Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
segunda-feira, 21 de março de 2016
No Dia Mundial da Árvore e da Floresta
No Dia Mundial da Árvore e da Floresta
Hoje, 21 de março, comemora-se mais um Dia Mundial da Árvore e da Floresta.
O Dia da Árvore, segundo alguns autores, foi instituído a 10 de abril de 1872, no Estado do Nebrasca, nos Estados Unidos da América.
Em Portugal, o culto da árvore foi institucionalizado com a implantação da República, que entre outros valores defendia o culto da árvore. Assim, foi criada a Associação Protetora da Árvore e anualmente passou a realizar-se a Festa da Árvore. Esta teve lugar, pela primeira vez, a 26 de maio de 1907, no Seixal, por iniciativa da Liga Nacional da Educação. Mais tarde, entre 1912 e 1915, a Festa da Árvore foi organizada pelo jornal “Século Agrícola”.
Com a entrada de Portugal na 1ª Grande Guerra Mundial, as comemorações entraram em declínio e em 1923 o ministro da instrução pública tentou reanimá-la, sem grande sucesso. De qualquer modo naquele ano realizou-se a Festa da Árvore em pelo menos duas escolas de Ponta Delgada, a Escola Normal Primária de Ponta Delgada e a Escola Primária de São José.
Segundo José Neiva Vieira, durante o Estado Novo e até 1970 a Festa da Árvore não tem significado”
Em 1970, a Direção Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas e a Liga para a Proteção da Natureza propuseram que no âmbito de um conjunto de iniciativas que estavam a promover se celebrasse o Dia da Árvore. A proposta foi aceite pela Secretaria de Estado da Agricultura e desde então até aos nossos dias passou a celebrar-se anualmente.
Em 1974, o Dia Mundial da Floresta foi comemorado oficialmente pela primeira vez, depois de a FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura ter fixado a data de 21 de Março e a nova designação mais abrangente que a anterior.
Ao longo da história dos Açores várias pessoas e organizações têm chamado a atenção para os perigos da desflorestação ou para as consequências nefastas em termos patrimoniais para a perda da biodiversidade.
Neste texto, que não pretende aprofundar o tema, apenas faremos referência a algumas personalidades e organizações que contribuíram para o melhor conhecimento da flora dos Açores ou alertaram para a destruição da Floresta Primitiva dos Açores.
O botânico, nascido na ilha Terceira, Rui Teles Palhinha (1871-1957) foi um dos pioneiros dos estudos da flora dos Açores. Como resultado de diversas excursões botânicas publicou vários textos na revista “Açoriana”, bem como noutras revistas nacionais e internacionais. Das obras da sua autoria destaca-se o “Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores”, publicado, em 1966, pela Sociedade de Estudos Açorianos Afonso Chaves.
A 30 de setembro de 1903, o padre vila-franquense Manuel Ernesto Ferreira (1880-1943) alertou para o desaparecimento de algumas espécies da “flora indígena”, “umas definhando-se progressivamente, outras exterminadas pela mão do homem”. No mesmo texto, publicado na revista “A Phenix”, o Padre Manuel Ernesto Ferreira sugeriu a criação de viveiros ou a sua colocação em jardins, pois segundo ele “a representação dos exemplares da flora indígena, ao mesmo tempo que seria um ótimo serviço à ciência, mostraria o bom gosto de quem a fizesse e significaria também um ato de veneração e respeito pelo passado”.
Hoje, fruto dos estudos desenvolvidos na Universidade dos Açores e da pressão exercida pelas associações não-governamentais de ambiente, com destaque para a Quercus e para os Amigos dos Açores, existe uma maior consciência ambiental por parte de um setor, infelizmente restrito, da população e alguma, menos do que a desejada, dinâmica conservacionista por parte de algumas entidades oficiais.
De entre as incitavas daquelas associações destaca-se um abaixo-assinado, lançado em 1990, que apresentava a situação preocupante em que se encontrava a flora autóctone dos Açores e propunha aos órgãos de poder nacional e regional, a criação de um plano de emergência para a salvaguarda da vegetação natural dos Açores,
Entre as medidas positivas que desde algum tempo têm sido implementadas, destaca-se alguma aposta na propagação e plantio de espécies da flora açoriana e a criação do Jardim Botânico do Faial que foi inaugurado, em 1990, precisamente no Dia Mundial da Floresta.
As comemorações anuais do Dia da Floresta só fazem sentido se, a par das plantações que devem ser bem pensadas para que as árvores não tenham que ser decepadas poucos anos depois por não serem adequadas aos espaços, se entretanto não tiverem morrido de sede no verão seguinte, no referido dia ou nos anteriores houver uma reflexão sobre a importância das árvores que não se esgota na produção de madeira e de outras matérias-primas.
Termino com uma citação de Ernesto Bono: “Plante uma árvore sim, mas não para garantir isto e aquilo; plante uma árvore, ou mais de uma, plante todas as árvores do mundo, mas simplesmente por carinho à árvore e por amor à natureza. E se não plantar, deixe então que a natureza se plante a si mesma”.
Teófilo Braga
21 de março de 2016