Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
terça-feira, 10 de maio de 2011
Falta de cultura cívica é responsável pela pouca participação social e política dos açorianos
Ecologista Teófilo Braga defendeu mestrado na Universidade dos Açores: Falta de cultura cívica é responsável pela pouca participação social e política dos açorianos
A debilidade do sistema político e a falta de disponibilidade pessoal surgem em segundo e terceiro lugares entre as razões apontadas para o afastamento dos açorianos dos movimentos cívicos e da participação na política do arquipélago.
A ‘falta de cultura cívica’ é a principal razão da baixa participação social e política da esmagadora maioria dos açorianos, além da ‘debilidade do sistema político’ e da falta de disponibilidade pessoal. Esta é uma das conclusões do mestrado em ‘Educação Ambiental – Associativismo, participação e Consciência Ambiental’ defendida por Teófilo José Soares Braga na Universidade dos Açores.
Este trabalho, do conhecido ecologista açoriano Teófilo Braga – colaborador permanente do ‘Correio dos Açores’ - teve por objectivo principal tentar compreender melhor a participação social e política, as atitudes e os comportamentos ambientais de dois grupos de açorianos, os que pertencem e os que não são membros de uma OEA- Organização Ambiental, Ecologista ou Associação de Protecção de Animais e do Património.
Há muitos pontos comuns entre os membros e não membros de uma organização ecologista no que diz respeito às diversas formas de participação na vida social e política dos Açores. Com efeito, embora a participação dos que estão na organização ambiental seja globalmente maior, com excepção do recurso à greve, as formas de participação mais assumidas são passivas, isto é: Votar em eleições, manter-se informado sobre questões sociais e políticas e subscrever abaixo-assinados. Entre as participações menos práticas estão a pertença a um partido político e contactar jornais, rádios ou televisões para dar a sua opinião, fazer reclamações e denúncias.
Fica claro no mestrado de Teófilo Braga que a pertença a uma organização ecologista é um factor de diferenciação relativamente às formas de participar na vida social e política. Ficou demonstrado que “é mais frequente encontrar entre os membros de uma organização ecologista quem faça donativos a instituições, pertença a associações profissionais, participe em discussões públicas, se mantenha informado sobre questões sociais e políticas, contacte instituições ou serviços, contacte jornais, rádios ou televisões, pertença a um sindicato, pertença a associações cívicas, subscreva abaixo-assinados e vote em eleições”.
Para a sua concretização do estudo, foi elaborado um inquérito por questionário constituído por três partes: Na primeira, procurou-se conhecer melhor a participação política e social; na segunda, as atitudes e práticas ambientais; e, na terceira, as características sócio-demográficas e os posicionamentos sociais. O questionário foi respondido por 113 membros de uma Organização Ambiental Ecologista e 117 não membros e leva a alguns conclusões que se podem generalizar à sociedade açoriana.
Em geral, verificou-se que a pertença ou não a uma Organização Ambiental Ecologista nos Açores é um factor diferenciador da participação cívica, das atitudes e dos comportamentos dos cidadãos. Isto é, esta tese de mestrado de Teófilo Braga leva à conclusão de que a pertença a uma organização ambiental está relacionada com uma maior participação e com atitudes e comportamentos pro-ambientais.
Ao nível do voluntariado ambiental a principal razão apontada pelos inquiridos para ser voluntário foi a auto-realização; a segunda, o impacto social; a terceira a solidariedade e em último lugar as experiências em grupo.
O mestrado define o perfil dos açorianos que mais participam na vida social e política e os que mais apresentam atitudes e comportamentos pro-ambientais: Eles têm idade igual ou superior a 30 anos. São homens, casados ou que vivem em união de facto. Têm como grau de escolaridade o ensino superior, exercem a profissão a tempo inteiro e os que trabalham 45 e mais horas. Têm uma profissão ligada ao ensino, estão posicionados do centro-esquerda à extrema-esquerda, e não seguem nenhuma religião.
Em termos de participação cívica, os membros de uma organização ecologista têm “valores de pertença mais elevados” em Associações Recreativas, Culturais ou Educativas”, seguido de Clubes Desportivos ou Clubes de Actividades ao Ar Livre e, em terceiro lugar, a um sindicato. Estes inquiridos participam menos na Organização de Pensionistas ou Reformados, na Associação de Moradores ou Associação de Desenvolvimento Local.
Já os inquiridos que não são membros de organizações ecologistas optam mais por um Clube Desportivo ou Clube de Actividades ao Ar Livre, por sindicatos e associações do tipo “Associação de Juventude” (ex: Escuteiros, Clubes de Jovens). Em contrapartida, não fazem parte de uma Organização de Defesa dos Direitos Humanos, Pacifista ou Feminista e um número muito residual pertence a uma organização do tipo Associação de Moradores ou Associação de Desenvolvimento Local.
Chegou-se à conclusão que é mais frequente encontrar entre os membros de uma organização ecologista quem, também, pertença ao seguinte tipo de associações: “Clube Desportivo ou Clube de Actividades ao Ar Livre”, “Organização de Defesa dos Direitos Humanos, Pacifista ou Feminista”, “Organização de Solidariedade Social (apoio a idosos, deficientes, crianças, doentes, etc.)”, “Associação Recreativa, Cultural ou Educativa”, “Partido Político”, “Sindicato”, “Organização Socioprofissional”, “Associação de Consumidores ou de Automobilistas” e “Associação de Pais”.
Membros de organizações
ecologístas participam mais
Fica também demonstrado no estudo que é diferente o tipo de relação que membros e ‘não membros’ de uma organização ecologista mantêm com as associações de que fazem parte. Isto porque os membros são os que mais se envolvem nas suas associações. “É mais frequente” encontrá-los entre os que entre os que doem dinheiro, subscrevem abaixo – assinados, participem em reuniões/sessões públicas e manifestações e denuncie situações “irregulares”.
O mestrado chega também a conclusões óbvias: Os membros de uma organização ecologista participam mais nas questões ambientais (nos últimos cinco anos) do que os não membros.
As três formas de participação mais praticadas por todos os inquiridos foram: “Assinou uma petição/abaixo-assinado relacionada com uma questão ambiental”; “comprou deliberadamente certos produtos por razões éticas, políticas ou ambientais”; e “não adquiriu certos produtos de consumo por razões éticas, políticas ou ambientais (porque são produzidos por crianças, utilizam animais na sua experimentação, etc.)”. A assinatura de uma petição foi a mais praticada por todos.
Relativamente às formas menos praticadas, foram os membros de uma organização ecologista quem mais “participou numa manifestação sobre uma questão ambiental” e “contactou jornais, rádios ou televisões”. Já os não membros da organização ecologista apresentam como forma de participação que menos praticam a de dar dinheiro a uma associação ambientalista e o envolvimento numa manifestação sobre uma questão ambiental.
Assim, conclui o estudo, é mais frequente encontrar entre os membros de uma Organização Ambiental Ecologista quem assinou uma petição/abaixo-assinado relacionada com uma questão ambiental; deu dinheiro a uma associação ambientalista; participou numa manifestação sobre uma questão ambiental; fez uma reclamação; uma denúncia ou apresentou uma sugestão junto das entidades responsáveis pelo ambiente (governo ou autarquias); contactou jornais, rádios ou televisões (dar a sua opinião, fazer reclamações e denúncias sobre questões ambientais); comprou deliberadamente certos produtos por razões éticas, políticas ou ambientais e não adquiriu certos produtos de consumo por razões éticas, políticas ou ambientais (porque são produzidos por crianças, utilizam animais na sua experimentação, etc.).
Quem é voluntário na defesa
do ambiente açoriano?
O estudo identificou também o perfil do voluntariado ambiental nos Açores: É exercido essencialmente por homens, com idade igual ou superior a 30 anos, casados ou vivendo em união de facto, com habilitação de nível superior, que exercem a profissão a tempo inteiro, a maioria exercendo uma profissão incluída no grupo dos especialistas, que se posicionam à esquerda (do centro esquerda à extrema-esquerda) e que professam uma religião, mas não são praticantes, que trabalham como voluntários há mais de seis anos e que dedicam, ao voluntariado, em média, até 300 horas anuais. Contudo, apenas houve relações estatisticamente significativa entre o ser voluntário e o posicionamento político.
Em relação ao tempo de permanência no voluntariado, verificou-se que é mais frequente encontrar quem seja voluntário há dez ou mais anos, entre os casados e os que vivem em união de facto e os que têm uma profissão ligada ao ensino.
A principal razão apontada para a realização do trabalho voluntário foi a auto-realização; a segunda, o impacto social; a terceira a solidariedade; e, em último lugar, as experiências em grupo.
Os incentivos que mais satisfazem os voluntários são os relacionados com a participação em outras actividades da organização, descontos e/ou ofertas de publicações, o aparecimento do nome em publicações e a participação em conferências.
Foram detectadas algumas diferenças entre as respostas dos membros e ‘não membros’ de uma Organização Ambiental Ecologista no que diz respeito à confiança na ciência e ao seu papel no mundo de hoje. Assim, é ligeiramente maior a percentagem dos ‘não membros’ que concorda ou concorda totalmente com a afirmação: “Confiamos demasiado na ciência e não o suficiente na fé e nos sentimentos”.
Embora seja um pequeno número, é entre os ‘não membros’ em organizações ecologistas que estão os que concordam ou concordam totalmente com a afirmação “de um modo geral, a ciência moderna causa mais prejuízos do que benefícios”.
Por último, embora seja maior o número dos que acham que não é possível resolver os problemas ambientais apenas recorrendo à ciência, é maior o número dos ‘não membros’ que concorda ou concorda totalmente com a capacidade da “ciência moderna resolver os problemas ambientais alterando pouco o nosso estilo de vida”.
Resíduos sólidos urbanos “é a ameaça
ambiental mais perigosa...”
Foram identificadas diferenças entre a posição dos membros e ‘não membros’ de uma organização ecologista relativamente às ameaças ambientais. Assim, para os membros a principal ameaça é a elevada a produção per capita de resíduos sólidos urbanos associada ao “inadequado tratamento e destino final”, para os segundos é o aumento da temperatura do Planeta causado pelo efeito de estufa. A ameaça menos “escolhida” foi a presença nos Açores de espécies (de fauna e de flora) exóticas. Enquanto a maioria dos membros de organizações ecológicas considera as espécies exóticas “extremamente perigosa ou muito perigosa para o ambiente”, há um número significativo (aproximadamente 1/3) dos ‘não membros’ que a considera pouco ou nada perigosa para o ambiente.
O estudo leva, por fim, à conclusão que é mais frequente encontrar entre os membros de uma organização ecológica quem considere “extremamente perigosa ou muito perigosa, para o ambiente dos Açores, as alterações do uso do solo (arroteias para a criação de pastagens intensivas, etc.); os pesticidas e adubos químicos usados na agricultura; a presença nos Açores de espécies (de fauna e de flora) exóticas, algumas delas invasoras; e a elevada produção per capita de resíduos sólidos urbanos associada ao” inadequado tratamento e destino final.” Ficaram de fora o uso de combustíveis fósseis e o aumento da temperatura do Planeta causado pelo efeito de estufa, “possivelmente por se tratar de assuntos, relacionados entre si, a que a comunicação social tem dado muita ênfase nos últimos tempos”.
Para todos os inquiridos, são os Centros de Investigação das Universidades, seguidos dos grupos ambientais as fontes de informação sobre questões ambientais que “merecem mais confiança”. No pólo oposto, situam-se as empresas e indústrias e os serviços governamentais em que aquela é muito reduzida.
Há coincidência nas acções que poderiam contribuir com mais eficácia para a resolução dos problemas ambientais, tanto nas mais escolhidas como nas menos escolhidas. Assim, para os inquiridos, as acções mais escolhidas foram “aumentar a consciência ambiental”, em primeiro lugar; “fazer cumprir/reforçar a legislação ambiental”, em segundo lugar; e “fazer com que a legislação Nacional e da União Europeia seja mais rigorosa, aplicando multas aos prevaricadores”, em terceiro lugar. Quanto às menos escolhidas, foram “confiar nas iniciativas desenvolvidas pelas indústrias, pelos agricultores, etc.” e “fazer com que todos paguem mais tanto nos impostos como nos preços, etc., para cobrir os custos ambientais”.
Estas opções podem querer dizer que todos os respondentes acreditam mais na acção das pessoas (alteração dos comportamentos individuais) para proteger o ambiente do que nas instituições ou em “imposições” vindas do “exterior”.
Entre as diferentes acções que poderiam contribuir mais eficazmente para a resolução dos problemas ambientais, apenas os ‘não membros’ em organizações ambientais ecológicas escolheram confiar nas iniciativas desenvolvidas pelas indústrias e agricultores.
Autor: João Paz
08 Maio 2011
Fonte: Correio dos Açores