quarta-feira, 7 de março de 2018

Alguns marcos históricos da educação ambiental e da defesa do ambiente (4)


Alguns marcos históricos da educação ambiental e da defesa do ambiente (4)

Hoje, publicamos o quarto texto dedicado a marcos importantes, tanto internacionais como nacionais, relacionados com a defesa do ambiente e a educação ambiental que ocorreram entre 1972 e 1974.

Com a presença de 114 países realizou-se, em 1972, em Estocolmo, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano. Nesta conferência foi criado o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), sediado em Nairobi, Quénia, e aprovada a Declaração do Ambiente que relativamente à educação refere o seguinte:

É essencial ministrar o ensino, em matérias de ambiente, à juventude assim como aos adultos, tendo em devida consideração os menos favorecidos, com o fim de criar as bases que permitam esclarecer a opinião pública e dar aos indivíduos, às empresas e às colectividades o sentido das suas responsabilidades no que respeita à protecção e melhoria do ambiente, em toda a sua dimensão humana.

John McCormick, num texto publicado no Rio de Janeiro intitulado “Rumo ao paraíso: a história do movimento ambientalista”, considerou que aquele evento foi “o acontecimento isolado que mais influiu na evolução do movimento ambientalista internacional” e acrescentou que “o pensamento progrediu das metas limitadas de proteção da natureza e conservação dos recursos naturais para a visão mais abrangente da má utilização da biosferapor parte dos humanos”.

No mesmo ano, a nível internacional, foi publicado o primeiro relatório do Clube de Roma que segundo Charles-Henri Favrod, “em vésperas da crise do petróleo que rebentará no ano seguinte, convida a opinião pública mundial, geralmente embalada por promessas expansionistas, a ganhar consciência dos «limites do crescimento». A sua repercussão imediata (45 000 leitores em França. 300 000 na Alemanha Federal, quase outros tantos nos Países Baixos) prova uma inquietação latente do público perante os «milagres económicos» e coloca em primeiro plano de atualidade um organismo até ali pouco conhecido”. Embora se possa considerar que o relatório foi alarmista, uma coisa é certa os “milagres económicos” têm acontecido à custa da delapidação de recursos não renováveis e a riqueza criada não tem chegado a todos os seres humanos, sobretudo aos seus principais criadores

A nível nacional foi criada a Subsecretaria de Estado do Ambiente, e apresentado na televisão o programa “Há só uma Terra”, da responsabilidade da Comissão Nacional do Ambiente.

Em 1973, o economista inglês Ernest Friedrich Schumacher (1911-1977) publica o livro “Small is Beautiful: um estudo de economia em que as pessoas também contam”, onde desenvolve o conceito de Tecnologia Intermédia e critica as economias ocidentais. No mesmo ano o engenheiro agrónomo francês René Dumont (1904-2001) publica o livro “Utopia ou Morte” que foi um marco importante no desenvolvimento do movimento da ecologia política que se opõe à “ideologia do crescimento ilimitado e à acumulação infindável de bens em que assenta a sociedade de consumo atual”.

A nível nacional, no ano de 1973, foi comemorado oficialmente, a 5 de junho, o Dia Mundial do Ambiente.

Em 1974, o químico dos EUA Sherwood Rowland (1927-2012) e o químico mexicano Mário Molina, nascido em 1943, descobrem que os clorofluorcarbonetos (CFCs) podem destruir a camada de ozono. No mesmo ano ocorre a primeira crise petrolífera. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) impõe um embargo do precioso líquido aos Estados Unidos pelo seu apoio a Israel na Guerra contra o Egipto e a Síria, catapultando os preços e originando uma crise energética e económica mundial.

Em Portugal com a implantação de um regime democrático a 25 de abril, foram criadas duas associações ligadas ao ambiente, o Movimento Ecológico Português, com sede em Lisboa, que foi dinamizado, entre outros, por Afonso Cautela e o Núcleo Português de Estudos e Proteção da Vida Selvagem, com sede no Porto.

Esta última organização tinha, de acordo com os seus estatutos, como objetivo prioritário a proteção da natureza, em especial da fauna e da flora, teve a sua sede localizada na rua Padre Manuel José Pires, localizada na freguesia de São Pedro, no concelho de Vila Franca do Campo. Foram seus principais dinamizadores, o francês Gerald le Grand e o vila-franquense Duarte Soares Furtado,

(continua)
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31471, 7 de março de 2018, p. 17)