quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

DANADOS PARA A TORTURA


Os primeiros dias do mês de Fevereiro foram agitados para os lados dos defensores das sessões de tortura animal mais conhecidas por touradas. Com efeito, a realização do II Fórum dito Mundial da Cultura (?) Taurina não terá ocorrido com serenidade, pois foram vários os protestos contra o uso de dinheiros públicos sem os quais a iniciativa não se teria realizado.
A falta de serenidade notou-se pelo nervosismo dos “porta-vozes” do evento referido que fartaram-se de criticar os jornalistas pela sua pretensa parcialidade, de mentir acerca do não recebimento de apoios públicos, de falar sobre o seu sonho – a sorte de varas – quando anunciaram que o Fórum nada tinha a ver com esta pratica ainda mais sanguinária e a criticar as touradas à corda, dizendo que quem gosta delas são os anti-touradas, porque o que querem ver é “porrada”.

Com a denúncia, por parte de algumas associações e grupos informais, de alguns milhões de euros de impostos que são desviados ao investimento em actividades produtivas para financiar o lobby das touradas, a nobreza terceirense, que ao longo de toda a história espezinhou o povo e para o anestesiar deu-lhe touradas à corda, nomeadamente em períodos eleitorais, voltou a apelar à união pois os perigosos anti-taurinos querem acabar com toda a tauromaquia terceirense e dos arredores.

Mas, o bairrismo doentio também arrasta alguns nobres dissidentes ou falidos e alguns intelectuais de pacotilha, associados a fascistas de esquerda e de direita, que, achando cruéis as touradas de praça, consideram que as de corda são dignas de figurar entre o património imaterial da humanidade. Bastava que estes pobres de espírito lessem a obra, de Pedro de Merelim, “Tauromaquia Terceirense”, para perceberem que se hoje estas são mais “suaves” para os animais, já o foram mais bárbaras e muitas mortes e feridos já causaram.

Além do referido, as touradas têm sido um entrave a um desenvolvimento económico saudável dos Açores, por serem um sorvedouro de dinheiros públicos que são transferidos para os bolsos de meia dúzia de industriais da indústria da tortura animal, por roubarem horas de trabalho (volto a recomendar a leitura de Merelim), pelo facto das despesas de saúde advindas dos ferimentos causados aos “foliões” e não só ficarem a cargo de todos nós, etc. .

Não me querendo alongar, pois os argumentos dos que gostam de touros, mas torturados, não fazem sentido, por isso nem merecem ser rebatidos, farei apenas uma ligeira referência ao de um ganadeiro que filosofou sobre a grande diferença que existe entre sofrimento e dor.

Para mim, mesmo que os animais se ficassem pela dor, eu continuaria a sofrer ao ver um touro ser maltratado e a sangrar apenas para satisfazer o sadismo de alguns ou a insensibilidade que foi incutida a muitos outros.
Também, queria dizer que não é verdade que vai quem quer às touradas. Com efeito, se não vou fisicamente, uma parte do meu vencimento, resultado do meu trabalho, que me é retirado pelos impostos, está lá presente.

Para terminar, dedico a citação, abaixo, a todos os humanos sensíveis aos problemas dos sem-abrigo, à fome que atinge algumas pessoas, ao abandono a que são votados os animais domésticos, mas que pela lavagem ao cérebro a que foram sujeitos não conseguem entender que é possível a todos, seres humanos ou não (cães, gatos, touros, patos, etc.) vivermos melhor, em harmonia:

“Era uma vez um czar naturalista que caçava homens. Quando lhe disseram que também caçam borboletas e andorinhas, ficou muito espantado e achou uma barbaridade.” (Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), poeta e cronista brasileiro)

Mariano Soares

.