domingo, 27 de novembro de 2011

A Educação Ambiental está presa



Em muitos textos que escrevi sobre educação ambiental, mostrei o meu descontentamento pela deriva naturalista da mesma ou, no limite, pela sua transformação em meras aulas de botânica, zoologia ou de biologia.

Depois de, com muita pompa, ter sida anunciada a extensão da rede das ecotecas a todos os concelhos dos Açores, nos últimos tempos, tem-se assistido ao seu encerramento. A título de exemplo, refiro-me aqui ao caso da Ecoteca da Ribeira Grande, que desde 2002 funcionou em instalações cedidas pela Junta de Freguesia do Pico da Pedra, e que, a partir de Junho de 2008, passou a funcionar em instalações cedidas pela Câmara Municipal da Ribeira Grande, cuja remodelação terá custado, ao erário público cerca de 136 mil euros. O custo da Ecoteca de Ponta Delgada, instalada na Quinta do Priôlo permanece desconhecido.

Para além do não cumprimento das promessas, no caso das ecotecas assistiu-se ao desrespeito por algumas instituições, como as associações que as geriam e mesmo desconsideração pelas pessoas que voluntariamente eram responsáveis pela sua gestão.

Ainda no que concerne à ilha de São Miguel e mais concretamente no que diz respeito à associação a que presidi, os Amigos dos Açores, - as outras não foram excepção - assistiu-se à sua inaceitável instrumentalização. Com efeito, se durante o período em que presidi à mesma, era da responsabilidade da associação a apresentação do plano de actividades da ecoteca e a gestão das verbas disponibilizadas pelo governo, depois da minha saída, o acordo tácito ou explicito que existia foi varrido para o caixote do lixo e a associação passou a servir, apenas, para pagar as despesas correntes e os funcionários que, ou estavam destacados de outro serviço, no caso dos professores, ou eram contratados.

Bem sei que era difícil a qualquer presidente de uma associação não aceitar as novas condições impostas, pois iria criar problemas às pessoas que estavam a trabalhar nas ecotecas, e que, nalguns casos, de modo nenhum podiam perder a sua única fonte de rendimento. O que é inadmissível é a alteração das “regras” unilateralmente quando o jogo já havia começado há muito.

Esta situação não se passou apenas com uma associação, mas com várias. A única diferença é que enquanto uma(s) achava(m) que deveria(m) ser independente(s) do poder político, muitas delas até gostavam (gostam) de ser instrumentalizadas.

Prosseguindo, o rol das lamentações sobre a (des) educação ambiental queria mencionar o facto das eco-escolas, apesar das várias críticas que a elas tenho feito, agora estarem mais desapoiadas. Se quando as ecotecas eram geridas pelas associações era fácil os seus colaboradores participarem nas reuniões dos respectivos conselhos, agora, ou pelo menos nos últimos tempos, a situação alterou-se. Embora, pela minha experiência, ache que, nalguns casos, pouca falta faziam e fazem, pois muito pouco ou nada têm a dar, não tenho dúvida de que contribuíam para com que os docentes sentissem que não estavam sozinhos a remar contra a maré.

Por último, a comunicação social anunciou que o Governo Regional apresentou, recentemente, o Plano Regional de Educação e Sensibilização Ambiental dos Açores (PRESAA). Estranho é que um Plano Estratégico elaborado para um período de doze anos (2012-2024), seja apresentado sem antes ter recebido contributos de especialistas na matéria e dos presumíveis destinatários: educadores, professores, associações, empresas, ONGA, etc. Não deveria ser procurado um consenso a nível regional, ou pensa o executivo que vai perpetuar-se no poder até 2024?

Como é habitual noutros contextos, no documento, é invocada a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), proposta pela UNESCO, mas ignora-se por completo a maioria dos temas do desenvolvimento sustentável, referidos pela Estratégica da CEE/ONU para a Educação para o Desenvolviemnto Sustentável, como o combate à pobreza, a cidadania, a ética, a democracia e a governança, a segurança, os direitos humanos, o desenvolvimento rural e urbano e os padrões de produção e de consumo.
Em suma, por mais bem embrulhado que esteja, para muito pouco servirá o documento em referência. A educação ambiental ou a sua deriva, a educação para o desenvolvimento sustentável, nos Açores, continuará presa a uma visão redutora de ambiente.
Teófilo Braga
Correio dos Açores, 23 de Novembro de 2011