sexta-feira, 26 de junho de 2009

Voltar à Caça à Baleia nos Açores?


Regresso da caça à baleia não faz qualquer sentido diz biólogo marinho


Um eventual regresso da caça à baleia nos Açores “não faz qualquer sentido”, disse à Lusa o biólogo-marinho Rui Prieto, investigador da Universidade dos Açores, ao comentar uma posição nesse sentido de um vulcanólogo açoriano.
No entender de Rui Prieto, as recentes declarações do vulcanólogo Victor Hugo Forjaz, que defende a suspensão da moratória internacional que proíbe a caça à baleia, para permitir a manutenção da actividade como forma de tradição nas ilhas, não passam de um “equívoco”.

“Tenho muito respeito pelo Dr. Victor Hugo Forjaz, mas as suas declarações não passam de um equívoco”, sublinhou Rui Prieto, acrescentando que, ao contrário do que defende o vulcanólogo, “não há mercado” para os produtos derivados do cachalote que justifique a existência de uma fábrica no arquipélago.

Victor Hugo Forjaz disse à imprensa açoriana que a proibição da caça à baleia nos Açores “foi uma decisão precipitada” e que a actividade poderia ter-se mantido nas ilhas, como “tradição”, embora “drasticamente reduzida” em relação aos níveis de captura que se registavam na década de 80, quando Portugal aderiu à moratória internacional que proíbe a caça à baleia.

No seu entender, os baleeiros açorianos deviam ter sido autorizados a manter a caça, “nos mesmos moldes tradicionais”, até aos dias de hoje, sem que isso representasse qualquer atentado ambiental, nem mesmo colidisse com os interesses dos operadores de “whale watching” (observação de baleias).

«Nos Açores não se caçam os cachalotes, mas eles são apanhados mais a norte, aos milhares, pelos islandeses e pelos japoneses», recordou Victor Hugo Forjaz.

Para o vulcanólogo açoriano, a manutenção da caça à baleia nos Açores, mesmo que em pequena escala, poderia justificar, por exemplo, a existência de uma unidade fabril de transformação dos produtos derivados da baleia e também o comércio dos dentes e ossos de baleia, destinados ao ‘srimshaw’ (artesanato).

Em declarações à Agência Lusa, Rui Prieto garante, no entanto, que os japoneses e os islandeses “não caçam cachalotes há décadas”, mas sim outras espécies de baleias, e que os óleos extraídos da gordura dos cachalotes “já não têm mercado” nos dias de hoje, porque foram substituídos por óleos sintéticos.

“Nos Açores continua-se a explorar o cachalote e os outros cetáceos, mas de forma não letal, através do whale watching”, explicou o biólogo do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores, que considera não existirem razões para que a caça seja retomada nas ilhas.

No seu entender, a caça à baleia não foi proibida, mas simplesmente “chegou ao fim”, porque já se encontrava em “declínio natural” desde a década de 1970.

De acordo com os dados científicos recolhidos pelo DOP, na década de 1960, no auge da indústria baleeira nos Açores, existiam 196 embarcações que se dedicavam a esta actividade, número de decresceu drasticamente em dez anos, para apenas quatro botes baleeiros, “por falta de mercado” para a matéria-prima.

O tema da caça à baleia esteve em discussão esta semana numa reunião da Comissão Baleeira Internacional na cidade do Funchal, no arquipélago da Madeira.

Fonte: Açoriano Oriental, 26 de Junho de 2009
Foto: SDC