da gestão dos RSU.

Fala-se de que as incineradoras vão solucionar a crescente acumulação de RSU nos aterros sanitários. Mas qual é a causa desta acumulação? A causa, claro está, é a falta de reciclagem dos resíduos. Ora, as incineradoras o que vão incentivar é uma menor reciclagem. Como as incineradoras precisam de resíduos para funcionar, vão desviar resíduos dos programas de reciclagem e encaminhá-los para as suas caldeiras, pois esta é a única forma em que vão poder ser rentáveis. O seu interesse é que haja cada vez mais produção de lixo e que este seja cada vez menos reciclado.

Outro argumento utilizado a favor da incineração é que esta serve para produzir energia eléctrica mediante a combustão do lixo. É a chamada valorização energética. Mas esta pomposa designação cai por terra quando ficamos a saber que a reciclagem recupera de três a cinco vezes mais energia que a incineração. Assim, cada vez que o lixo é queimado e não reciclado, está a desaproveitar-se uma enorme quantidade de energia., As incineradoras, na realidade, são mecanismos de desvalorização energética. Também em relação às emissões de gases de efeito estufa, a reciclagem pode poupar até 25 vezes mais emissões de CO2 do que a opção da incineração.

Qual é então a autêntica razão para a construção destas incineradoras? A razão, claro está, é o fracasso das políticas de gestão dos RSU e a incapacidade dos actuais responsáveis para conseguir uma solução. Uns aterros sanitários cada vez mais cheios demonstram o fracasso das políticas seguidas. E a incineração significa, neste contexto, a queima das provas desse fracasso. Queimando os resíduos, estes desaparecem. E não parece haver já motivo para perguntar-se por que não foram reciclados, nem quem foi o responsável.

Mas infelizmente os resíduos não desaparecem. Ao ser incinerados, os RSU são transformados em compostos químicos perigosos, alguns deles muito nocivos para a saúde. Uns sólidos e outros gasosos. Os sólidos têm de ser encaminhados para um aterro sanitário especial, de muito mais cara manutenção. E os gasosos simplesmente vão para o ar, onde vão colocar em perigo o ambiente e a nossa saúde.

Bastante preocupantes são também as disparatadas declarações feitas pelos responsáveis políticos defensores da incineração. Assim, há pouco tempo ouvimos dizer, por boca dum deles, que a incineração “tem níveis de poluição muito menores do que a produção de geotermia”. E ainda outro disse que com a incineração “estamos a valorizar ambientalmente a qualidade do ar”. Podemos alguma vez confiar no juízo de pessoas capazes de fazer declarações tão absurdas?

Entretanto, vamos continuar sem uma política de RSU verdadeiramente respeitadora do ambiente e poupadora de energia. Continuaremos sem uma aposta firme na redução e na reciclagem. E continuaremos sem um sistema para o aproveitamento do lixo orgânico, capaz de beneficiar a agricultura e aumentar a fertilidade dos solos. Isto último será assim tão difícil e complicado, considerando que os nossos avós e bisavós já o faziam?

Fonte: http://osverdesacores.blogspot.com/2011/09/incinerando-as-provas-do-fracasso.html

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ainda a Incineração: O Valor da Matéria Orgânica e Queremos Merda



O Valor da Matéria Orgânica

Por aquilo que vimos no telejornal da RTP-Açores do passado dia 9 de Setembro, parece-nos que a AMISM (Associação dos Municípios da Ilha de S. Miguel) persiste com a sua intenção de levar por diante o livrar-se dos resíduos sólidos que recolhe e não têm mais aproveitamento, no seu entender, diga-se, através da incineração Para esta Associação, mesmo enfrentando as opiniões contrárias de diversas pessoas e outros organismos protectores do Ambiente, sem olhar para mais qualquer outra alternativa, é esta a solução ideal! Se isto, feito desta, forma, não é mediocridade de raciocínio, então o que é que pode ser ???

Com um custo previsto da ordem dos cem milhões de euros, se uma instalação destas for para a frente, pode vir a representar um erro colossal e uma perda incomensurável para o aperfeiçoamento técnico e produtivo da nossa Agricultura.

A AMISM, pelo contacto directo que mantém com os munícipes das Câmaras que a integram, tem a obrigação de saber o estado em que se encontra a nossa Agricultura e a importância da falta que nela está a fazer um adequado aprovisionamento em Matéria Orgânica. Até mesmo nos solos das pastagens.

E o Governo Regional, agora na condição de também “ patrão” da empresa regional SINAGA, tem, da mesma maneira, a obrigação de conhecer, com rigor, a falta que faz uma boa riqueza em Matéria Orgânica nos solos que se queiram dedicar ao cultivo da Beterraba sacarina. Ele, agora, tem todos estes elementos ao seu alcance e, ainda mais, na sua qualidade de “patrão” e com as responsabilidades com que assumiu esse cargo recente.

Por tudo isto, perante este caso, torna-se imperioso que estas duas entidades se unam, em vez de andarem cada uma para o seu lado. Se unam e, em conjunto, analisem a sua melhor solução. Aliás, para lhes facilitar a vida, existe já um bom exemplo da Câmara Municipal do Nordeste que, ainda recentemente, inaugurou uma instalação que, palia além da separação desses resíduos sólidos, vai transformar a sua parte orgânica num fertilizante certamente importante para a sua Agricultura.

Poderá a AMISM contrapor que a quantidade de resíduos que está a receber não se coaduna com uma instalação como a do Nordeste. Se assim for, pois ela que concentre a
recepção desses resíduos numa só instalação e, para o aproveitamento da sua parte orgânica, que a divida por mais do que uma instalação para a sua transformação, noutras partes da ilha e de acesso fácil para os Agricultores.

É necessário ter presente que um solo agrícola bem provido em Matéria Orgânica, para além de ser mais produtivo, é mais resistente aos efeitos das estiagens prolongadas, menos erosionável e mais fácil de ser trabalhado. Os técnicos do Governo com formação agrária e todos os outros sabem que isto é mesmo assim.

E, no fim deste processo, mesmo que o Governo subsidie alguma parte, ele que tanto subsídio distribui para a Agricultura, nada perderá com mais este. Pois, para além de melhorar a produtividade e aperfeiçoar a Agricultura, estará também a contribuir para a diminuição da importação de fertilizantes químicos, todos eles vindos de fora.

Registe-se aqui que a Bélgica, embora sendo um dos mais pequenos países da União Europeia, dispõe de fábricas e de exportadores para a Matéria Orgânica das suas
explorações bovinas e avícolas, que as desidratam e as aglomeram em grânulos. Aqui, nos queremos queimar tudo isso!

É evidente que a grande maioria dos nossos Agricultores não está por dentro destes problemas. E, pelos vistos, a sua Associação está na mesma forma, o que é profundamente lamentável. Antes de se gastarem verbas tão vultuosas como essas que se pretendem gastar, parece-nos que é do melhor bom senso analisar-se este assunto em toda a sua profundidade. Os reflexos disso são muitos e muito importantes e a nossa Agricultura, mesmo com todos os problemas que actualmente a assolam, merece esse interesse de todos nós. Saber governar, também é isto!

Ezequiel Moreira da Silva, Correio dos Açores, 14 de Setembro de 2011

precisamos de merda, senhor soisa!


é dirigido ao ministro da agricultura Leovigildo Queimado Franco de Sousa.

"- E X P O S I Ç Ã O -

Porque julgamos digna de registo
a nossa exposição, senhor Ministro,
erguemos até vós, humildemente,
uma toada uníssona e plangente
em que evitámos o menor deslize
e em que damos razão da nossa crise.

Senhor: Em vão, esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Falta a matéria orgânica precisa
na terra, que é delgada e sempre fraca!
- A matéria, em questão, chama-se caca.

Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.

Se os membros desse ilustre ministério
querem tomar o nosso caso a sério,
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade.
E mijem-nos, também, por caridade!

O senhor Oliveira Salazar
quando tiver vontade de cagar
venha até nós solícito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo com sossego,
ajeite o cú bem apontado ao rego,
e… como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho!

A Nação confiou-lhe os seus destinos?...
Então, comprima, aperte os intestinos;
se lhe escapar um traque, não se importe,
… quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?
Quantos porão as suas esperanças
n'um traque do Ministro das Finanças?...
E quem vier aflito, sem recursos,
Já não distingue os traques dos discursos.

Não precisa falar! Tenha a certeza
que a nossa maior fonte de riqueza,

desde as grandes herdades às courelas,

provém da merda que juntarmos n'elas.

Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.

Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...
Tragam-nos merda pura, do bispote!
E todos os penicos portugueses
durante, pelo menos uns seis meses,
sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente nos despejem trampa!

Terras alentejanas, terras nuas;
desespero de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sente a paixão nostálgica da merda…

Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.

Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa
das inúteis retretes de Lisboa!...
Como é triste saber que todos vós
Andais cagando sem pensar em nós!

Se querem fomentar a agricultura
mandem vir muita gente com soltura.
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala.

Venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade.
Formas normais ou formas esquisitas!
E, desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia à grande bosta,
de tudo o que vier, a gente gosta.

Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.

Pela Junta Corporativa dos Sindicatos Reunidos, do Norte, Centro e Sul do Alentejo
Évora, 13 de Fevereiro de 1934
O Presidente
D. Tancredo (O Lavrador)"

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Memória: O professor Alvernaz e o ambiente



Através do Correio dos Açores do passado dia três de Setembro, tomei conhecimento do falecimento do professor João Brum Alvernaz ocorrido a 3 de Agosto.
Conheci o professor João Alvernaz, em 1984, e com ele conversei inúmeras vezes, enquanto ele ocupou o cargo de Director da Casa da Cultura de Ponta Delgada, sempre que me deslocava às instalações daquele organismo localizadas na Rua Luís Soares de Sousa, em Ponta Delgada, a solicitar apoio para diversas publicações editadas pelo então núcleo dos Açores dos Amigos da Terra.
Foi graças ao seu bom acolhimento e ao apoio financeiro da Casa da Cultura de Ponta Delgada que foram editadas as primeiras brochuras, o boletim dos Amigos dos Açores “Zimbro” e implementados alguns dos projectos.
Na sequência bom relacionamento que com ele mantinha, por sugestão minha acolhida pela Direcção dos Amigos da Terra, o professor João Alvernaz presidiu, nas instalações da Casa do Povo do Pico da Pedra, no dia 5 de Junho de 1988, Dia Mundial do Ambiente, ao acto inaugural da instalação de um Jardim de Flora Indígena dos Açores que entretanto, por razões diversas, não foi bem sucedido.
Mas não eram apenas as questões ambientais que sensibilizavam o professor Alvernaz. A sua abertura de espírito fez com que, em 1985, fosse possível a minha deslocação e a dos alunos Pedro Raposo, Paulo Oliveira e Ricardo Cabral, da Escola Secundária Antero de Quental, ao continente para participar nas Olimpíadas de Física, onde obtiveram o primeiro lugar a nível nacional. Sobre este evento recebi da sua parte um ofício de felicitações, onde a dado passo se pode ler: “venho com sentido regozijo e muito sinceramente felicitar V. Ex.ª e os Jovens e briosos elementos que tornaram possível este êxito. Mais informo V. Ex.ª que dentro de tudo quanto nos for possível, estamos à vossa inteira disposição para ajudarmos à realização de iniciativas idênticas ou mesmo outras.”
Também em 1985, na sequência da edição pelos Amigos da Terra de uma brochura sobre a Filarmónica Lira Camponesa, da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, o professor João Alvernaz pensou publicar um boletim dedicado a cada uma das filarmónicas da ilha de São Miguel. Para o efeito, solicitou o meu apoio, tendo passado uma declaração de cujo teor, constava o seguinte: “confirmo que encarreguei o nosso colaborador […] da recolha de elementos e dados históricos e socioculturais junto das Direcções de cada uma das filarmónicas micaelenses”. O muito trabalho que tinha na escola, em início de carreira, e o meu crescente envolvimento nas questões ambientais fizeram que o projecto não passasse do papel.
No ano seguinte, 1986, foi o professor João Alvernaz que apoiou, a Comissão Coordenadora das Comemorações dos 150 anos de Elevação do Pico da Pedra a Freguesia, na reedição das Memórias do Pico da Pedra, importante obra do Padre António Furtado de Mendonça, que havia sido publicada, no início do século XX, em três números da “Revista Michaelense”.
O recurso ao Director da Casa da Cultura deveu-se, segundo a referida Comissão, ao facto daquele ser “pessoa sensível à preservação do património cultural e sua divulgação”. Como naquele tempo o dinheiro não abundava, o apoio traduziu-se na montagem e impressão do livro pelo pessoal ao serviço da Casa da Cultura e nas instalações desta.
Foi ainda o professor Alvernaz que, em 1988, apoiou a edição, pelos Amigos da Terra/Açores (designação no núcleo dos Açores dos Amigos da Terra apões a sua legalização como associação regional), da Monografia do Pico da Pedra escrita por Gilberto Bernardo.
Através das declarações recentes do Dr. José de Almeida confirmei que o professor Alvernaz foi um defensor da independência dos Açores, pois a mim nunca o transmitiu nem nunca me perguntou qual a minha opção relativamente ao assunto nem qual a minha posição ideológica ou partidária.
Com certeza pressentiu que, tal como ele, pensava pela minha cabeça.

Teófilo Braga

terça-feira, 13 de setembro de 2011

GOVERNO “ENTRA” NA MANIFESTAÇÃO PELA LAGOA DAS FURNAS



Activistas e governo “juntos” em defesa da Lagoa das Furnas

Manifestação para salvar a lagoa ficou muito aquém das 7500 pessoas confirmadas no Facebook. Descontentamento popular acabou por ser minimizado com pedagogia do Governo

As 7500 confirmações de presenças na rede social Facebook para a manifestação “A Lagoa das Furnas está a morrer e ninguém faz nada” resumiram-se a dezenas de activistas. No entanto, o promotor da iniciativa, Miguel Bettencourt, estimou em cerca de “um milhar” as pessoas que estiveram nas margens da lagoa. A verdade é que ontem muita gente se deslocou à zona onde se confeccionam os tradicionais cozidos no subsolo para o lazer, integrando momentaneamente a acção, que se realizou em silêncio e com vários manifestantes a trajarem de verde, como forma de alerta para a urgência em salvar aquela massa de água eutrofizada. Um facto curioso na iniciativa foi a tenda montada pela SPRAçores (Sociedade de Promoção da Gestão Ambiental) para - no meio da manifestação - esclarecer o público do que se está a passar na Lagoa das Furnas, cuja água ganhou nos últimos tempos uma coloração amarela após o desenvolvimento de cianobactérias, que se alimentam de fósforo. O Verão com elevadas temperaturas, sem chuva e pouco vento propiciou também o aparecimento de maus cheiros no local. No entanto, a presidente do conselho de administração da SPRAçores desdramatizou o fenómeno, explicando que a lagoa tem melhorado a sua situação a cada dia que passa, em resultado da “redução do fósforo dentro de água”. Hélia Palha diz que será possível recuperar a Lagoa das Furnas num período de tempo que não quis quantificar, porque a natureza tem o seu “timing”. A Secretaria do Ambiente, através da SPRAçores, lançou uma campanha de voluntariado para a florestação das “terras altas”, mas a adesão não foi grande. A tenda “oficial” com informação sobre os problemas e a intervenção que está a ser feita na Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas não pretendeu boicotar a manifestação, mas apenas, segundo Hélia Palha, fazer pedagogia ambiental junto do público. Para Miguel Bettencourt, promotor de “A Lagoa das Furnas está a morrer e ninguém faz nada”, o objectivo foi cumprido, mesmo sem a presença dos anunciados 7500 manifestantes. Em seu entender, o facto de terem aderido à iniciativa via Facebook significou interesse e preocupação pela causa. “Viu-se o impacto que o movimento teve para salvar a nossa Lagoa das Furnas”, salientou, acrescentando que, anualmente, terão lugar novas manifestações para “alertar ainda mais a sociedade” no sentido de salvar aquela massa de água, considerada um emblema ambiental e turístico de São Miguel e dos Açores. Miguel Bettencourt não se quis pronunciar sobre a acção do Governo, insistindo na importância da união da sociedade para a preservação do património natural do arquipélago. Um outro elemento integrante do movimento, Daniel Bettencourt, natural das Furnas e estudante universitário, ostentava ontem uma camisa verde e mostrou-se surpreendido pela pouca adesão popular ao protesto. Um registo que traduz, em seu entender, uma mobilização da sociedade aquém das expectativas para os problemas ecológicos da(s) ilha(s). “Estou a estudar fora, mas sempre que venho cá de férias a lagoa está pior todas as vezes, mas actualmente muito mais (...). É um crime o que se está a passar aqui”, acentuou. • “Depois de ficar pântano a lagoa nunca mais volta a ser um cartaz turístico” “Depois de ficar pântano, a lagoa nunca mais volta a ser um cartaz turístico e as pessoas das Furnas e Ribeira Quente não estão ainda cientes do perigo”. A opinião foi expressa ontem por Berta Maria, escuteira e empresária, que gostaria de ter visto mais jovens na manifestação de ontem. Segundo esta moradora das Furnas, a solução do Governo para salvar a lagoa já “foi falada há 15 anos. O meu medo é só que, daqui a 15 anos, se demorar o que aconteceu até agora, as Furnas deixarão de ser o cartão de visita da Região”. Para Teófilo Braga, antigo responsável pelos “Amigos dos Açores”, a situação da Lagoa das Furnas “poderia estar melhor”, se a intervenção na bacia hidrográfica tivesse acontecido “mais cedo”. PAULO FAUSTINO

Fonte: AO 12 SET 2011

domingo, 11 de setembro de 2011

Os primeiros cinco anos em defesa das Lagoas



Carta Aberta de Gualter Furatdo a Teófilo Braga publicada a 14 de Setembro de 2011 no Correio dos Açores

sábado, 10 de setembro de 2011

Aliança Anti-incineração propõe planos de Lixo Zero




Representantes de organizações que integram a Aliança Global Anti-Incineração/ Aliança Global para Alternativas à Incineração (Gaia) se reuniram na cidade de Cuernavaca, Morelos, México, de 22 a 24 de agosto, para debater sobre a crescente problemática do lixo na América Latina e no Caribe. Ao final do evento, foi divulgada uma declaração da primeira reunião de Gaia.

No documento, as organizações afirmam que “o lixo é o sintoma de um problema: um sistema de produção e consumo depredador e desenfreado que devasta o ambiente e as comunidades pela sobre-exploração dos bens naturais, pelos processos de produção contaminadores, pelo sobre-consumo e pelas práticas contaminadoras de manejo e tratamento de resíduos”.

Ressaltam também que a outra cara desse sistema é a injustiça social, o retrocesso dos direitos adquiridos, a crescente violência e pobreza, o fomento do individualismo e do desenvolvimento ilimitados e imposto. “O grave problema das mudanças climáticas está diretamente vinculado ao sobre-consumo e a reprodução e manejo de resíduos. Os aterros sanitários são fontes importantes de emissão de gases de efeito estufa”.

Segundo a declaração, a incineração dos resíduos também contribui para o aquecimento global, ao queimar recursos que poderiam ser reciclados, mas que, por serem destruídos, têm que ser substituídos a partir da matéria-prima. “A chamada ‘valorização energética’, ou incineração com ‘recuperação’ de energia, é na realidade um provado desperdício de energia, além de uma fonte de emissão de contaminantes altamente tóxicos e gases de efeito estufa, igual aos incineradores convencionais”, asseguram.

As organizações acreditam que a estratégia da indústria de cimentos de oferecer-se como um sistema de tratamento de resíduos é alarmante: “Cada vez mais, essa indústria utiliza resíduos, muitos deles perigosos, como combustível em seus fornos para baratear custos, sem ter em conta os efeitos contaminadores que acarreta essa prática. Isso não somente perpetua a reprodução de resíduos, mas também freia a busca de soluções energéticas”.

Para as entidades integrantes de Gaia, essas práticas são possíveis pela falta de transparência na tomada de decisões da maioria dos governos, o corte da participação cidadã e o esvaziamento dos processos democráticos: “Tudo isso permite que se instalem essas tecnologias altamente contaminadoras, que são prejudiciais à saúde das comunidades e também comprometem a saúde e a qualidade de vida das gerações futuras, já que emitem compostos tóxicos que de transmitem de uma geração para a outra”.

Levando em conta essa situação, as entidades afirmam que é uma necessidade a modificação desse sistema, mediante planos de Lixo Zero. Esses planos buscam reduzir o consumo e a reprodução de resíduos, reutilizando e recuperando os materiais descartados, apontando para o redesenho ou para o fim da fabricação de produtos ineficientes, modificando os processos de fabricação por meio da Produção Limpa, incorporando a participação cidadã como um aspecto central: “Todas essas ações contribuem para assentar as bases para a construção de um modelo diferente, com justiça social e ambiental, garantindo a soberania dos povos”.

01.09.08 - México

Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=34786

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

SOS Lagoa das Furnas



A cor amarelada das águas da Lagoa das Furnas fez com que voltasse à baila a necessidade de se fazer algo para a salvar. Assim, aproveitando as potencialidades que oferece a internet e as redes sociais foi criado um evento público que é intitulado “A Lagoa das minhas Furnas está a morrer e ninguém faz nada”.

O apelo à presença de todos na Lagoa das Furnas no dia 11 de Setembro que é feito, mais com o coração do que com a razão, por parte de Miguel Bettencourt, “cidadão das Furnas” que “não é de esquerda, nem de direita”, até ao momento em que escrevo este texto, não reivindica nada, não propõe quaisquer medidas, nem aponta o dedo aos eventuais culpados pela não resolução de um problema que já foi detectado há décadas.
Tentando fazer o paralelismo com o movimento surgido há mais de duas décadas, verifico que na altura o movimento estava (ou parecia) mais organizado, pois era constituído por duas associações ambientalistas, os Amigos dos Açores e mais tarde a Quercus e por uma organização não formal o SOS LAGOAS e possuía uma forte componente “bairrista” (não uso o termo em sentido depreciativo) e emocional como se pode comprovar através da leitura deste extracto de um texto, de 1992, de José Manuel Oliveira Melo: “…que colocaram o signatário mergulhado numa dor de profunda tristeza, pelo estado da sua querida Lagoa das Furnas, que momentos antes tinha observado como sendo o maior espectáculo que a natureza privilegiou, a humanidade em especial os nascidos na sala de visita dos Açores”. Hoje, parece-nos que apenas está presente a segunda componente.

Reflectindo um pouco sobre todo o processo, creio que, ou os especialistas pensaram, pelo menos numa primeira fase, que conseguiam fazer reverter a situação com pequenas medidas na envolvente da lagoa, sem por em causa a principal ocupação dos solos, a agropecuária, ou então limitaram-se a fazer (má) política, isto é, a ajudar os governantes a empurrar o problema para o mandato seguinte.

Pico da Pedra, 5 de Setembro de 2011
Teófilo José Soares de Braga

sábado, 3 de setembro de 2011

A Vidália continua a brilhar na ilha da Madeira


A Azorina vidalli, conhecida popularmente por Vidália, é uma pequena planta arbustiva endémica dos Açores. Vive em todas as ilhas, com excepção da Graciosa, nas fendas das rochas e nas camadas arenosas das arribas marinhas expostas aos raios solares e aos ventos salgados. As flores cor-de-rosa e brancas, em forma de campânula, começam a surgir na Primavera e podem ser observadas ao longo do Verão.

A Vidália ou Campânula dos Açores tem um grande potencial como planta ornamental, mas, paradoxalmente, é pouco cultivada nos jardins de São Miguel.

Na Madeira, foi introduzida há muitos anos na Quinta do Palheiro Ferreiro, onde continua a presentear-nos com atractivas flores em Agosto e Setembro.

Texto e fotos: Raimundo Quintal

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

LAGOA DAS FURNAS: INFORMAÇÃO E PROPAGANDA



1- Os primeiros passos
Em Julho de 1988, pela mão da então denominada associação “Amigos da Terra” foi pela primeira vez denunciado publicamente o facto de algumas lagoas de São Miguel, nomeadamente a das Furnas e a das Sete Cidades, apresentarem sintomas de eutrofização. Na ocasião aquela organização apelou a diversas entidades governamentais ou não para que unissem esforços com vista à “implementação de acções de carácter técnico, formativo e informativos tendentes a melhorar o cada vez mais degradante estado da água de algumas das nossas lagoas”.
Por aquela altura tomei conhecimento da existência de um estudo da bacia hidrográfica da Caldeira das Sete Cidades, da autoria da Engª do Ambiente Regina T. da Cunha que apontava um conjunto de medidas para a recuperação das lagoas, “cuja aplicação ordenada e adequada importa iniciar, logo que possível, numa atitude de responsabilidade perante o lamentável e degradante estado das águas daquelas lagoas”.
O apelo lançado pelos Amigos da Terra caiu em saco roto pois nenhuma das entidades contactadas (SRES, SREC, Universidade dos Açores, Câmaras Municipais, Associações de Agricultores/Lavradores, ACRA, Associações Culturais e Recreativas e Associações de Escuteiros) se deu trabalho de dar qualquer resposta ao ofício enviado.
A 20 de Agosto de 1988, o jornal Açoriano Oriental publica um texto da Secretaria Regional do Equipamento Social que refere que havia solicitado ao Departamento de Ciências e Engenharia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa uma avaliação do estado trófico das lagoas das Furnas, Sete Cidades e Fogo e que só após a realização do estudo poderia “equacionar medidas preventivas e/ou curativas para o controlo a curto e a longo prazo da eutrofização”.
Tendo em conta que ou as medidas não passavam do papel ou não surtiam quaisquer efeitos, em 1992, surge o movimento SOS LAGOAS que apareceu publicamente com o lançamento de um abaixo-assinado onde, depois de considerar que o estado de eutrofização das lagoas era um fenómeno comprovado há mais de uma década, apelava para que a marcha dos acontecimentos fosse invertida e que para tal no orçamento da Região para o ano de 1993 fossem afectadas verbas realistas e compatíveis com a gravidade do problema.
2- A situação actual
Hoje, um quarto de século depois de detectado o problema, depois de resmas de estudos e de milhões de euros investidos a situação aparentemente parece que não se alterou. E em vez de, pedagogicamente, se explicar o que se passa ou informar devidamente os cidadãos, continua-se a tentar tapar o sol com uma peneira ou a atirar poeira aos olhos de quem mais se preocupa.
Assim, considero que se devia explicar o que efectivamente se está a fazer, o que tem sido bem sucedido e o que tem falhado.
Por exemplo, eu que não sou dos mais mal informados, ainda não percebi bem qual foi o resultado da “campanha de apanha de carpas” na Lagoa das Furnas. Foi um fracasso ou tratou-se de uma investigação da qual se tiraram os devidos ensinamentos? E quais?
Quando alguém se preocupa com o estado (coloração) das águas das lagoas, em vez de uma explicação surge, por um lado uma justificação – a responsável é peça da máquina que está avariada - ou a desvalorização, isto é o fenómeno não tem qualquer importância.
E para por um ponto final no assunto, a frase mágica é sempre a mesma: já investimos tantos milhões de euros/escudos. Pura poeira, já que uma coisa é a execução financeira outra coisa é o facto de as verbas terem sido bem aplicadas. No caso da Lagoa das Furnas, foram as verbas usadas no combate à eutrofização ou uma parte dela serviu para a construção de edifícios ou outros acessórios?
Hoje, é com alguma satisfação que vejo que a luta começada no século passado não terminou pois está a ser divulgado um apelo para uma presença na Lagoa das Furnas no próximo dia 11 de Setembro.
Embora me pareça que falta alguma “organização” ao “movimento”, faço votos para que até ao referido dia seja preparado um evento que, para além de permitir um são convívio aos que lá forem, constitua uma manifestação inequívoca de defesa de um património que é de todos nós.
Sabendo-se que há conhecimentos mais do que suficientes para a resolução de problemas ambientais, como o da eutrofização, por que razão não são resolvidos?
Porque, por mais confissões de ambientalismo, de amor ao património natural ou de adesão ao desenvolvimento sustentável se façam, o que continua a fazer mover o mundo é a crença no não esgotamento dos recursos naturais e no crescimento contínuo da economia, esquecendo-se de que “não há interesses particulares – nem direitos de propriedade nem lucros – que se sobreponham aos direitos humanos a um ar limpo, a uma água limpa e a uma atmosfera que permita a continuação da vida na Terra” (Walter Cronkite).

Teófilo Braga