quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um charco não é um pântano


Lagoa do Areeiro, Vila Franca do Campo

Em pleno século XXI e mesmo entre pessoas de habilitação superior, o que não é admissível, continua a persistir a ideia errónea de que os charcos são prejudiciais ao homem e conspurcam as paisagens. Foi possivelmente com este pensamento que se “entulhou” o Charco da Madeira, localizado na Fajã de Cima, e outros de menor dimensão na ilha de São Miguel.

Ao contrário do que era voz corrente no passado, e que parece persistir ainda hoje, os charcos têm uma importância ecológica e desempenham funções ambientais dignas de relevo, de tal modo que os que se encontram de algum modo em perigo deveriam ser recuperados e os que estão em boas condições deveriam, a todo o custo, ser protegidos.

Com vista a “contribuir para a inventariação, adopção, construção e exploração pedagógica de charcos, de forma a contribuir para o conhecimento e observação da sua biodiversidade e a sensibilização sobre a importância destes habitats” o CIBIO-Div – Unidade de Divulgação e Comunicação de Ciência em Biodiversidade do CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos) organizou a campanha de educação ambiental “Charcos com Vida” a qual conta desde já com a participação da Escola Secundária das Laranjeiras, como forma de dar continuidade ao seu projecto “Água Fonte de Vida” e com o interesse por parte da Escola Secundária Antero de Quental em recuperar um charco lá existente.

Na campanha Charcos com Vida, para além da inventariação de charcos, é possível a adopção de um deles com o compromisso de durante, pelo menos um ano, “contribuir activamente para o seu estudo, caracterização, gestão e divulgação”.

Outra actividade de grande importância é a construção de novos charcos, os quais serão de grande utilidade para o “melhoramento de paisagens e áreas de lazer para a população, na criação de microclimas em jardins e zonas agrícolas, na recuperação da qualidade das águas superficiais e é uma ferramenta para a conservação de espécies que vivem ou dependem de pontos de água doce para a sua sobrevivência, compensando a destruição e degradação de charcos por motivos antropogénicos”.

Sendo a adopção de um charco ou de uma pequena lagoa cada vez mais difícil pois a saída das escolas para visitas de estudo está limitada por aquelas não possuírem verbas disponíveis em orçamento para transportes e os autocarros cedidos pelas autarquias serem insuficientes.

A construção de um charco é, não temos dúvida, a actividade que mais se adequa às escolas pois não requer grandes investimentos, podendo ser reutilizadas telas impermeáveis, e não necessita de ocupar uma grande área.

Numa escola, e não só, um charco constitui um importante recurso educativo pois permite a realização de actividades educativas como a observação de plantas, aves e de outros animais, como anfíbios, libelinhas, etc.

Não queria acreditar quando alguns colegas meus me disserem que professores de várias escolas se opunham à construção de charcos nos seus estabelecimentos de ensino, alegando que os mesmos atraiam mosquitos e outros insectos que poderiam prejudicar outras actividades, nomeadamente as relacionadas com o ensino de práticas agrícolas ou de jardinagem.

Bastaria um pouco de esforço para, através de uma curta pesquisa bibliográfica ficarem a conhecer a importância dos charcos, ou uma saída de campo para observação dos charcos que foram construídos pelos lavradores, para servirem como bebedouros para o gado, para descobrirem que a grande maioria está em equilíbrio com o meio e apresenta uma biodiversidade que enriquece as paisagens. No limite, se não quisessem despender qualquer esforço, mesmo mínimo, bastaria que perguntassem a quem já possui charcos em casa para ficarem a saber que o problema dos mosquitos e outra bicharada dita prejudicial não existe a não ser na sua pantanosa cabeça.

Como muito bem disse Albert Einstein: “É mais fácil destruir um átomo do que um preconceito”

Teófilo Braga