Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
sábado, 16 de janeiro de 2010
Tortura Não é Arte nem Cultura
De acordo com o jornal Diário Insular do passado dia 14 de Janeiro, em breve os Açores vão ter um regulamento de espectáculos tauromáquicos de natureza artística. Mas o que é isto de tauromaquia artística? Nem mais nem menos todas as actividades em que se farpeiam touros (http://base.alra.pt:82/iniciativas/iniciativas/EPpDLR030-09.pdf).
Será a tauromaquia uma arte? Antes de escrevermos algumas linhas sobre o assunto, apresentamos abaixo um pequeno texto da década de 20 do século passado que não perdeu actualidade:
“Tauromaquia! Arte de tourear! ... Que desgraçada concepção de arte! A arte deve ter como objectivo o Belo, e o Belo verdadeiramente belo, deve ser encarado no seu duplo aspecto: material e moral. Portanto o Belo deve ter também um fim útil…que não seja, pelo menos, imoral…Que utilidade ou que beleza poderá haver em farpear touros? Não desfazendo (como é costume dizer-se) da habilidade, do saber e da valentia do homem que se dedica a esta estúpida tarefa, devemos concordar que isso não deve merecer o nome de Arte! Ninguém chama arte, a não ser por ironia, ao trabalho de quem se dedica, embora expondo a vida, a fazer mal, assaltando e roubando o seu semelhante… ou ainda mesmo quando o faça com habilidade, sem empregar meios violentos, como fazem os vigaristas!” (Abilos, A Batalha, Suplemento Semanal Ilustrado, nº119, 8 de Março de 1926)
Dizem os adeptos das touradas que estas são uma manifestação de arte e de cultura, com muitos apaixonados em todo o mundo, entre os quais eminentes homens das letras e das artes, entre os quais estão nomes como os de Goya, Picasso, Vargas Losa e Hemingway.
A verdade é que a nível mundial é cada vez menor o número de países onde ainda ocorrem touradas. Actualmente a tourada só existe em nove países e mesmo nestes a contestação à sua realização tem vindo a aumentar, como é o caso da Espanha onde ela já foi abolida nas Canárias e onde várias cidades já se declararam Livres de Touradas, entre elas Barcelona.
Se é verdade que alguns artistas e escritores são ou foram adeptos da tourada, outros de igual valor foram seus opositores, de que são exemplo Vitor Hugo, Franz Kafka, George Bernard Shaw, Mark Twain.
A nível nacional referiremos os nomes de Alexandre Herculano que considerava a tourada um “espectáculo de eras bárbaras, que a civilização desenvolvendo-se gradualmente por alguns séculos ainda não pode desterrar da Península” e Ferreira de Castro que a propósito escreveu: eu amo a galhardia mas odeio a barbaridade. Eu amo os gestos audaciosos, arrojados, mas detesto-os profundamente sempre que eles se traduzem em crueldade”
Entre nós, como opositor às touradas, destacaríamos o nome do cientista terceirense Aurélio Quintanilha que, entre outras funções, foi professor da Universidade de Coimbra, e que a meados do século passado afirmou o seguinte: "Como homem e como professor não posso deixar de lhes enviar a minha mais completa e entusiástica adesão ao protesto levantada pela Sociedade Protectora dos Animais contra um espectáculo indigno do nosso tempo, da nossa mentalidade, da nossa civilização".
Outro terceirense ilustre, o libertário Adriano Botelho também se pronunciou sobre o pretenso espectáculo das touradas nos seguintes termos: ”fazem-se por outro lado, reclames entusiastas de espectáculos, como as touradas de praça onde por simples prazer se martirizam animais e onde os jorros de sangue quente, os urros de raiva e dor e os estertores da agonia só podem servir para perverter cada vez mais aqueles que se deleitam como aparato dessa luta bruta e violenta, sem qualquer razão que a justifique”.
Mesmo sendo uma tradição, como o é em algumas ilhas dos Açores, como a ilha Terceira, e acreditando que seja cultura ou arte, não é legítimo torturar um animal, no caso em apreço um touro, em nome do que quer que seja.
Numa sociedade moderna, como o é a nossa, não há lugar para a crueldade com os animais. Tortura não é arte nem é cultura!
FONTES:
Anónimo (2002). Contra as touradas. Lisboa: Cadernos d´A Batalha.
http://www.bullfightingfreeeurope.org/index_por.html