domingo, 20 de março de 2011

O despejo de peixe para a lixeira: crime ambiental e social que persiste




Mar Açoriano: A fome e a lixeira


Em Abril de 2010 publicou o semanário Tribuna das Ilhas um artigo da minha autoria intitulado “A Pesca do Chicharro”, no qual alertava para o elevado número de licenças de pesca com redes de argola passadas para barcos da Ilha de São Miguel que fazem a pesca do chicharro.

Passado um ano, o peixe continua ir para lixeira e os pescadores, que normalmente fazem esta pesca, a ganhar soldadas miseráveis!! Os Açores beneficiam-se de situação geográfica privilegiada relativamente a muitas outras paragens, pese embora o facto de, nos últimos anos, os invernos serem bastante rigorosos e, por consequência, os pescadores ficarem por longos períodos sem poder sair para o mar. Claro, quando o
tempo permite, todos procuram pescar o máximo possível e então a oferta (no caso chicharro) é muito superior ao consumo. Descem substancialmente os preços na Lota e há mesmo peixe que não consegue ser vendido, tendo como destino a lixeira. Actualmente vivemos nos meandros de uma crise que uns poucos criaram e que muitos, a grande maioria, está pagando os respectivos custos. Algumas das entidades que praticam a caridade (Cáritas, Cozinha Económica, etc) quase já não conseguem dar resposta a tantas e tantas solicitações. Hoje não são só os que “tradicionalmente” eram considerados pobres, muitos mais vieram e engrossaram a fileira. Também não há professor que não conheça na respectiva escola casos de crianças com fome. Será que alguém entende que nestas nossas lindas Ilhas se passe fome?? E cada vez há mais fome!! Diga-se o que se disser mas “alimentar” de peixe a lixeira enquanto se passa fome é, no mínimo, um atentado à nossa dignidade!!

As licenças para redes de cerco, os subsídios atribuídos para compra e apetrechamento das embarcações que operam com este tipo de aparelho, que à partida podia ser considerada uma boa medida de gestão, só não foi uma vez que tais licenças e subsídios foram dadas indiscriminadamente, mais uma vez não foi tido em conta (a existir) qualquer parecer científico ou estudo económico. Aliás, esta parece ser prática recorrente por parte dos responsáveis por tão importante sector da nossa economia – as Pescas. Veja-se o caso das licenças de pesca para demersais passadas pelas entidades regionais com competência na matéria a embarcações que operam no Mar dos Açores com companhias exteriores à Região (Espanhóis, Peruanos e outros) e que continuam a delapidar o pouco que nos resta, contribuindo decididamente para mais falências dos pequenos armadores. Não é tornando os pescadores subsídio/dependentes, nem com medidas que estão contribuindo para falências que se dignifica tão importante e imprescindível profissão, que já viveu melhores dias por incrível que pareça. Algo está errado e só quem não quer não entende!!!

Autor: Genuíno Madruga
 
Fonte:  Correio dos Açores, 18 Março 2011


Nota: A opinião acima, de uma pessoa que não conhecemos pessoalmente, parece-nos lúcida e é semelhante à de muitas outras vozes que se têm levantado contra este insulto às pessoas que nesta região e no mundo inteiro passam por dficuldades derivadas da má gestão dos governantes e de todos os que orbitam à sua volta. Como poderão continuar estes senhores a falar em solidariedade social e em desenvolvimento sustentável?

TB