Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Quercus em risco de desaparecer nos Açores
A Quercus atravessa um período difícil nos Açores. A direcção demitiu-se porque à luz dos seus estatutos é impossível os seus elementos conciliarem a defesa do ambiente com cargos políticos. Falámos com Luís Rodrigues, ex-presidente da direcção.
Qual a situação actual da Quercus no arquipélago dos Açores?
Antes de responder a essa pergunta tenho que sublinhar que é a primeira vez que depois de toda esta novela um meio de comunicação social nos convida a prestar declarações. E muita gente opinou sobre a matéria...
Respondendo em concreto à sua questão, posso dizer-lhe que a Quercus nos Açores de momento não existe. Há sim uma comissão de gestão, da qual faço parte, a par de dois elementos da direcção nacional da Quercus. Todos esperamos que outras pessoas se aproximem para apresentarem uma lista.
Como se chegou a este ponto?
Depois da morte do anterior presidente da Quercus nos Açores, Veríssimo Borges, houve uma grande preocupação e um esforço incrível da anterior direcção em contagiar outras pessoas para formarem uma nova lista.
Mas, volvidas várias assembleias de sócios e outros tantos telefonemas, não apareceu ninguém. Portanto, no dia 4 de Fevereiro, a Quercus iria fechar nos Açores.
Foi aí que eu e dois amigos, o PauloPascoal e o Pedro Arruda, demos um passo em frente para colaborar no que fosse possível -uma direcção colegial, um grupo de pessoas que não deixaria a Quercus morrer na ilha de São Miguel até que surgisse alguém para assumir essa responsabilidade.
É óbvio que conhecíamos os estatutos da Quercus - incluindo o artº 29º , 1º ponto, que aponta um conjunto de incompatibilidades que devem ser avaliadas por uma comissão arbitral - mas o facto de não existir mais ninguém que agarrasse o desafio levou-nos a avançar.
Mas então, conheciam os estatutos?
Sim, tínhamos plena consciência de que nos estatutos havia situações de incompatibilidade que deveriam ser apreciadas por uma comissão arbitral. Mas repare: o anterior responsável da Quercus nos Açores tinha estado há pouco tempo numa lista à Assembleia Legislativa Regional e também não havia mais ninguém. Mas assumimos o risco para que o núcleo da Quercus não fechasse. Depois foi esta campanha absurda de alguns jornalistas, políticos e de pessoas que se dizem ambientalistas.
O facto é que se demitiram!
Sim. Em fim de Janeiro há um conjunto de deliberações da comissão arbitral que aponta para incompatibilidades reais impeditivas da nossa direcção, muito embora os estatutos, a título não vinculativo, já as apontassem.
Só que pelos circuitos normais de disseminação de informação da Quercus ainda não tinham chegado essas deliberações à direcção nacional, muito menos aos núcleos, e quanto mais aos Açores, onde estávamos a recuperar o núcleo.
Qual o motivo para a informação não vos chegar atempadamente?
A Quercus nacional estava em período de eleições.
Só agora vem a público divulgar esta versão. Porquê ?
Só agora é que nos perguntaram (comunicação social).
Não teme que essa explicação, que peca um pouco por ser "tardia", possa ser encarada apenas como uma versão tendente a reparar a imagem?
Não! Isto pode ser facilmente confirmado junto do presidente da Quercus nacional.
Repito: o facto do Veríssimo Borges ter estado numa lista à Assembleia Legislativa Regional deu-nos indicações de que, não obstante existir uma incompatibilidade, essa seria sujeita a uma avaliação da comissão arbitral.
Ma, o tempo corria contra nós e ou avançávamos ou a Quercus fechava nos Açores.
Deixemos os estatutos e vamos falar de bom senso: considera ser plausível uma associação de defesa do ambiente, que normalmente funciona numa lógica de contrapoder, ser encabeçada por membros politicamente activos, um dos quais deputado regional e pelo partido que serve de sustentáculo ao poder (PS)?
Sabíamos que seríamos avaliados de forma contínua. Seria inevitável. Mas repare, nós tínhamos um projecto simples que consistia em três pontos: disseminar o nome da Quercus ao lançar uma campanha ambiental que abrangesse o arquipélago; criar pontos de ligação com as outras associações de ambiente; no que diz respeito às pastas mais complicadas iríamos recrutar "know-how" aos colegas da Quercus nacional, ou seja, nos assuntos que poderiam criar fricções seriam os colegas da Quercus nacional que se deslocariam aos Açores para tomar as rédeas nesses dossiers . Falo, por exemplo, da construção de auto-estradas, do problema da Rocha da Relva (na ilha de São Miguel) , entre outras questões.
Está a dizer que nos assuntos delicados o núcleo da Quercus nos Açores iria pedir "socorro" à Quercus nacional para evitar problemas?
Não era pedir socorro: a Quercus é uma grande organização que se descentraliza por vários núcleos e não podemos ter a veleidade de pensar que poderíamos opinar sobre tudo.
Deveríamos recrutar especialistas em dadas matérias, sobretudo naquelas que não dominávamos ou noutras que pudessem suscitar alguma fricção.
Preferia ter uma organização sob suspeita do que não ter nada?
Sabíamos quer iríamos estar sob avaliação, um olhar atento. Mas repare, a Quercus é uma organização não governamental ambientalista. Quantos jornalistas, associações de empresários e desportistas possuem hoje elementos que tiveram papel político activo? Deixaram de ter convicções?
Tiveram é pretérito, têm é presente. No vosso caso tratava-se de dois políticos no activo, um deputado regional e outro vereador (ambos pelo PS). Mas vamos falar do futuro: se não surgir uma nova via, apolítica portanto, que não choque com os estatutos, a Quercus desaparece nos Açores?
Sim, deixa de haver Quercus.
Como se sente? Está motivado para apresentar nova lista?
Não. Nada. Sinto-me tão enxovalhado com este processo... Digo outra vez: nunca ninguém teve a humildade para me ligar a pedir a minha versão. Nem aos meus colegas.
Só espero que com esta experiência o nome da Quercus tenha sido tão badalado ao ponto de surgir alguém que queira criar uma equipa para liderar a associação que tem já vinte e cinco anos e um grande nome a nível nacional.
Em suma, não se recandidatará à liderança da Quercus?
(cabeça baixa, período de silêncio) Preciso de ponderar.
Pedro Lagarto, Açoriano Oriental,7 de Abril de 2009
Nota- Há uma afirmação do Luís Rodrigues que não sei se corresponde totalmente à verdade. Veríssimo Borges foi canditado independente do Bloco de Esquerda às eleições legislativas regionais, mas em conversa comigo disse-me que iria pedir a suspensão de dirigente da Quercus- São Miguel. Não o fez? (TB)