Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Cultura, ambiente e touradas
Tenho notado ultimamente que correm desejos de implementar a tourada à corda em S. Miguel, e até mesmo já se realizaram vários desses espectáculos, ao que parece com o acolhimento da massa acrítica local. Promover touradas à corda em S. Miguel, é o mesmo que colocar uma caprichosa praxe, aonde ela nunca teve existência. É o mesmo que impingir uma cultura ou evento popular, quando este nunca pertenceu ao passado desse local. Cheira a coisa importada, ou por negócio interesseiro ou por aproveitamento, com finalidades de duvidoso eleitoralismo. Porque é sempre mais fácil apelar à ignorância e aos instintos primários, do que motivar nas pessoas o gosto pelos melhores e mais frutuosos horizontes culturais. O curioso e até paradoxal é que são algumas autarquias a validarem estas iniciativas, na intenção óbvia de captar simpatias. Porém e sem que me mova qualquer intenção fundamentalista, respeito a prática desse espectáculo nos lugares ou ilhas onde tem forte raiz cultural e popular e não vejo qualquer utilidade cultural e até civilizacional na sua implantação, em ilhas ou lugares onde tal prática nunca existiu. Teremos que ter ainda em conta que a utilização de animais para espectáculos em que eles possam ser violentados é hoje uma questão civilizacional, a que muitos se opõem, invocando os direitos dos próprios animais. Em suma, creio também que esta questão é também ambiental, pois tem reflexos na qualidade das características dos lugares e no comportamento das pessoas. Não sou dos que entendem o ambiente apenas em relação a certos aspectos evidentes, mas sim que a qualidade ambiental de um lugar abrange tudo o que pode corromper e prejudicar as harmonias próprias e as características locais. Apelo por isso também às várias associações ecológicas de S. Miguel que se pronunciem sem reservas sobre este processo que se está tentando implantar em S. Miguel, de uma forma sub-reptícia, mas que terá apoios onde eles não deviam existir, ou seja em autarquias locais com responsabilidades sociais e educacionais.
Texto de António Eduardo Soares de Sousa
Fonte: Açoriano Oriental, 17 de Agosto de 2009
Comentário:
Reforço aqui o apelo do arquitecto Soares de Sousa. Por que razão está em silêncio a Quercus- São Miguel e outras que quando lhes interessa são de ambiente e quando não dá jeito são outra coisa.