quarta-feira, 27 de abril de 2011

Com os pés na terra... (3): Andar a pé



Nos primeiros anos da década de 70 do século passado, em companhia de um grupo de amigos, a maioria da Ribeira Grande, comecei a participar, durante as férias lectivas, em passeios pedestres que tinham como guia o Dr. George Hayes, explicador de inglês de alguns deles.

Em 1980, fui “obrigado” a residir na ilha Terceira durante três anos, em virtude de não haver vagas para professor de Física e Química no quadro das escolas de São Miguel. Aí, para ocupar os tempos livres, aos fins-de-semana, passei a integrar as caminhadas organizadas pelos Montanheiros, que eram muito concorridas, e a promover outras, em conjunto com outros colegas e alunos do então Liceu de Angra do Heroísmo.
Regressado a São Miguel, em 1983, como já era membro dos Amigos da Terra - Associação Portuguesa de Ecologistas, decidi criar um núcleo daquela associação que entrou em actividade, em Janeiro de 1984, e logo começou a promover passeios pedestres abertos a todos os interessados. Na altura, a participação era muito reduzida, sendo raro atingir-se uma dezena de pedestrianistas.

Alguns anos depois, a situação alterou-se um pouco, com a vinda de um alemão para a freguesia da Maia que em determinadas épocas do ano, sobretudo no Verão, conseguia mobilizar para os passeios alguns compatriotas que se encontravam de férias em São Miguel. Nestas circunstâncias, o número de estrangeiros era superior ao número de portugueses e a componente de continentais, sobretudo professores, na maioria dos passeios era superior à dos açorianos.

Com o decorrer dos anos, a participação nos percursos pedestres foi crescendo, tanto nos promovidos pelas associações como nos organizados por empresas turísticas, de tal modo que se tornou uma necessidade criar as condições para que o pedestrianismo, que é a actividade de percorrer distâncias a pé na natureza, usando caminhos bem definidos e sinalizados com marcas e códigos bem definidos e aceites internacionalmente, fosse praticado por quem o desejasse, em grupo ou individualmente. Nesse sentido, em Julho de 2000, os Amigos dos Açores promoveram a acção de formação “Pedestrianismo e Percursos Pedestres” que teve como actividade prática a marcação do percurso “Salto do Cabrito” e, em Setembro do mesmo ano, realizou-se a abertura simbólica do primeiro percurso pedestre sinalizado dos Açores, o da Serra Devassa.

O pedestrianismo, para além de ser uma forma sadia de ocupar os tempos livres em contacto com a natureza, é de vital importância para a manutenção da saúde. A propósito, Henry David Thoreau (1817-1862) escreveu:

“Acho que não posso conservar a saúde e o espírito sem passar no mínimo quatro horas por dia - e o comum é passar mais do que isso - sauntering pelas matas, colinas e campos absolutamente isento de todas as obrigações mundanas.
Quando às vezes me recordo de que os mecânicos e os caixeiros permanecem em seus postos não apenas toda a manhã, mas toda a tarde também, muitos dos quais de pernas cruzadas - como se as pernas tivessem sido feitas para sobre elas nos sentarmos e não para sobre elas, ficarmos de pé e caminharmos - julgo-os merecedores de louvor por não terem todos, de há muito, praticado o suicídio.”

As ONGA que promovem passeios pedestres correm o risco de se transformar em meras promotoras de actividades recreativas se não forem capazes de utilizar os passeios que organizam para despertar os participantes para novos conhecimentos, nomeadamente os relacionados com a diversidade geológica, a flora e a fauna, e para a compreensão das questões ambientais e aproveitar a presença de um número significativo de associados para, de viva voz, apelar à participação na vida associativa e incentivar a cidadania activa, nomeadamente no que diz respeito à denúncia de situações irregulares, como depósitos de lixos, abate de árvores, podas mal feitas, etc.

De igual modo, no início dos percursos, ou previamente, deverão ser divulgadas regras de conduta que deverão ser seguidas pelos pedestrianistas, com vista a evitar, na medida do possível, acidentes e causar o menor impacto possível no ambiente.

Autor: Teófilo Braga

Data: 27 de Abril de 2011

Fonte: Correio dos Açores