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Mata da Santa transformada em pastagem
04 Novembro 2008 [Regional]
A direcção regional dos Serviços Florestais confirmou ontem ao “Correio dos Açores” que autorizou a transformação da conhecida “mata da santa” em pastagem, decisão que está a gerar fortes protestos de moradores, ecologistas e ambientalistas.
Na direcção regional do Ambiente, foi ainda ontem à tarde comunicado pessoalmente a moradores que o Plano Director Municipal (posto em causa por esta decisão dos Serviços Florestais) é soberano e a proprietária tem dois anos para reflorestar a zona.
Os responsáveis pelo Ambiente que falaram com os moradores disseram que, à partida, não podiam agir neste caso, mas que a câmara deve fazer cumprir o Plano Director Municipal.
Objectivamente, a proprietária da “mata da santa” foi autorizada a abater 50 mil metros quadrados (38 alqueires) de árvores numa zona florestal (principalmente acácias e incensos), transformando toda a área numa pastagem.
O túmulo onde se encontra a imagem de uma santa, venerada por muitos populares que lá depositam flores, ficará no meio de uma pastagem em vez de, como historicamente sempre aconteceu, numa mata.
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Esta decisão dos Serviços Florestais não respeita o Plano Director Municipal da Lagoa quando classifica a zona como um espaço silvo-pastoril onde está interdita “a destruição da camada arável do solo e do relevo natural bem como do coberto vegetal quando altera o valor estético da paisagem ou contribua para acelerar o processo erosivo dos solos”.
É objectivamente interdito “o corte raro de árvores, salto se estiver abrangido em projecto de reflorestação aprovado por entidade competente”, o que não é o caso.
Está também interdita a deposição no local de materiais sobrantes, ou de sucata, mesmo que temporariamente. E o facto é que, recentemente, camiões transportaram para a zona materiais sobrantes de um aterro feito no Livramento de um espaço destinado à habitação.
Contactada por populares, da câmara municipal da Lagoa foi comunicado que nada poderia fazer perante a decisão da direcção regional dos Serviços Florestais.
Rolando Cabral foi muito claro nas declarações ao ‘Correio dos Açores’. “Os serviços florestais analisaram o pedido de transformação de um terreno em pastagem. Tecnicamente, não viram inviabilidade”.
O director dos Serviços Florestais minimizou a relevância da mata. Trata-se, como disse, de “vegetação dispersa e instantânea”.
Pretendeu sublinhar que os Serviços Florestais “têm a preocupação de não aumentar a área de pastagem, salvo casos pontuais em que, tecnicamente, são justificáveis, que é o caso em apreço”, diz Rolando Cabral.
O facto é que a conhecida “mata da santa”, entre as canadas das Socas e Nova do Pópulo, está, na realidade, a ser devastada mediante autorização governamental.
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A nota de reportagem do “Correio dos Açores” a chamar a atenção para o culto de uma imagem de santa no meio de uma mata, no Livramento, despertou a curiosidade de muitos micaelenses e estrangeiros que acorreram à mata para verem com os próprios olhos o que o jornalista descreveu.
Um grupo de moradores interessou-se particularmente por denunciar o avanço de máquinas na mata transformando o arvoredo em pastagem e protestou junto da câmara municipal da Lagoa e direcção regional dos Serviços Florestais.
A mata está enquadrada num trilho turístico de cavalos, por onde circulam europeus nórdicos e fica localizada numa zona de moradias e potencialmente turística.
Autor: João Paz
(Extraído do jornal Correio dos Açores)