quinta-feira, 22 de junho de 2017

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Maria Evelina de Sousa e a SMPA


Maria Evelina de Sousa e a Sociedade Micaelense Protetora dos Animais

Penso não estar errado ao afirmar que embora Maria Evelina de Sousa tenha abraçado várias causas a que terá tido mais importância em termos sociais foi a da educação, quer através da sua profissão de professora, quer através da direção da Revista Pedagógica.

A outra grande causa a que ela se dedicou foi a da proteção animal, através dos textos que publicou em vários periódicos, como a Revista Pedagógica ou o Correio dos Açores, e através do seu trabalho na SMPA- Sociedade Micaelense Protetora dos Animais de que foi uma das fundadoras, em 1911.

Maria Evelina de Sousa foi a autora dos estatutos da SMPA, tendo para a sua elaboração usado como “modelo os estatutos da Sociedade Protetora dos Animais de Lisboa”. Sobre as diligências para a criação da SMPA, Maria Evelina de Sousa lamentou, na Revista Pedagógica de 6 de outubro de 1910, o facto de ter suspendido os trabalhos para a sua concretização “por falta de coadjuvação da parte dos restantes membros da comissão”.

Depois de um período de alguma inatividade da SMPA, foi criada, em 1931, uma comissão que teve por missão a sua reorganização. Maria Evelina de Sousa foi um dos membros da comissão que desenvolveu esforços para a eleição de uma nova direção e para o estudo dos meios a usar para intensificar a proteção aos animais.

Para além de ter sido o braço direito (e o esquerdo) de Alice Moderno, em muitas ocasiões foi Maria Evelina de Sousa a porta-voz da SMPA, tendo também feito parte dos seus órgãos sociais. A título de exemplo, mencionamos a sua eleição para suplente da Presidente da Direção, nos anos de 1934 e 1935, e para tesoureira, no ano de 1936.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31247, 7 de junho de 2017, p.13)

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Touradas à corda e festas (religiosas)


Touradas à corda e festas (religiosas)


Todos os anos a bola de neve cresce, isto é a lista de touradas tradicionais vai aumentando o que prova que nas ilhas Terceira, Graciosa e São Jorge, a indústria tauromáquica tem sido bem-sucedida no seu intento de ganhar dinheiro à custa do desrespeito pelos direitos dos animais e da deseducação das pessoas que desde a mais tenra idade são obrigadas a assistir a touradas, acabando por a elas se habituar.

O sucesso do negócio não seria possível sem o apoio hipócrita dos fundos europeus e dos governantes e autarcas da região que apoiam ganadarias e touradas associadas a festas, religiosas ou não.

Como se não bastassem os apoios monetários há legislação nacional e regional que regula a tortura tauromáquica. No caso das touradas à corda, há legislação que define o que é uma tourada tradicional, que é a que “realizando-se na mesma data, na mesma área territorial, estando ligada a uma festividade da freguesia onde se realiza e sendo organizada exclusivamente por entidades cujo eventual fim lucrativo contribui, do modo direto, para essa mesma festividade”.

Atendendo a que a maioria das festas realizadas nos Açores são religiosas não é difícil associar as touradas à corda àquelas festas, sobretudo na ilha Terceira que é onde a indústria tauromáquica tem maior implantação.

O que não se pode afirmar é que haja uma associação perfeita entre touradas e religião e que sobretudo é uma característica açoriana a realização de touradas à corda associadas às irmandades do Espírito Santo. Com efeito, tal quase só acontece na ilha Terceira que é um verdadeiro inferno para os bovinos e na Graciosa e São Jorge, ilhas onde os tentáculos da indústria tauromáquica são maiores.

A provar o que afirmámos, basta os leitores consultarem o jornal “Angrense” que se publicou entre Setembro de 1836 a Setembro de 1910, para constatarem que nem todas as festas do Espírito Santo, que se realizavam na ilha Terceira, eram acompanhadas por touradas à corda, havendo noutras touradas de praça para angariação de fundos.

A leitura de um texto publicado no jornal, angrense, “Primeiro de Maio”, no dia 6 de setembro de 1902, desmascara todas as patranhas que são hoje divulgadas pelos defensores das touradas à corda.

No início do século passado o número de touradas era muito menor do que o atual como se pode ler no seguinte extrato:

“No meu tempo, eram consideradas clássicas três touradas: São João de Deus, Serreta e Terra Chã.

Depois a pretexto d’isto e daquilo, anunciava-se uma tourada à corda; mais tarde a política tanto esticou a corda, que esta trouxe o bravo até ao centro da cidade.”

Sobre a ligação entre as festividades religiosas e as touradas o autor, depois de afirmar que touros só havia na festa da Serreta acrescenta:

“Depois veio a festa da Senhora de Lourdes, nos Altares, …etc. etc. de modo a que cada Senhora arranjou a sua festa e o bom povo da localidade, como complemento e suplemento, a iluminação da véspera, a respetiva ladainha, e, na segunda-feira a competente tourada.

E assim ficou subentendido que à festa religiosa se devia aliar …a dos touros, e o povo que pagava as primeiras, impôs-se, e as segundas vieram, como parte obrigatória, a despeito de muitos ralhos de algum prior refratário à inovação de se misturar o sagrado com o profano.”

Depois, os políticos populistas viram nas touradas uma oportunidade para caçar votos e passaram a oferecê-las aos eleitores, previamente deseducados, como terá acontecido no passado na Ilha Terceira e mais recentemente na ilha de São Miguel pela mão de dois ex- presidentes de Câmara e por um candidato a tal que acabou por ser eleito.

O autor citado, relativamente à ilha Terceira, sobre o assunto escreveu: “Depois as lutas eleitorais, os melhoramentos iniciados em qualquer freguesia começaram também a pedir a parte obrigada de touros à corda.”

Algures nos Açores, 4 de junho de 2017
J. Ormonde