Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
A Causa Verde: Uma Sociologia das Questões Ecológicas
No âmbito científico da Sociologia do Desenvolvimento, entendi reflectir sobre o livro de Steven Yearley – A Causa Verde: Uma Sociologia das Questões Ecológicas. A escolha do mesmo é pertinente, na medida em que, a atenção dirigida aos problemas do ambiente e o aumento de consciencialização em torno destes é claramente um fenómeno social de grandes proporções.
O autor do livro desempenha uma função essencial – descritiva, explicativa e exemplificada – de todo o processo de desenvolvimento das sociedades ao longo da história dando maior ênfase aos efeitos provocados por este.
Desde os primórdios da Humanidade o homem tem moldado e desenvolvido o mundo em busca de satisfações e necessidades humanas pondo em risco o meio Ambiente. Como já diziam os primeiros teóricos, tais como, Comte, Durkheim, entre outros, o desenvolvimento processa-se do simples para o complexo. Atrevo-me a dizer que o próprio conceito de desenvolvimento alude uma noção de harmonia e de progresso, no entanto, nem tudo é fácil de explicar na medida em que, o conceito em si, traz consigo desequilíbrios e de uma certa forma um estado de entropia ao sistema, ou seja, inexistência de homeostase. É uma opinião própria que adquiri com a leitura do livro. Quero deixar claro, que no decorrer desta reflexão crítica vou expor, em pé de igualdade, as abordagens teóricas com maior pertinência para o estudo da causa verde.
Como menciona Steve Yearley, nos finais da década de 80 começou a prestar-se uma particular atenção aos problemas ligados ao ambiente, passando os mesmos a serem considerados quase uma “moda” nos países desenvolvidos. Segundo o autor, a “ causa verde” ganha uma grande dimensão tal nos países ocidentais desenvolvidos que, neste momento, não há políticos, industriais ou agências de publicidade que não abordem a questão do ambiente como uma das suas prioridades da acção, talvez por uma consciencialização dos problemas ambientais ou até mesmo por se achar benéfico ser-se rotulado como verde.
O autor oferece uma síntese sobre os mais relevantes problemas ambientais, dos quais passo a nomear alguns, tais como: o “buraco” da camada do ozono que tende a aumentar devido à redução de um escudo que protege a atmosfera terrestre contra os raios ultravioletas (o seu desaparecimento conduziria a que uma grande quantidade de radiações de alta energia atingisse a superfície da terra, dando origem a um leque muito diversificado de consequências). Outro problema com preocupações relevantes é o aquecimento global ou efeito de estufa causado pelo desenvolvimento do dióxido de carbono na atmosfera terrestre. Se o aquecimento global está, de facto, a ter lugar, as suas consequências podem ser devastadoras. Entre outras coisas, o nível do mar aumentará à medida que a costa de gelo polar derreter e os oceanos aquecerem e se expandirem. As cidades mais próximas da costa ou em áreas mais baixas serão inundadas e tornar-se-ão inabitáveis.
Por sua vez, a destruição das florestas tropicais também contribui para o aquecimento global, dado que, são estas que incorporam o carbono e além demais se estas desaparecerem, a água das grandes chuvadas tende a escapar-se imediatamente, removendo o solo. Sem o ciclo de vida da floresta, o solo não se renova e, em consequência, a terra inicialmente tão rica depressa se degrada. Com efeito, está-se a pôr em causa vítimas biológicas, aves e outros animais confinados à floresta e as próprias plantas. Todavia a alimentação e a água também estão ameaçadas com os pesticidas utilizados na produção agrícola.
São preocupantes estes problemas e até questionaria: onde caberá ou a quem caberá o desenvolvimento sustentável do mundo? A resposta é pacífica e considero que esta preocupação reflecte-se nos direitos reconhecidos aos indivíduos, isto é, o respeito universal dos direitos e liberdades fundamentais de todo o indivíduo é o interesse comum a toda a humanidade. Reconhece-se que o direito ao ambiente deve ser considerado um dos direitos fundamentais do homem, beneficiando do regime especial dos “direitos, liberdades e garantias”. O meio ambiente é hoje entendido como sendo património comum a todos os membros da comunidade, que não pertence a uma pessoa individualmente.
A resposta é lógica, mas não muito directa, embora cada vez mais haja uma maior consciencialização dos problemas ambientais, não acredito que os países em vias desenvolvimento poderão aceder à industrialização sem um aumento das respectivas quantidades de emissão de dióxido de carbono, por exemplo. Sabendo que a luta desenfreada pelo progresso capitalizada pelas sociedades desenvolvidas levou a uma gradual degradação do ambiente, colocaria outra questão: Será que o mesmo desenvolvimento sustentável que referi está nas mãos dos países em vias de desenvolvimento? Para uma futura resposta vou enfatizar o caso do abandono da produção de CFC’s (clorofluorcarbunetos), dando o exemplo de três dos muitos causadores desta descoberta – os frigoríficos, os desodorizantes e perfumes – os gases utilizados nestes objectos produzem partículas que reagem em contacto com a camada de ozono, de tal forma, que a enfraquecem. São produtos universalmente comercializados, embora países como, China e Índia, o uso do frigorífico não seja um bem generalizado. No fluir do seu discurso o autor refere o facto de o futuro estar nas mãos destes países no que respeita à não utilização deste bem e ao não aumento de CFC’S que contribui para a retenção de calor na atmosfera terrestre.
Não posso dar por esquecido, um outro problema que Steven Yearley dá ênfase: os resíduos e as descargas residuais. Todos os indivíduos produzem resíduos, mas as sociedades industrializadas fazem-no a uma escala “escabrosa”. Há que encorajar a reciclagem e a reutilização e tentar minimizar os desperdícios desnecessários. É concernente falar numa mudança de valores para alcançar um caminho reversível e assim dizendo, a valores pós-materialistas. Eufemisticamente, a solução que muitos países desenvolvidos tomam ao nível do despejo de resíduos industriais em países subdesenvolvidos em troca de dinheiro, não é politicamente correcta mas é um negócio precioso principalmente para os países importadores do que para os países acolhedores dessas matérias, afinal, em vez de um desenvolvimento racional há um maior risco de problemas ambientais. Transfere-se o problema de um lugar para outro, mas o problema continua a existir.
O Surgimento gradual de problemas relacionados com a degradação do ambiente e os constantes ataques ao meio ambiente levaram à criação de alguns movimentos e/ou grupos de pressão, de teor não governamental – como são o caso: A Royal Society for Nature Conservation, A Royal society for the protection of birds e a celebre GreenPeace reconhecida pelas suas imaginativas e audaciosas campanhas através da acção directa – e partidos verdes . Embora existam muitas filosofias verdes, uma preocupação comum é a tomada de medidas para a protecção do ambiente mundial, para conservar os seus recursos em vez de os explorar até ao limite e para proteger as espécies animais que faltam.
É Sugestivo dizer que embora muitos partidos verdes tomem medidas a nível nacional, esta devem-se transpor também a um patamar internacional. Como indica o autor: cada vez mais, quer as organizações ambientalistas, quer os governos nacionais se têm vistos obrigados a operar num contexto internacional (1991:109), afinal muitos problemas ambientais são de âmbito internacional. Além do enverdecimento dos partidos políticos – têm sido levados a aceitar as mais diversas exigências ambientais devido a bem sucedidas acção de pressão ou em virtude da concorrência dos outros partidos (1991:111) – há também um crescente e continuo “enverdecimento” da opinião pública, muitos indivíduos começam a agir em favor de causas ambientais, talvez estes sentiram-se ameaçados ou até foram influenciados e manipulados a certa ordem pela comunicação social e grupos de pressão. Por sua vez, esta onda verde afecta comerciantes e industriais e também estes enveredam por esse “enverdecimento”, na medida em que a procura de produtos “ amigos do ambiente” é constante, embora são os consumidores mais ricos quem têm aderido em maior escala a este consumo, isto porque os produtos são em grande maioria mais caros. No entanto, constata-se que há muitas “burlas verdes”, a credibilidade inicialmente transmitida são por vezes puros enganos.
Uma outra questão claramente importante diz respeito, ao desenvolvimento capitalista pois este promove a revisão constante da tecnologia de produção, um processo que envolve o recurso à ciência. Autores como Bosquet dizem que a “dinâmica” do capitalismo conduz directamente à catástrofe ecológica na medida em que o processo evolutivo de crescimento é atractivo e não pode haver capitalismo sem desperdício. Neste sentido mais restrito, o capitalismo e o ambientalismo são contraditórios. Resta ficar à espera que o capitalismo seja ele próprio o grande motor capaz de gerar e desenvolver padrões de oferta e de procura do que é verde, já que nem os argumentos ecologistas farão renascer das cinzas a ideia de planificação de estado socialista.
Por outro lado, para o movimento ambientalista, a ciência pode ser considerada como um amigo na medida que tenta perspectivar soluções para esse fenómeno social, no entanto, muitas ameaças ao ambiente têm quase sempre origem de carácter tecnológico da nossa civilização, sendo assim a ciência está directamente implicada. Deste modo, não admira que os activistas verdes se situam a si próprios numa situação ambivalente em relação à ciência, ora a criticam ora necessitam dela.
A salvação da preservação do ambiente não pertence só à ciência. Esta deve ser acompanhada de informação e sensibilização dos cidadãos para as questões ecológicas, já que o homem é o principal destruidor do enorme potencial que a natureza lhe oferece.
No decorrer desta reflexão crítica tentei demonstrar que no mundo, ironicamente, existem dois pólos onde se imperam diferentes desenvolvimentos a vários níveis: países desenvolvidos (países do “Norte”) e países subdesenvolvidos (países do “ Sul”). A consciência verde conheceu os seus maiores avanços nas regiões mais desenvolvidas, o que quer dizer que nas regiões subdesenvolvidas não haja partidos verdes ou essa dita onda verde, eles e ela existem. Embora o crescimento do movimento verde tenha sido maior no Norte, muitos problemas ambientais atingem o seu ponto de máxima gravidade nos países do Sul. Estes últimos são extremamente dependentes do Norte, além de conhecerem uma elevada dependência externa destes países. Claramente são os países do Norte que têm condições económicas é um ponto relevante, que não deixa de se esconder nas capas do tempo e, ao qual, o Primeiro Mundo teve o êxito que se conhece através de pilhagem exercida sobre as suas colónias, ao utilizá-las como fonte de matérias-primas e de trabalho e como um mercado manipulado de forma a garantir a compra dos seus produtos. Ao contrário, as nações do terceiro Mundo, não só eram vitimas dessa exploração, como não tinham ninguém a quem explorar.
Hoje “arruinados” e dependentes da economia dos países dos países desenvolvidos, para o seu nobre desenvolvimento oferecem-se como países de poluição quando a atraem o investimento industrial exterior, uma vez que a poluição é vista como um preço a pagar pela modernização.
A questão fica cada vez mais complexa. A separação analítica entre países ricos e países pobres em termos de ambiente não é fácil ou provavelmente nem sequer é possível. Os motivos que levam as nações do sul a tomar o caminho do desenvolvimento errado (já seguido pelo norte) dependem grandemente da natureza política das relações criadas entre os dois grandes blocos, que vêm já deformadas sob a égide do pretenso desenvolvimento planificado desde o final da segunda guerra mundial.
Sou da opinião que o problema está precisamente em que o norte só reduzirá o seu consumo se obrigado pela força, ao mesmo tempo que pretende impor ao sul aquilo que não consegue ou não quer realizar. Logo aí acho que o mundo deve de estar de mãos dadas para esta causa! O futuro é a nossa grande riqueza, porque, como dizia o grande poeta António Machado, ainda não está escrito: penso efectivamente que podemos escrever doutra maneira e é possível mudar o rumo.
Neste sentido é evidente que há que travar a imitação dos padrões de consumo do norte, promovendo a desigualdade, porque o nosso planeta simplesmente não dispõe de recursos para tal exploração. Só com muitas dificuldades pode a Terra sustentar os actuais níveis de consumo dos ricos.
Concluo que, os países industrializados já não podem representar uma referência para os países do sul, no que respeita a modelos de desenvolvimento e a tendência actual – que o norte seja surdo a esta questão, e que continue a forçar o sul a implementar os seus modelos de desenvolvimento – não atingiremos nunca a tão badalada sustentabilidade, claramente impossível a médio e longo prazo (e sendo o tempo uma variável dinâmica, em breve também a curto prazo). Presumo que um desenvolvimento sustentável só faria sentido se entendido como um desenvolvimento sem crescimento (crescimento zero), no qual existiriam melhorias qualitativas mantidas em equilíbrio, dentro das possibilidades regenerativas dos ecossistemas, sendo assim, a produção seria substituída por bens até então desvalorizados e centrar-se-ía na melhoria qualitativa e no bem-estar das populações.
Mas como parece óbvio o crescimento zero é uma ideia herética, e não se acredita que esteja sequer no horizonte das políticas desejáveis, já afastando do nosso pensamento as medidas concretas para atingir esse objectivo. Vive-se num modelo Capitalista e para seguir esta linha de continuar a insistir no crescimento económico, são obviamente necessárias medidas de gestão ambiental, destinadas a organizar um perigoso exercício de equilibrismo, constantemente desafiando os limites físicos que suportam a vida.
O desenvolvimento sustentável não se destina a sustentar a natureza, mas o desenvolvimento em si. É uma medida simples que garante a continuação da exploração industrial desenfreada, o eterno fluxo de bens e a infinita acumulação de capitais – tudo isto conseguido através de limites arbitrários impostos à natureza.
Não há, portanto, nada de novo neste conceito, nada que não tenha sido já proposto e operacionalizado como moeda corrente nas últimas quatro décadas do desenvolvimento planificado. Apenas os rótulos têm mudado e aqui remeto que a onda verde incrementada pelos movimentos verdes, os partidos políticos, os comerciantes, os cidadãos, entre outros e esta moda de ser-se verde é um bom começo para um futuro desejado para não comprometer as gerações futuras. As iniciativas de desenvolvimento sustentável deveriam incluir a participação dos cidadãos e o chamada empowerment onde as prioridades das pessoas sejam postas em primeiro lugar, e que se utilizem métodos centrados no diálogo, na participação e na aprendizagem através da prática.
Catarina Amaro
(Extraído de Portugal.indymédia.org)