quarta-feira, 25 de maio de 2011

Condecoração de Veríssimo Borges: Justiça e hipocrisia



No próximo dia 13 de Junho, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores vai condecorar algumas pessoas e instituições. Entre elas, consta Veríssimo Borges, antigo dirigente da Quercus, dinamizador do SOS-Lagoas e membro dos Amigos dos Açores.
Como o espaço que me é concedido pelo Correio dos Açores não permite elaborar um texto onde possa registar tudo o que é do meu conhecimento da actividade do Veríssimo em prol de uns Açores mais solidários e ecologicamente sustentáveis, deixo aqui apenas alguns apontamentos.
A militância ambientalista do Veríssimo terá começado quase em simultâneo com a sua adesão aos Amigos dos Açores, em Junho de 1993, onde chegou a estar presente em reuniões da direcção como convidado, e com o surgimento do movimento SOS- Lagoas, que surgiu com o objectivo de alertar a opinião pública para o estado de degradação das Lagoas dos Açores, nomeadamente da Lagoa das Furnas. As acções do SOS- Lagoas foram esporádicas no tempo (92-94 e 99), sendo, curiosamente, os pontos mais altos coincidentes com as visitas dos Presidentes da República (Mário Soares e Jorge Sampaio) aos Açores.
A criação do Núcleo de São Miguel da Quercus, terá ocorrido em 1994, por iniciativa da Direcção Nacional daquela associação. Com efeito, o presidente dos Amigos dos Açores, foi contactado por Viriato Soromenho Marques que propôs a transformação daquela associação regional em núcleo da Quercus, sugestão que chegou a ser discutida e que foi rejeitada. Aquando da presidência aberta de Mário Soares sobre ambiente, durante um jantar nas Furnas, que contou com a presença do presidente nacional da Quercus, Teófilo Braga voltou a afirmar a sua não intenção de dirigir o núcleo dos Açores da Quercus e na altura apresentou, a Viriato Soromenho Marques, Veríssimo Borges, mencionando que seria a pessoa ideal para liderar a Quercus na Região.
Desde que conheci o Veríssimo mantive com ele um contacto regular. Com efeito, desde então trocávamos opiniões sobre os mais diversos temas e tínhamos um “acordo tácito”, isto é a Quercus ficava com os temas resíduos e lagoas enquanto a temática das áreas protegidas e a da educação ambiental ficavam sob a alçada dos Amigos dos Açores, o que não impedia que qualquer associação se pronunciasse sobre qualquer assunto desde que o achasse por bem.
O Veríssimo nunca se deixou embalar pelo canto daqueles que achavam que era importante a criação, nos Açores, de uma Federação Regional de Associações Ambientalistas e da Defesa do Património, apesar das várias tentativas que terão sido “induzidas” pelo próprio Governo Regional. Sendo duvidosas ou limitadas as vantagens da existência de uma Federação, a grande desvantagem seria o completo controlo por parte do estado que teria como interlocutor apenas uma voz cuja existência só seria possível com o apoio daquele, já que as diversas associações existentes debatiam-se e debatem-se com falta de recursos e com diminuta capacidade organizativa.
As grandes batalhas do Veríssimo foram a defesa das lagoas e a implementação de um sistema de gestão de resíduos sólidos que tivesse em conta a política dos três R (Reduzir, Recuperar e Reciclar). Se a primeira ainda não está ganha, a segunda parece-nos perdida. Assim, considero que, em lugar da sociedade sustentável que ele defendia, com as políticas que continuam a ser implementadas está a ser construída uma sociedade insuportável. Daí que, se considero mais do que justa a condecoração que ele vai receber, também considero revoltante assistir a esta homenagem no momento em que a Região se prepara para implementar o projecto que ele mais combatia: a incineração de resíduos sólidos urbanos.

Autor: Teófilo Braga

25 de Maio de 2011

Fonte: Correio dos Açores