Vila Franca do Campo no início do
associativismo de conservação da natureza
Parece
que longe vão os tempos em que as associações ditas ambientalistas estavam no
seu auge, quer em termos de ações no terreno, quer no que se refere à sua
presença na comunicação social, tanto divulgando as atividades que iam
realizando como denunciando situações anómalas.
Hoje,
ao contrário do que seria de esperar por todos os que acreditavam que, com o
decurso do tempo, a democracia seria cada vez mais participada e os cidadãos
seriam mais ativos quer individualmente quer organizados em associações,
cooperativas, etc., assiste-se a um definhar das mais diversas instituições que
se vão mantendo graças à abnegação de muito poucos.
Há três anos escrevia que o movimento ambientalista nos Açores
encontrava-se na fase da “instrumentalização e da prestação de serviços”. Esta
fase foi marcada pela entrada do Partido Socialista para o
governo, em 1996, a qual teve implicações positivas e negativas.
De
positivo, destacou-se a colaboração entre as associações e a secretaria que
tutelava o ambiente, tendo-se institucionalizado o financiamento público a
todas as associações, o que criou condições para que estas crescessem em termos
de implantação ou mantivessem as suas sedes abertas, como aconteceu com a
Quercus.
A
outra face, diria que negativa, foi a lenta transformação de algumas
associações, que mantinham um perfil de intervenção mais político, em
prestadoras de serviços, de que é exemplo a associação Amigos dos Açores,
sobretudo com a gestão das Ecotecas de Ponta Delgada e da Ribeira Grande.
Outro
aspeto negativo para as associações foi o esvaziamento de algumas delas, com a
saída de alguns dirigentes que foram ocupar os mais diversos cargos quer no
governo quer na Assembleia Legislativa Regional.
Infelizmente
hoje, esta fase mantém-se e o esvaziamento parece que não foi estancado,
assistindo-se à quase inatividade de grande parte das associações e as que se
mantêm ativas têm as suas atividades reduzidas à componente recreativa ou à
vertente desportiva.
Ao
contrário do que por vezes se escreve, não foi o Centro de Jovens Naturalistas
de Santa Maria nem a associação os Montanheiros as primeiras associações
dedicadas à conservação da natureza nos Açores, mas sim o NPEPVS-DA-Núcleo
Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem/Delegação dos Açores.
A
associação “Os Montanheiros”, fundada em 1963, na ilha Terceira, tinha como
objetivos iniciais a realização de atividades de ar livre e depois, durante
muitos anos, a exploração de cavidades vulcânicas.
O Centro de Jovens Naturalistas de Santa Maria (CJN), cuja atividade
foi mais intensa nas décadas de 70 e 80 do século passado, tinha, entre outros,
como objetivos principais “iniciar os jovens nas coleções ou preparações com
elementos diversos da História Natural”.
Foi sim o NPEPVS/Delegação dos Açores, que esteve em
atividade em São Miguel, de 1982 a 1984, o verdadeiro herdeiro dos movimentos
naturalistas surgidos no século XIX que se preocupavam com a evolução da
civilização e pretendiam essencialmente preservar a natureza selvagem.
O NPEPVS/Delegação dos Açores que tinha, de acordo com os
seus estatutos, como objetivo prioritário a proteção da natureza, em especial
da fauna e da flora, teve a sua sede localizada na rua Padre Manuel José Pires,
localizada na freguesia de São Pedro, pertencente ao concelho de Vila Franca do
Campo.
Para a concretização daquele objetivo o NPEPVS-DA conseguiu
organizar, na sua sede, um centro de documentação com diversas publicações e
filmes sobre a vida de aves e lançou duas campanhas, uma em defesa das aves
marinhas e outra para proteção das aves de rapina. Da mesma associação,
destaca-se a edição de dois números (Primavera de 1983 e Inverno de 1984) do
“Priôlo - Boletim para a Conservação da Natureza nos Açores”, onde para além
dos temas ligados à conservação da natureza, continham artigos contra o uso da
energia nuclear e sobre problemas ligados à vida em meios urbanos.
Tendo como principais dinamizadores e fundadores o francês
Gerald le Grand e o vila-franquense Duarte Soares Furtado, que dirigia o
boletim, colaboraram naquele, entre outros, os seguintes naturais de vila
Franca do Campo: António Frias Martins, na altura Prof. Auxiliar Convidado da
Universidade dos Açores, Maria Furtado, da então Divisão de Ambiente da SRES e
Teófilo Braga, que para além de ser membro do NPEPVS-DA, também havia sido um
dos fundadores do Grupo Luta Ecológica, com sede na ilha Terceira.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 2871, 14 de
Agosto de 2013, p.15)