quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Luís Leitão defensor dos Animais



Quem um dia escrever a história do movimento de protecção dos animais, nos Açores, não poderá esquecer o nome do escritor e jornalista Luís Albino da Silva Leitão que foi colaborador de Alice Moderno, no jornal “A Folha”.

Luís Leitão, que nasceu em Elvas em 1866 e faleceu em Lisboa em 1940, trabalhou nos Correios, foi o introdutor, em Portugal, da “Festa da Árvore”, colaborou em centenas de jornais quer de Portugal quer do Brasil, onde escreveu sobre temas “como o combate ao crime, à guerra, ao alcoolismo, ao tabagismo, e à tauromaquia, defendeu a educação feminina, os direitos da criança, os direitos dos animais e o vegetarianismo” (Wikipédia). A corroborar o mencionado, para Alice Moderno, Luís Leitão como propagandista, escritor e educador social, tinha como missão “o nivelamento das classes sociais, a paz universal, a emancipação da mulher, a protecção à criança, aos velhos, aos animais (tão úteis e sofredores) ”.

A colaboração de Luís Leitão no jornal micaelense “A Folha” começou no dia 21 de Novembro de 1909, com um texto sobre asilos para animais. No seu texto sobre um existente em Berlim, o autor destaca o modo como eram bem tratados os animais e deu o exemplo de um cavalo que foi lá entregue com a recomendação para que lá permanecesse até à sua morte, como recompensa pelo que ele fez enquanto pôde trabalhar.

A propósito do asilo berlinense, Luís Leitão mencionou o facto do estado alemão colaborar com todos projectos dos amigos dos animais, o que não acontecia em Portugal.

Passados 100 anos, o estado português (nos Açores, a “Região” e as autarquias) ainda não reconheceu a importância do apoio, digno deste nome e não apenas migalhas para “ficar bem na fotografia ou no televisor”, que deveria dar às associações de protecção dos animais existentes e ainda não mandou para o caixote de lixo da história a politica de abate nos pomposamente chamados Centros de Acolhimento (Canis).

Hoje, considero que são actuais as causas apontadas, em 1915, por Luís Leitão para os maus tratos de que são vítimas os animais. Assim, para o autor referido é “a deficiente educação dos humildes e a errada orientação mental de alguns grandes” a causa da maioria dos maus tratos aos animais.

De igual modo, penso que pouco se evoluiu no que diz respeito ao sofrimento animal pois, tal como há quase um século, as pessoas mostram-se muito carinhosas com o seu animal de estimação, mas envenenam o do vizinho, preocupam-se com uma vaca acorrentada pelo pé, mas nada têm a opor a um touro fechado numa “gaiola” ao Sol durante alguns dias ou espetado com ferros numa tourada de praça. A razão apontada para a continuação dos maus tratos é pura e simplesmente só uma: os animais não sentem.

Luís Leitão, num texto de 1913, a propósito do pretenso não sofrimento animal escreve: “Sentem eles as pancadas? Não se lhes dever bater; não as sentem? Bate-se-lhes então por desfastio, visto que as nossas mãos não podem estar quedas…”
Num texto de 1914, Luís Leitão menciona o facto de haver vantagem no estreitar de relações entre crianças e animais e faz referência ao facto de um determinado autor considerar que “os pais endurecem o coração dos filhos mandando-os bater nos animais ou batendo-lhes eles próprios diante daqueles” e termina mencionando a necessidade de ir “elucidando os pequenitos sobre o mérito absoluto e relativo dos animais, quando não para evitar picardias no presente, para não dar lugar à brutalidade com que muitos irão tratá-los quando adultos, por terem crescido na ignorância da verdade”.

Luís Leitão, que tal como Alice Moderno, era contra as touradas, em vários textos publicados no jornal A Folha, aborda a questão da sua proibição e num deles, datado de 1910, cita o escritor espanhol Navarro Murilo que escreveu o seguinte: “se aplicarmos as leis históricas às corridas de touros é fácil deduzir que o sentido moral as abolirá fatalmente ante o juízo dos povos cultos, ante as grandes transformações sociais e em virtude das exigências do direito humano e do aperfeiçoamento agrícola e industrial”.

Quantos anos ou séculos mais vamos ter de esperar para que deixe de haver sofrimento animal para gozo de alguns humanos?

Autor: Teófilo Braga
Fonte: Correio dos Açores, 10 de Agosto de 2011