Pela criação de um Colectivo Açoriano de Ecologistas que tenha por objectivo a reflexão-acção sobre os problemas ambientais, tendo presente que estes são problemas sociais e que a sua resolução não é uma simples questão de mudanças de comportamentos, mas sim uma questão de modelo de sociedade.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Touradas, por que não?
Touradas?...
O touro é um mamífero capaz de sentir emoções fortes como dor, medo e até ansiedade. Possui um sistema límbico, um sistema nervoso complexo e terminações nervosas superficiais que lhe permitem sentir dor e sofrer (segundo estudo de John Webster, Veterinário Catedrático da Universidade de Bristol, 2005). É um herbívoro territorial, e como tal apenas se defende quando é atacado ou quando o seu espaço é invadido.
Os touros têm a capacidade de experienciar prazer e sentem-se motivados a procurá-lo. Basta ver como procuram e apreciam o prazer de viver em manada ou de estarem deitados com as cabeças levantadas na direcção do sol.
Como surgiram as touradas?
Influenciadas por alguns espectáculos frequentes no Império Romano, os primeiros registos de touradas remontam ao ano 815, por altura de um evento político da actual Espanha, onde foram mortos touros em homenagem ao acontecimento. Na documentação relativa à coroação de Afonso VII, em 1135, também existem referências a touradas, onde vários cavaleiros atestaram a sua bravura. A tourada era, portanto um entretenimento aristocrático, cuja ocorrência era rara e não tinha normas próprias que a definissem.
Na época da Inquisição com a construção de praças para condenar humanos e animais, as touradas passaram a ser mais populares. E durante o século XVIII, tornaram-se efectivamente um espectáculo para as massas.
Portugal já foi um país sem touradas
No Reinado de D. Maria II, em que o Ministro do Reino foi Passos Manuel, estiveram proibidas as touradas em todo o país. No ano de 1836, Passos Manuel promulgou um Decreto proibindo as touradas em todo o país (Diário do Governo nº 229, de 1836):
“Considerando que as corridas de touros são um divertimento bárbaro e impróprio de Nações civilizadas, bem assim que semelhantes espectáculos servem unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade, e desejando eu remover todas as causas que possam impedir ou retardar o aperfeiçoamento moral da Nação Portuguesa, hei por bem decretar que de hora em diante fiquem proibidas em todo o Reino as corridas de touros.”
Opinião da Igreja Católica sobre as touradas A 1 de Novembro de 1567, o Papa Pio V publicou a bula "De salute gregis dominici", ainda em vigor:
“(...) Nós, considerando que estes espectáculos que incluem touros e feras no circo ou na praça pública não têm nada a ver com a piedade e a caridade cristã, e querendo abolir estes vergonhosos e sangrentos espectáculos, não de homens, mas do demónio, e tendo em conta a salvação das almas na medida das nossas possibilidades com a ajuda de Deus, proibimos terminantemente por esta nossa constituição (...) a celebração destes espectáculos (...)” (in "Bullarum Diplomatum et Privilegiorum Sanctorum Romanorum Pontificum Taurinensis editio", tomo VII, Augustae Taurinorum, 1862, pág. 630-631.)
A sociedade evolui
A 15 de Outubro de 1978, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, na qual se declara:
- Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a actos cruéis.
(Artigo 3º, alínea 1)
- Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem.
(Artigo 3º, alínea 2)
- As exibições de animais e os espectáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal. (Artigo 10º, alínea 2)
Ao fazer do sofrimento de um animal um meio de diversão, o Ser Humano está a propagar e banalizar a violência gratuita como forma de ser e estar na sociedade. De geração em geração, o sofrimento alheio banaliza-se no inconsciente colectivo. Uma sociedade mais fraterna, justa e pacífica constrói-se em grande medida na abolição de práticas de “divertimento” que se baseiam no abuso de animais, como são as touradas.
Do mesmo modo que actualmente se preserva o lince ibérico e a águia-real, nada nos indica que os touros desapareceriam com o fim das touradas. Os touros poderiam viver livremente em santuários ou em grandes quintas.
Mas mesmo que a raça se extinguisse, tal seria preferível ao sofrimento que os animais padecem ao longo da sua vida. O impacto ecológico seria nulo, uma vez que o touro é uma raça domesticada resultante de selecção artificial feita pelo homem.
O que podes fazer?
• Frequenta outro tipo de espectáculos, como por exemplo, circos sem animais, cinema, teatro, animações de rua, espectáculos de magia, etc.
• Boicota e manifesta o seu desagrado a empresas que apoiam espectáculos tauromáquicos.
• Não participes em festas que incluam o touro em algum espectáculo.
• Informa e sensibiliza aqueles que nos rodeiam sobre os factos das touradas e a importância delas acabarem.
• Apoia, divulga e participa em iniciativas que defendam os direitos dos animais e dos touros em particular.
• Distribui o folheto Touradas?... deixemo-nos de Touradas!
Referências:
http://www.centrovegetariano.org
http://www.accaoanimal.com
http://www.matp-online.org