quinta-feira, 17 de agosto de 2017

A Energia Nuclear no Estado Novo


A Energia Nuclear no Estado Novo


Ao longo dos tempos, no nosso país, tem surgido a ideia da utilização da energia nuclear para a produção de eletricidade. Neste texto, darei a conhecer o que se pensava fazer no Estado Novo e algumas notícias e textos sobre o assunto publicados na ilha de São Miguel.
Num texto publicado na revista “Brotéria”, em 1954, Abílio Martins, escreveu que, dado o “progresso técnico” alcançado, acreditava que “a construção e exploração industrial duma central atómica, destinada a valorizar os nossos minérios uraníferos e dar um largo apoio efectivo ao plano em marcha da nossa eletrificação, haja de se afirmar oportunamente como uma realidade triunfal”.

O autor referido, no seu texto, abordou a questão dos custos de produção das centrais atómicas que era mais elevado do que as centrais térmicas, mas mostrou-se otimista em relação ao assunto, como se depreende da leitura do seguinte extrato: “Ademais, a técnica da captação da energia nuclear encontra-se em decidida evolução, e tudo leva a crer que, dentro em breve, escolhendo bem o dimensionamento duma central “atómica”, possamos obter energia eléctrica a preços sensivelmente inferiores…”

Sobre o nuclear, o presidente do Conselho de Ministros, ao dar posse à Junta de Energia Nuclear, criada pelo Decreto-Lei nº 39580, de 29 de Março de 1954 e que tinha, entre outras atribuições, a de produzir e aproveitar combustíveis nucleares e produzir energia elétrica por via nuclear, disse: “…pode bem ser que a Providência, tendo-se mostrado avara connosco quanto a fontes conhecidas de energia – o carvão, os óleos minerais, mesmo a força hídrica – nos tenha compensado de alguma forma com um pouco de urânio e de outros minérios afins, mananciais a explorar no futuro”.

A 12 de fevereiro de 1958, o Dr. António Augusto Riley da Mota publicou no Correio dos Açores um longo texto intitulado “Milhões de graus…” onde abordou as duas formas de energia nuclear, a fissão, usada hoje nas centrais nucleares e que é fortemente contestada devido ao problema das radiações e dos resíduos nucleares, e a fusão que não tem os inconvenientes da fissão, sendo, portanto, uma forma de energia limpa.

No seu texto, o Dr. A. A. Riley da Mota, depois de referir que o cientista inglês Cockroft havia comunicado que “ele e os seus colaboradores estavam a ultimar uma grande descoberta”, escreveu o seguinte: “Tratar-se-ia da obtenção acessível de altíssimas temperaturas – da ordem de milhões de graus! – que permitiriam, dentro de poucos anos, fácil libertação de energia termonuclear a partir de elementos baratos, como o hidrogénio e semelhantes, especialmente o deutério, que abunda na água.”

A 10 de abril de 1958, o jornal “Correio dos Açores” publicou uma nota da ANI onde a dado passo se afirma que “dentro de dez anos a principal fonte de energia, para Portugal será atómica”. Na mesma notícia pode-se ler que estava a ser acelerada “a exploração dos jazigos de urânio no Norte do País” e em Angola e Moçambique estava “a ser executado um programa para a exploração de jazigos de urânio”. Por último, ainda se pode ler que “antes de dois anos, Portugal tenciona possuir a sua primeira estação geradora atómica”.

No dia 24 de dezembro de 1971, o Correio dos Açores publicou uma pequena nota onde se podia ler que sem centrais “electro-nucleares” não havia futuro e se previa que no ano dois mil 50% da energia elétrica seria produzida a partir de centrais nucleares.

A 3 de janeiro de 1974, o presidente da Junta de Energia Nuclear, general Kaúlza de Arriaga, considerou que aquele organismo era o “expoente maior da intelectualidade portuguesa e do conhecimento científico e da capacidade técnica nacionais” e acrescentou o seguinte: “Reactores térmicos de urânio natural ou ligeiramente enriquecido, reactores térmicos de urânio altamente enriquecido, reactores rápidos e fusão nuclear controlada constituirão, certamente, os marcos principais do caminho que salvará a Humanidade de uma penúria de energia que a conduziria a um retrocesso de séculos”.

Apesar das várias tentativas, não há centrais nucleares em Portugal e apesar da previsão otimista em relação à expansão da energia nuclear no mundo, em 2016, a energia nuclear era responsável por apenas 11% da energia elétrica produzida. A fusão nuclear, por seu turno, ainda não é uma realidade que se possa juntar às fontes renováveis de energia que estão em expansão no nosso planeta.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31306, 17 de agosto de 2017, p.13)