quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Incinerar é Queimar o Futuro



Todos sabemos que um dos mais graves problemas ambientais que a socieda¬de açoriana enfrenta é, sem dúvida, o dos resíduos. De há vinte anos a esta parte, embora se tenha feito alguma coisa, muito ficou por fazer para incentivar a redução, a reutilização e a reciclagem. Criminosamente muito pouco porquê, incompetência ou estavam e continuam à espera da milagrosa incineradora?

Vejamos o que nos oferecem as incineradoras:


1- O MITO DA CRIAÇÃO DE EMPREGOS


A incineração cria menos empregos do que um sistema de compostagem e reciclagem. De acordo com Silva (2002), por cada emprego criado por uma incineradora se o investimento fosse na área da reciclagem poder-se-iam criar até 15 empregos, podendo esta proporção ser ainda maior, dependente da quantidade de resíduos tratados.

Por que razão continuam a acenar com a cenoura dos empregos criados pela incineração?


2- A FRAUDE DA ELECTRICIDADE VERDE E DA INCINERAÇÃO COMO PRODUTORA DE ENERGIA


Conhecida como produtora de Energia, visto poder produzir electricidade, uma análise detalhada do ciclo de actividade revela que as incineradoras gastam mais energia do que produzem. Isto é, com a reciclagem dos materiais queimados poupar-se-ia mais energia do que a que é libertada pela queima dos mesmos.

Além disso, a electricidade gerada pelas incineradoras não pode ser considerada electricidade "verde", pois muitos dos resíduos queimados são plásticos derivados do petróleo.

Por último, derivado do cumprimento do protocolo de Quioto, as incineradoras vão ter de pagar uma taxa sobre as emissões de CO2 produzidas, cujo valor é bastante elevado.


3- A MENTIRA DA INOCUIDADE DO PROCESSO PARA A SAÚDE


Os operadores das incineradoras afirmam várias vezes que as emissões estão sob controlo, mas as evidências indicam que este não é o caso. São inúmeros os exemplos que seria fastidioso enumerá-los.

As dioxinas são os principais poluentes associados às incineradoras. Estas são causadoras de uma grande variedade de problemas de saúde que incluem o cancro, danos no sistema imunitário, problemas reprodutivos e de desenvolvimento. Esta tecnologia é a principal fonte de dioxinas a nível mundial.

As incineradoras são a maior fonte de poluição por mercúrio, sendo a sua contaminação de vasto alcance, prejudicando tanto as funções motoras, sensoriais como cognitivas. São também uma fonte significativa de poluição por metais pesados tais como o chumbo, cádmio, arsénico, crómio e berílio.

Outros poluentes que causam preocupação incluem hidrocarbonetos halogénicos, gases ácidos, que são percursores da chuva ácida; partículas que prejudicam as funções pulmonares e gases que provocam o efeito de estufa. Contudo, a caracterização das descargas de poluentes das incineradoras ainda está incompleta; existem nas emissões gasosas e nas cinzas muitos componentes não identificados.

De acordo com relatórios do Greenpeace, do Centro Nacional de Informação Independente sobre os Resíduos (CNIID) e da prestigiada revista de saúde “Lancet”, o facto de viver próximo das incineradoras ou de trabalhar nelas está associado a um conjunto vasto de efeitos sobre a saúde que inclui o cancro, problemas respiratórios, doenças do coração, efeitos no sistema imunitário, incremento de alergias, perda de fertilidade, malformações congénitas, etc.



4 - INCINERAÇÃO, NÃO OBRIGADO!

Numa altura em que em alguns países, como o Canadá, a Nova Zelândia, a Dinamarca e os Estados Unidos da América, está-se a implementar a chamada política do Lixo Zero- uma nova abordagem do problema dos resíduos, que pretende fazer com que a sua produção se aproxime do zero, tornando os aterros e as (cobiçadas?) incineradoras quase dispensáveis, implementando mudanças nos sistemas de produção e distribuição, evitando-se a criação de lixos na origem e mantendo os materiais em circulação permanente - a única solução que defendo é a criação de um sistema integrado de tratamento de resíduos que inclua a redução, a reutilização e a reciclagem.

Depois de qause trinta anos a pugnar por uma sociedade mais justa, limpa e pacífica, não posso embarcar em falsos “realismos”, não posso ceder a chantagens do tipo “antes incineração do que a situação actual”. Seria renegar o meu passado e trair a minha consciência.
Não quero alinhar pelo rebanho, prefiro caminhar só. Não receio ser apodado de utópico ou mesmo de fundamentalista. Como dizia Manuel Gomes Guerreiro, referindo-se aos ecologistas: “a história lhes dará razão e lhes agradecerá”. Estou convencido que a incineração será o amianto do século XXI.

Teófilo Braga

18 de Janeiro de 2009

(depoimento publicado no Correio dos Açores, 20 de Janeiro de 2010)