quinta-feira, 14 de abril de 2011

A propósito da Energia Nuclear



Com os pés na terra... (1): A Propósito da Energia Nuclear
“Quando você ouvir ‘não há perigo imediato’ [de radiação nuclear] então é hora de correr para o mais longe e o mais rápido que você puder” (Alexey Yablokov)

1- Reencontro
No final da década de oitenta do século passado, era professor do quadro de nomeação definitiva da Escola Secundária Antero de Quental, em Ponta Delgada, quando na primeira aula da disciplina de Ciências Físico-Químicas, aula de apresentação, verifico que tenho, entre os meus alunos, uma jovem japonesa.
Ávida por conhecer São Miguel, a Nao Makino calcorreou comigo alguns dos recantos mais belos da nossa ilha, participando no projecto “Conhecer para Proteger”, iniciativa do então Núcleo dos Açores dos Amigos da Terra - Associação Portuguesa de Ecologistas, do qual era um dos dinamizadores.
Perdido o contacto, durante cerca de três décadas, através de uma conhecida rede social da Internet, voltei a ter notícias da Nao Makino por ocasião do sismo e do tsunami a ele associado, ocorridos no passado dia 11 de Março, no Japão, e do acidente nuclear com as centrais nucleares japonesas.

2- O Lixo Nuclear
Uma solução segura para o depósito final dos resíduos radioactivos gerados pelas centrais nucleares continua à espera de ser encontrado por mais engenhosas que sejam as alternativas propostas.
Sobre este assunto, vale a pena recordar que antes da Convenção Internacional de Londres ter aprovado, em finais de 1993, uma interdição total da imersão de resíduos radioactivos nos mares, a 600 milhas do nosso arquipélago existiam sete “cemitérios” onde eram lançados os resíduos radioactivos da laboração de 40 centrais nucleares europeias.
Em 1982, o Governo Regional dos Açores e a maioria dos partidos políticos com actividade na Região tomaram posição contra os lançamentos de resíduos no Oceano Atlântico, a 600 milhas do nosso arquipélago, posição que não foi seguida pelo governo central que não tomou qualquer posição sobre o assunto.
Em 1983, face ao previsto lançamento de resíduos nucleares na “Fossa do Atlântico”, por parte de Grã-Bretanha, como forma de protesto, na Terceira, foi lançado lixo no cemitério dos ingleses. Curiosamente o anunciado lançamento foi adiado devido ao boicote ao carregamento dos contentores feito pelos estivadores filiados em diversos sindicatos britânicos.

3- A Segurança
A 26 de Abril de 1986, na Ucrânia, então integrada na ex- União Soviética, terá ocorrido o maior acidente da história da energia nuclear cujas consequências nunca serão conhecidas do público pois são muito poderosos os defensores e quem beneficia com os lucros gerados pelas centrais nucleares. A título de exemplo, a que devia ser neutra ONU aponta como consequência do acidente 57 mortes directas e 4 mil casos de cancro, enquanto os Físicos Internacionais para a prevenção da guerra nuclear estimam que mais de 10 mil pessoas sofreram cancro da tiróide e mais outros 50 mil poderão vir a sofrer do mesmo problema (John Vidal, The Guardian).
Um acidente como o de Chernobil poderia ter acontecido?
Claro que não, na Pátria do Comunismo, ou melhor dizendo na do Capitalismo de Estado, tudo estava sob controlo. Leiam, o que escrevia Nikolai Tikhonov, chefe do governo soviético, em 1983: “As modernas centrais eléctricas atómicas soviéticas são as mais inofensivas do ponto de vista ecológico: o problema da defesa contra a radiação, na URSS já foi resolvido…. Graças aos sistemas de protecção de várias etapas, mesmo no caso de um desastre na central, não haverá fuga de radiações”.
No site da energia nuclear - um bem para todos -(http://energianuclear.comli.com/Home.html), lemos muito recentemente que depois de Chernobil, já não havia razões para não se apostar naquela forma de produzir electricidade “pois se as medidas de segurança forem seguidas o risco de acidente é nulo”. Como se pode constatar através do ocorrido com as centrais nucleares do Japão, tal facto continua a ser uma miragem.

Autor: Teófilo Braga
13 Abril 2011
Fonte: Correio dos Açores