terça-feira, 29 de março de 2016

A tourada na escola


A Tourada na Escola

Tomámos conhecimento, através do programa da XIV Semana da Ciência, promovida pelo Departamento de Ciências da EBI de Angra do Heroísmo, da integração da conferência “A importância da festa Brava na ilha Terceira”, no programa da XIV Semana da Ciência, promovida pelo Departamento de Ciências da referida escola.

Aquele facto merece da minha parte dois reparos, o primeiro foi muito bem descrito por um texto que circula nas redes sociais e que questiona a ligação entre ciência e tauromaquia. De acordo com o autor(a) ou autores(as) do mesmo: “Não é compreensível que na promoção da ciência - uma área que leva à importância de questionar, de comprovar, da experenciação, da reflexão - tenha sido subtilmente aproveitada para incutir a prática da tauromaquia, em crianças, pré adolescentes e adolescentes”. O segundo reparo relaciona-se com a finalidade da escola e da educação. Assim, segundo o conhecido pedagogo francês Freinet, o principal fim da educação “é o crescimento pessoal e social do indivíduo, elevar a criança a um máximo de humanidade preparando-a a não apenas para a sociedade atual, mas para uma sociedade melhor, fazendo-a avançar o mais possível em conhecimento num constante desabrochar”.

Podemos não concordar com as ideias e com a pedagogia de Freinet, mas achamos que qualquer pessoa de bom senso pode rever-se no fim enunciado. Assim sendo, gostaríamos que os promotores da conferência refletissem sobre que contributo poderá dar a mesma para o conhecimento científico das crianças, como pode a divulgação e banalização da tortura mais ou menos suave contribuir para a formação pessoal de uma criança e, por último, como pode a mencionada conferencia contribuir para a formação de pessoas mais humanas numa sociedade futura que queremos melhor, isto é onde haja respeito por todos os seres vivos que com os humanos partilham a vida na terra.

Termino, transcrevendo um poema da autoria de José Batista, publicado em Abril 1915 na Revista Pedagógica, dirigida por Maria Evelina de Sousa onde de modo muito subtil é abordada a questão da violência na tauromaquia.

NA TOURADA
Entra na arena o touro, furioso,
Arremetendo contra o cavaleiro
Que, impávido, lhe crava, bem certeiro,
Um ferro no cachaço musculoso.

Solta a fera um rugido doloroso,
A que responde o redondel inteiro~
Numa salva de palmas ao toureiro,
Vitoriando o feito valoroso.

D’um camarote chovem frescas flores,
Arremessadas pela nívea mão
De donzelinhas lindas como amores!...

Tão lindas, sim, mas parecendo feias…
Porque se apaga o brilho da paixão
Em quem jubila com dores alheias.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30896, 29 de março de 2016, p.8)
Imagem: http://c3.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/Baa150c43/16520103_niELl.jpeg