quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cooperação entre associações da Macaronésia


Foto extraida daqui:http://bisbis.blogspot.com/

A leitura do livro “Canárias en clave de (l) sol. Artículos ecologistas 2000/2001” da autoria de Agapito de Cruz Pinto, fez-me recordar as tentativas que, desde sempre, envidei, enquanto activista de uma associação de defesa do ambiente, para trabalhar em rede com associações de outras paragens, nomeadamente dos arquipélagos da Madeira e das Canárias.

Se hoje, com as novas tecnologias de informação e comunicação, é mais fácil a troca de experiências entre pessoas individuais e colectivas de todo o mundo, na altura, por volta de 1990, em que os Amigos dos Açores tentaram colaborar com outras organizações não governamentais dos outros arquipélagos da Macaronésia, o único meio disponível era o correio postal e o telefone que era extremamente caro. Devido a este facto, pouco foi feito para além de alguma troca de informações e publicações.
Na Madeira, o único contacto existente era com o clube escolar “Barbusano”, da Escola Secundária Francisco Franco, do Funchal, fundado em Outubro de 1988 que entre outros problemas, elegia como principais o aumento da área ocupada por eucaliptos e a expansão da zona turística que ameaçava a perda irreparável do solo agrícola.
Este contacto, que era feito por intermédio do Doutor Raimundo Quintal, ainda hoje se mantém através da associação a que ele preside: a Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal que desenvolve um trabalho de reflorestação daquele Parque Ecológico, nomeadamente do Pico do Areeiro e do Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha, o qual é um exemplo ímpar no que ao voluntariado ambiental diz respeito.

Em relação às Canárias, os contactos estabelecidos foram feitos com o TEA- Tagoror Ecologista Achinech, mais tarde designado por Tagoror Ecologista Alternativo de que Agapito de Cruz Pinto foi um dos pilares ou mesmo o verdadeiro motor. De acordo com o autor do prefácio do livro mencionado, o TEA foi um agrupamento de ecologistas radicais da ilha de Tenerife que durante a sua existência foi quase a única organização que combateu muitas agressões ambientais de que foi vítima a ilha de Tenerife.

Em texto publicado no número um do Boletim dos Amigos dos Açores/Associação Ecológica “Vidália”, referente ao trimestre Outubro/Dezembro de 1989, são referidos os grandes problemas que, segundo o TEA, ameaçavam a natureza e, em geral, a vida nas Canárias e que eram os seguintes:

“Os incêndios periódicos, a falta de planos de emergência ante catástrofes naturais, o excessivo aumento do parque automobilístico, o destino de um solo, só por si limitado, onde permaneça a presença militar, as condições análogas às do Terceiro Mundo, sofridas por uma população amontoada em pequenos guetos, que contrastam com o luxo das urbanizações turísticas, a permanente ameaça ante os detritos tóxicos e nucleares, lançados pelas grandes potências ao largo das costas Africana e do Atlântico Sul.”

Numa altura em que o mundo atravessa uma crise sócio-ecológica profunda e em que a região não é o oásis que alguns queriam que fosse, seria de todo o interesse que se repensasse a “vida democrática”.

Votar de quatro em quatro anos sabe a pouco, possuir associações ambientalistas (reais ou inventadas), ou outras, completamente dependentes dos governos é o reflexo da asfixia a que está submetida (ou a que voluntariamente se submeteu) a sociedade açoriana.

Hoje, talvez, seria de todo o interesse o surgimento, nos Açores, de pequenas associações/colectivos completamente livres e verdadeiramente independentes e democráticas e a vida do TEA, nomeadamente os seus princípios ideológicos e o seu programa, seria um dos exemplo a estudar.

Para terminar, aqui vão alguns dos princípios que norteavam a actividade do TEA:

- Não preferência pela actividade institucional, não optando por denúncias administrativas ou jurídicas;

- Recusa de patrocínios por parte da administração pública ou de privados pelo facto de existirem outras necessidades sociais mais urgentes e pela hipocrisia que é ser financiado pelos principais predadores do ambiente e porque os patrocínios, para além de levarem a uma dependência são um dos processos usados para a domesticação dos movimentos sociais;

- Opção por um funcionamento interno democrático, anti-hierárquico, plural e assembleário;

Teófilo Braga
Correio dos Açores, 17 de Novembro de 2011