Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
domingo, 24 de abril de 2011
Com os pés na terra... (2): Sementes
1 - 1º de Maio
O 1º de Maio é uma data celebrada, em todo o mundo, como dia do trabalhador. A escolha está relacionada com uma greve realizada, a 1 de Maio de 1886, em Chicago, Estados Unidos da América, que contou com a presença de 350 mil trabalhadores, com o objectivo de reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias. Na sequência de um confronto entre a polícia e os grevistas foi convocada uma manifestação para o dia 4, tendo no decorrer desta morrido um polícia, resultado de uma explosão, e sido assassinados 80 operários. Foram presos alguns dos líderes, dos quais depois de encerrado o processo em Outubro de 1887: 4 foram enforcados, 5 condenados à morte, 3 condenados a prisão perpétua e 1 foi morto, em circunstâncias estranhas, na prisão.
Por todo o país, mesmo durante o Estado Novo, o 1º de Maio nunca deixou de ser comemorado muitas vezes não por razões laborais ou políticas, mas porque entre as populações estava enraizada a tradição das Maias.
Entre nós, o primeiro dia de Maio também tem tradições e com mais ou menos entusiasmo continua a ser lembrado. No início do século passado, o padre Ernesto Ferreira referia-se aos Maios como uma “simples manifestação da poesia com que a alma popular celebra a sua comunhão com o renovamento da natureza” e manifestava o seu desejo de que os mesmos não desaparecessem “da rica mina dos costumes micaelenses”. De acordo com aquele sacerdote, era usual muitas famílias confeccionarem no primeiro dia de Maio papas de carolo (farinha grossa de milho) “para significar que Abril vendeu um dia a Maio por um prato de papas, alusão ao facto de Abril ter menos um dia do que Maio”.
O primeiro de Maio foi também o dia escolhido, em 2006, para os cidadãos, individualmente ou em grupos contribuírem para o embelezamento dos espaços verdes, nomeadamente os que se encontram abandonados pelas instituições responsáveis pela sua manutenção.
No primeiro de Maio deste ano, o quinto “Dia Internacional da Guerrilha Girassol” todos os que queiram participar deverão adquirir sementes de girassol e semeá-las num jardim degradado, num canteiro abandonado ou em qualquer espaço livre, de preferência num local onde passem muitas vezes para irem seguindo o crescimento das plantas e em caso de necessidade retirar alguma infestante ou fazer a rega, o que nos Açores poderá não ser necessário.
2 - Sementes Livres
Hoje, dez empresas, entre as quais a Bayer, a Monsanto, a Syngenta e a Limagrain, controlam 67% do mercado mundial de sementes e é sua intenção aumentar aquela percentagem, impondo, em todo o mundo, as suas variedades registadas.
A Comissão Europeia está a preparar a chamada “Lei das Sementes” que irá alterar as leis anteriores, retirando ao agricultor o seu papel de curador de sementes, que vem desempenhando desde o nascimento da agricultura há cerca de 10 000 anos.
Para contrariar, entre outras, a pretensão de restringir a livre reprodução e circulação de sementes, patentear as diferentes variedades de plantas agrícolas e ilegalizar as variedades não registadas, em toda a Europa grupos de cidadãos, agricultores e diversas associações sem fins lucrativos lançaram uma petição (http://gaia.org.pt/civicrm/petition/sign?sid=1) onde reclamam:
“- O direito a produzir livremente, sem necessidade de licenças, as nossas próprias sementes a partir das nossas colheitas, a voltar a semeá-las e a dá-las a outros;
- A promoção das variedades regionais de sementes, através do apoio aos homens e às mulheres que conservam e melhoram variedades de agricultura biológica;
- A proibição de tecnologias genéticas na agricultura;
- A proibição de patentes sobre as plantas;
- Uma nova lei para a introdução de novas variedades de sementes, que exclua as sementes geneticamente modificadas e as que exijam utilização intensiva de químicos;
- Acabar com os “insumos” de elevado teor energético na produção agrícola, que são a consequência das monoculturas, do transporte a longas distâncias, bem como do cultivo de plantas que requerem fertilizantes químicos e pesticidas.”
Autor: Teófilo Braga
Data: 20 Abril 2011
Fonte: Correio dos Açores