sábado, 13 de dezembro de 2008

A propósito da Lagoa do Fogo e da Sua Liga de Amigos


No passado dia 29 de Outubro, em reunião realizada em Ponta Delgada, foi criada a Liga dos Amigos da Lagoa do Fogo, movimento cívico que tem como missão a conservação da Reserva Natural da Lagoa do Fogo.
Este movimento cívico e o CAES- Colectivo Açoriano de Ecologia Social que se encontra associado ao Blog Terra Livre, constituem uma lufada de ar fresco no quase apático movimento ambientalista nos Açores.
Com efeito, apesar da crescente institucionalização das ONGAS, que se tem traduzido em mais apoios governamentais, o panorama é desolador. Assim, numa breve referência às maiores associações verifica-se o seguinte:
1-A Quercus- São Miguel não tem tido qualquer actividade pública, desde o falecimento de Veríssimo Borges, seu principal dirigente;
2-A Azórica mantém tem uma actividade bastante reduzida, muito longe dos primeiros tempos áureos;
3-A Gê- Questa, tem, hoje, uma actividade irregular;
4-Os Montanheiros, tem, maioritariamente, a sua actividade centrada no desporto de ar livre e na gestão turística de cavidades vulcânicas;
5-A associação Amigos dos Açores é a única que tem tido uma actividade relevante, não só em termos de sensibilização/formação, mas também de denúncia de atentados ambientais.
O carácter inovador da Liga dos Amigos da Lagoa do Fogo é, para já, a sua não formalização, o agrupar um conjunto de activistas membros de várias associações existentes e o centrar a sua actividade no voluntariado e na acção directa.
A título de exemplo, registaria a primeira actividade da Liga que consistiu numa acção de limpeza de plantas invasoras ocorrida, na Reserva Natural da Lagoa do Fogo, no passado dia 22 de Novembro. De acordo com notícia publicada no Blog da Liga, participaram na acção cerca de 20 elementos, apoiados por dois Vigilantes da Natureza, que removeram exemplares das seguintes espécies invasoras: conteira (Hedychium gardneranum), silva-mansa (Leycesteria formosa), pica-ratos (Ulex europaeus), nespereira (Eriobotrya japonica), polígono de jardim (Persicaria capitata) e cletra (Clethra arborea).
Outra questão que tem preocupado a Liga dos Amigos da Lagoa do Fogo é a reflorestação de uma mata que está a ser cortada em plena Reserva Natural, num terreno com um declive muito elevado.
Não contestamos, tal como a Liga, a autorização para o abate de criptomérias, o que não podemos aceitar é que a reflorestação seja feita com a mesma espécie, em detrimento de espécies nativas e endémicas dos Açores.

Teófilo Braga

(Publicado no Jornal Terra Nostra, nº 383, 12 de Dezembro de 2008, p. 27)