Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
quinta-feira, 22 de abril de 2010
A PROPÓSITO DO IX ENCONTRO REGIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Vai realizar-se nos próximos dias 22, 23 e 24 de Abril na cidade da Horta o IX EREA-EE (Encontro Regional de Educação Ambiental e Eco-escolas- Preservação e Promoção do Espaço Natural organizado por “encomenda”(1) do Governo Regional pela associação denominada Azórica.
Este encontro, realizado numa altura em que é notório o desinvestimento na educação ambiental, tem, do nosso ponto de vista,dois objectivos ocultos: cumprir um ritual anual, nomeadamente no que às eco-escolas diz respeito, e assinalar uma mudança de paradigma,isto é acabar de vez com o pouco da reflexão que se fazia a propósito
dos objectivos, estratégias e práticas da educação ambiental.
Através da consulta ao programa, verifica-se que está arredada uma reflexão aprofundada sobre o projecto eco-escolas. Com efeito, não basta apresentar um ou outro caso de aparente sucesso, pelo contrário,seria de todo o interesse averiguar a razão ou razões que levam a que aquele projecto não contar com o empenho dos Conselhos Executivos das Escolas, ser implementado quase solitariamente pelos respectivos coordenadores, sobretudo nos graus de ensino mais elevados, não
contribuir em nada para a alteração das práticas dos alunos e muito menos da escola no seu todo, como por exemplo levar à redução dos consumos de água, energia e papel, etc.
Se em relação às esco-escolas o que mais tem interessado à tutela do ambiente, como à da educação que se preocupa em demasia com o sucesso estatístico, é o número de escolas que recebem o galardão, em relação à educação ambiental, tanto nas escolas, como nas ecotecas ou mesmo nas associações ambientalistas podemos dizer que sofre um desvio “biologista”, isto é transformou-se num apoio ao ensino formal da biologia já que os temas mais abordados são a flora e a fauna. Por esta razão, concordamos com Luísa Schmidt, Joaquim Nave e João Guerra quando dizem que a educação ambiental tem sido um suplemento recreativo e infantilizado.
Com a integração das Ecotecas nos Parques Naturais irá intensificar-se a deriva conservacionista, isto é serão abandonadas outras áreas temáticas que, embora timidamente, eram tidas em consideração por algumas delas, como as questões ligadas à saúde, à alimentação, ao consumo/consumismo, à qualidade de vida, etc., ficando-se por uma temática única, a da conservação da natureza.
O declínio da educação ambiental nos Açores deve-se ao desinteresse por parte das entidades oficiais em aprovar e implementar uma estratégia regional, tendo como pilares a nível institucional as secretarias que tutelam a educação e o ambiente, e à incapacidade por parte das ONGA, resultado do défice de cidadania da sociedade açoriana e do seguidismo de alguns dirigentes em relação ao que é ditado pelos
sucessivos detentores da pasta do ambiente, em pelo reivindicar (o ideal seria implementar) uma educação ambiental que de acordo com Pablo Cartea deveria “promover acções com um duplo objectivo: por um lado promover a redução da pressão sobre um ambiente finito na sua capacidade para gerar recursos e para reabsorver impactos e avançar na satisfação universal, justa e equitativa das necessidades humanas”.
(1) Os encontros anteriores foram da responsabilidade da Direcção Regional do Ambiente. Nenhuma ONGA dos Açores tem capacidade,nomeadamente financeira, para por si só implementar um projecto desta natureza.
Pico da Pedra, 22 de Abril de 2010
Teófilo Braga