quarta-feira, 30 de julho de 2008

ALGUÉM CONHECE A MATA?




A MATA- ASSOCIAÇÃO PARA A SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO AMBIENTAL, HISTÓRICO E CULTURAL DA ZONA ORIENTAL DO CONCELHO DA RIBEIRA GRANDE tem por objecto social, inventariar, proteger, preservar, gerir e promover o património ecológico, arquitectónico, cultural, paisagístico e etnográfico da freguesia do Porto Formoso, São Brás, Maia, Fenais da Ajuda e Lomba de S. Pedro, bem como desenvolver acções que tenham por finalidade a defesa do interesse comunitário mesmo ao nível de infra-estruturas, desde que perfeitamente enquadradas na sua paisagem.

Fundada a 21 de Setembro de 2006, não se conhece qualquer actividade, a não ser a que se menciona no parágrafo seguinte.

A 28 de Julho, depois da inauguração da Mata do Dr. Fraga, foi assinado um contrato de cooperação entre a Secretaria do Ambiente e a associação "A Mata”, representada por Jaime Rita (vereador da Câmara Municipal da Ribeira Grande) no valor de 25 mil euros, no âmbito das actividades de manutenção, recuperação paisagística e sensibilização ambiental na “Mata do Dr. Fraga”.

Antes de fazer qualquer juízo de valor, vamos esperar mais algum tempo. Depois disto, veremos se se trata de uma genuína associação ou se não passa de um artifício dos poderes regional ou autárquico para transferência de verbas destinadas à manutenção do espaço de lazer que é a Mata do Dr. Fraga.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Os Montanheiros, o peixe, a bicicleta e eu



O recente convite de "Os Montanheiros"/Ecoteca do Pico ao economista João César das Neves para proferir a palestra "Potencialidades e Limitações do Desenvolvimento Regional", no âmbito das festas de Santa Maria Madalena, causou-me alguma estranheza em virtude daquela associação, para além de ter o grosso da sua actividade ligada à exploração turística de cavidades naturais e aos desportos "radicais", apresentar na sua acção um forte carácter conservacionista.

Tratando-se de quem é, não estando em causa o currículo académico do palestrante, estou em crer que os assistentes não tiveram a oportunidade de ouvir falar sobre um novo sistema económico que, ao ocntrário do actual, não transfira riqueza dos pobres para os ricos, dos países do chamado terceiro mundo para os mais desenvolvidos e que não continue a destruição do ambiente. Pelo contrário, terão ouvido mais do mesmo.

Ao conservacionismo dos Montanheiros, agora há que acrescentar o conservadorismo.

A partir de agora, como o precendente está aberto, desafio os Amigos dos Açores ou outros, a convidar o professor Marcelo para falar sobre o sentido do sagrado nas touradas à corda em São Miguel. Trata-se de ambiente, em sentido lato, claro!

Conhecendo como conheço "Os Montanheiros", desde 1980, cada vez estou mais convicto que a sua importância, para a construção nos Açores de uma sociedade ambientalmente e socialmente mais equilibrada, é idêntica à da importância que uma bicicleta tem para para um peixe.

domingo, 27 de julho de 2008

Participação Social e Práticas Ambientais



"Foi apresentada e defendida no Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores a tese de Educação Ambiental, de Fátima Lina, sobre a temática da participação social e práticas ambientais. Essa tese foi orientada pela Professora Cistina Palos, do Departamento de Ciências da Educação e pelo Professor Paulo Borges do Departamento de Ciências Agrárias, ambos da Universidade dos Açores.
As questões ambientais têm vindo a dominar os discursos públicos, desde os anos sessenta e a ocupar a agenda política mundial na busca de um modelo de desenvolvimento humano ecologicamente sustentável. Nos Açores, os problemas ambientais remontam ao período do povoamento, no séc. XV, na sequência das actividades desenvolvidas pelas populações para garantir a sua sobrevivência. A resolução destes problemas apela à implementação de um novo tipo de desenvolvimento que implica a co-responsabilização de diversos actores sociais (população, comunidade científica, poder económico, mediadores da informação, movimentos sociais e decisores políticos) na construção de uma nova racionalidade ecológica. A adesão a este novo paradigma parece difícil de se incorporar e a prova disso encontra-se na emergência de actores, a partir da sociedade civil, na defesa do ambiente açoriano, as denominadas associações ambientalistas."

Para saber mais consulte o Diário do Campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores aqui.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O MOCHO


O mocho (Asio otus), também conhecido em algumas localidades como coruja, é uma ave de rapina nocturna insuficientemente estudada nos Açores. De acordo com a Base de Dados da Biodiversidade dos Açores, existe em todas as ilhas dos Grupos Central e Oriental.

Vamos colaborar com o projecto, indicando novas áreas de distribuição. Assim, caso já tenha observado ou sentido o mocho em algum lugar, mande-nos um mail com esta informação e, se possível, a data exacta ou aproximada da observação.

Teófilo Braga

terça-feira, 22 de julho de 2008

A Propósito de Tradições

segunda-feira, 21 de julho de 2008

São Miguel (ou os autarcas) aposta(m) na Barbárie?



À celebre máxima de Carlos César "Violas e Brasileiras" há que acrescentar "touradas".

É o que tem acontecido nos últimos tempos na ilha de São Miguel, de que é exemplo a mais recente tourada promovida no concelho da Lagoa.

A propósito do bárbaro espectáculo disse Adriano Botelho: "enquanto se protesta contra a crueldade fria manifestada em determinadas ocasiões por certos indivíduos, que à margem da sociedade vivem, fazem-se por outro lado, reclames entusiastas de espectáculos, como as touradas de praça onde por simples prazer se martirizam animais e onde os jorros de sangue quente, os urros de raiva e dor e os estertores da agonia só podem servir para perverter cada vez mais aqueles que se deleitam com o aparato dessa luta bruta e violenta, sem qualquer razão que a justifique."

Qualquer dia já estão a dizer que aquele triste espectáculo(à corda ou de praça) é uma tradição da ilha de São Miguel. Passa fora...

domingo, 20 de julho de 2008

Ecologia Social, segundo Leonardo Boff



"A segunda _a ecologia social_ não quer apenas o meio ambiente. Quer o ambiente inteiro. Insere o ser humano e a sociedade dentro da natureza. Preocupa-se não apenas com o embelezamento da cidade, com melhores avenidas, com praças ou praias mais atrativas. Mas prioriza o saneamento básico, uma boa rede escolar e um serviço de saúde decente. A injustiça social significa uma violência contra o ser mais complexo e singular da criação que é o ser humano, homem e mulher. Ele é parte e parcela da natureza.

A ecologia social propugna por um desenvolvimento sustentável. É aquele em que se atende às carências básicas dos seres humanos hoje sem sacrificar o capital natural da Terra e se considera também as necessidades das gerações futuras que têm direito à sua satisfação e de herdarem uma Terra habitável com relações humanas minimamente justas.

Mas o tipo de sociedade construída nos últimos 400 anos impede que se realize um desenvolvimento sustentável. É energívora, montou um modelo de desenvolvimento que pratica sistematicamente a pilhagem dos recursos da Terra e explora a força de trabalho.

No imaginário dos pais fundadores da sociedade moderna, o desenvolvimento se movia dentro de dois infinitos: o infinito dos recursos naturais e o infinito do desenvolvimento rumo ao futuro. Esta pressuposição se revelou ilusória. Os recursos não são infinitos. A maioria está se acabando, principalmente a água potável e os combustíveis fósseis. E o tipo de desenvolvimento linear e crescente para o futuro não é universalizável. Não é, portanto, infinito. Se as famílias chinesas quisessem ter os automóveis que as famílias americanas têm, a China viraria um imenso estacionamento. Não haveria combustível suficiente e ninguém se moveria.

Carecemos de uma sociedade sustentável que encontra para si o desenvolvimento viável para as necessidades de todos. O bem-estar não pode ser apenas social, mas tem de ser também sociocósmico. Ele tem que atender aos demais seres da natureza, como as águas, as plantas, os animais, os microorganismo, pois todos juntos constituem a comunidade planetária, na qual estamos inseridos, e sem os quais nós mesmos não viveríamos."

(Extraído de http://www.leonardoboff.com/)

sábado, 19 de julho de 2008

História da Sustentabilidade



A categoria sustentabilidade é central para a cosmovisão ecológica e, possivelmente,
constitui um dos fundamentos do novo paradigma civilizatório que procura harmonizar ser humano, desenvolvimento e Terra entendida como Gaia. Comumente a sustentabilidade vem acoplada ao desenvolvimento. Oficialmente o conceito desenvolvimento sustentável foi usado pela primeira vez na Assembléia Geral das Nações Unidas em 1979. Foi assumido pelos governos e pelos organismos multilaterais a partir de 1987 quando, depois de quase mil dias de reuniões de especialistas convocados pela ONU sob a coordenação da primeira ministra da Noruega Gro Brundland se publicou o documento Nosso Futuro Comum. É lá que aparece a definição tornada clássica:"sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades".

Na verdade, o conceito possui uma pré-história de quase três séculos. Ele surgiu da percepção da escassez. As potencias coloniais e industriais européias desflorestaram vastamente seus territórios para alimentar com lenha a incipiente produção industrial e a construção de seus navios com os quais transportavam suas mercadorias e submetiam militarmente grande parte dos povos da Terra. Então surgiu a questão: como administrar a escassez? Carl von Carlowitz respondeu em 1713 com um tratado que vinha com o título latino de Sylvicultura Oeconomica. Ai ele usou a expressão nachhaltendes wirtschaften que traduzido significa: administração sustentável. Os ingleses traduziram por sustainable yield que quer dizer produção sustentável.

De imediato surgiu a questão, válida até os dias de hoje: como produzir sustentavelmente? Apresentavam-se para o autor quatro estratégias. A primeira era política: cabe ao poder público e não às empresas e aos consumidores regular a produção e o consumo e assim garantir a sustentabilidade em função do bem comum. A segunda era a colonial: para resolver a carência de sustentabilidade nacional impunha-se buscar os recursos faltantes fora, conquistando e colonizando outros paises e povos. A terceira era a liberal: o mercado aberto e o livre comércio vão regular a demanda e o consumo, resultando então a sustentabilidade que será melhor assegurada se for apoiada por unidades de produção nos paises onde há abundância de recursos necessários para a produção. A quarta era técnica: para superar a escassez e garantir a sustentabilidade buscar-se-á a inovação tecnológica ou a substituição dos recurso escassos: em vez de madeira usar carvão e mais tarde, em vez de carvão, o petróleo.

Hoje com a distância temporal podemos dizer: se houvesse triunfado a estratégia política em razão do bem comum, a história econômica e social do Ocidente e do mundo teria seguido o caminho da sustentabilidade. Haveria seguramente mais eqüidade (os custos e os benefícios seriam mais igualmente distribuidos), viver-se-ia melhor com menos e havera mais preservação dos ecossistemas.

Mas não foi este o caminho escolhido. Foi o do colonialismo, do imperialismo, do globalismo ecômico-financeiro e da economia política de mercado que gerou a grande transformação (Polanyi) com a mercantilização de todas as coisas e o submetimento da política e da ética à economia. A crise ecológica atual deriva deste percurso que, mantido, poderá ameaçar o futuro da vida humana. Agora é tempo de revisões e de buscas de alternativas paradigmáticas.


Leonardo Boff - Teólogo da Libertação, escritor, professor e conferencista, doutor em Teologia e Filosofia pela Universidade de Munique (Alemanha), professor de Teologia e Espiritualidade em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior. Autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística.

www.leonardoboff.com/

A IDEOLOGIA DO CARRO A MOTOR



texto de André Gorz

O que tem de pior nos carros é serem como castelos ou mansões à beira do mar: bens luxuosos inventados para o prazer exclusivo de uma minoria muito rica, os quais em concepção e natureza nunca foram direcionados para o povo. Ao contrário do aspirador de pó, do rádio, ou da bicicleta, que retêm seu valor de uso quando todos possuem um, o carro, como uma mansão à beira do mar, é somente desejável e útil a partir do momento que as massas não têm um. Por isso, tanto em concepção quanto na sua finalidade original o carro é um bem de luxo. E a essência do luxo é a de que ele não pode ser democratizado. Se todos puderem ter o luxo, ninguém obtém as vantagens dele. Do contrário, todos logram, enganam e frustram os demais, e é logrado, enganado e frustrado por sua vez.


Isto é de muitíssimo conhecimento comum no caso das mansões à beira mar. Nenhum político ousou ainda reivindicar que democratizar o direito às férias significasse uma mansão com praia particular para cada família. Todos compreendem que se cada uma entre 13 ou 14 milhões de famílias devessem usar somente 10 metros da costa, tomaria-se 140.000km de praia para que todos tivessem sua parte! Para dar a todos sua parte teria-se que cortar as praias em tiras pequenas - ou espremer tão fortemente as mansões - que seu valor de uso seria nulo e sua vantagem sobre um complexo hoteleiro desapareceria. De fato, a democratização do acesso às praias aponta a somente uma solução: a solução coletivista. E esta solução está necessariamente em guerra com o luxo da praia particular, que é um privilégio que uma minoria pequena toma como seu direito às custas de todos.


Agora, por que aquilo que é perfeitamente óbvio no caso das praias não é geralmente visto da mesma forma no caso do transporte? Como a casa de praia, um carro também não ocupa espaço escasso? Não priva os outros que usam as estradas (pedestres, ciclistas, motoristas de ônibus, etal.)? Não perde seu valor de uso quando todos usam os seus próprios? No entanto há uma abundância de políticos que insistem que cada família tem o direito ao menos a um carro e que é até encargo do "governo" tornar possível que todos possam estacionar convenientemente, dirijam facilmente na cidade, e possam viajar no feriado ao mesmo tempo que todos outros, indo a 70 mph nas estradas, às estações de férias.


A monstruosidade deste absurdo demagógico é imediatamente aparente, no entanto, mesmo a esquerda não desdém de recorrer a ela. Por que o carro é tratado como uma vaca sagrada? Por que, ao contrário de outros bens "privados", ele não é reconhecido como um luxo anti-social? A resposta deve ser procurada nos dois aspectos seguintes da atividade de dirigir:


A massificação do automóvel efetua um triunfo absoluto do ideologia burguesa no nível da vida diária. Dá e sustenta em todos a ilusão de que cada indivíduo pode procurar o seu próprio benefício às custas de todos os demais. Leva ao egoísmo cruel e agressivo do motorista que em todos os momentos está figurativamente matando os "outros", que aparecem meramente como obstáculos físicos à sua velocidade. Este egoísmo competidor e agressivo marca a chegada do comportamento universal burguês, e tem existido desde que dirigir tornou-se lugar comum. ("você nunca terá o socialismo com aquele tipo de pessoas", um amigo alemão ocidental me disse, triste ao ver o espetáculo do tráfego de Paris).


O automóvel é o exemplo paradoxal de um objeto luxuoso que tem sido desvalorizado por sua própria propagação. Mas esta desvalorização prática não foi seguida ainda por uma desvalorização ideológica. O mito do prazer e benefício do carro persiste, embora se o transporte de massa fosse difundido, sua dominação seria golpeada. A persistência deste mito é explicado facilmente. A propagação do carro particular deslocou o transporte de massa e alterou o planejamento da cidade e da habitação de tal maneira que transfere ao carro o exercício de funções que sua própria propagação tornou necessárias. Uma revolução ideológica ("cultural ") seria necessária para quebrar este círculo. Obviamente não se deve esperar isto da classe dirigente (direita ou esquerda).


Permita-nos olhar mais de perto agora estes dois pontos.


Quando o carro foi inventado, ele o foi para prover poucos dos muito ricos com um privilégio completamente sem precedentes: viajar muito mais rapidamente do que todos os demais. Ninguém até então tinha sonhado com isso. A velocidade de todas as carroças era essencialmente a mesma, fosse você rico ou pobre. As carruagens dos ricos não eram mais velozes do que as carroças dos camponeses, e trens carregavam todos na mesma velocidade (não possuíam velocidades diferentes até eles começarem a competir com o automóvel e o avião). Assim, até a virada do século, a elite não viajava em uma velocidade diferente do povo. O carro a motor iria mudar tudo isto. Pela primeira vez as diferenças de classe foram estendidas à velocidade e aos meios de transporte.


Este meio de transporte no início parecia inacessível às massas - ele era muito diferente dos meios de transporte comuns. Não havia nenhuma comparação entre o carro a motor e os outros: o bonde, o trem, a bicicleta, ou a carroça. Seres excepcionais saíam em veículos com auto-propulsão que pesavam pelo menos uma tonelada e cujos órgãos mecânicos extremamente complicados eram tão misteriosos quanto escondidos das vistas. Um aspecto importante do mito do automóvel é que pela primeira vez as pessoas andavam em veículos particulares cujos mecanismos de funcionamento eram completamente desconhecidos deles, e cuja manutenção e alimentação tiveram que confiar a especialistas. Aqui está o paradoxo do automóvel: parece conferir aos seus proprietários liberdade ilimitada, permitindo que viajem quando e a onde quiserem em uma velocidade igual ou maior que a do trem. Mas de fato, esta aparência de independência tem por debaixo uma dependência radical. Ao contrário do cavaleiro, do carroceiro, ou do ciclista, o motorista iria depender para suprir combustível, assim como para o menor tipo de reparo, dos negociantes e dos especialistas em motores, lubrificação e ignição, e da possibilidade de troca das peças. Ao contrário de todos os proprietários anteriores de meios de locomoção, o relacionamento do motorista com seu veículo viria a ser aquele do usuário e consumidor - e não do proprietário e do mestre. Este veículo, em outras palavras, obrigaria o proprietário a consumir e usar uma gama de serviços comerciais e produtos industriais que somente poderiam ser fornecidos por um terceiro. A independência aparente do proprietário do automóvel apenas escondia a dependência radical real.


Os magnatas do petróleo foram os primeiros a perceber o ganho que poderia ser extraído da distribuição em escala do carro a motor. Se as pessoas pudessem ser induzidas a viajar em carros, eles poderiam vender o combustível necessário para movê-los. Pela primeira vez na história, as pessoas tornar-se-iam dependentes de uma fonte comercial de energia para sua locomoção. Haveriam tantos clientes para a indústria de petróleo quanto houvessem motoristas - e uma vez que haveriam tantos motoristas quanto houvessem famílias, a população inteira se transformaria em cliente dos comerciantes de petróleo. O sonho de todo capitalista estava a ponto de se realizar. Todos iriam depender para suas necessidades diárias de um produto que uma única indústria possuía em monopólio.


Tudo que se deveria fazer era deixar a população dirigir carros. Pouca persuasão seria necessária. Seria suficiente baixar o preço do carro usando a produção em massa e a linha de montagem. As pessoas atropelariam umas as outras para comprá-lo. Correriam sem perceber que estavam sendo conduzidas pelo nariz. O que, de fato, a indústria do automóvel lhes ofereceu? Apenas isto: "de agora em diante, como a nobreza e a burguesia, você também terá o privilégio de dirigir tão rápido quanto qualquer um. Em uma sociedade de carro a motor o privilégio da elite é tornado disponível a você".


As pessoas se apressaram para comprar carros até que, quando a classe trabalhadora começou a os comprar também, os motoristas perceberam que haviam sido enganados. Tinha sido prometido a eles um privilégio de burgueses, tinham entrado em débito para adquiri-lo, e agora viam que qualquer um poderia também obter um. Qual é o gosto de um privilégio se todos puderem o ter? É um jogo de tolo. Pior, ele coloca todos em posição antagônica contra todos. A paralisação geral é criada por um engarrafamento geral. Quando todos reivindicam o direito de dirigir na velocidade privilegiada da burguesia, tudo pára, e a velocidade do tráfego da cidade cai vertiginosamente - em Boston como em Paris, Roma, ou Londres - abaixo daquele da carroça; no horário do rush a velocidade média nas estradas abertas cai abaixo da velocidade de uma bicicleta.


Nada ajuda. Todas as soluções foram tentadas. Todas elas terminam piorando as coisas. Não importa se elas aumentam o número de vias expressas, túneis, elevados, estradas de 16 pistas e estradas com pedágio na cidade, o resultado é sempre o mesmo. Quanto mais estradas a serviço, mais os carros as obstruem, e o tráfego da cidade torna-se mais paralisantemente congestionado. Enquanto houverem cidades, o problema permanecerá sem solução. Não importa quão larga e rápida uma superhighway seja, a velocidade na qual os veículos podem sair dela para entrar na cidade não pode ser maior do que a velocidade média nas ruas da cidade. Enquanto a velocidade média em Paris é 10 a 20 kmh, dependendo da hora, ninguém poderá sair delas em torno e na capital a mais do que 10 a 20 kmh.


O mesmo é verdadeiro para todas as cidades. É impossível dirigir a mais do que uma média de 20kmh na embaraçada rede de ruas, de avenidas, e de bulevares que caracterizam as cidades tradicionais. A introdução de veículos mais rápidos inevitavelmente atrapalha o tráfego da cidade, causando gargalos - e por fim uma paralisação completa.


Se o carro deve prevalecer, há ainda uma solução: livre-se das cidades. Isto é, enfileire-os por centenas de milhas ao longo de enormes estradas, fazendo delas subúrbios de estradas. Isto é o que está sendo feito nos Estados Unidos. Ivan Illich mostra a conseqüência deste modo: "O americano típico devota mais de 1500 horas no ano (que são 30 horas por semana, ou 4 horas por dia, incluindo domingos) a seu carro. Isto inclui o tempo gasto atrás do volante, andando e parado, as horas de trabalho para pagar por ele e para pagar pelo combustível, pneus, pedágios, seguro, bilhetes e taxas. Deste modo ele toma deste americano 1500 horas para andar 6000 milhas (no curso de um ano). Três milhas e meia custam-lhe uma hora. Nos países que não têm uma indústria do transporte, as pessoas viajam exatamente nesta velocidade a pé, com a vantagem que podem ir onde quiserem e de não estarem restritas às estradas de asfalto".


É verdade, Illich aponta, que em países não-industrializados a viagem usa somente 3 a 8% do tempo livre da pessoa (que é aproximadamente duas a seis horas na semana). Assim uma pessoa a pé anda tantas milhas em uma hora gasta em viagem quanto uma pessoa em um carro, mas devota 5 a 10 vezes menos tempo na viagem. Moral: Quanto mais difundidos veículos rápidos estão dentro de uma sociedade, mais tempo - a partir de um determinado ponto - as pessoas gastarão e perderão viajando. Isto é um fato matemático.


A razão? Nós acabamos de vê-la: As cidades foram divididas em infinitos subúrbios de estrada, porque esta era a única maneira de evitar o congestionamento em centros residenciais. Mas o lado oculto desta solução é óbvio: finalmente as pessoas não podem se deslocar convenientemente porque estão distantes de tudo. Para construir espaço para os carros, as distâncias foram aumentadas. As pessoas vivem longe de seu trabalho, longe da escola, longe do supermercado - que requer então um segundo carro para que as compras possam ser feitas e para as crianças irem à escola. Passeios? Fora da questão. Amigos? Há os vizinhos... e só. Na análise final, o carro desperdiça mais tempo do que economiza e cria mais distâncias do que supera. Naturalmente, você pode ir ao trabalho a 60 mph, mas isto porque você vive a 30 milhas de seu trabalho e está disposto a dar meia hora às últimas 6 milhas. Somando tudo: "uma boa parte do trabalho diário é gasto para pagar pela viagem necessária para ir ao trabalho". (Ivan Illich).


Talvez você esteja dizendo, "mas ao menos desta maneira você pode escapar do inferno da cidade após o fim do dia de trabalho". Lá nós estamos, agora nós sabemos: "a cidade", a grande cidade que por gerações foi considerada uma maravilha, o único lugar que vale a pena viver, é considerada agora um "inferno". Todos querem escapar dela para viver no campo. Por que esta reversão? Por uma única razão. O carro fez a cidade grande inabitável. A fez fedorenta, barulhenta, sufocante, empoeirada, congestionada, tão congestionada que ninguém quer sair mais de tardinha. Assim, uma vez que os carros mataram a cidade, nós necessitamos carros mais rápidos para fugir em superestradas para os subúrbios que estão ainda mais distantes. Que argumento circular impecável: dê-nos mais carros de modo que nós possamos escapar da destruição causada pelos carros.


De um artigo luxuoso e uma marca de privilégio, o carro transformou-se assim numa necessidade vital. Você tem que ter um para escapar do inferno urbano dos carros. A indústria capitalista ganhou assim o jogo: o supérfluo tornou-se necessário. Não há mais a necessidade de persuadir as pessoas de quererem um carro; sua necessidade é um fato da vida. É verdadeiro que alguém possa ter suas dúvidas ao prestar atenção à fuga motorizada ao longo das estradas do êxodo. Entre 8 e 9:30 da manhã., entre 5:30 e 7 da tarde, e em fins de semana por cinco ou seis horas as rotas de fuga se prolongam nas procissões de para-choque-à-para-choque que vão (no máximo) à velocidade de um ciclista e em uma nuvem densa de emanações da gasolina. O que sobra das vantagens do carro? O que é deixado quando, inevitavelmente, a velocidade superior nas estradas é limitada exatamente pela velocidade do carro mais lento?


Nítido suficiente. Após ter matado a cidade, o carro está matando o carro. Prometendo a todos poderem andar mais rapidamente, a indústria do automóvel termina com o resultado previsível de que todos tem que andar tão lentamente quanto o mais lento, em uma velocidade determinada pelas leis simples da dinâmica dos fluidos. Pior: sendo inventado para permitir que seu proprietário vá a onde deseja, na velocidade e tempo que deseja, o carro transforma-se, de todos os veículos, no mais servil, perigoso, não dependente e incômodo. Mesmo se você deixa uma extravagante quantidade de tempo, você nunca sabe quando os gargalos o deixarão chegar lá. Você está limitado à estrada tão inexoravelmente quanto o trem a seus trilhos. Não mais do que o viajante de trem, pode você parar em um impulso, e como o trem você deve ir em uma velocidade decidida por outra pessoa. Concluindo, o carro não tem nenhuma das vantagens do trem e possui todas as suas desvantagens, mais algumas próprias: vibração, espaço apertado, o perigo dos acidentes, o esforço necessário para dirigi-lo.


No entanto, você pode dizer, as pessoas não tomam trem. Claro! Como poderiam? Você já tentou alguma vez ir de Boston a New York de trem? Ou de Ivry a Treport? Ou de Garches a Fountainebleau? Ou de Colombes a l'Isle-Adam? Você tentou em um sábado ou domingo de verão? Bem, então tente e boa sorte! Você observará que o capitalismo do automóvel pensou em tudo. Tão logo o carro matou o carro, ele fez com que as alternativas desaparecessem, tornando compulsório, deste modo, o carro. Assim, primeiramente o estado capitalista permitiu que as conexões de trilho entre as cidades e o campo circunvizinho se deteriorassem, e então acabou com elas. As únicas que foram poupadas foram as conexões inter-municipais de alta velocidade que competem com as linhas aéreas para uma clientela de burgueses. Há um progresso para você!


A verdade é que ninguém tem realmente qualquer escolha. Você não é livre para ter um carro ou não porque o mundo dos bairros é projetado em função do carro - e, cada vez mais, é assim o mundo da cidade. É por isso que a solução revolucionária ideal, que é afastar o carro em proveito da bicicleta, do ônibus, e do bonde, não é sequer mais aplicável nas cidades grandes como Los Angeles, Detroit, Houston, Trappes, ou Bruxelas, que são construídas por e para o automóvel. Estas cidades estilhaçadas são formadas por alinhadas ruas vazias possuindo desenvolvimentos idênticos; e sua paisagem urbana (um deserto) diz, "estas ruas são feitas para se dirigir tão rapidamente quanto possível do trabalho para casa e vice-versa. Você anda através daqui, você não vive aqui. No fim do dia de trabalho todos devem permanecer em casa, e qualquer um encontrado na rua depois do anoitecer deve ser considerado suspeito de ‘fazer o mal’". Em algumas cidades americanas o ato de dar uma volta nas ruas à noite é vista como suspeita de crime.


Então estamos fritos? Não, mas a alternativa ao carro terá que ser abrangente. Para que as pessoas possam abandonar seus carros, não será suficiente lhes oferecer um transporte de massa mais confortável. Terão que poder dispensar o transporte por se sentirem em casa nos seus bairros, nas suas comunidades, nas suas cidades de tamanho humano, e por sentirem prazer em andar do trabalho para casa a pé, ou se preciso for, de bicicleta. Nenhum meio de transporte e fuga veloz jamais compensará a vexação de viver em uma cidade inabitável na qual ninguém se sente em casa, ou a irritação de somente ir à cidade para trabalhar ou, por outro lado, de estar sozinho e dormir.


"As pessoas", escreve Illich, "quebrarão as correntes do domínio do transporte quando voltarem a amar, como se fosse seu próprio território, seu próprio ritmo particular, e temer ficar demasiado distante dele". Mas a fim de amar "o seu território" ele deve antes de mais nada ser habitável, e não congestionável. O bairro ou a comunidade devem novamente transformar-se em um microcosmo esculpido por e para todas as atividades humanas, onde as pessoas possam trabalhar, viver, relaxar, aprender, se comunicar, e discutir sobre ela, e no qual elas controlem conjuntamente como o lugar de sua vida em comum. Quando alguém lhe perguntou como as pessoas gastariam seu tempo após a revolução, quando o desperdício capitalista tivesse sido eliminado, Marcuse respondeu, "nós traremos à baixo as grandes cidades e construiremos novas. Isso manter-nos-á ocupados por enquanto".


Estas novas cidades poderiam ser federações de comunidades (ou de bairros) cercadas por cinturões verdes nos quais cidadãos - e em especial crianças em idade escolar - passariam diversas horas da semana cultivando os alimentos frescos de que necessitam. Para se locomoverem todos os dias poderiam usar todos os tipos do transporte adaptados a uma cidade de tamanho médio: bicicletas, bondes ou bondes elétricos municipais, táxis elétricos sem motoristas. Para longas viagens no país, assim como para convidados, uma quantidade de automóveis comunais estaria disponível em garagens do bairro. O carro não seria mais uma necessidade. Tudo teria mudado: o mundo, a vida, as pessoas. E isto não virá por si só.


Entretanto, o que deve ser feito para se chegar lá? Sobretudo, nunca faça do transporte um assunto em si mesmo. Conecte-o sempre ao problema da cidade, da divisão social do trabalho, e à maneira que isto compartimentaliza as muitas dimensões da vida. Um lugar para o trabalho, outro para "viver", um terceiro para as compras, um quarto para aprender, um quinto para entretenimento. A maneira que nosso espaço é arranjado dá continuidade à desintegração das pessoas que começa com a divisão de trabalho na fábrica. Corta uma pessoa em fatias, corta nosso tempo, nossa vida, em fatias separadas de modo que em cada uma você seja um consumidor passivo a mercê dos comerciantes, de modo que nunca lhe ocorra que o trabalho, a cultura, a comunicação, o prazer, a satisfação das necessidades, e a vida pessoal podem e deveriam ser uma e mesma coisa: uma vida unificada, sustentada pelo tecido social da comunidade.


Le Sauvage, Setembro-Outubro de 1973

(Extraído de Canto Libertário)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Entrevista à Contacto Verde, nº 46, 15 de Julho de 2008


Foto: Clube Asas de São Miguel.

1. Quando surgiu a Associação? O que motivou o seu início de actividade?

R- A associação apareceu em 1984, como núcleo regional da Associação Portuguesa de Ecologistas- Amigos da Terra. No inicio as preocupações principais eram a conservação da natureza e a educação para a paz e a procura de alternativas para a vida em sociedade.

2.Que grupos de trabalho e colectivos existem na Associação? Poderia abordar um pouco da actividade de cada um?


Nos Amigos dos Açores existem os seguintes grupos de trabalho: GTE- Grupo de Trabalho de Espeleologia, GTAAL - Grupo de Trabalho de Actividades de Ar Livre, GTEA- Grupo de Trabalho de Educação Ambiental e Grupo de Fotografia de Natureza.
O Grupo de Trabalho de Espeleologia que tem por objectivos, entre outros, realizar estudos espeleológicos e editar publicações fez o levantamento das grutas e algares de São Miguel, bem como tem realizado estudos no âmbito da vulcanoespeleologia. Além disso, o Grupo tem participado em diversos encontros internacionais de espeleologia, onde tem apresentado comunicações e elaborou o livro Grutas, Algares e Vulcões.
O Grupo de Trabalho de Actividades de Ar Livre, que tem por objectivo principal a defesa, valorização e divulgação do património natural e cultural através da prática do pedestrianismo, promove a realização de saídas de campo de redescoberta de caminhos antigos, com vista à sua recuperação para a prática do pedestrianismo, faz a monitorização dos trilhos existentes, promove e participa em acções de formação na
O Grupo de Trabalho de Educação Ambiental tem por objectivos principais reflectir sobre a temática da educação ambiental, apoiar professores e educadores e coordenar projectos de educação ambiental da associação. O GTEA, para além da elaboração de materiais diversos, tem participado em acções de sensibilização, sobretudo em escolas dos mais diversos níveis de
O Grupo de Fotografia de Natureza tem por objectivo a divulgação e a defesa do património natural dos Açores através da fotografia. Neste sentido o grupo já criou um blog (http://ecofoto-acores.blogspot.com/) e tem em preparação a realização de vários cursos de fotografia.
3. Há alguns momentos-chave da vida da Associação que gostasse de destacar?

Para além da criação da associação em Janeiro de 1984, há a destacar a passagem a associação regional, em 2 de Dezembro de 1987, com a designação “Amigos da Terra/Açores, e a adopção da actual designação, a 19 de Outubro de 1989.

4. Há alguns elementos do património natural particularmente ligados à vida da Associação? Quais? O que os distingue?

Entre outros exemplos, destacaríamos quatro áreas protegidas que foram classificadas como tal por propostas dos Amigos dos Açores que foram aceites pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar: Caldeira Velha, Pico das Camarinhas e Ponta da Ferraria, Gruta do Carvão e Lagoas do Congro e Nenúfares.
A Caldeira Velha apresenta fumarolas, afloramentos rochosos traquíticos e uma nascente termal que origina uma ribeira de vale encaixado.
A Gruta do Carvão, maior túnel lávico conhecido na ilha de São Miguel (com 1869 m actualmente conhecidos) apresenta diversas estruturas vulcanospeleológicas, com destaque para paredes estriadas, longos balcões, canais sobrepostos, vestígios de bolhas de gás, numerosas estalactites de fusão e algumas estalagmites resultantes da sobreposição de pingos de lava.
O Pico da Camarinhas corresponde a um cone de escórias basálticas associado à fajã lávica da Ponta da Ferraria. Nesta fajã existe uma nascente termal e um cone litoral que constitui um pequeno cone piroclástico sem conduta de alimentação profunda.
As Lagoas do Congro e dos Nenúfares ocupam uma cratera de explosão hidromagmática (maar) e apresentam um grande interesse paisagístico.

5. Que problemas ambientais se destacam na Região dos Açores?

Em primeiro lugar, queríamos destacar o défice de participação pública que estará associado a uma deficiente educação ambiental, muito centrada na divulgação do património natural dos Açores e não na alteração de comportamentos.

Outra das questões que é muito esquecida é a forte dependência dos Açores dos combustíveis fósseis. Achamos que a região não está a aproveitar em pleno as suas potencialidades em termos de recursos renováveis e sobretudo não tem apostado seriamente na poupança e eficiência energéticas.

Há também problemas relacionados com o ordenamento do território, um dos quais, o mais mediático, está relacionado com a eutrofização das grandes lagoas de São Miguel, problema que se arrasta há muitos anos, e com a gestão dos resíduos sólidos, apontando-se neste caso a grande falha que consiste na inexistência de um Plano Regional para a Redução dos mesmos. A política tem sido “os resíduos são um negócio” quando o lema deveria ser “o melhor resíduo é o que não se produz”.


6. Actualmente, há algum atentado ambiental que tenha suscitado a acção da Associação? Qual? Com que desenvolvimentos?


Não queríamos destacar nenhum problema específico, estamos atentos ao que vai acontecendo e tem sido nosso objectivo pressionar as entidades para a resolução dos diversos problemas, quer directamente, quer através dos órgãos de comunicação social. A título de exemplo, e embora não tenhamos tomado uma posição pública, falaria no caso da construção de uma estrada para a Fajã do Calhau (já referida na entrevista concedida pela Associação Amigos do Calhau). Neste caso, temos a certeza que pouco seria possível fazer pois tratava-se de uma obra da “responsabilidade” da presidência do Governo Regional dos Açores e com a conivência de quase todos os grandes partidos regionais, como o PS e o PSD que nunca se manifestaram contra. Também, devido a um caso anterior, não acreditamos nas queixas à Comunidade Europeia.



7. Têm estado em contacto com outras associações no âmbito da vossa actividade? Consideram importante esse contacto?

Achamos que é importante manter contactos, aos mais diversos níveis, com associações congéneres com vista à troca de experiências e à realização de actividades em comum. Nesse sentido os Amigos dos Açores têm protocolos celebrados com várias outras associações, como com o GEOTA e a SETA, a nível nacional, com os Montanheiros e a Gê-Questa, a nível regional, e está em preparação um protocolo, envolvendo uma associação da Madeira e outra das Canárias.

Começamos, recentemente, a colaborar com outra associação existente em São Miguel, a Associação Ecológica Amigos do Calhau.

Ler a entrevista aqui.

A Causa Verde: Uma Sociologia das Questões Ecológicas


No âmbito científico da Sociologia do Desenvolvimento, entendi reflectir sobre o livro de Steven Yearley – A Causa Verde: Uma Sociologia das Questões Ecológicas. A escolha do mesmo é pertinente, na medida em que, a atenção dirigida aos problemas do ambiente e o aumento de consciencialização em torno destes é claramente um fenómeno social de grandes proporções.
O autor do livro desempenha uma função essencial – descritiva, explicativa e exemplificada – de todo o processo de desenvolvimento das sociedades ao longo da história dando maior ênfase aos efeitos provocados por este.
Desde os primórdios da Humanidade o homem tem moldado e desenvolvido o mundo em busca de satisfações e necessidades humanas pondo em risco o meio Ambiente. Como já diziam os primeiros teóricos, tais como, Comte, Durkheim, entre outros, o desenvolvimento processa-se do simples para o complexo. Atrevo-me a dizer que o próprio conceito de desenvolvimento alude uma noção de harmonia e de progresso, no entanto, nem tudo é fácil de explicar na medida em que, o conceito em si, traz consigo desequilíbrios e de uma certa forma um estado de entropia ao sistema, ou seja, inexistência de homeostase. É uma opinião própria que adquiri com a leitura do livro. Quero deixar claro, que no decorrer desta reflexão crítica vou expor, em pé de igualdade, as abordagens teóricas com maior pertinência para o estudo da causa verde.
Como menciona Steve Yearley, nos finais da década de 80 começou a prestar-se uma particular atenção aos problemas ligados ao ambiente, passando os mesmos a serem considerados quase uma “moda” nos países desenvolvidos. Segundo o autor, a “ causa verde” ganha uma grande dimensão tal nos países ocidentais desenvolvidos que, neste momento, não há políticos, industriais ou agências de publicidade que não abordem a questão do ambiente como uma das suas prioridades da acção, talvez por uma consciencialização dos problemas ambientais ou até mesmo por se achar benéfico ser-se rotulado como verde.
O autor oferece uma síntese sobre os mais relevantes problemas ambientais, dos quais passo a nomear alguns, tais como: o “buraco” da camada do ozono que tende a aumentar devido à redução de um escudo que protege a atmosfera terrestre contra os raios ultravioletas (o seu desaparecimento conduziria a que uma grande quantidade de radiações de alta energia atingisse a superfície da terra, dando origem a um leque muito diversificado de consequências). Outro problema com preocupações relevantes é o aquecimento global ou efeito de estufa causado pelo desenvolvimento do dióxido de carbono na atmosfera terrestre. Se o aquecimento global está, de facto, a ter lugar, as suas consequências podem ser devastadoras. Entre outras coisas, o nível do mar aumentará à medida que a costa de gelo polar derreter e os oceanos aquecerem e se expandirem. As cidades mais próximas da costa ou em áreas mais baixas serão inundadas e tornar-se-ão inabitáveis.
Por sua vez, a destruição das florestas tropicais também contribui para o aquecimento global, dado que, são estas que incorporam o carbono e além demais se estas desaparecerem, a água das grandes chuvadas tende a escapar-se imediatamente, removendo o solo. Sem o ciclo de vida da floresta, o solo não se renova e, em consequência, a terra inicialmente tão rica depressa se degrada. Com efeito, está-se a pôr em causa vítimas biológicas, aves e outros animais confinados à floresta e as próprias plantas. Todavia a alimentação e a água também estão ameaçadas com os pesticidas utilizados na produção agrícola.
São preocupantes estes problemas e até questionaria: onde caberá ou a quem caberá o desenvolvimento sustentável do mundo? A resposta é pacífica e considero que esta preocupação reflecte-se nos direitos reconhecidos aos indivíduos, isto é, o respeito universal dos direitos e liberdades fundamentais de todo o indivíduo é o interesse comum a toda a humanidade. Reconhece-se que o direito ao ambiente deve ser considerado um dos direitos fundamentais do homem, beneficiando do regime especial dos “direitos, liberdades e garantias”. O meio ambiente é hoje entendido como sendo património comum a todos os membros da comunidade, que não pertence a uma pessoa individualmente.
A resposta é lógica, mas não muito directa, embora cada vez mais haja uma maior consciencialização dos problemas ambientais, não acredito que os países em vias desenvolvimento poderão aceder à industrialização sem um aumento das respectivas quantidades de emissão de dióxido de carbono, por exemplo. Sabendo que a luta desenfreada pelo progresso capitalizada pelas sociedades desenvolvidas levou a uma gradual degradação do ambiente, colocaria outra questão: Será que o mesmo desenvolvimento sustentável que referi está nas mãos dos países em vias de desenvolvimento? Para uma futura resposta vou enfatizar o caso do abandono da produção de CFC’s (clorofluorcarbunetos), dando o exemplo de três dos muitos causadores desta descoberta – os frigoríficos, os desodorizantes e perfumes – os gases utilizados nestes objectos produzem partículas que reagem em contacto com a camada de ozono, de tal forma, que a enfraquecem. São produtos universalmente comercializados, embora países como, China e Índia, o uso do frigorífico não seja um bem generalizado. No fluir do seu discurso o autor refere o facto de o futuro estar nas mãos destes países no que respeita à não utilização deste bem e ao não aumento de CFC’S que contribui para a retenção de calor na atmosfera terrestre.
Não posso dar por esquecido, um outro problema que Steven Yearley dá ênfase: os resíduos e as descargas residuais. Todos os indivíduos produzem resíduos, mas as sociedades industrializadas fazem-no a uma escala “escabrosa”. Há que encorajar a reciclagem e a reutilização e tentar minimizar os desperdícios desnecessários. É concernente falar numa mudança de valores para alcançar um caminho reversível e assim dizendo, a valores pós-materialistas. Eufemisticamente, a solução que muitos países desenvolvidos tomam ao nível do despejo de resíduos industriais em países subdesenvolvidos em troca de dinheiro, não é politicamente correcta mas é um negócio precioso principalmente para os países importadores do que para os países acolhedores dessas matérias, afinal, em vez de um desenvolvimento racional há um maior risco de problemas ambientais. Transfere-se o problema de um lugar para outro, mas o problema continua a existir.
O Surgimento gradual de problemas relacionados com a degradação do ambiente e os constantes ataques ao meio ambiente levaram à criação de alguns movimentos e/ou grupos de pressão, de teor não governamental – como são o caso: A Royal Society for Nature Conservation, A Royal society for the protection of birds e a celebre GreenPeace reconhecida pelas suas imaginativas e audaciosas campanhas através da acção directa – e partidos verdes . Embora existam muitas filosofias verdes, uma preocupação comum é a tomada de medidas para a protecção do ambiente mundial, para conservar os seus recursos em vez de os explorar até ao limite e para proteger as espécies animais que faltam.
É Sugestivo dizer que embora muitos partidos verdes tomem medidas a nível nacional, esta devem-se transpor também a um patamar internacional. Como indica o autor: cada vez mais, quer as organizações ambientalistas, quer os governos nacionais se têm vistos obrigados a operar num contexto internacional (1991:109), afinal muitos problemas ambientais são de âmbito internacional. Além do enverdecimento dos partidos políticos – têm sido levados a aceitar as mais diversas exigências ambientais devido a bem sucedidas acção de pressão ou em virtude da concorrência dos outros partidos (1991:111) – há também um crescente e continuo “enverdecimento” da opinião pública, muitos indivíduos começam a agir em favor de causas ambientais, talvez estes sentiram-se ameaçados ou até foram influenciados e manipulados a certa ordem pela comunicação social e grupos de pressão. Por sua vez, esta onda verde afecta comerciantes e industriais e também estes enveredam por esse “enverdecimento”, na medida em que a procura de produtos “ amigos do ambiente” é constante, embora são os consumidores mais ricos quem têm aderido em maior escala a este consumo, isto porque os produtos são em grande maioria mais caros. No entanto, constata-se que há muitas “burlas verdes”, a credibilidade inicialmente transmitida são por vezes puros enganos.
Uma outra questão claramente importante diz respeito, ao desenvolvimento capitalista pois este promove a revisão constante da tecnologia de produção, um processo que envolve o recurso à ciência. Autores como Bosquet dizem que a “dinâmica” do capitalismo conduz directamente à catástrofe ecológica na medida em que o processo evolutivo de crescimento é atractivo e não pode haver capitalismo sem desperdício. Neste sentido mais restrito, o capitalismo e o ambientalismo são contraditórios. Resta ficar à espera que o capitalismo seja ele próprio o grande motor capaz de gerar e desenvolver padrões de oferta e de procura do que é verde, já que nem os argumentos ecologistas farão renascer das cinzas a ideia de planificação de estado socialista.
Por outro lado, para o movimento ambientalista, a ciência pode ser considerada como um amigo na medida que tenta perspectivar soluções para esse fenómeno social, no entanto, muitas ameaças ao ambiente têm quase sempre origem de carácter tecnológico da nossa civilização, sendo assim a ciência está directamente implicada. Deste modo, não admira que os activistas verdes se situam a si próprios numa situação ambivalente em relação à ciência, ora a criticam ora necessitam dela.
A salvação da preservação do ambiente não pertence só à ciência. Esta deve ser acompanhada de informação e sensibilização dos cidadãos para as questões ecológicas, já que o homem é o principal destruidor do enorme potencial que a natureza lhe oferece.
No decorrer desta reflexão crítica tentei demonstrar que no mundo, ironicamente, existem dois pólos onde se imperam diferentes desenvolvimentos a vários níveis: países desenvolvidos (países do “Norte”) e países subdesenvolvidos (países do “ Sul”). A consciência verde conheceu os seus maiores avanços nas regiões mais desenvolvidas, o que quer dizer que nas regiões subdesenvolvidas não haja partidos verdes ou essa dita onda verde, eles e ela existem. Embora o crescimento do movimento verde tenha sido maior no Norte, muitos problemas ambientais atingem o seu ponto de máxima gravidade nos países do Sul. Estes últimos são extremamente dependentes do Norte, além de conhecerem uma elevada dependência externa destes países. Claramente são os países do Norte que têm condições económicas é um ponto relevante, que não deixa de se esconder nas capas do tempo e, ao qual, o Primeiro Mundo teve o êxito que se conhece através de pilhagem exercida sobre as suas colónias, ao utilizá-las como fonte de matérias-primas e de trabalho e como um mercado manipulado de forma a garantir a compra dos seus produtos. Ao contrário, as nações do terceiro Mundo, não só eram vitimas dessa exploração, como não tinham ninguém a quem explorar.
Hoje “arruinados” e dependentes da economia dos países dos países desenvolvidos, para o seu nobre desenvolvimento oferecem-se como países de poluição quando a atraem o investimento industrial exterior, uma vez que a poluição é vista como um preço a pagar pela modernização.
A questão fica cada vez mais complexa. A separação analítica entre países ricos e países pobres em termos de ambiente não é fácil ou provavelmente nem sequer é possível. Os motivos que levam as nações do sul a tomar o caminho do desenvolvimento errado (já seguido pelo norte) dependem grandemente da natureza política das relações criadas entre os dois grandes blocos, que vêm já deformadas sob a égide do pretenso desenvolvimento planificado desde o final da segunda guerra mundial.
Sou da opinião que o problema está precisamente em que o norte só reduzirá o seu consumo se obrigado pela força, ao mesmo tempo que pretende impor ao sul aquilo que não consegue ou não quer realizar. Logo aí acho que o mundo deve de estar de mãos dadas para esta causa! O futuro é a nossa grande riqueza, porque, como dizia o grande poeta António Machado, ainda não está escrito: penso efectivamente que podemos escrever doutra maneira e é possível mudar o rumo.
Neste sentido é evidente que há que travar a imitação dos padrões de consumo do norte, promovendo a desigualdade, porque o nosso planeta simplesmente não dispõe de recursos para tal exploração. Só com muitas dificuldades pode a Terra sustentar os actuais níveis de consumo dos ricos.
Concluo que, os países industrializados já não podem representar uma referência para os países do sul, no que respeita a modelos de desenvolvimento e a tendência actual – que o norte seja surdo a esta questão, e que continue a forçar o sul a implementar os seus modelos de desenvolvimento – não atingiremos nunca a tão badalada sustentabilidade, claramente impossível a médio e longo prazo (e sendo o tempo uma variável dinâmica, em breve também a curto prazo). Presumo que um desenvolvimento sustentável só faria sentido se entendido como um desenvolvimento sem crescimento (crescimento zero), no qual existiriam melhorias qualitativas mantidas em equilíbrio, dentro das possibilidades regenerativas dos ecossistemas, sendo assim, a produção seria substituída por bens até então desvalorizados e centrar-se-ía na melhoria qualitativa e no bem-estar das populações.
Mas como parece óbvio o crescimento zero é uma ideia herética, e não se acredita que esteja sequer no horizonte das políticas desejáveis, já afastando do nosso pensamento as medidas concretas para atingir esse objectivo. Vive-se num modelo Capitalista e para seguir esta linha de continuar a insistir no crescimento económico, são obviamente necessárias medidas de gestão ambiental, destinadas a organizar um perigoso exercício de equilibrismo, constantemente desafiando os limites físicos que suportam a vida.
O desenvolvimento sustentável não se destina a sustentar a natureza, mas o desenvolvimento em si. É uma medida simples que garante a continuação da exploração industrial desenfreada, o eterno fluxo de bens e a infinita acumulação de capitais – tudo isto conseguido através de limites arbitrários impostos à natureza.
Não há, portanto, nada de novo neste conceito, nada que não tenha sido já proposto e operacionalizado como moeda corrente nas últimas quatro décadas do desenvolvimento planificado. Apenas os rótulos têm mudado e aqui remeto que a onda verde incrementada pelos movimentos verdes, os partidos políticos, os comerciantes, os cidadãos, entre outros e esta moda de ser-se verde é um bom começo para um futuro desejado para não comprometer as gerações futuras. As iniciativas de desenvolvimento sustentável deveriam incluir a participação dos cidadãos e o chamada empowerment onde as prioridades das pessoas sejam postas em primeiro lugar, e que se utilizem métodos centrados no diálogo, na participação e na aprendizagem através da prática.

Catarina Amaro

(Extraído de Portugal.indymédia.org)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

LPN E QUERCUS E O NUCLEAR




Quercus acusa Constâncio de ingenuidade e desconhecimento ao relançar debate sobre o nuclear


A Quercus alega que uma central em Portugal teria uma dimensão que não conseguia ser suportada pela rede eléctrica nacional
A Quercus acusou hoje o governador do Banco de Portugal de "ingenuidade e desconhecimento" ao relançar o debate sobre o nuclear em Portugal, uma vez que os ambientalistas consideram esta opção errada também do ponto de vista financeiro. LPN alerta para risco de “debate inquinado”.

Em declarações no Parlamento, o governador Vítor Constâncio defendeu ontem que "a alteração estrutural dos preços da energia está para ficar e tudo tem de ser discutido, incluindo o nuclear".

Para os ambientalistas da Quercus, "se o problema do país é financeiro, então incluir o nuclear nas questões energéticas é um erro".

"Um dos principais argumentos contra o nuclear é que é muito insustentável do ponto de vista de custos", declarou o dirigente ecologista Francisco Ferreira, apontando o exemplo das "enormes derrapagens" da central nuclear finlandesa.

A Quercus alega ainda que uma central em Portugal teria uma dimensão que não conseguia ser suportada pela rede eléctrica nacional, além dos tradicionais argumentos dos problemas do tratamento dos resíduos gerados pelo nuclear e da questão do risco.

"O debate do nuclear foi feito nos últimos dois anos e extinguiu-se. Muito porque Portugal é o país da Europa onde a população acha que se deve apostar menos no nuclear", referiu Francisco Ferreira.

"Só por ingenuidade sobre o sistema energético ou por desconhecimento das prioridades do ponto de vista de custo é que podem ter sido feitas as declarações do governador do Banco de Portugal", acrescentou.

LPN alerta para debate inquinado

Eugénio Sequeira, presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), diz que a questão da energia nuclear pode ser debatida, mas com informações claras e detalhadas e tendo em conta os custos e os impactos para o ambiente.

“O debate é sempre útil, e não faz mal nenhum. Mas é preciso que o debate não esteja inquinado”, disse hoje à rádio TSF.

“Temos de ver a valia de uma solução, qualquer que se faça, face aos custos totais, coisa que nunca se fez. Porque tem que se medir, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista social, quer do ponto de vista ambiental, do berço à cova”, comentou.

O dirigente defende que se deve incluir no custo de produção de energia eléctrica o “custo da execução da central, o custo total do desfazer dos resíduos finais e quanto é que isso vale em termos de risco ambiental, e o risco para a saúde pública, na sua totalidade”.


Por Lusa, PÚBLICO
Paulo Ricca

terça-feira, 15 de julho de 2008

Touradas - Tortura não é Cultura

domingo, 13 de julho de 2008

Manifesto Anti-Neo-Verde



Fruto de um casamento de conveniência entre os burgueses que somos e os cidadãos que gostaríamos de ser, nasceu um híbrido: o neo-verde !

O neo–verde, é o prematuro-mutante-viável de uma tentativa desconseguida de compreensão do sentido da Vida. Prematuro, porque não sobrevive sem um sistema exterior de apoio – os média e os congressos de educação ambiental; mutante viável, porque resulta da evolução possível de quem tentou perceber os fundamentos da ecologia, mas percebeu mal !

O neo- verde tem formação média ou superior e encontra-se disponível em duas versões: light e hard ! O neo-verde light, proclama sempre que pode que é preciso salvar o planeta, compra as fitas do novel-Nobel pela internet e é assinante da National Geografic. O neo-verde hard, vai mais longe: só consome produtos com certificação ambiental e quando trocar de carro quer comprar um Honda-hibrido ( o Lexus está fora do orçamento ).

O neo verde é a personificação de todas as pseudo-certezas imaturas que atingem os pós-adolescentes tardios . Confunde sabedoria com conhecimento e não distingue conhecimento de informação. Por isso, acredita hoje no aquecimento global e amanhã há-de acreditar no arrefecimento global. O neo- verde é evolucionista desde o Big Bang e além disso conseguiu a proeza de simplificar para dois a complexa fórmula dos três R’s – o entendimento neo-verde é que quem recicla, reduz !

Pode-se pois dizer que a cultura neo-verde se caracteriza por uma espécie de neo-provincianismo invertido. Explico: ele sabe exactamente o que é preciso fazer para salvar o planeta, mas não faz ideia de como se semeia um alho. No entanto, se colocado perante esta dificuldade, o neo-verde tem sempre a resposta pronta: “ esse tipo de questão não é linear, tem contornos mais complexos e outro tipo de implicações, e por isso não deve ser abordada de uma forma simplista sem antes se proceder a uma avaliação integral de todos os impactos”. E o alho, agradece!

O neo-verde não prescinde da janela panorâmica na marquise, mas quando tiver dinheiro quer equipá-la com vidro duplo. O neo-verde é consumidor de Actimel e está na expectativa de que brevemente a ciência torne biodegradáveis as respectivas garrafinhas. O neo-verde está em permanente dieta de hidratos de carbono, e por isso não vê inconveniente em que com trigo se produza etanol para os motores a gasolina.

Contrariamente ao demodé verde-contestatário, a personalidade neo-verde é por natureza conciliadora: acredita no valor do consenso como menor denominador comum para um futuro melhor, e pauta-se por princípios de uma saudável flexibilidade. Por exemplo: se tiver que optar entre qualquer questão verde e o cheque do fim do mês, o neo-verde encontra sempre forma de ficar com o cheque !



Ambientalmente falando, o neo-verde é ejaculador precoce, isto é, anda sempre tão excitado com a questão que ao mínimo estimulo debita verdura, deixando o interlocutor sempre insatisfeito. Exemplo: o neo-verde é exímio em conceitos éticos, mas chega sempre atrasado às reuniões.

Para além disso o neo- verde tem bons hábitos sociais e hobbies sustentáveis, tipo sócio de um moto clube que promove passeios de natureza. Assim, num fim de semana soalheiro, procura um pendura tão verde-alface quanto possível, e vão em caravana ver os golfinhos ao zoomarine ou ouvir os passarinhos ao sitio das fontes. Claro que se estiver de chuva, o neo-verde fará como o comum dos mortais: mete-se com a família no monovolume do pai e vai passar a tarde ao Fórum local. Foi exactamente numa dessas tardes em que arrastava indolentemente as solas recicladas pelos reluzentes pavimentos da catedral do consumo, que o neo-verde exultou com a novidade: acabava de ganhar o Nobel !!!

Extraído de Bolinas.

sábado, 12 de julho de 2008

ALDO LEOPOLD E A ÉTICA DA TERRA (1)



Hoje, estamos a assistir a uma crise com características bem diferentes de todas as anteriores. De acordo com o Relatório “ O Nosso Futuro Comum” (Brundtland) (1987), não estamos perante várias crises separadas, a do ambiente, a do desenvolvimento e a da energia, pelo contrário, todas elas são uma só. Ainda sobre este assunto, António Almeida (2007) diz-nos que vivemos uma crise que pelas suas características é mais grave do que todas as que a antecederam, já que “a ameaça da extinção da própria espécie humana deixou de pertencer ao domínio da ficção”.

Não estando no âmbito deste texto enumerar as causas responsáveis pela crise multidimensional que assola o mundo, partilhamos a opinião de Ramón Lara quando escreve o seguinte: “ Ahi está creo yo el corazón de la crisis: en el desfase entre el desarrollo que hemos alcanzado en el campo de la ética y el logrado en el resto de los campos: economia, ciência, tecnologia…; entre los fines y los médios; entre los “cómo” y los “para qué” de nuestras decisiones.”

Na procura de respostas para ultrapassar a situação em que nos encontramos, vários autores apontam a incapacidade ou insuficiência da ética tradicional para responder às questões levantadas pela actual crise, advogando a necessidade de o homem adoptar uma nova ética na sua relação com os outros e com o planeta.

Aldo Leopold (1887-1948), engenheiro florestal norte-americano, é um nome incontornável quando se fala de ética ambiental, sendo para Baird Callicott o verdadeiro fundador da mesma e para Dave Foreman o autor de Pensar como uma Montanha (tradução portuguesa de A Sand County Almanac), o “livro mais importante alguma vez escrito”. Vários autores apontam aquele livro como estando na origem da denominada ética da terra, que “propugna e tem como objectivo a inversão do papel de conquistador e destruidor da natureza que o homem tem assumido”.

Nota- Para saber mais sobre a obra de Aldo Leopold e a ética da terra, aconselha-se a leitura do livro "Pensar como uma Montanha", que pode ser adquirido na sede dos Amigos dos Açores ou pedido às Edições Sempre-em-Pé e como "aperitivo" a da brochura " Pensar como uma Montanha de Aldo Leopold: um caminho de Educação e Ética Ambiental", recentemente editada pelos Amigos dos Açores.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Os Causadores da Fome



Nota- Os problemas ambientais não se limitam aos relacionados com a conservação da natureza. A Fome é um dos problemas ambientais com que se debate o Mundo de Hoje, daí que, abaixo, se transcreva um texto sobre o assunto.


Nestes últimos meses, os motins motivados pela fome espalharam-se como um rastilho de pólvora por um grande número de países. Estes acontecimentos, pela sua gravidade, são reveladores do estado de crise no qual se encontra imersa, hoje, a população mundial. Uma crise que, na verdade, não é consequência do acaso! A alta infernal dos preços dos produtos alimentares, que condena à fome por todo o mundo milhões e milhões de seres humanos, tem certamente várias causas. Mas a principal, a de efeitos maciços, a mais directa, é a especulação.

** Os açambarcadores, primeira causa da crise alimentar mundial **


Devido à crise desencadeada pela especulação desenfreada que atingiu os mercados de crédito de alto risco em geral, sobretudo no sector do crédito hipotecário à compra de habitação, os especuladores, verdadeiros açambarcadores dos tempos modernos, afastaram-se desses mercados financeiros para se lançarem, como a miséria sobre o pobre, para um outro
mercado: o das matérias-primas alimentares. O resultado não se fez
esperar: para os especuladores, lucros gigantescos; para as populações do terceiro mundo, a reaparição em força da fome e da miséria extrema, e para as populações dos países ditos desenvolvidos (e que se encontram, de facto, em plena regressão social), o aperto do cinto em mais alguns furos.
Esta semana, soube-se que o arroz já se encontra racionado nos Estados Unidos e em Israel. Depois do racionamento motivado pela falta de dinheiro, o racionamento propriamente dito, do género do dos anos de guerra.

Uma outra razão tem de ser levada em conta na mesma direcção que a da
especulação: o desenvolvimento, em países onde até agora era incipiente, de uma classe burguesa tão ávida de consumir como a nossa própria burguesia, e que por isso se apropria de uma boa parte dos recursos alimentares apenas para ela própria. Outras “explicações” têm sido avançadas periodicamente pelos média. A primeira assenta sobre as variações climáticas: secas aqui, inundações acolá, afectaram as colheitas. A outra grande explicação di respeito aos bio-carburantes. O seu fabrico requer, com efeito, uma enorme quantidade de plantas, cujas superfícies de exploração deixaram de estar disponíveis para as culturas de produtos alimentícios. Estas duas razões são na verdade reais, mas os média esquecem-se em geral de referir a sua causa. Pois nem o aquecimento climático nem a escolha de áreas para a produção dos bio-carburantes (tal como, igualmente, o desperdício generalizado dos carburantes tradicionais) se devem ao acaso, mas são, sim, do mesmo modo que a fome, uma consequência directa da existência do capitalismo e do Estado.

** Durante a fome, a mundialização continua **

Sendo a situação bastante explosiva, os hipócritas que nos governam fazem de conta que descobrem que as suas políticas económicas conduzem à fome.
Através das instituições internacionais eles lançam, embora sem firmeza, o
alarme: é preciso dinheiro para salvar os pobres. Sente-se que preparam um grande apelo ao nosso bolso e ao nosso coração, uma grande operação mediática de recolha de fundos que supostamente se destinarão aos esfomeados. Entretanto, prosseguem a toque de caixa com a mundialização da economia e com a concentração dos meios de produção num pequeno número de mãos, isto é, trabalham activamente para o desaparecimento dos pequenos produtores locais de culturas de produtos alimentares, preparando assim as próximas investidas da fome. A crise que actualmente vivemos não irá parar por si própria!

Os altermundistas propõem-nos as suas soluções: um novo tipo de organização do comércio mundial, um comércio mais justo, mais respeitador do ambiente. Ora isto é esquecer quem hoje em dia lucra com o comércio existente. É esquecer que as grandes multinacionais, tal como os hierarcas dos Estados (de países desenvolvidos ou não), acumularam vastas fortunas à custa dos pobres, e isso precisamente graças à sua “lei do mercado”. Uma pseudo-lei da qual não esperam ter de renunciar aos seus benefícios! Quem acredita que os poderosos vão abdicar sem mais nem menos dos seus privilégios, se a isso não forem obrigados? Nunca antes o fizeram, nem agora o farão. Para além disso, a sua reacção face aos motins da fome é
clara: bem podem lançar um alerta humanitário nos países ocidentais, para evitarem que as suas populações venham a ter alguns problemas de consciência, que não é por essa razão que hesitam em disparar sobre as multidões a fim de as submeter.

Para nós, é evidente que o conflito deixou de ser entre o “cá” e o “lá”, entre o ocidente e o terceiro mundo, tal como não é entre a esquerda e a direita. É entre os de baixo e os de cima. Entre a classe daqueles que são oprimidos e a classe dos que oprimem. Não é de dirigentes que é preciso mudar, nem de leis, mas sim de sistema, na sua totalidade. É uma revolução, à escala planetária, aquilo que é necessário pôr em marcha. E para esse objectivo, cada um de nós, pela sua acção quotidiana, pode contribuir.

Michel

(artigo traduzido por Paulo Ferreira, Associação Internacional dos/as Trabalhadores/as - Secção Portuguesa)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Pinhal da Paz e a Recolha de Resíduos



Pessoa amiga alertou-nos para o facto de no Pinhal da Paz não existirem ecopontos. De facto para um local que é visitado por milhares de pessoas não é admissível que não haja um único.

Espera-se que a entidade responsável pela sua gestão tome medidas para que a presença de ecopontos seja uma realidade em breve. É que a Educação Ambiental não é apenas da responsabilidade da SRAM e os Ecopontos da Câmara Mubicipal de Ponta Delgada, pelo contrário, todos devem dar o seu contributo.

Este foi o nosso.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Associativismo Ambiental: o caso dos Amigos dos Açores



A Associação Amigos dos Açores editou, recentemente, uma brochura, da autoria de Teófilo Braga, onde é apresentada uma reflexão sobre as associações de defesa do ambiente dos Açores, com destaque sobre a referida associação.

Todos os interessados poderão ler o texto que é um dos Documentos deste blog. Quem quiser um exemplar em papel também poderemos enviar. Para tal basta indicar o endereço postal.

Quercus- São Miguel, a dependência continua

Queixa contra a Quercus arquivada


Ministério Público arquivou a queixa apresentada em 2007 pela secretária regional do Ambiente e Mar contra o núcleo da Quercus em São Miguel, por alegado incumprimento do protocolo financeiro estabelecido entre ambas as partes.
Uma nota da direcção nacional da associação ambientalista adianta que a notificação recebida, com data de 11 de Junho, refere que os serviços do Ministério Público de Ponta Delgada, nos Açores, arquivaram a queixa/denúncia apresentada pela secretária regional do Ambiente e Mar.

Segundo a Quercus, a queixa/denúncia da SRAM ocorreu "curiosamente" numa altura em que a associação se opôs fortemente a um projecto de transformação dos resíduos em combustíveis líquidos sintéticos, que iria perverter por completo a filosofia do Plano Estratégico de Gestão de Resíduos dos Açores (PEGRA).

Em Dezembro o dirigente do núcleo da Quercus em São Miguel alertou para a existência de dificuldades financeiras, devido a atrasos na transferência das verbas pública protocoladas com o Governo açoriano, o que obrigou a despedir a única funcionária da associação em Ponta Delgada.

Contactado pela agência Lusa, Veríssimo Borges disse hoje que "não esperava outra decisão" da justiça portuguesa, por considerar que "não havia substância para condenar a Quercus".

"A deliberação com data de 19 de Maio foi justa. Não poderia ser de outra maneira porque sempre acreditei que não havia substância para condenar a Quercus", afirmou Veríssimo Borges, que por motivos de saúde teve de apresentar em Maio a sua demissão do cargo, que exercia há vários anos.

A direcção do núcleo da Quercus em São Miguel ficou interinamente entregue a Luís Gomes, até às eleições agendadas para Fevereiro ou Março de 2009, indicou.

Em declarações à Lusa a secretária açoriana do Ambiente esclareceu que depois da Quercus ter apresentado a documentação e o dinheiro em falta informou de imediato o Ministério Público.

"Para que fique bem claro não há nem nunca houve qualquer má vontade da minha parte com nenhuma instituição apoiada pela SRAM", afirmou Ana Paula Marques, acrescentando que a Quercus não foi a única associação a ter de devolver dinheiro.

Segundo Ana Paula Marques, quando as instituições não investem todo o dinheiro protocolado com o Executivo Regional ou não justificam cabalmente o seu gasto têm de devolver essa verba.

A governante referiu que já foi feito um novo protocolo com a Quercus, no valor de cinco mil euros, destinado a suportar as despesas com a renda da sede da associação em Ponta Delgada.

(in Açoriano Oriental, 9 de Julho de 2008)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Visita à Quinta da Torre, 6 de Julho de 2008



O MODO DE PRODUÇÃO BIOLÓGICO – UM DEPOIMENTO

Nota de abertura: geralmente não é erro afirmar; mas afirmar às vezes dá é maior evidência ao erro do que confirmação para o que é dito. Assim foi o que aconteceu depois de ter na primeira parte deste meu depoimento referido os diminutos danos do tripes no bananal. Pois a verdade é que tivemos neste inverno a encarniçada acção dessa pequeníssima mosquinha preta sobre uma parte do bananal da quinta. Devo acrescentar o problema dos ratos, que vai assumindo preocupante gravidade, e para cuja resolução somam-se obstáculos ao invés de realizações favoráveis.


A actualmente chamada de Quinta da Torre é uma parcela entre outras propriedades vinculadas a partir do século XVII e administradas como tal até à extinção dos morgadios no século XIX. O último morgado foi André Manuel Álvares Cabral, pai de André Álvares Cabral, que, já só da parte que lhe coube dos bens legítimos, e destruindo a capela e a casa antigas, fez edificar em 1864 a casa actualmente existente mais o jardim em frente.

Sendo muitos filhos e netos, foi a casa e quinta posta em arrematação pública, sendo comprada, creio que no final dos anos vinte do século passado, por um dos herdeiros, Manuel Álvares Cabral, meu Tio Avô, que precisou de usar da disponibilidade de pessoa amiga para o efeito. A filha, a quem pela muita amizada chamávamos de Tia, Manuela Canavarro Álvares Cabral Ataíde, doou esta propriedade às minhas duas Irmãs, ao meu Irmão e a mim, há já uns trinta anos talvez, mantendo o usofruto enquanto viva.

O conjunto edificado consta da casa principal, com granel, adega e cisterna, mirante posicionado para servir de controlo da navegação em aproximação da costa, com pau de bandeira para comunicação com outros postos de observação (a defesa da ilha estava na generalidade a cargo de pequenas forças de milícias organizadas nas várias localidades). Constam várias dependências domésticas e de criação de animais, nitreira e garagem (ambas dos anos trinta), antigas cavalariças muito destruídas, casa da madeira, duas habitações e três ruínas junto ao caminho, e ainda uma pequena casa dentro da propriedade reconstruída há poucos anos para apoio ao gado. Há também as ruínas da pequena fábrica de colorau. Várias ruas altas em pedra seca permitem a circulação interna.

A propriedade tem uma pequena matinha de incensos com alguns exemplares de espécies autóctones (Myrica faya, Laurus azorica, Picconia azorica).
A parte propriamente da antiga quinta de laranjas, com bananal, citrinos, especialmente mandarina e tangerina, e algumas outras fruteiras defendidas pelas tradicionais sebes altas de incenso, bânksia, barrileira e faia-da-terra, está hoje restrita a uma área mais pequena daquela que foi até há uns vinte e cinco anos atrás.
Parte do que tinha árvores de fruto foi apascentado nos anos setenta e oitenta. Apascentada também foi uma área tradicionalmente ocupada com a produção de milho e outras culturas de rotação.

Dantes a vinha ocupava os terrenos todos acima e abaixo do mirante. Hoje está restrita à rua alta de acesso ao mirante e ao terreno junto à casa logo acima da estrada regional.
Temos gado da terra, identificado modernamente como “Ramo Grande” (na quinta duas vacas com as respectivas crias até aos 5 ou 6 meses, estando o núcleo principal actualmente nos Lourais), galinhas diversas, poedeiras, riolas, as chamadas “galinhas da Madeira”, tabacas, alguns patos e gansos, coelhos e pombas.

Diminuímos entretanto alguma área de pastagem ocupada agora com produções tradicionais em consociações e rotações: o milho amarelo da terra, algumas variedades antigas de feijão, de ervilha e de fava, o tremoço, o inhame, a batata, a batata-doce, o amendoim, etc..

Temos vindo a multiplicar aromáticas diversas, sendo algumas, aliás, espontâneas em S.Miguel.

As abelhas para ajudar na polinização das flores e para produção de mel estão instaladas em cinco colmeias.

A manutenção e recuperação de ruas e muros de pedra seca, assim como a conservação do demais edificado constituem uma sobrecarga na gestão propriamente agrícola.
A opção pelo modo de produção biológico tem sido um inequívoco factor de sustentabilidade do conjunto.

À vitalidade e sustentabilidade internas há que juntar a vontade, o interesse, a opção, pela aquisição e pelo consumo dos produtos agrícolas já disponíveis em modo de produção biológico em S.Miguel. São aliás vários os núcleos em produção certificada actualmente na ilha.

Razões espúrias, proliferados preconceitos, falta de diálogo, de idoneidade e de coragem para afrontar a avassaladora destruição de recursos no planeta ao assustador ritmo do brutal, decadente, irracional modo de produção e de distribuição burguês, logram fazer dum corpo moribundo no estertor ainda muito mal a muitos em boa parte evitável se para tal nos precavermos.

Obrigado.

Pedro Albergaria Leite Pacheco

(Publicado no boletim dos Amigos dos Açores "Vidália", nº 29, 2008)

domingo, 6 de julho de 2008

ONGAS- Princípios Orientadores para a sua Acção

Para que possam desempenhar um papel importante no incentivo à participação dos cidadãos e na implementação da educação ambiental, as ONGAS devem ter como princípios orientadores, entre outros, os seguintes:

1- Independência. As associações deverão ser independentes dos poderes políticos e dos interesses económicos, corporativos ou outros.

2- Diálogo e cooperação. A dimensão dos problemas e a urgência na sua resolução exigem colaboração e coordenação de esforços. Assim, as associações deverão promover o diálogo com governos, partidos políticos, universidades, sindicatos e organizações patronais, autarquias, outras associações, etc..

3- Voluntariado. As associações deverão desenvolver as suas actvidades tendo como base o trabalho voluntário dos seus membros, não devendo os cargos de direcção ser desempenhados por profissionais.

4- Competência.
As associações devem recusar liminarmente o espectáculo e a demagogia. Todas as suas posições públicas deverão ser fundamentadas através do contributo das mais diversas áreas disciplinares e científicas.


5- Postura construtiva. As associações deverão evitar a crítica estéril, devendo previligiar a apresentação de alternativas positivas, por exemplo propor a utilização de energias renováveis e a eficiência energética, quando se ataca o nuclear ou um mundo baseado na não-violência quando se combate as armas nucleares e a violência.

6- Democracia e participação. As associações deverão apostar na participação directa dos cidadãos.

7- Trabalho em Rede. A autonomia e a especificidade das diferentes associações deverão ser respeitadas, sendo previligiado o trabalho “em rede”, em detrimento de qualquer estrutura centralizadora e dirigista, tão do agrado do poder político.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

"Gigante" Invade São Miguel



A notícia que abaixo transcrevo, faz-me colocar algumas questões:


1- Por que razão este controlo não começou há, pelo menos, quinze anos? Não seria mais barato?


2- Sabendo-se que a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar tem , também, um plano para controle de invasores, por que razão esta iniciativa não é conjunta? Capelinhas?



Aqui vai a notícia do Correio dos Açores:


"Governo quer controlar infestação : “Gigante” invade São Miguel
03 Julho 2008 [Regional]
A secretaria regional da Agricultura e Florestas promove,hoje, em São Miguel, uma sessão informativa sobre o trabalho realizado no âmbito de um estudo para controlo da gunnera trinctoria, popularmente conhecida como gigante Esta sessão pretende informar os produtores florestais e entidades públicas sobre os problemas que esta espécie poderá vir a causar num futuro próximo, caso não se venham a tomar as medidas que impeçam o seu avanço, bem como possíveis meios de controlo. A Gunnera tinctoria é uma infestante de elevado porte, podendo mesmo atingir dois metros de altura, foi provavelmente introduzida na ilha de São Miguel como ornamental e exerce uma grande competição com as outras espécies presentes na Região, alterando a biodiversidade relativamente à flora e fauna selvagem. Quando presente em grande quantidade, torna-se de difícil controlo, impedindo a instalação de novos povoamentos florestais.Para prevenir e resolver esta situação, a Secretaria Regional da Agricultura e Florestas e o Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas iniciaram um estudo com o objectivo de analisar a possibilidade de controlo desta espécie, com recurso a herbicidas. Este estudo encontra-se no segundo ano de realização, já foram feitas algumas observações de eficácia, e os dados registados até ao momento permitem observar que existem produtos que estão a mostrar uma boa eficácia no controlo da espécie. Após a sessão, que se realiza pelas 10:30 horas, no Serviço Florestal do Nordeste, será realizada uma visita ao local do estudo Bardinho , freguesia da Algarvia, com o objectivo de observar os resultados obtidos até ao momento, bem como assistir à aplicação de um dos herbicidas em estudo, numa área muito infestada."

terça-feira, 1 de julho de 2008

O Indecente do Comércio de emissões de CO2




El comercio de emisiones no es la solución para frenar el cambio climático
Lo indecente del comercio de emisiones de CO2

Kevin Smith

En 1992, una tristemente célebre nota filtrada a la prensa escrita por Lawrence Summers, entonces economista jefe del Banco Mundial, señalaba que "la lógica económica de deshacerse de los residuos tóxicos en los países de salarios más bajos es impecable, y deberíamos afrontarla".
En estos momentos, se está intentando imponer un tipo de ecologismo de libre mercado muy parecido, que reduce debates muy complejos a una mera discusión sobre cifras y gráficos que ignora variables imposibles de cuantificar, tales como la pérdida de vidas humanas, la extinción de especies y la agitación social.


'Economía basura'


Puede que los análisis de costos-beneficios sean una herramienta útil para tomar decisiones en situaciones relativamente simples o cuando hay un número limitado de opciones sencillas entre las que elegir.
Pero tal como observa Tom Burke, profesor visitante en el Imperial College London: "lo cierto es que aplicar análisis de costos-beneficios a cuestiones como el cambio climático no es más que economía basura (...) Es vanidoso por parte de los economistas creer que todas las opciones se pueden reducir a un conjunto de cálculos de valor monetario". Algunos comentaristas han aplaudido el Informe Stern, un importante estudio publicado por el Gobierno británico en diciembre de 2006, por hablar en la jerga económica que entienden los políticos y la comunidad empresarial.
Pero al encuadrar el problema únicamente en términos de precios, comercio y crecimiento económico, estamos restringiendo el alcance de la respuesta ante el cambio climático a soluciones basadas en el mercado.


Estas "soluciones" suelen adoptar dos formas:

• el comercio de emisiones, un sistema por el que los Gobiernos otorgan permisos a grandes contaminadores industriales para que puedan comerciar con "derechos de contaminación" entre sí, según sus necesidades;
• la generación de excedentes de créditos de carbono a través de proyectos, normalmente ubicados en países del Sur, que afirman reducir o evitar emisiones en otros lugares; estos créditos se pueden adquirir para compensar cualquier falta en la reducción de emisiones.


Así, estos sistemas nos permiten eludir la respuesta más eficaz que se podría dar al cambio climático: dejar los combustibles fósiles en el subsuelo. Evidentemente, no se trata de una propuesta sencilla para nuestra sociedad, muy dependiente de dichos combustibles; sin embargo, todos sabemos que eso es precisamente lo que se necesita.
Por lo tanto, ¿qué incentivo hay para empezar a emprender estos costosos cambios a largo plazo cuando uno se puede limitar a comprar créditos de carbono, más baratos, a corto plazo?
La presión del mercado
En el actual contexto económico neoliberal, las normas del comercio sucumben inevitablemente ante las presiones del cabildeo de las grandes empresas y la falta de regulación a fin de garantizar que los Gobiernos no "interfieran" en el fluido funcionamiento del mercado.
Ya hemos presenciado esa corrosiva influencia en el Sistema de Comercio de Emisiones (ETS) de la Unión Europea, cuando, sometidos a una intensa presión empresarial, los Gobiernos adjudicaron permisos de emisiones en exceso a las industrias más contaminantes en la ronda inicial.
Esto provocó una caída en el precio del carbono superior al 60%, con lo que se desincentivó aún más a las industrias a reducir sus emisiones en el origen.
La industria cuenta con todo tipo de lagunas jurídicas e incentivos para exagerar sus emisiones con el fin de obtener más permisos y, por lo tanto, tomar aún menos medidas.
El analista de mercados Franck Schuttellar calcula que, durante el primer año de funcionamiento del sistema, las industrias más contaminantes del Reino Unido ganaron, en conjunto, 940 millones de libras (1.373 millones de euros) en beneficios imprevistos gracias a las generosas asignaciones del ETS.
Teniendo en cuenta todo lo que sabemos sobre el vínculo entre contaminación y cambio climático, esa gran concesión pública a empresas muy poco limpias raya lo indecente.
Se nos pide que confiemos en que la flexibilidad y la eficiencia del mercado garantizarán que las emisiones de carbono se reduzcan de la forma más rápida y eficaz posible, mientras que la experiencia nos demuestra que la falta de una normativa estricta tiende a crear problemas medioambientales, no a resolverlos.
Políticas ineficaces
Hay toda una corriente de opinión que defiende que la "mano invisible" del mercado no es la forma más eficaz de afrontar el cambio climático.
La Declaración de Durban sobre justicia climática, suscrita por organizaciones de la sociedad civil de todo el mundo, manifiesta que convertir el carbono en una mercancía representa una privatización a gran escala de la capacidad de la Tierra para reciclar carbono. El pastel atmosférico se reparte y se entrega a los mayores contaminadores del mundo. Una acción eficaz frente al cambio climático exigiría reivindicar, adoptar y respaldar políticas que reduzcan las emisiones en su origen, y no un sistema para compensarlas o comerciar con ellas.
El comercio de emisiones no es la respuesta; las emisiones se deben reducir de forma general, sin sutiles cláusulas de salvaguardia para los principales contaminadores.
Urge aplicar una regulación, una supervisión y multas más estrictas a los contaminadores, en el ámbito comunitario, local, nacional e internacional, así como apoyar activamente a las comunidades afectadas por el cambio climático. En estos momentos, esas políticas son prácticamente invisibles, ya que van en contra de las vacas sagradas del crecimiento económico y el libre mercado.
Lamentablemente, cuando se trata de abordar el cambio climático y mantener un crecimiento económico basado en la permanente y creciente extracción y consumo de combustibles fósiles no hay soluciones de aquellas en que "todo el mundo sale ganando". Los mecanismos basados en el mercado, como el comercio de emisiones, representan una ingeniosa estratagema de contabilidad creativa que desvía la atención del hecho de que no hay un escenario "convencional" viable.
Las políticas sobre cambio climático deberían ser algo mucho más serio.


Kevin Smith es investigador de Justicia Medioambiental, un programa del Transnational Institute ( http://www.tni.org/es ) que estudia las repercusiones del comercio de emisiones sobre la sociedad y el entorno. (Traducción de Beatriz Martínez)