segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Nuclear e alterações climáticas:Desmontemos as ideias feitas!


Clima: o que dizem os cientistas?

Segundo a comunidade científica internacional, a subida da temperatura média do globo deve ser mantida abaixo de +2ºC para que se evitem os efeitos mais catastróficos das alterações climáticas. Para isso, é necessário reduzir as emissões mundiais de gases com efeito de estufa em pelo menos 80 por cento até 2050, tomando como referência o ano de 1990. Quanto aos países industrializados, principais emissores de gases com efeito de estufa, deverão chegar a reduzir as suas emissões em 40 por cento logo em 2020!

Uma tecnologia «fora de propósito» e ineficaz
Das emissões mundiais de gases com efeito de estufa, 75 por cento são provenientes de sectores sem qualquer ligação com a produção de electricidade, ou para os quais recorrer à electricidade representa um rendimento particularmente mau: agricultura, exploração florestal, processos industriais, transportes, aquecimento, etc. O nuclear está portanto fora de propósito nessas áreas!

A sua capacidade para reduzir os 25 por cento de emissões restantes é extremamente medíocre. Longe de ser antinuclear, pelo contrário, a Agência Internacional da Energia incentiva, contra tudo o que aconselha a razão, o crescimento contínuo do consumo de energia. No entanto, é ela quem calcula que o nuclear necessitaria de um custo de pelo menos um bilião de euros (10E12) para reduzir em apenas 6 por cento as emissões de CO2 ... contra 54 por cento para as economias de energia renováveis, a um custo muito inferior!

Como são necessários pelo menos 10 anos para construir um único reactor, essa redução irrisória e hipotética só começaria a partir de 2020, ou seja demasiado tarde.

Sim, o nuclear emite gases com efeito de estufa!
A fileira nuclear emite quantidades não desprezíveis de gases com efeito de estufa, ligadas ao ciclo de vida dos reactores (construção, desmantelamento...) e do seu combustível (extracção, transporte, reprocessamento...). Mas, sobretudo, o nuclear não permite recuperar o calor libertado quando da produção de electricidade, ao contrário de outras tecnologias, impondo pois que se produza energia suplementar para as nossas necessidades em calor. Produzir electricidade e calor em cogeração permite emitir 7 vezes menos gases com efeito de estufa do que um sistema energético nuclearizado!

O nuclear: caro... e contraproducente!
Por cada euro investido, o recurso à melhoria da eficiência energética e a determinadas energias renováveis apresenta até 11 vezes melhor desempenho que o nuclear para reduzir os gases com efeito de estufa! [1] Ora, a tecnologia nuclear é um verdadeiro sorvedouro financeiro. Por essa razão, ela entrava o desenvolvimento rápido e maciço das verdadeiras soluções contra as alterações climáticas.

De facto, o nuclear exige investimentos consideráveis em matéria de infra-estruturas e monopoliza enormes subvenções públicas, dois terços das quais provenientes dos orçamentos europeus de pesquisa sobre energia. Os custos futuros do desmantelamento das instalações nucleares e da gestão dos resíduos radioactivos ascenderão a milhares de milhões de euros.

Centrais nucleares vulneráveis às alterações climáticas
Quanto mais calor fizer, menos operacionais ficam os reactores nucleares: a quarta parte do parque nuclear francês teve que parar em 2003 devido à canícula estival! Os acontecimentos climáticos extremos (tempestades, inundações...), cuja frequência está a aumentar, aumentam também o risco de acidentes. Por isso, em 1999, a central de Blayais (Gironda, França) esteve perto da catástrofe devido a uma inundação, e a grande cidade de Bordéus esteve prestes a ser evacuada.

Uma indústria poluente e perigosa
Em funcionamento normal, a fileira nuclear polui as águas e os solos, nomeadamente quando da extracção do minério de urânio, e lança permanentemente radioactividade para o ambiente. Um estudo científico alemão evidenciou um acréscimo de 117 por cento de leucemias infantis até uma distância de 5 km de determinadas centrais. Um acidente importante, sempre possível, contaminaria vastos territórios por milhares de anos – e não existe nenhuma solução para gerir os resíduos nucleares. Por fim, a multiplicação dos reactores nucleares favorece a proliferação das armas atómicas.

Criar mais emprego com outras energias
Em menos de 10 anos, a Alemanha criou cerca de 300 mil empregos no sector das energias renováveis. Em França, as renováveis criaram 51 mil empregos apenas no ano de 2007, apesar do sector dispor de fraco apoio político e financeiro. Para investimento igual, as economias de energia e as energias renováveis criam 15 vezes mais empregos que o nuclear!

As verdadeiras soluções existem, recorramos a elas!
Em matéria de política energética, numerosas medidas pertinentes devem ser concretizadas (eficiência energética, economias de energia, desenvolvimento das energias renováveis...), mas também noutros sectores: luta contra a desflorestação, transição para uma agricultura sustentável, relocalização das actividades económicas... Sem esquecer a redução das emissões de metano, gás que aquece 49 vezes mais que o CO2. A sua recuperação nas lixeiras e aterros, em França, permitiria evitar muito maior quantidade de gases com efeito de estufa do que a construção de 3 reactores EPR (o actual tipo de reactor chamado de terceira geração)!

Numerosos estudos [2] demonstraram que as alternativas energéticas já disponíveis permitiriam simultaneamente lutar eficazmente contra as alterações climáticas e dispensar totalmente a electricidade de origem nuclear... que, hoje, representa apenas 2,4 por cento da energia consumida no mundo!

Notas
[1] O que foi demonstrado em 2008 pelo conhecido Rocky Mountain Institute (EUA).

[2] Virage-Energie (2008), Greenpeace/EREC (2008), Rede «Sortir du Nucléaire» (2007), Institute for Energy and Environmental Research (2007), Les 7 Vents du Cotentin (2006), Négawatt (2006)...

Fonte: http://www.dont-nuke-the-climate.org/spip.php?article423&lang=pt