terça-feira, 13 de setembro de 2011

GOVERNO “ENTRA” NA MANIFESTAÇÃO PELA LAGOA DAS FURNAS



Activistas e governo “juntos” em defesa da Lagoa das Furnas

Manifestação para salvar a lagoa ficou muito aquém das 7500 pessoas confirmadas no Facebook. Descontentamento popular acabou por ser minimizado com pedagogia do Governo

As 7500 confirmações de presenças na rede social Facebook para a manifestação “A Lagoa das Furnas está a morrer e ninguém faz nada” resumiram-se a dezenas de activistas. No entanto, o promotor da iniciativa, Miguel Bettencourt, estimou em cerca de “um milhar” as pessoas que estiveram nas margens da lagoa. A verdade é que ontem muita gente se deslocou à zona onde se confeccionam os tradicionais cozidos no subsolo para o lazer, integrando momentaneamente a acção, que se realizou em silêncio e com vários manifestantes a trajarem de verde, como forma de alerta para a urgência em salvar aquela massa de água eutrofizada. Um facto curioso na iniciativa foi a tenda montada pela SPRAçores (Sociedade de Promoção da Gestão Ambiental) para - no meio da manifestação - esclarecer o público do que se está a passar na Lagoa das Furnas, cuja água ganhou nos últimos tempos uma coloração amarela após o desenvolvimento de cianobactérias, que se alimentam de fósforo. O Verão com elevadas temperaturas, sem chuva e pouco vento propiciou também o aparecimento de maus cheiros no local. No entanto, a presidente do conselho de administração da SPRAçores desdramatizou o fenómeno, explicando que a lagoa tem melhorado a sua situação a cada dia que passa, em resultado da “redução do fósforo dentro de água”. Hélia Palha diz que será possível recuperar a Lagoa das Furnas num período de tempo que não quis quantificar, porque a natureza tem o seu “timing”. A Secretaria do Ambiente, através da SPRAçores, lançou uma campanha de voluntariado para a florestação das “terras altas”, mas a adesão não foi grande. A tenda “oficial” com informação sobre os problemas e a intervenção que está a ser feita na Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas não pretendeu boicotar a manifestação, mas apenas, segundo Hélia Palha, fazer pedagogia ambiental junto do público. Para Miguel Bettencourt, promotor de “A Lagoa das Furnas está a morrer e ninguém faz nada”, o objectivo foi cumprido, mesmo sem a presença dos anunciados 7500 manifestantes. Em seu entender, o facto de terem aderido à iniciativa via Facebook significou interesse e preocupação pela causa. “Viu-se o impacto que o movimento teve para salvar a nossa Lagoa das Furnas”, salientou, acrescentando que, anualmente, terão lugar novas manifestações para “alertar ainda mais a sociedade” no sentido de salvar aquela massa de água, considerada um emblema ambiental e turístico de São Miguel e dos Açores. Miguel Bettencourt não se quis pronunciar sobre a acção do Governo, insistindo na importância da união da sociedade para a preservação do património natural do arquipélago. Um outro elemento integrante do movimento, Daniel Bettencourt, natural das Furnas e estudante universitário, ostentava ontem uma camisa verde e mostrou-se surpreendido pela pouca adesão popular ao protesto. Um registo que traduz, em seu entender, uma mobilização da sociedade aquém das expectativas para os problemas ecológicos da(s) ilha(s). “Estou a estudar fora, mas sempre que venho cá de férias a lagoa está pior todas as vezes, mas actualmente muito mais (...). É um crime o que se está a passar aqui”, acentuou. • “Depois de ficar pântano a lagoa nunca mais volta a ser um cartaz turístico” “Depois de ficar pântano, a lagoa nunca mais volta a ser um cartaz turístico e as pessoas das Furnas e Ribeira Quente não estão ainda cientes do perigo”. A opinião foi expressa ontem por Berta Maria, escuteira e empresária, que gostaria de ter visto mais jovens na manifestação de ontem. Segundo esta moradora das Furnas, a solução do Governo para salvar a lagoa já “foi falada há 15 anos. O meu medo é só que, daqui a 15 anos, se demorar o que aconteceu até agora, as Furnas deixarão de ser o cartão de visita da Região”. Para Teófilo Braga, antigo responsável pelos “Amigos dos Açores”, a situação da Lagoa das Furnas “poderia estar melhor”, se a intervenção na bacia hidrográfica tivesse acontecido “mais cedo”. PAULO FAUSTINO

Fonte: AO 12 SET 2011