segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

domingo, 30 de janeiro de 2011

Antigo caçador escreve sobre a caça



REFLEXÃO SOBRE A CAÇA NOS AÇORES




A caça nos Açores começou com o povoamento das ilhas. Com efeito, tal foi possível, no que diz respeito aos mamíferos, após a introdução do coelho bravo que foi intencionalmente introduzido em todas as ilhas, com excepção do Corvo. É precisamente o coelho a espécie cinegética mais caçada nos Açores e a que mobiliza mais caçadores.

A caça se para os mais urbanos e com mais posses foi (é) uma actividade “desportiva”, para os homens do campo, sobretudo os das classes sociais mais baixas, mais do que uma actividade de ocupação dos seus tempos livres era um complemento aos seus fracos rendimentos. Com efeito, lembro-me muito bem que no meio rural de São Miguel, na década de sessenta e início da de setenta do século passado, a carne, sobretudo a de vaca, só chegava ao prato de muitas famílias nas épocas festivas e a de porco um pouco mais de vezes para as famílias que tinham a possibilidade de os criar. Assim, caçar coelhos era também uma forma de enriquecer a dieta alimentar e conseguir algum dinheiro para complementar os magros salários com a venda de algumas peças de caça.

Era precisamente a situação de penúria em que viviam muitos agregados familiares, sobretudo de pequenos camponeses e camponeses sem terra que fazia com que eram poucas as licenças de caça existentes nos meios rurais e eram muitos os caçadores furtivos, alguns deles utilizando “técnicas” de caça ao coelho proibidas por lei e criticadas pelos restantes habitantes das diversas localidades, como era o uso do laço.

Ainda nos primeiros anos da década de oitenta, devido à situação social descrita, na localidade onde vivia eram poucas as licenças de caça e havia apenas uma ou duas espingardas, caçando a maioria dos caçadores apenas com recurso a cães e a furão. A deslocação para as zonas de caça, Sanguinal, Monte Escuro, Lagoa da São Brás, etc., era feita a pé ou, com alguma sorte, apanhando boleia nas carrinhas de alguns lavradores. Era revoltante ter de percorrer vários quilómetros a pé, e o regresso era mais duro porque para além da distância a percorrer havia o peso dos coelhos a vencer, enquanto os caçadores da “cidade” ou os “senhores” caçadores passavam nas suas viaturas.

Mais tarde, o Estado, sempre ao serviço dos que mais têm e dos apetites de uns poucos, decidiu investir em repovoamentos de espécies com o único objectivo de serem caçadas. Em 2008, o Secretário Regional da Agricultura e Florestas estimava em 4500 o número de exemplares criados em cativeiro, esquecendo-se de mencionar os custos envolvidos.

A situação referida no parágrafo anterior demonstra que estamos perante uma política de desvios de dinheiros públicos e comunitários que poderiam ser usados em benefício de toda a população dos Açores e que acabam por beneficiar uma minoria dentro da minoria que são os caçadores de algumas aves, pois como já vimos a esmagadora maioria caça apenas coelhos. Com efeito, podemos dizer, mesmo, minoria absoluta pois, segundo informações que consideramos fidedignas e tendo em conta o ano de 2009, nos Açores existiam 3 714 caçadores com carta válida o que correspondia a cerca de 1,5 % da população.

É importante referir que a situação actual, de beneficiar os que mais podem e têm, é muito pior do que a existente em plena ditadura fascista como se pode comprovar através da leitura do jornal “A caça” que se publicou em Ponta Delgada em 1936 e 1937. Com efeito, segundo o referido jornal eram os próprios caçadores, ao contrário do que actualmente ocorre, quem tomava a iniciativa e suportava os repovoamentos com perdizes através de subscrições públicas.

Hoje, são pouco válidos os argumentos dos defensores da caça pretensamente desportiva sobretudo quando aplicados a uma região “pobre” do ponto de vista faunístico como são os Açores quando comparados com outras paragens. Com efeito, caído por terra o argumento da tradição face aos avanços sofridos pela sociedade, hoje o principal argumento, que é também o de alguns “passarinheiros” e de alguns ambientalistas acéfalos suportes do status quo, é o de que com a caça valoriza-se os espaços e recursos florestais e mantém-se as populações de várias espécies controladas.

Se este último argumento poderá ser aplicado às populações de coelhos, gostaríamos que nos explicassem o seu uso quando estão em causa algumas aves residentes cuja população é reduzida e espécies migratórias, cuja ocorrência em alguns casos é diminuta.

Tendo conhecimento de um apelo lançado com vista a evitar que espécies migratórias e outras de ocorrência diminuta sejam excluídas da lista de espécies cinegéticas, não estranhamos que o mesmo tenha sido deturpado por parte de alguns devotos de Santo Huberto, para arrebanhar adeptos à sua causa junto de outros caçadores sensíveis e que concordam com o mesmo, bem como as pressões que têm sido exercidas sobre alguns dos primeiros subscritores.

Para terminar, apresentamos uma citação de um texto publicado, em 1926, no Suplemento Literário Ilustrado de “A Batalha”:

“Conhecemos alguns desses furiosos “desportistas” que aliam à sua qualidade de caçadores a qualidade de membros da Sociedade Protectora de Animais. Não compreendemos como se possam conjugar essas duas funções: a de matar e a de proteger seres vivos”.

Ribeira Grande, 21 de Janeiro de 2011

José Soares

sábado, 29 de janeiro de 2011

Massacre de Santa Cruz (Lagoa)


Quinta-feira fomos alertados para umas podas radicias da responsabilidade da Câmara Municipal da Lagoa no Jardim localizado em Santa Cruz.

Embora saibamos que uma árvore não pode impedir de vermos a floresta, este caso é mais um a provar os anos de desleixo a que foram votadas as árvores daquele jardim.

O caso também é demonstrativo da ignorância de alguns autarcas, pois um cidadão dirigiu-se à Câmara Municipal para falar com um responsável e a resposta obtida por parte de uma senhora (vereadora?) era a de que não era botânica.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

CAMPA RASA E OUTROS POEMAS


Acaba de ser editado pelas "Edições Sempre-em-pé", um livro de poesia da autoria de Afonso Cautela um dos pioneiros do movimento ecologista em Portugal.

De entre a sua vasta obra, destacamos três títulos:

"Ecologia e Luta de Classes";

"Depois do Petróleo, o Dilúvio";

"Contributo à Revolução Ecológica"

Uma lista de obras publicadas até 1985 pode ser consultada aqui: http://myweb26.home.sapo.pt/sinopse5.htm

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

domingo, 23 de janeiro de 2011

Menos Valia para a Terceira e apelo a que os turistas visitem outras ilhas


http://azores.gov.pt/Portal/pt/novidades/Monumento+ao+Toiro+ser%C3%A1+excelente+cartaz+tur%C3%ADstico.htm?lang=pt&area=ct

Para além da propaganda anti-turística do monumento que mesmo para os leitores da União não é uma mais-valia para a ilhaTerceira e do disparate do Secretário Regional da Saúde ao falar em touros acorrentados mas livres, o dito cujo ignora a história da sua terra como se pode ver pela leitura do cronista Gaspar Frutuoso  e de outros historiadores ou  pelo texto, abaixo, do insuspeito Álvaro Monjardino:


"Casa da Salga, propriedade da família Merens de Távora. Ainda lá está a casa, não de Brianda Pereira, mas aquela em que os castelhanos puseram a sua bandeira e donde foram desalojados pela contra-ofensiva portuguesa. Sabe-se hoje que a carga de gado que os empurrou para o mar e para a morte não foi de toiros bravos, mas sim de quatrocentas vacas, divididas em dois esquadrões, um vindo do lado de São Sebastião, outro do do Porto Judeu. "(http://acores.wikia.com/wiki/Batalha_da_Salga)

sábado, 22 de janeiro de 2011

Empreendedorismo

Se metade dos açorianos optasse por um negócio destes e a outra metade por criar touros bravos para incentivar o turismo do Norte da Europa, acabava-se com a crise.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Investigador diz ser “praticamente impossível” erradicar térmitas


A erradicação das térmitas nos Açores é "praticamente impossível" nos locais mais afectados, mas o seu impacto pode ser diminuído, defendeu segunda-feira Paulo Borges, investigador da Universidade dos Açores.

"Em Angra do Heroísmo (Terceira) e em Ponta Delgada (S. Miguel) será impossível erradicar, restando diminuir o seu impacto ao longo das próximas décadas", afirmou o investigador, em declarações à Lusa, à margem de um colóquio sobre a situação desta praga no arquipélago.

No processo de avaliação da situação das térmitas nos Açores estão envolvidos três investigadores universitários e quatro bolseiros, que desenvolvem trabalhos em cinco ilhas do arquipélago.

Por estudar estão as ilhas de Pico, Graciosa, Flores e Corvo, cujos trabalhos poderão iniciar-se este ano.

Em Ponta Delgada, foi feito pela primeira vez o mapeamento das térmitas na cidade, que "afectam bastante a zona histórica", existindo locais onde poderá ser necessária a substituição integral das estruturas construídas.

No próximo verão será realizada uma segunda amostragem nas ilhas em estudo, com a colocação de armadilhas dentro das habitações.

Paulo Borges manifestou-se convencido de que, além de uma diminuição da praga na Terceira e em S. Miguel, "ela também é possível na cidade da Horta (Faial)", assim como a "erradicação no concelho da Calheta (S. Jorge).

"Em Santa Maria, não possuímos uma ideia concreta porque os casos localizados estão dispersos pelas freguesias, tanto a norte como a sul", salientou o investigador.

Os resultados foram apresentados com base nos trabalhos de campo realizados no último ano no quadro do projecto TERMODISP, financiado pela Direcção Regional de Ciência e Tecnologia.

Um outro projeto de colaboração entre a Universidade dos Açores, o governo regional e a câmara de Angra do Heroísmo testou duas técnicas inovadoras de combate às térmitas, que se mostraram eficazes através de vapores com temperaturas elevadas.

Em Angra do Heroísmo, os resultados de estudos desenvolvidos em 2004, 2009 e 2010 demonstram que a zona mais afectada, "com danos de grande monta", é a da freguesia de S. Pedro.

Paulo Borges salientou, no entanto, que as térmitas "já se expandiram para as freguesias de Sé, Santa Luzia e Conceição, todas no centro histórico classificado como Património Mundial, e S. Bento, na periferia da cidade".

No início de Dezembro, o executivo regional anunciou a primeira delimitação de áreas potencialmente infestadas por térmitas, abrangendo as ilhas Terceira, Faial, S. Miguel, Santa Maria e S. Jorge.

As térmitas são uma espécie que se alimenta das madeiras, corroendo completamente as estruturas das habitações.

19 de Janeiro de 2011

Fonte: Diário dos Açores

Para saber mais: http://sostermitas.angra.uac.pt/

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Açores, Natureza Viva, Prados Verdejantes (1)

Ribeira das Tainhas, Vila Franca do Campo, 15 de Janeiro de 2011

domingo, 16 de janeiro de 2011

A tauromaquia em crise


A aparente vitalidade dos toiros à corda esconde uma atividade à beira do colapso.
As taxas e as licenças já custam mais do que o aluguer de touros para as touradas à corda.
O líder dos ganadeiros fala em "atividade asfixiada".

O Presidente da Associação de Ganadeiros, Duarte Pires, considerou ontem "insustentável" o custo de taxas e licenças obrigatórias para as touradas à corda, que já são superiores, em média, ao preço do aluguer dos toiros.Um estudo elaborado por Toste Pimpão detetou na época taurina de 2010 a realização de 257 touradas na ilha Terceira, que custaram às comissões de festas 334.100 euros. Só que desse total apenas 128.500 euros (38,50 por cento) foram parar às mãos dos ganadeiros. O grosso do bolo, 205.600 euros (61,50 por cento), "sumiu-se" para pagar taxas e licenças, incluindo o policiamento das touradas pela PSP.Em média, por cada tourada os ganadeiros receberam 500 euros, indo 800 euros para obrigações legais. Segundo Toste Pimpão, "este é o caminho mais curto para o fim da festa brava como a conhecemos na Terceira". O aficionado lembrou que são já várias as comissões de festas que desistiram de organizar touradas, sendo substituídas por juntas de freguesias, que também já desistiram. A questão financeira é cada vez mais crítica. "Em várias freguesias o peditório para os toiros já não dá para as taxas e as licenças", disse Pimpão ao DI.

Tanto Toste Pimpão como Duarte Pires coincidem em críticas ao que consideram ser "um absurdo" e que tem a ver com o custo do policiamento. Pires refere mesmo não compreender "como é que a segurança pública tem que ser paga aos polícias", contestando assim o pagamento por parte das comissões de festas de um serviço que, em seu entender, "deveria ser prestado sem pagamento".O líder dos ganadeiros convida as autoridades "a reverem o seu posicionamento" na questão das taxas, mas também no que diz respeito ao regulamento da organização de touradas à corda, alegando que "muita coisa está mal"."Neste momento, a festa brava tradicional da Terceira está a ser asfixiada e as autoridades não têm a noção da gravidade das medidas que vão tomando", disse Duarte Pires.

MAIS UMA...Já depois da realização do estudo de Toste Pimpão, as licenças de fogo subiram, por portaria nacional, de seis para 100 euros.
Fonte: Diário Insular, 12 de Janeiro de 2011

NOTA-  Ao contrário do que afirmam alguns defensores das touradas, que antes eram oferecidas pelos senhores das freguesias ao povo em troca de votos, hoje nem é a tradição que faz com que elas continuem em grande número, mas sim  os apoios governamentais e autárquicos, os subsídios comunitários e algum dinheiro das comissões de algumas paróquias.

A solução encontrada para superar a crise tem sido exportá-las para outras ilhas e intensificar a tortura animal através da tentativa da introdução dos touros picados.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A Câmara da Ribeira Grande continua a Defender o Ambiente e a promover o Desenvolvimento Sustentável

O CUMPRIMENTO DA LEI É (SÓ) PARA OS OUTROS


Osvaldo Cabral
Fonte: Correio dos Açores, 12 de Janeiro de 2011



"A Câmara Municipal da Ribeira Grande foi detectada a explorar uma pedreira de forma ilegal na freguesia do Pico da Pedra, num terreno propriedade da autarquia. O município já foi notificado da abertura de um processo instaurado pela Direcção Regional de Apoio ao Investimento e à Competitividade, durante o Verão de 2009, após ter sido detectada a extracção ilegal de inertes. As autoridades, durante uma acção de fiscalização, descobriram uma pedreira com uma área superior a 5 hectares de área, que vem sendo explorada, de forma intermitente, há muitos anos e sem qualquer licença. No local foi encontrado um trabalhador, residente na Ribeirinha, a extrair cascalho, com autorização concedida pela autarquia da Ribeira Grande. A câmara municipal confirmou esta situação e apontou ter-se tratado de uma extracção ocasional, devido a uma necessidade premente numa obra em curso. No entanto, a Direcção Regional de Apoio ao Investimento e à Competitividade, órgão responsável pelo licenciamento das pedreiras, informou que a lei não contempla a figura de exploração ocasional e apresentou duas soluções à autarquia: ou licenciava a pedreira ou promovia um plano de recuperação paisagística. A edilidade aceitou elaborar um plano de recuperação paisagístico, conforme explicou Fernando Sousa, vereador responsável pela área ambiental da autarquia. No entanto, o plano de recuperação ainda não começou a ser implementado e continuam a ser detectadas extracções de cascalho daquele local. Ainda, ontem, durante a visita do Açoriano Oriental a esta pedreira ilegal foram detectados uma retroescavadora e uma viatura de mercadoria, juntamente com duas pessoas no local. Além da extracção de cascalho de forma ilegal, ainda foram depositadas grandes quantidades de lixo doméstico e entulho, e a grande maioria do entulho deixado no local é colocado pela Câmara Municipal da Ribeira Grande. O vereador Fernando Sousa nega que actualmente a autarquia extraia cascalho daquele local, mas revela que coloca entulho proveniente de obras. “Neste momento a câmara já não está a extrair inertes, até porque já não há reserva para exploração naquele local. O que estamos a fazer é um aterro com restos de demolição - pedras e terras - para levar a cabo a recuperação paisagística”, explicou o vereador. O representante da autarquia informa que, mesmo vedando o acesso ao local, verifica “que durante o período nocturno são deixados lá restos de construções de forma inadvertida”. O inspector regional do Ambiente explicou que, não se podendo identificar os prevaricadores, a responsabilidade da descarga do entulho é da autarquia. • Câmara arrisca multa pesada A autarquia da Ribeira Grande poderá ser penalizada com uma coima no valor de 5 a 50 mil euros, de acordo com o ponto 1 do artigo 60, do Decreto Legislativo Regional n.º 12/2007/A, de 5 de Junho. A autarquia ainda ficará responsável pelo pagamento das despesas com a realização do plano de recuperação paisagística do local. Podendo ainda ser condenada pela violação da lei nº 46/2008, de 12 de Março, que pune o depósito de entulhos em lugares não licenciados para o efeito."

Luís Pedro Silva

Fonte: Açoriano Oriental

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Lagoas do Congro e dos Nenúfares



No final do ano transacto os Amigos dos Açores editaram uma brochura intitulada "Lagoas do Congro e dos Nenúfares: Proposta de recuperação e gestã da cratera".

Aqui deixamos o seu prefácio:

Conheço as Lagoas do Congro e dos Nenúfares, há mais de quarenta anos, pois as mesmas eram pontos de referência para todos que nasceram e viveram em Vila Franca do Campo, sendo alvo de visitação anual, aquando dos festejos de São João. Com efeito, no dia 24 de Junho, muitos vila-franquenses deslocavam-se para as margens daquelas lagoas para comemorar aquele dia, organizando piqueniques e balhos.
Se na altura das primeiras visitas, encontrei toda a cratera limpa e bem tratada como se de um cuidado jardim se tratasse, fui assistindo, com o decorrer do tempo, à sua degradação, fruto do abandono a que foi votada pelos seus proprietários.
Mais tarde, no ano 2000, participei, no âmbito dos Amigos dos Açores, no grupo de trabalho que elaborou uma proposta de classificação das Lagoas do Congro e dos Nenúfares como Área Protegida, o que só viria a acontecer sete anos depois.
No ano de 2008, mais um passo foi dado no sentido da valorização das Lagoas do Congro e dos Nenúfares, através da aquisição de uma parte da Bacia Hidrográfica pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Naquele ano, foi apresentada à Secretária Regional, Dr.ª. Ana Paula Marques, por parte dos Amigos dos Açores, uma proposta de recuperação e gestão da cratera das duas lagoas referidas, da autoria de Malgorzata Pietrzak, jovem polaca que com muito entusiasmo e dedicação o elaborou.
Resta-me desejar que os anseios dos vila-franquenses, as diligências dos Amigos dos Açores e o trabalho da Malgorzata se traduzam em acção. O património natural dos Açores não pode continuar a ser alvo de danos, alguns dos quais irreparáveis, em nome do propalado desenvolvimento que se diz sustentável.

Ribeira Seca de Vila Franca do Campo, 23 de Julho de 2010

Teófilo José Soares de Braga

domingo, 9 de janeiro de 2011

Associações de Ambiente: campo de recrutamento ou trampolim?




Os movimentos sociais, quer os antigos, como os sindicatos, quer os novos, como as associações ambientalistas têm sido pouco estudados nos Açores. No caso destas últimas, apenas conhecemos uma tese de mestrado, da autoria de Fátima Silva, intitulada “Participação social e práticas ambientais: as organizações não governamentais de ambiente (ONGA) dos Açores”, que apesar de algumas imprecisões, da responsabilidade dos representantes das diversas organização que, ao serem inquiridos, deram respostas “politicamente correctas”, merecia uma maior divulgação.

Partindo do princípio de que a missão dos movimentos sociais é a alteração do statu quo que se caracteriza pela perpetuação de uma crise económica (1), por uma crise política, ecológica e energética e havendo as condições objectivas para que haja mudanças, a que se deverá a falta de respostas?

Como é sabido, nos Açores, o associativismo nunca foi muito forte e a descompressão que se assistiu no continente português ao seguir ao 25 de Abril de 1974 quase não se fez sentir por cá. Com efeito, os personagens que serviram o Estado Novo, viraram as casacas e passaram de armas e bagagens a defender a democracia, uma democracia musculada, diga-se em abono da verdade, que não deu espaço à auto-organização dos cidadãos.

Os sindicatos, que tiveram alguma actividade na condução de algumas lutas, nos primeiros anos a seguir à instauração da democracia, foram integrados no estado social e desde cedo perderam a sua independência pois encontram-se subjugados, na sua maioria, aos interesses dos partidos políticos ou aos interesses pessoais dos que fazem do sindicalismo uma profissão. Basta conhecer a filiação partidária dos seus principais dirigentes ou dos dirigentes regionais das centrais sindicais em que estão filiados. A título de exemplo, poderíamos mencionar alguns nomes de dirigentes sindicais que deixam de o ser para exercerem as suas funções na Assembleia Legislativa Regional dos Açores ou no Governo Regional, outros que depois de requisitados pelo Governo ao voltarem aos serviços de origem não se adaptam e encontram como saída a direcção de sindicatos e, por fim, outros que, como no caso dos professores, chegam às direcções sindicais depois de passarem pelos conselhos executivos das escolas.

No caso dos chamados movimentos ambientalistas, a situação não difere muito. Com efeito, há de tudo um pouco, desde associações que pelas suas actividades dificilmente poderão ser enquadradas no conceito de ONGA- Organização não-governamental de ambiente, passando por outras que não são mais do que “empresas” prestadoras de serviços ao estado, até às associações, que embora formalmente sejam independentes, acabam reféns do estado ou das autarquias, nomeadamente devido à sua dependência financeira ou à ânsia de estarem representadas em órgãos consultivos, para os quais os seus pareceres pouco contam, servindo apenas para legitimar as decisões previamente tomadas.

O relacionamento entre as ONGA dos Açores também merece ser estudado em profundidade pois, dada a reduzida dimensão das associações, penso que não terá havido qualquer estratégia por parte dos partidos políticos em as utilizar em proveito próprio, fazendo-as suas correias de transmissão. O que tem acontecido é que, por excesso de zelo de alguns dirigentes associativos, filiados em partidos políticos ou aspirantes ao exercício de um cargo no aparelho de estado, algumas associações, pontualmente, mais do que defenderem o bem comum aliam-se a interesses particulares.

Ainda no que aos partidos políticos diz respeito, os únicos casos dignos de relevo têm a ver com a sucessão de Veríssimo Borges, na Quercus - São Miguel. Ao que tudo indica, tratou-se de uma tomada de decisão pessoal de dois militantes socialistas (?), Alexandre Pascoal e Pedro Arruda, deputado regional e deputado municipal pelo Partido Socialista, respectivamente, que a título individual decidiram integrar a lista candidata à direcção do núcleo de São Miguel daquela associação, que acabou por ser eleita a 26 de Fevereiro de 2009. Detectada, por parte da Direcção Nacional da Quercus, a incompatibilidade entre os cargos de cariz político que ocupavam e a direcção do Núcleo de São Miguel, acabaram por optar pela “carreira" político-partidária. Curiosamente, a direcção seguinte e actual, tem como Presidente um ex-dirigente do PSD, Paulo Nascimento Cabral, assistente local da Deputada ao Parlamento Europeu, eleita pelo PSD, Maria do Céu Patrão Neves.

Tal como acontece com o movimento sindical, o movimento de defesa do ambiente é, não só entre nós, um campo onde o estado tem recrutado pessoal para o exercício de cargos aos mais diversos níveis. Sabendo-se que os cargos não são eternos e que não abundam regressos às posições de origem, poderemos ser levados a concluir que muitas pessoas usam as associações como trampolim para uma “ascensão na vida”.

De seguida, apresentaremos o resultado de uma investigação, não exaustiva e sujeita a futuras correcções, que regista alguns marcos da história do movimento ambientalista dos Açores, ilustrando, sempre que possível, o que foi afirmado anteriormente, isto é, as associações tanto constituem campo de recrutamento como trampolim.

Em 1982, foi criado o Circulo de Amigos das Furnas, tendo sido um dos principais dirigentes o militante do Partido Socialista, Hermenegildo Galante, hoje, Chefe de Gabinete do Secretário Regional da Presidência.

Em 1991, foi fundada a Azórica, tendo ocupado a sua presidência, durante alguns anos, Maria Eduarda Goulart que mais tarde viria a ser Directora Regional do Ambiente e actualmente é Directora dos Serviços Florestais do Pico. Da comissão de gestão daquela associação, fez parte Fernando Menezes que depois foi presidente da Assembleia Geral e mais tarde, c Socialista chegou a Presidente da Assembleia Legislativa Regional dos Açores.



A Gê-Questa, fundada em 1994, teve como presidente da direcção Manuel Loureiro que saiu para ocupar o cargo de Director Regional dos Recursos Florestais. Na lista para os Corpos Directivos da Gê Questa para 1997/99, fazia parte do Conselho Fiscal, Félix Rodrigues. Hoje, é dirigente regional do CDS/PP e deputado municipal em Angra do Heroísmo. O actual Secretário Regional do Ambiente e do Mar, Álamo Menezes, que foi deputado pelo CDS/PP, foi também fundador desta associação.

Frederico Cardigos, actual director Regional dos Assuntos do Mar, também passou pela Gê-Questa, tendo dado o seu contributo à página Web desta associação.

Ricardo Rodrigues que foi Secretário Regional do Ambiente e hoje é deputado na Assembleia da República foi durante algum tempo animador da segunda fase do movimento SOS- Lagoas e passou pela direcção do Núcleo de São Miguel da Quercus.

A 9 de Junho de 2006, foi eleita a última direcção do Núcleo de São Miguel da Quercus presidida por Veríssimo Borges. Também, fazia parte da direcção Rui Moreira da Silva Coutinho, que viria a ser Director Regional do Ordenamento do Território e dos Recursos Hídricos.

José Contente, actual Secretário Regional da Ciência, Tecnologia e Equipamentos, foi, entre 1989 e 1994, Presidente da Assembleia-geral dos Amigos dos Açores.

Teófilo Braga, fundador e ex-presidente da Direcção e da Assembleia-Geral dos Amigos dos Açores, também esteve requisitado pelo Governo Regional dos Açores a exercer funções de Director da ARENA - Agência Regional da Energia e Ambiente da Região Autónoma dos Açores, continuando hoje ligado a movimentos ecologistas e de defesa dos animais.

Já este ano, o Presidente da Azórica, Roberto Terra, transferiu-se para a empresa criada pelo Governo Regional dos Açores, Azorina.

Fernando Lopes seguiu o caminho inverso à da grande maioria dos ambientalistas mencionados. Foi Secretário Regional da Agricultura, Florestas e Ambiente, de 1997 a 2000, e hoje é presidente da Assembleia Geral dos Amigos do Calhau.

(1) “a lógica da economia dominante que visa o crescimento e o aumento do PIB implica na dominação da natureza, na desconsideração da equidade social (dai a crescente concentração de riqueza e a célere apropriação de bens comuns) e da falta de solidariedade para com as futuras gerações” (Leonardo Boff)



Mariano Soares

21 de Dezembro de 2010

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

APELO EM DEFESA DAS ABELHAS


Silenciosamente, bilhões de abelhas estão morrendo, colocando toda a nossa cadeia alimentar em perigo. Abelhas não fazem apenas mel, elas são uma força de trabalho gigante e humilde, polinizando 90% das plantas que produzimos.

Vários estudos científicos mencionam um tipo de agrotóxico que contribui para o extermínio das abelhas. Em quatro países Europeus que baniram estes produtos, a população de abelhas já está se recuperando. Mas empresas químicas poderosas estão fazendo um lobby pesado para continuar vendendo estes venenos. A única maneira de salvar as abelhas é pressionar os EUA e a União Europeia para eles aderirem à proibição destes produto letais - esta ação é fundamental e terá um efeito dominó no resto do mundo.

Não temos tempo a perder - o debate sobre o que fazer está esquentando. Não se trata apenas de salvar as abelhas, mas de uma questão de sobrevivência. Vamos gerar um zumbido global gigante de apelo à UE e aos EUA para proibir estes produtos letais e salvar as nossas abelhas e os nossos alimentos. Assine a petição de emergência agora, envie-a para todo mundo, nós a entregaremos aos governantes responsáveis:

https://secure.avaaz.org/po/save_the_bees/?vl

As abelhas são vitais para a vida na Terra - a cada ano elas polinizam plantas e plantações com um valor estimado em US$40 bilhões, mais de um terço da produção de alimentos em muitos países. Sem ações imediatas para salvar as abelhas, poderíamos acabar sem frutos, legumes, nozes, óleos e algodão.

Nos últimos anos, temos visto um declínio acentuado e preocupante a nível global das populações de abelhas - algumas espécies de abelhas estão extintas e outras chegaram a 4% da população no passado. Cientistas vêm lutando para obter respostas. Alguns estudos afirmam que o declínio pode ser devido a uma combinação de fatores, incluindo doenças, perda de habitat e utilização de produtos químicos tóxicos. Mas um importante estudo independente recente produziu evidências fortes culpando os agrotóxicos neonicotinóides. A França, Itália, Eslovênia, e até a Alemanha, sede do maior produtor do agrotóxico, a Bayer, baniram alguns destes produtos que matam abelhas. Porém, enquanto isto, a Bayer continua a exportar o seu veneno para o mundo inteiro.

Este debate está esquentando a medida que novos estudos confirmam a dimensão do problema. Se conseguirmos que os governantes europeus e dos EUA assumam medidas, outros países seguirão o exemplo. Não vai ser fácil. Um documento vazado mostra que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA já sabia sobre os perigos do agrotóxico, mas os ignorou. O documento diz que o produto da Bayer é "altamente tóxico" e representa um "grande risco para os insetos não-alvo (abelhas)".

Temos de fazer ouvir as nossas vozes para combater a influência da Bayer sobre governantes e cientistas, tanto nos EUA quanto na UE, onde eles financiam pesquisas e participam de conselhos de políticas agrícolas. Os reais peritos - apicultores e agricultores - querem que estes agrotóxicos letais sejam proibidos, a não ser que hajam evidências sólidas comprovando que eles são seguros. Vamos apoiá-los agora. Assine a petição abaixo e, em seguida, encaminhe este alerta:


https://secure.avaaz.org/po/save_the_bees/?vl


Não podemos mais deixar a nossa cadeia alimentar delicada nas mãos de pesquisas patrocinadas por empresas químicas e os legisladores que eles pagam. Proibir este agrotóxico é um caminho necessário para um mundo mais seguro tanto para nós quanto para as outras espécies com as quais nos preocupamos e que dependem de nós.

Com esperança,

Alex, Alice, Iain, David e todos da Avaaz

Leia mais:

Itália proibe agrotóxicos neonicotinóides associados à morte de abelhas:

http://www.ecodebate.com.br/2008/09/22/italia-proibe-agrotoxicos-neonicotinoides-associados-a-morte-de-abelhas/

O desaparecimento das abelhas melíferas:

http://www.naturoverda.com.br/site/?p=180

Alemanha proíbe oito pesticidas neonicotinóides em razão da morte maciça de abelhas:

http://www.ecodebate.com.br/2008/08/30/alemanha-proibe-oito-pesticidas-neonicotinoides-em-razao-da-morte-macica-de-abelhas/

Campos silenciosos:

http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/campos_silenciosos_imprimir.html

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O ano de 2011 começou cinzento como politicamente anunciado




Começamos o ano, apesar do mau tempo, com uma saída de campo para localização de charcos.

Na zona da Covoada encontramos várias manadas enterradas em lama e os caminhos transformados em autênticas ribeiras com a água a cheirar muito mal.
JS

domingo, 2 de janeiro de 2011

Em Defesa da Biodiversidade. Pela Redução do Número de Espécies Cinegéticas

Há muitos anos, pelo menos desde os primeiros anos da década de 80 do século passado, a legislação que regulamenta a caça encontra-se desadequada à realidade regional e ao do mundo de hoje. Com efeito, desde aquela altura, na lista de espécies cinegéticas constam espécies residentes cuja população é reduzida, como a narceja ou a galinhola, e espécies migratórias, cuja ocorrência em alguns casos é diminuta, como o pato-frisado (Anas strepera) com cerca de 40 exemplares observados.

Hoje, em todo o mundo a caça está a sofrer uma enorme pressão por parte de uma nova geração mais sensibilizada para a defesa do património natural, sendo cada vez maior o número de caçadores desportivos que têm trocado a caça pela observação de aves, pela “caça” fotográfica ou pela realização de filmagens. De igual modo, em todo mundo, em substituição da caça as pessoas optam pelo pedestrianismo, que tem mais de 15 milhões de participantes, e pelo Birdwatching ou Observação de Aves com mais de 80 milhões praticantes.

Sabendo-se que está em preparação um Decreto Legislativo Regional “Regime Jurídico da Protecção da Biodiversidade”, que não toma em consideração o exposto, isto é, mantém como cinegéticas espécies cuja caça não deveria ser permitida, apelamos a todos os cidadãos preocupados com a destruição da nossa Terra, ambientalistas, ecologistas, defensores do património natural e dos animais, amantes da natureza ou observadores de aves, para que juntem esforços no sentido do lançamento de uma campanha, de sensibilização e de pressão junto do Governo e da Assembleia Regional dos Açores, que tenha por objectivo eliminar todas as espécies residentes, com população reduzida, e todas as aves migratórias da lista de espécies cinegéticas.


Açores, 1 de Janeiro de 2010