sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2012: Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos




Considerando que mais de 1,4 milhões de pessoas em todo o mundo possuem condições de vida infra-humanas por não terem acesso à electricidade, a ONU proclamou 2012 como Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos.

A iniciativa referida insere-se noutra mais ampla “Energia Sustentável para Todos” que pretende até 2030 assegurar os seguintes objectivos:

– Assegurar que todos tenham acesso a serviços modernos de energia;
– Reduzir em 40% a intensidade energética global;
– Aumentar em 30% o uso de energias renováveis em todo o mundo.

Por cá e um pouco por todo o mundo, a hipocrisia vai ditar as suas ordens, isto é vão-se promover mil e umas comemorações e acções simbólicas quando no essencial tudo vai continuar na mesma: tudo se fará para aumentar os lucros das empresas, estejam elas nas mãos do capitalismo de estado ou privado.

Alguns sinais de que não há razões para termos esperança, se não formos capazes de mudar os autores das políticas energéticas são já visíveis e ocorreram este ano:

No continente português, a venda de parte da EDP a uma empresa do estado chinês responsável pela construção de uma barragem causadora de sérios problemas ambientais e sociais, de que destacamos o facto da mesma ter desalojado um milhão de cidadãos, a maioria dos quais não recebeu uma indemnização justa nem teve direito a realojamento.

Nos Açores, é de realçar a não existência de qualquer política energética, que aposte na redução dos consumos sem perda da qualidade de vida e que fomente a autoprodução e a eficiência energética.

Para além do navegar à vista e de erros que terão sido cometidos em alguns projectos, como o geotérmico na Terceira, etc., a insistência na construção de uma incineradora para produção desnecessária de electricidade, associada a uma hídrica reversível nas Furnas, é um erro tremendo que, para além de ser um desbaratamento de dinheiros públicos, porá em causa a qualidade ambiental e a saúde dos cidadãos.

José Soares

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Parlamentar ou para lamentar?




1- Falsear a história

Infelizmente não é apenas no que diz respeito à indústria tauromáquica que há quem pretenda alterar a história, ignorando as fontes ou deturpando os factos, para adequá-la às ideologias ou aos interesses dos que, hoje, dominam as sociedades.

Para que os historiadores das touradas não digam que não sabiam, abaixo divulgamos um texto de Alfredo da Silva Sampaio (1872 - 1918) que foi um médico açoriano que se notabilizou como naturalista, como fundador do primeiro posto de observação meteorológica na ilha Terceira e autor de uma vasta obra sobre a história, a geografia e a história natural daquela e que se insurgiu contra o barbarismo das touradas à corda, que na sua altura eram muito mais violentas/desumanas do que são hoje.

Sobre os promotores das touradas à corda, Alfredo Sampaio escreveu o seguinte:
“Ou são os impérios que promovem este divertimento público, ou qualquer influente político que, querendo ser grato aos seus amigos, promove e concorre com a maior parte das despesas.”

Terá sido para manter a tradição dos políticos financiarem as touradas que a ALRAA- Assembleia Legislativa Regional dos Açores decidiu organizar uma?

2- Tourada parlamentar

Como foi amplamente divulgado pela comunicação social, dos Açores, a integração de uma tourada à corda no programa das comemorações do Dia dos Açores, do presente ano, foi contestada por muitos cidadãos não só dos Açores, mas também do continente português e do estrangeiro.

Mas não foram só os cidadãos ditos comuns que criticaram aquela ideia/acção peregrina, que terá partido de algumas pessoas, muito bem conhecidas e que pouco adeptos eram de touradas, pelo menos na sua juventude. Com efeito, foram também contestadas por alguns deputados que não compareceram ao evento.

Sabe-se, também, que num sistema “partidocrático”, como o nosso, a democracia não passa de uma miragem e a independência dos deputados é um sonho que alguns gostariam de ter e que outros nem por isso, pois nasceram para serem submissos aos aparelhos partidários. Assim, para agradar às chefias e para não perderem um bom lugar nas listas de candidatos nas próximas eleições regionais, alguns deputados correram, a bom correr, para a dita tourada.

Ao que conseguimos apurar, os cerca de 350 (trezentos e cinquenta) e-mails enviados aos diversos deputados mencionavam que a Região estava “a subverter o seu papel, promovendo e instigando a violência e a discriminação e a fomentar a discórdia e a desunião, entre os açorianos, quando opta por esbanjar dinheiro público num espectáculo que cada vez mais pessoas contestam” e acrescentavam “quando o movimento pelos direitos dos animais - como já foi o das mulheres, dos negros, das crianças, dos velhos, dos deficientes - em todo o mundo ganha expressão e força, nos Açores perde-a” e terminavam “os Açores, como destino turístico de excelência, nomeadamente na sua ligação com a natureza, não pode pactuar com actividades que prejudicam o desenvolvimento dum turismo de qualidade ligado ao respeito pelos animais e valores naturais”. Além disso, os cidadãos que enviaram os e-mails para além de solicitarem para que os deputados manifestassem o seu repúdio pela realização da tourada no Dia dos Açores pediam para que os mesmos não comparecessem ao acto.

Espantados ficamos quando tomamos conhecimento de que o presidente da ALRAA havia considerado o primeiro e-mail como uma petição e os restantes como subscrições da referida petição. Será que ele (ou os seus serviços) teve o cuidado de verificar se o teor das mensagens era o mesmo?

Não se tratando quanto a nós de qualquer petição, a única razão que descortinamos para o que foi feito, terá sido uma eventual falta de “trabalho” por parte dos deputados que integravam a Comissão de Assuntos Sociais da ALRAA que, apesar de tudo, não deverão ter dispendido muita energia para chegar à conclusão de que a putativa petição não cumpria os requisitos necessários para o efeito, isto é não era endereçada ao Presidente da Assembleia, não indicava o nome completo do subscritor e o nome de documento de identificação válido e o respectivo domicílio.

Enfim, pura perda de tempo o que é inadmissível nos dias que correm.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, nº 27019, p.14, 28 de Dezembro de 2011)

domingo, 25 de dezembro de 2011

O Touro não gosta de touradas

domingo, 18 de dezembro de 2011

Diário Insular volta a confirmar o que já havia sido denunciado em 1981



Armamento Nuclear na Terceira

Há dias alertava, num artigo saído neste jornal, para os perigos que adviriam para todos nós se quem nos governa autorizasse a instalação de armas nucleares no nosso território.

Neste pequeno artigo, irei divulgar algumas das conclusões (só as que nos dizem respeito) de um estudo sobre questões militares da autoria de Alberto santos, doutor em Sociologia, antigo professor no Instituto de Ciências Sociais e Políticas de Lisboa, editado pela Fundação para os Estudos de Defesa Nacional de França, presidida pelo General Enri de Bordas.

A dado passo do seu trabalho, podemos ler:” Na Terceira, os americanos aumentaram consideravelmente o porto da Vila da Praia da Vitória a fim de que pudesse receber os submarinos nucleares Polaris- Poseidon” e mais adiante “... no porto da Vila da Praia da Vitória e ao largo do arquipélago estacionam os submarinos nucleares do tipo Trident e Poseidon”.

Que consequências poderão advir da presença de tais submarinos nas nossas costas?

Pesquisas realizadas pelo centro de estudos tecnológicos do Japão revelaram que a radioactividade subia de 30 a 40% em Okinava quando o navio nuclear norte-americano “Long-Beache” estacionava na base de “White Beache”.

E o que representa este aumento de radioactividade para o meio ambiente, isto é, para o solo, o ar e o mar?

Sabemos que as radiações atómicas atacam as células de todos os seres vivos, plantas, animais, ou o homem, provocando uma série de doenças que poderão ir no caso de um indivíduo, desde uma queimadura de pele até à morte em poucos dias por “doença de radiação”, passando por leucemia ou cancro de pulmão. Sabe-se, também, que, no homem e nos restantes animais, as células mais sensíveis às radiações são as células reprodutoras, que podem sofrer importantes mutações. Isto pode originar o aumento do número de abortos e de partos prematuros, nascimentos de seres defeituosos e até modificações permanentes nas espécies.

A simples presença destes submarinos constitui já de si um perigo para todos nós pois não existem meios quer humanos, quer técnicos que garantam o mínimo de segurança em caso de acidente dos vários engenhos nucleares quer sejam bélicos quer não. Este perigo é agravado se se confirmar a existência de depósitos de armamento nuclear como se pode deduzir do trabalho que venho citando, pois a dado passo, podemos ler: “ ...Outros silos de armas nucleares parecem estar instalados na Base bem como no interior da ilha Terceira”, logo em caso de um conflito nuclear só nos espera a destruição.

Existindo de facto armas nucleares em território português (no passado dia 2, o jornal “A União”, num artigo intitulado “Armas atómicas em Portugal por acordo secreto com os E.U.”, também levantava esta hipótese), tanto os nossos governantes, como os partidos da oposição têm conhecimentto de tal facto sendo, portanto, uma verdadeira hipocrisia quer as declarações que tanta tinta têm feito correr na nossa imprensa, quer os projectos de lei que têm sido apresentados na Assembleia da República.

( Publicado no jornal “Diário Insular”, 4 de Julho de 1981)

sábado, 10 de dezembro de 2011

A Propósito de Aves



1- A estrelinha ou ferfolha é uma ave granívora?

Uma notícia da Agência Lusa publicada, no Açoriano Oriental, no passado dia 29 de Outubro, e em outros órgãos de comunicação social regionais e nacionais sobre o anúncio, por parte do Governo Regional dos Açores, de um conjunto de medidas para a conservação do habitat da estrelinha-de-Santa-Maria é deveras reveladora do deslize governamental ou da criatividade do(a) jornalista.
Nada tenho contra a substituição das espécies exóticas existentes no Pico Alto por espécies endémicas e acho que tudo deve ser feito para a protecção da estrelinha de Santa Maria, que, de acordo com a versão mais recente do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, encontra-se criticamente em perigo, isto é enfrenta um risco de extinção na natureza extremamente elevado.
Mas o que me levou a escrever esta nota foi a divulgação de uma pretensa alteração dos hábitos alimentares da estrelinha.
De acordo com o texto que venho mencionando, o Secretário Regional do Ambiente terá afirmado que a estrelinha é “uma ave granívora, que depende da vegetação natural de grãos, que é muito reduzida na ilha de Santa Maria”.
Foi precisamente esta afirmação que me deixou perplexo, já que sempre ouvi dizer que a estrelinha é uma ave insectívora. Como não sou especialista no assunto, fui consultar tudo o que estava ao meu alcance e não fiquei com quaisquer dúvidas. Com efeito, toda a bibliografia consultada, confirmou que a estrelinha alimenta-se de insectos (Observação de Aves nos Açores, de Pedro Rodrigues e Gerbrand Michielsen) ou mais especificamente de “insectos, vermes minúsculos e aranhas” (Aves dos Açores, de Carlos Pereira).
Nova descoberta científica, erro colossal ou invencionice jornalística?
Também, não fiquei suficientemente esclarecido acerca do que efectivamente se pretende para Santa Maria. Criar um projecto “estrelinha”, à semelhança do Projecto Life Priôlo?

2-Turismo de aviário

Os últimos tempos têm sido pródigos em polémicas a propósito de uma petição lançada por um grupo de ambientalistas, ecologistas, ornitólogos e observadores de aves que pretendem, no essencial, duas coisas: evitar a inclusão de aves nativas dos Açores na lista de espécies cinegéticas e a introdução na região de espécies exóticas para serem caçadas.
A petição, que já seguiu para a Comissão de Assuntos Parlamentares, Ambiente e Trabalho para ser anal e já foi assinada por mais de um milhar de cidadãos nacionais e estrangeiros, terá sido responsável por uma tomada de posição pública por parte da SPEA- Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.
Embora não me reveja nas posições da SPEA, associação que desenvolve projectos “em conjunto” ou, melhor, financiados pelo Governo Regional dos Açores, considero que foi positiva a sua defesa da “suspensão da caça com munições de chumbo em sistemas aquáticos, a suspensão de caça aos patos, a suspensão de introdução de espécies exóticas e a regulamentação da caça em áreas protegidas e de interesse para turismo de natureza”.
Sobre este assunto, seria de todo o interesse ouvir ou ler a opinião de todas as outras associações que se dizem de ambiente ou, pelo menos, das que se fazem representar no CRADS- Conselho Regional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. É que tenho acompanhado, através da página da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, a sua nula actividade quanto à emissão de pareceres qualquer que seja o assunto em questão. Se nada têm a dizer sobre nada, não acham que seria um favor que fariam aos cofres da região a sua não presença em reuniões daquele órgão que, na verdade, para pouco serve.
Se para a SPEA parece não haver incompatibilidade entre a morte das aves e a sua observação, para o vice-presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, os Açores encontraram um novo maná, a observação de aves engaioladas. Com efeito, é dele a seguinte afirmação: “a observação de aves criadas em cativeiro…pode constituir um nicho de mercado turístico nos Açores”.
Quanto ao conceito de biodiversidade do Dr. Bolieiro, nem vale a pena comentar.
Teófilo Braga
Correio dos Açores, 7 de Dezembro de 2011, p. 13)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011