Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
terça-feira, 12 de maio de 2009
A PROPÓSITO DAS TOURADAS PICADAS E TOUROS DE MORTE NO PARLAMENTO AÇORIANO
Imagem de In Concreto
O que é que justifica a pretensão institucional de se legalizarem as touradas picadas e os touros de morte nos Açores?
Não certamente a reposição de uma tradição açoriana, que nunca existiu nem sequer na Ilha Terceira!
Nem tal pretensão se justifica pelo maior primor da lide dos touros em praça!
As touradas são um espectáculo que mesmo na Ilha Terceira está em crise. Em crise como espectáculo e em crise como negócio.
Como negócio já entrou na voragem do “crescimento” com que, na gíria da soberba gestão de pacotilha, toda a actividade empresarial se deve conduzir, impondo o alargamento do “mercado” a novas ilhas e de novos públicos na Ilha das touradas.
Como espectáculo está numa encruzilhada: a tradição já não é suficiente para chamar aficcionados em número capaz de suportar com as despesas envolvidas com a sua realização e não há quem a título privado ou de estado queira ou possa fazê-lo.
Então, der por onde der, há que se achar novos espectadores para dar novo fôlego ao negócio para bem da arrecadação dos benefícios para o estado e para os empresários engordarem na razão directa do emagrecimento dos logrados que esbulharam.
Esta é a razão dos deputados e deputadas com mais elevado sentido de “estado”, e com “sacrifício” das suas “individuais inclinações”, avançarem sem pudor e sem disfarce para mais uma fraude embrulhada em mais uma grosseira mentira.
Garante o egrégio regime burguês com isso um alívio em duplicado na medida em que acumula de mão beijada dividendos, recebendo o que por outra forma não lho queriam dar. Simultaneamente conduz a salvo o descarregar da revolta das massas desviada assim do corpo dos responsáveis para o corpo do boi e de mais algum aleivoso como eu e outros que se batem contra a ignomínia ou fazem o retrato da acção.
Sou contra as touradas picadas e os touros de morte?
Sou. Sim. Sou contra.
E sou também contra aqueles e aquelas que a coberto de uma pseudo exaltação da coragem cobardemente lavam as mãos ou abertamente abraçam os mais brutais desmandos usando para o efeito os mais fracos como pasto para os seus prazeres.
As touradas em Portugal foram e por ora ainda se mantêm, creio, como um lugar onde se honra a arte e destreza no afrontar o touro fazendo corpo com o cavalo ou frente ao animal a peito aberto se lhe faz a pega. Esta, se é de tradição que se quer falar, é que é a nossa tradição. Rompida só em situações de fronteira ou episódicos gestos de afrontação, como a conhecida última corrida real em Salvaterra de Magos, no século dezoito, em que o Marquês de Marialva desce a terreiro e mata o touro que lhe acabara de matar o filho.
Texto: Pedro Pacheco