Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
sábado, 28 de março de 2009
Energia nos Açores, falsas soluções?
Realizou-se recentemente o 8º Seminário Regional de Eco-Escolas, onde um dos temas apresentados foi “a Energia Hidroeléctrica nos Açores”, a 2 de Abril realiza-se a II Conferência Transatlântica de Energias Renováveis que de acordo com a comunicação social irá contar com inúmeros oradores vindos do estrangeiro que vão deixar as suas impressões, experiências, ideias e ajudar a perceber qual o caminho correcto para no caso dos Açores, uma maior penetração das energias renováveis.
A abordagem à energia feita nas duas iniciativas mostra-nos que nos Açores não se está a tratar o tema devidamente. Com efeito, o que é necessário é um novo paradigma energético, onde o direito a produzir energia seja de todos os cidadãos e onde, tal como Illich já defendia em 1973, a “questão não é procurar novas fontes de energia, mas, antes de tudo, mudar o seu consumo”.
Abaixo, deixo um texto extraído de Galiza Livre sobre a Energia que nos mostra como as propostas da EU destinam-se a manter o consumismo.
UE promete reduzir 20% as emissões de CO2 para 2020
O último Conselho Europeu da União Europeia serviu ao mediático presidente francês para anunciar um "acordo histórico" na luta contra a mudança climática; um novo fito possível graças a que os anteriores, igualmente "históricos", nunca foram postos em prática, e que deixará passo presumivelmente a outros por vir quando este pnemotécnico 20-20-20 seja tragado pela amnésia do espectáculo.
Os estados europeus comprometem-se a reduzir antes de 2020 as suas emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa em 20%, bem como melhorar a "eficiência energética" noutro 20% e alargar a proporção das energias renováveis até outro 20% do total. Todo isto, garantem, servirá para salvaguardar ainda por um tempinho mais a vida no planeta, enquanto a civilização ocidental prossegue a sua bebedeira insaciável de energia.
Na linha de Kyoto
Como uns estados tão acérrimos do livre mercado se propõem impor às empresas (principais agentes poluentes) as medidas técnicas que permitirão diminuir as emissões? Em boa lógica, recusam a intervenção directa e em lugar disso... abrem um novo mercado, neste caso o mercado da contaminação. Como todo o demais, também o ar limpo fica mercadoria à disposição das multinacionais da energia, de maneira que os estados asseguram-lhes direitos de propriedade e elas, depois, compram-nos e vendem-nos entre si ao preço que lhes pareça oportuno. Estes leiloes foram propostos pelo conhecido protocolo de Kyoto. A novidade aprovada esta manhã no Conselho Europeu consiste em que os direitos de propriedade de partida, que até agora eram assinados “dadivosamente”, passaram a cobrar-se pelos estados com o fim de arrecadar dinheiro para as depauperadas arcas públicas da era da crise, e também, pelos vistos, para apoiar os países do Leste europeu, mais vulneráveis à redução de emissões pela sua dependência do carvão. Algumas excepções são contempladas, no entanto, para esta medida: aquelas das indústrias mais poluentes (e portanto mais afectadas financeiramente pelo novo custo) que ameacem com deslocar as suas fábricas a países exteriores à União poderão receber um subsídio de até 100% do custo de aquisição dos direitos de contaminação.
Para onde seja, mas sempre para diante
Organizações ecologistas como Greenpeace apressaram-se a denunciar o acordo intitulando-o de mascarada, desde que até dois terços da redução se baseia em compra de direitos de emissão a países empobrecidos, além de que não se estabelecem mecanismos de sanção para os estados cujas empresas incumpram o pactuado.
A tentativa de manter o vigente crescimento ilimitado no consumo energético não parece, com 20-20-20 ou sem ele, muito aliciante: pouco importa que a energia provenha do nefasto carvão, dos horrendos aerogeradores ou da temível (e de retorno iminente) fissão nuclear. Além de pernicioso para a comunidade humana, para as culturas, para a subsistência e até para a própria sáude pessoal, o consumo desaforado de energia não encontra nem pode encontrar nunca o seu ponto de saciedade, pede sempre mais até consumir, literalmente, todo o planeta. A locomotiva do capitalismo alimenta-se desse combustível, com que pouco se pode esperar do que a este respeito acordem os seus motoristas em reuniões como a de hoje.