quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Desenvolvimento Sustentável? Não, Obrigado!



1- Extractos

O que é isto de desenvolvimento sustentável?

Abaixo, apresento diversos extractos de textos onde há referência ao conceito, por vezes com significados e intenções bastante diferentes. Na segunda parte, farei uma breve referência ao mesmo e à contestação de que é alvo.

“Pergunte-se se a pecuária nos Açores é sustentável e a resposta é que não, sendo essencialmente sustentada. Falhem os subsídios, falhem as quotas e lá se vai o símbolo da nossa economia não sustentável, porque não diversificada e de dependência frágil de conjunturas volúveis”. (Veríssimo Borges, 2006)

“Neste diálogo fez-se um balanço das actividades desenvolvidas, bem como as preocupações e o papel do poder local no apoio ao associativismo. Ambos concordaram com a relevância desta profissão para o desenvolvimento sustentável das entidades, bem como o grande desafio que teremos pela frente quanto à desmistificação da actual imagem das Relações Públicas” (Blogue da Associação de Relações Públicas dos Açores”, 7 de Setembro de 2009).

“… a existência de uma maioria absoluta do Partido Socialista, não permitiu dar os passos necessários para inverter essa situação, e permitiu ao governo Regional continuar a exercer uma política que objectivamente nos tem afastado da coesão e de um modelo de desenvolvimento sustentável” (Aníbal Pires, 27 de Novembro de 2009).
“Empenhei-me, com o apoio incondicional do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, em lutas específicas do Faial, mas sempre com o objectivo dum desenvolvimento sustentado para os Açores, repudiando bairrismos doentios” (Mário Moniz, 27 de Fevereiro de 2011).

“A protecção e a gestão integrada do ambiente são aspectos que têm merecido, ao longo dos anos, uma atenção especial por parte do Partido Socialista, constituindo um factor fundamental para o desenvolvimento sustentável dos Açores” (Bárbara Chaves, 13 de Abril de 2011).

“Berta Cabral revelou que tem “a determinação de defender a autonomia acima dos interesses partidários, a preocupação com o desenvolvimento integral das ilhas num plano regional e a opção de apostar num desenvolvimento sustentável com respostas locais” (Lusa/AO online, 2 de Julho de 2011).

2- O conceito

O conceito de desenvolvimento sustentável, aquele que se refere a um desenvolvimento que é “capaz de satisfazer as necessidades da geração actual sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações futuras”, serve para justificar tudo, mesmo os maiores atentados e crimes ambientais.

Se é certo que o conceito em si não é o responsável pelos actos cometidos pelos mais diversos tiranos e tiranetes, não é menos certo que se trata de um conceito que, servindo para tudo, para nada serve por ser vago ou mesmo vazio, como se verá a seguir:

- O que se entende por desenvolvimento? O crescimento desenfreado e infinito da produção e de bens muitos dos quais são verdadeiro lixo que nos é impingido pela publicidade enganosa, num planeta que não é infinito?

- Quais são as necessidades da geração actual e quem as define? As dos produtores e dos consumidores ricos dos países ricos ou as dos mais pobres dos países pobres?
Parafraseando o pai da educação ambiental em Portugal, o Dr. José de Almeida Fernandes, e substituindo a palavra ambiente por desenvolvimento sustentável diria que “A ‘muleta’ desenvolvimento sustentável é hoje indispensável à ‘solidez’ do discurso político, seja ele do poder ou do contra-poder. Com tal usura perdeu a força que deveria ter, dominada que foi pelo joio dos interesses, da mentira, da pseudo preocupação pela adequada ‘gestão solidária’ dos bens da terra”.

Outro autor, Tabacow, corrobora o que atrás foi mencionado, tendo afirmado que o desenvolvimento sustentável não serve mais do que “para emprestar status àquilo que rotula, ainda que de forma leviana, inadequada, equivocada ou mesmo mal intencionada”.

Para o teólogo da libertação brasileiro, Leonardo Boff, teimar em aplicar o conceito de desenvolvimento sustentável que “não é uma panaceia, mas um placebo” “é enganar o paciente, talvez, matá-lo”.

Fonte: Correio dos Açores, 17 de Agosto de 2011