Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Ainda a Incineração: O Valor da Matéria Orgânica e Queremos Merda
O Valor da Matéria Orgânica
Por aquilo que vimos no telejornal da RTP-Açores do passado dia 9 de Setembro, parece-nos que a AMISM (Associação dos Municípios da Ilha de S. Miguel) persiste com a sua intenção de levar por diante o livrar-se dos resíduos sólidos que recolhe e não têm mais aproveitamento, no seu entender, diga-se, através da incineração Para esta Associação, mesmo enfrentando as opiniões contrárias de diversas pessoas e outros organismos protectores do Ambiente, sem olhar para mais qualquer outra alternativa, é esta a solução ideal! Se isto, feito desta, forma, não é mediocridade de raciocínio, então o que é que pode ser ???
Com um custo previsto da ordem dos cem milhões de euros, se uma instalação destas for para a frente, pode vir a representar um erro colossal e uma perda incomensurável para o aperfeiçoamento técnico e produtivo da nossa Agricultura.
A AMISM, pelo contacto directo que mantém com os munícipes das Câmaras que a integram, tem a obrigação de saber o estado em que se encontra a nossa Agricultura e a importância da falta que nela está a fazer um adequado aprovisionamento em Matéria Orgânica. Até mesmo nos solos das pastagens.
E o Governo Regional, agora na condição de também “ patrão” da empresa regional SINAGA, tem, da mesma maneira, a obrigação de conhecer, com rigor, a falta que faz uma boa riqueza em Matéria Orgânica nos solos que se queiram dedicar ao cultivo da Beterraba sacarina. Ele, agora, tem todos estes elementos ao seu alcance e, ainda mais, na sua qualidade de “patrão” e com as responsabilidades com que assumiu esse cargo recente.
Por tudo isto, perante este caso, torna-se imperioso que estas duas entidades se unam, em vez de andarem cada uma para o seu lado. Se unam e, em conjunto, analisem a sua melhor solução. Aliás, para lhes facilitar a vida, existe já um bom exemplo da Câmara Municipal do Nordeste que, ainda recentemente, inaugurou uma instalação que, palia além da separação desses resíduos sólidos, vai transformar a sua parte orgânica num fertilizante certamente importante para a sua Agricultura.
Poderá a AMISM contrapor que a quantidade de resíduos que está a receber não se coaduna com uma instalação como a do Nordeste. Se assim for, pois ela que concentre a
recepção desses resíduos numa só instalação e, para o aproveitamento da sua parte orgânica, que a divida por mais do que uma instalação para a sua transformação, noutras partes da ilha e de acesso fácil para os Agricultores.
É necessário ter presente que um solo agrícola bem provido em Matéria Orgânica, para além de ser mais produtivo, é mais resistente aos efeitos das estiagens prolongadas, menos erosionável e mais fácil de ser trabalhado. Os técnicos do Governo com formação agrária e todos os outros sabem que isto é mesmo assim.
E, no fim deste processo, mesmo que o Governo subsidie alguma parte, ele que tanto subsídio distribui para a Agricultura, nada perderá com mais este. Pois, para além de melhorar a produtividade e aperfeiçoar a Agricultura, estará também a contribuir para a diminuição da importação de fertilizantes químicos, todos eles vindos de fora.
Registe-se aqui que a Bélgica, embora sendo um dos mais pequenos países da União Europeia, dispõe de fábricas e de exportadores para a Matéria Orgânica das suas
explorações bovinas e avícolas, que as desidratam e as aglomeram em grânulos. Aqui, nos queremos queimar tudo isso!
É evidente que a grande maioria dos nossos Agricultores não está por dentro destes problemas. E, pelos vistos, a sua Associação está na mesma forma, o que é profundamente lamentável. Antes de se gastarem verbas tão vultuosas como essas que se pretendem gastar, parece-nos que é do melhor bom senso analisar-se este assunto em toda a sua profundidade. Os reflexos disso são muitos e muito importantes e a nossa Agricultura, mesmo com todos os problemas que actualmente a assolam, merece esse interesse de todos nós. Saber governar, também é isto!
Ezequiel Moreira da Silva, Correio dos Açores, 14 de Setembro de 2011
precisamos de merda, senhor soisa!
é dirigido ao ministro da agricultura Leovigildo Queimado Franco de Sousa.
"- E X P O S I Ç Ã O -
Porque julgamos digna de registo
a nossa exposição, senhor Ministro,
erguemos até vós, humildemente,
uma toada uníssona e plangente
em que evitámos o menor deslize
e em que damos razão da nossa crise.
Senhor: Em vão, esta província inteira,
desmoita, lavra, atalha a sementeira,
suando até à fralda da camisa.
Falta a matéria orgânica precisa
na terra, que é delgada e sempre fraca!
- A matéria, em questão, chama-se caca.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Se os membros desse ilustre ministério
querem tomar o nosso caso a sério,
se é nobre o sentimento que os anima,
mandem cagar-nos toda a gente em cima
dos maninhos torrões de cada herdade.
E mijem-nos, também, por caridade!
O senhor Oliveira Salazar
quando tiver vontade de cagar
venha até nós solícito, calado,
busque um terreno que estiver lavrado,
deite as calças abaixo com sossego,
ajeite o cú bem apontado ao rego,
e… como Presidente do Conselho,
queira espremer-se até ficar vermelho!
A Nação confiou-lhe os seus destinos?...
Então, comprima, aperte os intestinos;
se lhe escapar um traque, não se importe,
… quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?
Quantos porão as suas esperanças
n'um traque do Ministro das Finanças?...
E quem vier aflito, sem recursos,
Já não distingue os traques dos discursos.
Não precisa falar! Tenha a certeza
que a nossa maior fonte de riqueza,
desde as grandes herdades às courelas,
provém da merda que juntarmos n'elas.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...
Tragam-nos merda pura, do bispote!
E todos os penicos portugueses
durante, pelo menos uns seis meses,
sobre o montado, sobre a terra campa,
continuamente nos despejem trampa!
Terras alentejanas, terras nuas;
desespero de arados e charruas,
quem as compra ou arrenda ou quem as herda
sente a paixão nostálgica da merda…
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Ah!... Merda grossa e fina! Merda boa
das inúteis retretes de Lisboa!...
Como é triste saber que todos vós
Andais cagando sem pensar em nós!
Se querem fomentar a agricultura
mandem vir muita gente com soltura.
Nós daremos o trigo em larga escala,
pois até nos faz conta a merda rala.
Venham todas as merdas à vontade,
não faremos questão da qualidade.
Formas normais ou formas esquisitas!
E, desde o cagalhão às caganitas,
desde a pequena poia à grande bosta,
de tudo o que vier, a gente gosta.
Precisamos de merda, senhor Soisa!...
E nunca precisámos de outra coisa.
Pela Junta Corporativa dos Sindicatos Reunidos, do Norte, Centro e Sul do Alentejo
Évora, 13 de Fevereiro de 1934
O Presidente
D. Tancredo (O Lavrador)"