Tenho andado a estudar um pouco da história das touradas nos Açores e verifico que os adeptos da festa (?) brava têm razão quando dizem que o argumento da tradição não lhes serve por razões diferentes que são:
1- Em praticamente em todas as ilhas existiram "touradas" que foram desaparecendo com o evoluir da sociedade;
2- As touradas à corda já foram mais cruéis do que são hoje, devendo-se a alteração ao aumento da sensibilidade das pessoas e a imposições legais;
3- Na Terceira o argumento não serve pois o que se pretende não é mantê-la mas sim legalizar práticas não existentes como a sorte de varas e os touros de morte;
4- A única actividade tauromáquica que faz mover o povo (a maioria?) da Terceira são as touradas à corda, as outras são puro negócio para meia dúzia;
5- Os adeptos da touradas à corda são sensíveis ao sofrimento dos touros, e facilmente aceitariam medidas conducentes à minimização do memso;
6- Nas outras ilhas, nomeadamente em São Miguel, todas as tentativas mais recentes de introduzir touradas à corda falharam por razões sobretudo económicas. Como não é tradição neste ilha, o argumento também não serve aos pró-touradas.
Para terminar esta breve reflexão, passo a analisar a estratégia que tem sido seguida pela recente investida com o objectivo de popularizar as touradas em São Miguel.
1- Não sendo as touradas auto- sustentáveis do ponto de vista económico, o recurso tem sido à sua promoção por entidades oficiais ou por elas apoiadas directa ou indirectamente. Assim as touradas à corda têm sido promovidas em São Miguel sobretudo pela Junta de Freguesia das Capelas, cujo presidente era até recentemente presidente do IROA, Câmara Municipal da Lagoa e pela Associação Agrícola de São Miguel. Embora não possa confirmar para todas estas entidades sabe-se que nalguns casos há a mão do Director Regional do Desenvolvimento Agrário, residente na Terceira e aficionado.
2- Não negando que entre a população micaelense haja adeptos, a estratégia tem passado por começar a divulgar as touradas entre os mais frágeis quer do ponto de vista da instrução, da cultura ou dos rendimentos económicos. Não terá sido por acaso que a maioria das touradas se realizaram em zonas piscatórias, como Lagoa, Caloura ou Rabo de Peixe.
Por último, não se está a promover a pretensa ruralidade, pelo contrário está-se a fomentar a utilização de animais para divertimento, a banalizar os maus tratos, a promover o alcoolismo,etc., em suma a deseducar.
Face a esta situação não podemos ficar de braços cruzados, temos que apostar na educação junto das escolas e continuar a denunciar o mau uso de dinheiros públicos já que com eles poderíamos alterar em grande medida a situação de maus tratos e abandono de animais que tem ocorrido na nossa terra.
Mariano Soares