sábado, 30 de agosto de 2008

Há Ervas e Ervas


O dicionário diz-nos que daninho é o que pode causar dano, prejudicar. É o caso da Erva Daninha que pode estragar a vidinha às associações ambientalistas cada vez mais institucionalizadas,aos adeptos dos cultivos transgénicos e aos que apregoam que estes são os únicos capazes de acabar com a fome no mundo.

O Gaia diz-nos que as ama e as adora, nós, também, gostamos desta que pode ser lida aqui.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

TEMOS MAIS AMIGOS


Para além dos Amigos vários, que por estes Açores fora existem, os quais a pretexto da defesa do ambiente, pouco mais fazem do que defender o seu património pessoal, desta vez parece-me que surgem uns Amigos a sério. Com efeito, os Amigos da Costa da Povoação pretendem uma melhoria do caminho pedestre para as suas propriedades e electricidade para as suas casas.
Pelo que li nos jornais e pelo que ouvi na rádio, nestes Amigos podemos confiar. Não enganam ninguém...
O único senão que aponto é que a obra em questão deveria ser da responsabilidade de uma qualquer Secretaria que não da do ambiente, a não ser que o Governo Regional dos Açores tenha deste uma perspectiva ampla. Assim sendo, que se acabe com as diversas secretarias e que se crie a Secretaria Regional do Ambiente, Turismo, Agricultura, Florestas e Obras Públicas.



Abaixo, transcrevo notícia publicada no Açoriano Oriental.

Associação pede caminho pedestreA Associação dos Proprietários e Amigos da Costa na Povoação anunciou a necessidade de melhoramento do acesso pedonal à costa da Povoação, onde existem cerca de noventa habitações de veraneio.

Vítor Campos, presidente da associação criada há um ano, entende que devem ser melhorados os acessos pedestres ao local porque actualmente há alguma dificuldade em chegar a algumas habitações.

“Não pretendemos acesso para automóveis, mas apenas a melhoria dos caminhos pedestres. Notamos que existem pontos onde se passava com facilidade e agora não conseguimos passar”, constata o líder da associação representativa dos moradores e amigos da Costa da Povoação.
Nesse sentido, Vítor Campos pretende sensibilizar governo regional e câmara municipal para a necessidade de “garantir um acesso pedonal durante todo o ano para o acesso às residências”

A própria associação considera que criar uma estrada “será mau, devido aos malefícios da massificação”.

As habitações da Costa da Povoação também não estão ligadas à rede eléctrica, sendo que a maioria dos proprietários dispõe de geradores para garantir a utilização de electricidade, enquanto alguns moradores pensam adoptar sistemas fotovoltaicos.

A aplicação de um sistema eléctrico que sirva as habitações na Costa da Povoação é um dos próximos objectivos da associação, que ainda se encontra a estudar as alternativas existentes para a implementação do sistema eléctrico.


A secretária regional do Ambiente e Mar, Ana Paula Marques, deslocou-se ontem ao concelho da Povoação para verificar as condições de acessibilidade das habitações da costa da Povoação.

A responsável pela pasta do Ambiente deixou a promessa de que vai realizar um projecto para verificar qual será a melhor forma de construir um caminho de acesso pedonal.

“Vamos verificar com a associação e poder local o que podemos fazer para valorizar este espaço, onde existe a cultura de vinha e as pessoas estão a reconstruir algumas habitações”, afirmou a secretária regional do Ambiente.
Ana Paula Marques explicou que é política do Governo Regional reabilitar os percursos pedestres que servem não só os locais mas também aos turistas, que gostam desse género de passeios.

A governante afirmou que o Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POC) da zona em causa prevê a reconstrução das casas em ruínas, que podem ser ampliadas em cerca de dezasseis metros quadrados, como acontece noutras áreas abrangidas pelo documento.

Relativamente à electrificação da zona, a governante é de opinião que a melhor opção energética reside no aproveitamento da energia fotovoltaica, tendo em conta o sistema de incentivos às energias renováveis disponível nos Açores, através do programa Pró-Energia.

“Se os painéis forem bem instalados passam despercebidos na natureza e representam um salto qualitativo, pois é importante que as pessoas tenham boas condições de salubridade e de higiene e as energias alternativas desempenham um importante papel nesse contexto”, sublinhou a governante Ana Paula Marques durante a visita realizada à Povoação. ||


Luís Pedro Silva, in Açoriano Oriental, 27 de Agosto de 2008

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Proteste contra a Tourada do Sporting Clube de Portugal


Por favor, envie a sua mensagem de protesto contra a "Tourada do Sporting Clube de Portugal" que terá lugar esta 5.ª feira, 28 de Agosto, na abominável Praça de Touros do Campo Pequeno

Por favor, envie a mensagem abaixo sugerida – ou escreva a sua própria mensagem, se preferir – para o Sporting Clube de Portugal, protestando contra esta barbaridade que este clube de futebol irá promover no Campo Pequeno. Envie a sua mensagem para servico.socio@scp.pt; Com Conhecimento (Cc) a campanhas@animal.org.pt.

Mensagem Sugerida

Exm.os Senhores,

Venho repudiar, da forma mais firme e convicta possível, o facto do Sporting Clube de Portugal vir, novamente, organizar um espectáculo cobarde, degradante e indecente de violência contra animais como é o caso da "tourada do Sporting" que acontecerá no Campo Pequeno esta 5.ª feira, 28 de Agosto.

Não posso conceber por que razão haveria um clube de futebol de se envolver com touradas. São actividades completamente distantes uma da outra – sendo de destacar que o Sporting Clube de Portugal, como qualquer outra entidade, só deveria querer manter essa distância, dada a natureza profundamente imoral e a todos os títulos censurável do espectáculo tauromáquico enquanto expressão da agressividade, da crueldade e da tirania que os humanos exercem contra os outros animais.

Numa altura em que a maioria absoluta dos portugueses cada vez mais afirma a sua vontade de ver as touradas passarem à história e em que várias empresas se distanciaram das touradas por não quererem estar associadas a estes espectáculos vergonhosos, é particularmente grave ver o SCP a continuar a colocar-se do lado do obscurantismo e da violência gratuita que a tauromaquia representa.

Se até já um tribunal considerou as touradas espectáculos violentos, que consistem na inflicção de sofrimento cruel e prolongado a animais e que, por isso, são inadequados para crianças e adolescentes, podendo insensibilizá-las quanto ao sofrimento dos outros e habituá-las à violência, como pode uma instituição desportiva vir associar-se a esta actividade horrenda?

Deixando a V. Ex.as a certeza de que, tanto para mim quanto para tantas pessoas quantas consiga informar acerca desta vergonha, o SCP perdeu a sua respeitabilidade,

Apresento os meus cumprimentos,

Nome:
Cidade:
E-mail:

Recebido por mail da associação Animal

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

NOVA ONGA NA TERCEIRA?



Por motívo de férias das ONGAS, por alguma(s) daquelas não o ser(em) o que diz(em) ser, porque não há tempo para tudo, ou porque estamos em pré-campanha eleitoral, coube ao PSD denunciar ilegalidades relativas à extracção de inertes na ilha Terceira.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

PARA MEMÓRIA FUTURA


O movimento de defesa do ambiente, nos Açores, tem uma história que está por escrever.

São as associações formais ou informais que vão surgindo e que vão desaparecendo, sempre muito ligadas a pesssoas, que por mudança de residência, por cansaço, por desilução, por falecimento, ou para abraçar outros projectos, vão deixando lugar a outros.

É uma história de muita generosidade, voluntarismo e dedicação, mas também é uma história de muito oportunismo, de egoísmo e de colaboracionismo, com interesses que pouco têm a ver com o público, e de traição.

Uma parte muito restrita desta história pode ser lida aqui e uma colectânea de artigos publicados ao longo de 21 anos, também pode ser lida aqui.

Quando tiver algum vagar, e chamando os bois pelo nome, conto dar o meu contributo para o registo do que tem sido a actuação das associações e das pessoas a elas ligadas, dos êxistos e dos fracassos, etc..

Embora conheça a frase que diz que Roma Não Paga Traidores, aos "bufos" reservarei um capítulo especial.

Nota- Por enquanto, todos os textos não assinados são da minha inteira e única responsabilidade, não recaindo a mesma sobre qualquer uma das seguintes associações de que sou membro: Amigos dos Açores, Quercus, GEOTA, Campo Aberto e SPEA.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

63 ANOS APÓS HIROXIMA E NAGASAKI



Rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh! não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

Autor: (Vinicius de Moraes)

""Meu Deus, o que foi que nós fizemos?"
Eram 8h 16min 8s. do dia 6 de agosto de 1945. A interrogação foi a primeira reação de um dos tripulantes do Elona Gay, após presenciar a devastação produzida pela primeira bomba atômica jogada sobre uma cidade povoada.
Elona Gay foi o nome dado ao avião norte-americano B-29 pelo seu comandante em homenagem à própria mãe. A cidade era Hiroxima, no Japão, que desapareceu em baixo de uma nuvem em forma de cogumelo. As notícias sobre a cidade eram desencontradas, e ninguém sabia exatamente o que ocorrera. No dia 9 outra bomba atômica foi lançada sobre a cidade de Nagasaki. Os norte-americanos haviam treinado durante meses uma esquadrilha de B-29 para um ataque especial. Nos aviões, quase ninguém sabia o que transportava."

(Extraído de História Net, para saber mais clique aqui)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Ecologia Social: Pobreza e Miséria


Texto de Leonardo Boff

Hoje se fala das muitas crises sob as quais padecemos: crise econômica, crise energética, crise social,crise educacional,crise moral, crise ecológica,crise espiritual etc. Se olharmos bem,verificamos que,na verdade,todas as crise se encontram numa fundamental: a crise do tipo de sociedade que criamos a partir dos últimos 400 anos. Esta crise é global porque este tipo de sociedade se difundiu ou foi imposta praticamente no globo inteiro.

Qual é o primeiro sinal visível que caracteriza este tipo de sociedade? É que ela produz sempre pobreza e miséria de um lado e riqueza e acumulação do outro. Este fenômeno se nota ao nivel mundial. Aí há poucos paises ricos e muitos paises pobres. Nota-se principalmente ao nivel das nações: poucos estratos beneficiados com grande abundância de bens de vida (comida,meios de saude, de moradia,de formação,de lazer) e grandes maiorias carentes do que é essencial e decente para a vida. Mesmo nos paises chamados industrializados do hemisfério norte,notamos bolsões de pobreza (terceiromundialização no primeiro mundo) como existe também setores opulentos no terceiro mundo (uma primeiromundialização do terceiro mundo) no meio de miséria generalizada.

Por que é assim? As críticas vão denunciar o porquê.

l. Três críticas ao modelo de sociedade atual
Há três linhas de crítica ao modelo de sociedade atual. Gostaríamos de enunciá-las rapidamente.

A primeira é feita pelos movimentos de libertação dos oprimidos. Ela diz: o núcleo desta sociedade não está construido sobre a vida,o bem comum de todos,a participação e a solidariedade entre os humanos. O eixo estruturador está na economia. Ela é um conjunto de poderes e instrumentos de criação de riqueza - e aqui vem a característica básica - mediante a depredação da natureza e a exploração do seres humanos. A economia é a economia do crescimento ilimitado,no tempo mais rápido possível,com o mínimo de investimento e a máxima rentabilidade. Quem consequir se manter nesta dinâmica e obedece a esta lógica,acumulará e será rico. Mas tudo isso à custa de um permanente processo de exploração.

Portanto,a economia se orienta por um ideal de desenvolvimento que se coloca entre dois infinitos: o dos recursos naturais pressupostamente ilimitados e do futuro indefinidamente aberto para frente.

Para este tipo de economia do crescimento a natureza é degradada a um simples conjunto de "recursos naturais",ou à matéria prima em disponibilidade dos interesses humanos. Os trabalhadores são considerados como "recursos humanos" ou pior ainda "material humano" em função de uma meta de produção. Como se depreende,a visão é instrumental e mecanicista: pessoas,animais,plantas,mineráis,enfim,todos os seres perdem sua autonomia relativa e seu valor intrínseco. São reduzidos a meros meios para um fim fixado subjetivamente pelo ser humano que se considera o centro e o rei do universo, Este quer enriquecer e acumular bens para si.

Qual a crítica principal que se faz a esta linha? É constatar que esse modelo não consegue criar riqueza sem ao mesmo tempo gerar pobreza; não é capaz de gestar desenvolvimento econômico sem simultaneamente produzir exploração social local e internacional. E ainda não é democrático,porque monta um sistema político de controle e de domínio. Ou cria democracias de elite (as nossas democracias liberais,representativas) ou democraturas (democracias sob a tutela militar). Mas nunca se instaura uma democracia que respeita a palavra democracia,quer dizer, a forma de organização social assentada sobre as maiorias,forma que se articula ao redor do bem estar da maioria mediante a participação que cria mais e mais níveis de igualdade e o sentimento de solidaridade com o respeito das diferenças que são vistas como complementares. Desta crítica nasceram os movimentos dos oprimidos por sua libertação que vão desde a luta dos sem terra,sem teto até os sindicatos bem organizados e combativos. Destarte nasceu uma cultura da cidadania,da democracia,da participação,da solidareidade e da libertação. Aqui lança suas raizes a teologia da libertação,a primeira síntese teológica nascida no terceiro mundo (América Latina) com repercussões em todas as Igrejas e nos centros metropolitanos de pensamento.

Postula-se um desenvolvimento que atenda as demandas de todos e não apenas dos mais fortes.

A segunda linha crítica vem dos grupos pacificistas e da não-violência ativa. Estes grupos notam que o tipo de sociedade de desenvolvimento desigual produz muita violência. Violëncia social e injustiça societária,por causa da própria desigualdade,violência a nivel nacional e internacional. Esta violência é consequência direta da dominação de paises que detem poder tecno-científico sobre os outros mais atrasados. O conflito generalizado tem mil rostos,dos quais os mais conhecidos são os conflitos de classe, de etnias, de gênero e de religiões. O modelo vigente de sociedade não favorece a solidariedade,mas a concorrência, não o diálogo e o consenso mas a luta de todos contra todos. Por isso,as potencialidades humanas de sensibilidade pelo outro,de ternura pela vida,de colaboração desinteressada são secundarizadas para dar lugar aos sentimentos menores da exclusão e da vantagem pessoal ou classista. Para manter a coesão mínima de uma sociedade desestabilizada internamente se fazem necessários corpos militares para controle e repressão. Ao nivel mundial dos blocos (seja antes socialistas e liberais e agora ricos e pobres, sul e norte) se cria o complexo militar-industrial que incentiva a corrida armamentística e a militarização de toda a existência. Dados recentes apontavam que 2/3 da inteligentzia mundial trabalha em projetos militares. Mesmo depois do fim da guerra fria,se aplicam na industria da morte cerca de l-3 trilhões de dólares ao ano; para a preservação do planeta terra sequer l30 bilhões de dólares.

Assim surgiram movimentos pela paz e pela não-violência ativa. Postula-se um modelo social que chegue à justiça mediante a democracia social. A violência militar e a guerra atômica,química e bacteriológica constituem formas específicas de agressão global,capazes de produzir o ecocídio,biocíodio e geocídio de vastas regiões do planeta.

O terceiro grupo de crítica,nos interessa diretamente: são os movimentos ecológicos. Eles constatam que o tipo de sociedade e de desenvolvimento que ela se propõe, não produz riqueza sem ao mesmo tempo gerar degradação ambiental . O que o sistema industrialista mais produz é lixo,rejeitos tóxicos, escórias radioativas,contaminacão atmosférica,chuvas ácidas,diminuição do ozônio,envenenamento da terra,das águas e do ar,numa palavra, deteriorização da qualidade de vida. A fome da população,as doenças,a falta de habitação,de educação e lazer,a ruptura dos laços familiares e sociais são agressões ecológicas contra o ser mais complexo da criação que é o ser humano,especialmente,o mais indefeso que é o pobre e marginalizado.

Estas preocupações estão originando uma cultura ecológica,quer dizer, a consciência coletiva da responsabilidade dos seres humanos pela sobrevivência do planeta,das espécies animais e vegetais, responsabilidade na superação da miséria e da pobreza social no mundo, pelas relações que devem permitir vida para todos e um bem estar dos seres humanos e de todos os seres da natureza.

Importa hoje articular todas estas frentes críticas ao sistema imperante. Urge secundar o surgimento de um paradigma novo de sociedade que não repita os equívos e erros do velho e integre mais humanamente os seres na sociedade. E estabeleça relações mais benevolentes para com o meio-ambiente.

2. Somos parte de um imenso equilíbrio: ecologia social
Queremos agora aprofundar a terceira corrente,a ecológica, na sua dimensão social. O grande desafio vem da pobreza e da miséria. Esses são nosso principais problemas ecológicos e não o mico-leão dourado,o urso panda da China e as baleias do Atlântico Norte.

Digamos logo de saida: pobreza e miséria são questões sociais e não naturais e fatais. Elas são produzidas pela forma como se organiza a sociedade. Hoje temos consciência de que o social é parte do ecológico no seu sentido amplo e verdadeiro. Ecologia tem a ver com as relações de tudo com tudo em todas as dimensões. Tudo está interligado. Não há compartimentos fechados, o ambiental de um lado,o social de outro etc. A ecologia social pretende estudar as conexões que as sociedades estabelecem entre seus membros e as instituições e todos eles para com a natureza envolvente.

Antes de mais nada cumpre enfatizar:

- Não basta,em ecologia, o conservacionismo: conservar as espécies em extinção,como se a ecologia se restringisse somente a um setor da natureza,aquele biótico ameaçado. Hoje todo o planeta deve ser conservado,porque todo ele está ameaçado.

-Não basta o preservacionismo: preservar, por reservas ou parques naturais, regiões onde se conserva o equilíbio ambiental. Isso porpicia apenas o turismo ecológico e induziria a um comportamento reducionista; somente nestas reservas o ser humano teria um comportamento de respeito e veneração, em outros lugares obedeceria a lógica da devastação.

-Não basta o ambientalismo,como se a ecologia tivesse apenas a ver com ambiente natural,com o verde,as águas e o ar. Esta perspectiva pode ser até anti-humanista,segundo a qual,o ambiente é melhor sem o homem/mulher. Estes seriam antes o satã da terra do que o anjo bom e protetor. Diz-se: onde o ser humano anuncia sua presença revela agressão e apropriação egoista dos bens da terra. Essa visão ambientalista é encontradiça em muitos no hemisfério norte. Depois de haverem dominado política e economicamente o mundo, o querem, purificado,somente para si. A realidade é que o ser humano faz parte do meio-ambiente. Ele é um ser da natureza com capacidade de modificar a natureza e a si mesmo e assim fazer cultura; ele pode agir com a natureza expandindo-a, bem como contra a natureza agredindo-a. Devemos estar atentos a um ambientalismo político que esconde por detrás de seus projetos, uma atitude de permanente violação ecológica. Este ambientalismo político quer uma harmonia entre sociedade e ambiente. Mas esta harmonia visa desenvolver técnicas para saquear o ambiente natural com a menor alteração possível do habitat humano. Perdura nesta visão a idéia de saquear a terra,de que o ser humano deve dominar a natureza; então mais que uma harmonia permanente,se quer,na verdade,uma tregua,para a natureza se refazer das chagas, para em seguida continuar a ser devastada. O que importa,hoje, é ultrapassar o paradigma da modernidade,devastador e energívoro e desenvolver uma nova aliança ser humano-natureza,aliança que os faz a ambos aliados no equilíbio,na conservação,no desenvolvimento e na garantia de um destino e futuro comum.

- Não basta a ecologia humana que se ocupa com as ações e reações do ser humano universal,relacionado com o meio-ambiente. Ela é importante,porque trabalha as categorias mentais (ecologia mental) que faz com que o ser humano singular seja mais ou menos benevolente ou mais ou menos agressivo. Mas é ainda uma visão idealista,pois o ser humano não vive no geral mas nas malhas de relações sociais. As próprias predisposições mentais e psíquicas possuem uma característica eminentemente social. Por isso precisamos de uma adequada ecologia social que saiba articular a justiça social com a justiça ecológica. É dentro da ecologia social que os temas da pobreza e da miséria devem ser discutidos. Pobreza e miséria são questões eco-sociais que devem encontrar uma solução eco-social.

a) Que é a ecologia social
Há já reflexões maduras sobre a ecologia social. A começar pela contribuição da enciclopedia francesa de ecologia de Charboneau Rhodes,das obras de antropologia social de Edgar Morin. Importante é o aporte canadense de M. Bookchin e do noruegues A. Naess. Mas ganhou força na A.Latina,particularmente depois da Iª Conferëncia Internacional sobre meio ambiente,organizada pelas Nações Unidas em 1972 em Estocolmo. Ai se confrontaram as duas visões básicas, dos paises do Norte,preferentemente ambientalista e dos paises do Sul,preferentemente político-social. Ai surgiu uma vertente forte latino-americana de ecologia social, no Peru com Carlos Herz e Eduardo Contreras e no Uruguai que encontrou em Eduardo Gudynas um de seus melhores formuladores.

Ele define assim a ecologia social: "é o estudo dos sistemas humanos em interação com seus sistemas ambientais" (Ecología social: la ruta latinoamericana,CIPFE 1990). Os sistemas humanos abarcam os seres humanos individuais,as sociedades e sistemas sociais. Os sistemas ambientais comportam componentes naturais (selvas,desertos,cerrados), civilizacionais (cidades, fábricas) e humanos (homens,mulheres,crianças,etnias,classes etc).

b) Quais as principais questões da ecologia social

Segundo os referidos autores os postulados básicos ecologia social são os seguintes:

l. O ser humano sempre interage intensamente com o ambiente. Nem o ser humano nem o ambiente podem ser estudados separadamente. Há aspectos que somente se compreendem a partir desta interação mútua,particularmente as florestas secundárias,toda a gama de sementes (milho,trigo,arroz etc) e de frutas que são resultado de milhares de anos de trabalho sobre sua genética.

2. Esta interação é dinâmica e se realiza no tempo. A história dos seres humanos é inseparável da história de seu ambiente e de como eles inter-agem.

3. Cada sistema humano cria seu adequado ambiente. É diferente e possui simbolizações singulares, por exemplo,o ambiente próprio habitado pelos yanomamis,pelos seringueiros ou pelos latifundistas,pelos europeus ou pelos indianos.

4. A ecologia social se interessa por tais questões como: Através de que instrumentos os seres humanos agem sobre a natureza: com tecnologia intensiva,como por exemplo com agrotóxicos ou com adubos orgânicos? De que forma os seres humanos se apropriam dos recursos naturais, de forma solidária,participativa ou elitista,com tecnologias não socializadas? Como são eles distribuidos,de forma equitativa,consoante o trabalho de cada um,atendento as necessidades básicas de todos ou de forma elititas e excludente? Uma distribuição desigual afeta de que maneira os grupos humanos? Que tipo de discurso usa o poder para justificar a concentração em poucas mãos,por isso, sua relação de desigualdade que tende à dominação? Como reagem os movimentos sociais no confronto com o estado e com o capital e para melhorar a qualidade de vida no trabalho,na cidade e no campo?

Pertence à discussão da ecologia social,a miséria e a pobreza das populações periféricas,a concentração de terras no campo e na cidade,as técnicas agrícolas e agropecuárias, o crescimento populacional e o processo de inchamento das cidades,o comércio internacional de alimentos e o controle de patentes, a produção do buraco de ozônio,o efeito estufa, a dizimação das florestas tropicais e a ameaça à floresta boreal,o envenanamento das águas,dos solos,da atmosfera etc.

c) Uma ecologia integral
Para uma perspectiva integral,a sociedade e a cultura pertencem também ao complexo ecológico. Ecologia é a relação que todos os seres,vivos e não vivos,naturais e culturais têm entre si e com o seu meio-ambiente. Nesta perspectiva também as questões econômicas,políticas,sociais,eduacionias,urbanísticas,agrícolas entram no campo de consideração da ecologia,como ecologia social. A questão de base em ecologia é sempre esta: em que medida,esta ou aquela ciência,atividade social,prática institucional ou pessoal ajuda a manter ou a quebrar o equilíbrio de todas as coisas entre si, a preservar ou destruir as condições de evolução/desenvolvimento dos seres? Nós somos parte,com tudo o que somos por natureza e fizemos por cultura, de um imenso equilíbrio,do ecosistema. Diz um dos bons ecólogos sociais na América Latina Ingemar Edström,um sueco que vive há anos na Costa Rica:

"A ecologia chegou a ser uma crítica e até uma denúncia do funcionamento das sociedades modernas. Entre as coisas que se tem denunciado temos a superexploração do hemisfério sul,quer dizer, o chamado terceiro mundo,por parte dos paises compatarativamente ricos do norte,do chamado primeiro mundo. Neste sentido,tomar cosnciência sobre a problemática ecológica global deve significar aquirir consciência da situação socio-econômica,política e cultural de nossas sociedades,o que implica conhecer a situação de exploração dos paises do sul pelos industrializados do norte" (Somos parte de un gran equilibro,DEI,Costa Rica l985,12).

3. O atual sistema social é anti-ecológico e gerador de miséria
Dentro dos parâmetros da ecologia social devemos denunciar que o sistema social dentro do qual vivemos - a ordem do capital,hoje mundialmente integrado - é profundamente anti-ecológico.

Em todas as fases ele se baseou e se baseia na exploração das pessoas e da natureza. No afã de produzir desenvolvimento material ilimitado,ele cria desigualdades entre o capital e o trabalho. Disso se segue exploração dos trabalhadores com toda a sequela de deteriorização da qualidade de vida.

Entre nós ele se implantou a partir da Conquista no século XVI com grande virulência pelo genocídio,impondo aos que aqui viviam uma forma de trabalhar e de se relacionar com a natureza que implicava o ecocídio,vale dizer,a devastação de nossos ecosistemas. Nós fomos incorporados a uma totalidade maior que é a economia capitalista. Nosso sistema capitalisa é de economia de exportação dependente.

Implantou-se aqui a apropriação privada da terra,de suas riquezas e das águas que são fonte de riqueza. Esta apropriação se operou de forma profundamente desigual e irracional. Uma minoria possui as melhores terras,muitas vezes,não cultivadas. As terras mais pobres foram deixadas para as maiorias que para sobreviver tem que superexplorá-las e esgotar o solo,terminando por desflorestar as matas e quebrando o equilíbrio natural. Os negros antes escravizados,com a libertação jurídica,não foram compensados em nada. Da casa grande foram jogados diretamente nas favelas. Tiveram que ocupar os morros,desmatar,abrir valas para o saneamento ao ar livre e assim viver sob ameaças de muitas doenças,de desabamentos e de mortes. Todas estas manifestações significam outras agresões ao meio provocadas socialmente.

Hoje a Conquista continua especialmente através da dívida externa que comporta,em seu bojo,uma forte agressão às relações sociais,uma devastação social dos pobres e a contaminação da biosfera pela tecnologia suja que nos é imposta.

Mais e mais fica claro que a dívida externa tem fundamentalmente um significado político. Economicamente os bancos já se asseguraram e se protegeram contra o não-pagamento dela. Mesmo assim é mantida por sua importância política como instrumento de controle e aumento da dependência a partir dos centros de poder nos paises do Norte. Pela dívida o sistema continua se impondo a si mesmo,sua lógica e sua perpetuação. Ele estimula um desenvolvimento que privilegia os mega-projetos e as mono-culturas (soja no Brasil,gado na A.Central, frutas no Chile): ele fornece créditos para implementar tais projetos com financiamentos do Banco Mundial e do FMI; com isso se cria o endividamento; o pagamento da dívida e de seus juros se faz pela exportação; mas pela exportação,cujos preços são aviltados no mercado mundial, não se consegue honrar toda a dívida; então se reduzem os investimentos sociais para com a sobra compensar parte da dívida; esta estratégia produz uma devastação social em termos das políticas publicas concernentes a alimentação,saúde,criação de empregos e organização das cidades; junto com esta taxa de perversidade social caminha o deficit ambiental,pois os pobres ocupam áreas perigosas nas cidades,se lançam na fronteira agrícola,destruindo,no esforço de sobreviver, florestas,produzindo queimadas,poluindo os rios pelos garimpos ou por pesca e caça predatórias; por causa da insolvência dos paises devedores, fazem-se novos empréstimos para pagar os juros,com novos juros aumentados como condição para financiamento de novos projetos ; e assim recomeça a ciranda da dependência,do neo-colonialismo e da dominação.

Cancelar a dívida não resolveria a questão. Enquanto permanecer o modelo de desenvolvimento imperante,saqueador dos homens e da natureza, voltado para fora,produzindo o que os ricos querem que produzamos para eles consumirem, e não atendento o mercado interno,o círculo vicioso retornaria com as mesmas consequëncias perversas.

O economista americano Kennet E.Baoulding chama a economia capitalista de economia de cowboy: baseia-se na abundância aparentemente ilimitada de recursos e de espaços livres para invadir e se estabelecer. É o antropocentrismo desbragado.

A outra economia,para a qual devemos caminhar, a chama , de economia da nave espacial terra. Nesta nave,como em qualquer avião, a sobrevivência dos passageiros depende do equilibrio entre a capacidade de carga do aparelho e as necessidades dos passageiros. Disso resulta que o ser humano deve se acostumar à solidariedade,como virtude fundamental,encontrar o seu lugar no sistema ecológico equilibrado,no sentido de poder produzir e reproduzir a sua vida a vida dos demais seres vivos e ajudar a preservar o equilibrio natural. A terra,portanto, é um sistema fechado,equilibrado e não aberto que permita qualquer tipo de aventura anti-ecológica.

Das reflexões feitas até aqui se depreende a interelação existente entre sociedade e meio-ambiente,como um influencia positiva ou negatiamente o outro.

A proposta de Chico Mendes se tornou paradigmática. Propunha o desenvolvimento extrativista que combinava o social com o ambiental. Ele compreendeu que os povos da floresta (questão social) precisam da floresta para sobreviver (questão ambiental). Ele se deu conta também dos dois tipos de violência,vilência ecológica contra o meio-ambiente e violência social,violência contra os indígenas e seringueiros. Ambas obedecem a mesma lógica,lógica de acumulação via dominação de pessoas e coisas.

Como se fará então o desenvolvimento e como se montará a sociedade dos povos da floresta que rompa com esta lógica? Em primeiro lugar há de se respeitar,apoiar e reforçar todo o conhecimento que aqueles povos da floresta (indígenas e seringueiros) desenvolveram com milênios de história,seu conhecimento da natureza,das árvores,das ervas,do solo,dos ventos,do ruido da selva. E ao mesmo tempo,incorporar tecnologias novas que tragam mais benefícios sociais com a salvaguarda do equilíbrio natural e social.

4. Uma ética sócio-ambiental
É neste contexto que emerge uma nova exigência,de uma ética que não apenas se restrinja aos comportamentos dos seres humanos entre si,mas em sua relação para com o meio-ambiente (ar,terra,agua,animais,florestas etc).

Devemos de saída, ir além uma compreensão da ética ambiental,recorrente nos paises ricos do Norte. Segundo esta ética devemos superar nosso antropocentrismo,limitar a violência contra a natureza presente no paradigma de desenvolvimento ilimitado,acolher a alteridade dos demais seres da criação,desenvolver reverência face à totalidade da natureza. Desta ética emerge, certamente, uma nova benevolência e até a recuperação de um encantamento perdido pelo processo de tecnificação e secularização. Há valores inestimáveis nesta ética ambiental.

Mas ela omite em sua reflexão um elo fundamental: o contexto social,com suas contradições. Não há apenas o meio-ambiente. Nele estão os seres humanos socializados na forma de morar,de trabalhar,de distribuir os bens,de agir e reagir com referëncia a este meio-ambiente; neste contexto social há violências,há os condenados a viver em péssima qualidade de vida,com ar poluido,com águas empestados, morando sobre solos envenenados. Há aqui uma nova agressão.

A ética não pode ser apenas ambiental,mas sócio-ambiental,pois como vimos,o ambiente vem marcado pelo social e o social pelo ambiental.

Discernimos pois dois tipos de injustiças: a injustiça sócio-econômico-política,consequëncia da violência contra os trabalhadores,contra os cidadãos e contra as classes subalternas. Esta injustiça atinge diretamente as pessoas e as instituições sociais. Existe também a injustiça ambiental que é a violência contra o meio-ambiente,contra o ar,contra a camada de ozônio,contra as águas. Estas injustiças afetam indiretamente,mas de forma perversa, a vida humana,produzindo doenças,desnutrição e morte. Não somente para a bio-esfera mas também de forma mais global sobre todo o planeta.

Impõe-se,portanto,uma justiça social que se compagine com a justiça ambiental.

Esta nova ética sócio-ambiental deve manter-se equidistante de duas crispações que sempre quebram o equilíbrio ecológico: o naturismo e o antropocentrismo. Pelo naturismo se concebe a natureza como um sujeito hipostaziado, em si,com suas leis imutáveis,intocáveis e sagradas; os seres humanos devem se submeter a elas. O antropocentrismo diz o inverso,o ser humano é senhor e rei da criação,pode interferir a seu bel prazer e não deve sentir-se ligado e limitado por nada da natureza.

Estas visões são equivocadas,porque separam o que deve vir junto. Natureza e ser humano são sempre interdependentes,um está dentro do outro,são partes de um todo maior. Existe o ecosistema planetário; dentro dele,como um dos seres singulares, está o ser humano,homem/mulher,está a sociedade como conjunto de relações entre estes seres com suas instituições e estruturas de significação.

Como parte e parcela do meio-ambiente o ser humano possui a sua singularidade. É da espécie dos seres vivos que se apresenta como um sujeito moral. Quer dizer, um ser vivo complexíssimo,capaz de agir livremente,de sopesar argumentos em favor e em contra,de tomar posição movido não apenas por interesses mas também por solidariedade,por compaixão e amor. Pode eventualmente pensar e agir a partir dos interesses do outro,. Pode ainda por solidadariedade e amizade sacrificar vantagens pessoais. Ele pode interferir nos ritmos da natureza. Tudo isso o torna um ser responsável. É a responsabilidade que o faz um ser ético. Pode se sentir o anjo bom da natureza,seu guardião,herdeiro responsável pela herança que recebeu do Criador. Como pode se comportar como satã da terra,destruir,quebrar equilíbrios e devastar espécies de seres vivos e até seus semelhantes.

No processo histórico-cultural o ser humano sempre interferiu no meio-ambiente. Aplicou violências bem como aplicou seu ingênio para melhorar em seu benefício certas espécies (o tamate,a batatinha,o milho, etc). Os incômodos ecológicos eram de pouca monta, à exceção talvez, dos maias que devastaram a natureza a ponto de se autodestruirem como cultura. Mas nos últimos quatro séculos com a montagem da máquina industrialista,a agressão se fez maciça e sistemática,transformando tudo em recurso para a acumulação e benefício primeiro dos setores de detinham privadamente esses meios e sem seguida dos demais.

O resultado atual é desolador. O ser humano elaborou uma relação injusta e humilhante para com a natureza. A terra não aguenta mais a máquina de morte ou a voracidade capitalista. Impõe-se uma justiça ecológica.

A justiça ecológica significa: o ser humano tem uma dívida de justiça para com a terra. A terra possui sua dignidade,sua alteridade,seus direitos; ela existiu há milhões de anos antes que surgisse o ser humano. Ela tem direito a continuar a existir em sua complexidade,com o seu patrimônio genético,com seu bem comum, com o seu equilíbrio e com as possibiliades de continuar a evoluir.

Um de seus filhos, o ser humano,se voltou contra ela. A justiça ecológica se propõe uma nova atitude para com a terra,de benevolência e de mútua pertença e ao mesmo tempo uma atitude de reparação das injustiças praticadas. Se o projeto técnico-científico desestruturou,ele pode hoje redimir.

Essa injustiça ecológica (contra o meio-ambiente) se transformou também numa injustiça social porque pela exaustão dos recursos,pela contaminação atmosférica, enfim pela má qualidade de vida foi atingido o ser humano e a inteira sociedade.

Esta nova ética sócio-ambiental só se implementa se surgir mais e mais uma nova consciência planetária,a consciência da responsabildidade comum para com o destino comum de todos os seres. Desta consciência vai se formando lentamente uma nova cultura ecológica,o predomínio de um novo paradigma mais reverente e integrador para com o meio-ambiente.

Um notável filósofo da ética da responsabilidade,Hans Jonas, formulou assim,na linha de Kant,um novo imperativo ético para nossos dias: Comporta-te de tal meneira que os efeitos de tuas ações sejam compatíveis com a permanência da natureza e da vida humana sobre a terra.

Teologicamente podemos falar de pecado ecológico. Quer dizer,daquelas atitudes que comprometem o equilíbrio ecológico e a evolução e que provocam consequëncias perversas para os seres vivos e para os humanos.

Esse pecado ecológico não se restringe apenas ao presente. Ele alcance o futuro,pois podem ser feitas intervenções na natureza cujas consequëncias se prolongam para além da geração atual,atingindo aqueles que ainda não nasceram. O preceito bíblico: "Não matarás"( Ex 20,l3) abarca também o biocídio e o ecocídio futuros. Não nos é permitido criar condições ambientais e sociais que produzam futuramente doenças e mortes aos seres vivos, humanos e não humanos. O pecado ecológico é um pecado social e histórico.

Em razão destes efeitos se entende a solidariedade generacional; cumpre sentirmo-nos solidários para com aqueles que ainda não vieram a este mundo. Eles têm direito de viver,de não ficar doentes,de desfrutar da natureza,de consumir águas limpas,respirar ar oxigenado,de contemplar as estrelas,a lua e o sol,enfim a natureza conservada e integrada humanamente.

Consequëncia desta nova consciência ética é a assim chamada recorversão da dívida externa dos paises devedores em função de políticas protetoras do meio-ambiente natural e social. Segunda esta proposta parte da dívida externa seria cancelada,desde que os estados e as empresas se dispusessen a proteger o meio-ambiente e a manter relações sociais mais simétricas e justas. Mas não basta a reconversão da dívida feita aos estados e às grandes empresas. Para ser socialmente justa deveria incorporar como interlocutores também os grandes movimentos sociais e seus representantes. Eles seriam sujeitos de uma transformação econômica,política e social que atenderia suas demandas históricas e que articulasse a justiça social com a justiça ecológica de forma permanente.

Por outra parte, é farisaico e injusto que os paises ricos do Norte exijam atenção ao meio-ambiente aos paises pobres do Sul,se não lhes dão condições técnicas que facilitem a preservação ecológica. Antes pelo contrário: o que assistimos é a transferência de tecnologias sujas para os paises pobres a fim de que produzam para o mercado interno e internacional os produtos ainda consumíveis mas produzidos com uma taxa considerável de prejuizos ecológicos.

A ecologia convencional surgiu desvinculada do contexto social. Igualmente as teologias vigentes,também a teologia da libertação foram elaboradas sem inserir o contexto ambiental. Agora importa completar as perspectivas numa visão mais completa e coerente: a lógica que leva a dominar classes,oprimir povos e discriminar pessoas é a mesma que leva a explorar a natureza. É a lógica que quer o progresso e o desenvolvimento ininterrupto e crescente,como forma de criar condições para a felicidade humana. Mas esta forma de querermos ser felizes está consumindo as bases que sustentam a felicidade que é a própria natureza e o ser humano.

Para chegarmos à raiz de nossos males e também ao seu remédio,necessitamos de uma nova cosmologia teológica, i.é. de uma reflexão que veja o planeta como um grande sacramento de Deus,como o templo do Espírito, o lugar da criatividade responsável do ser humano,a morada de todos os seres criados no Amor. Ecologia etimologicamente tem a ver com morada. Cuidar dela,repará-la e adaptá-la às eventuais novas ameaças,alargá-la para abrigar novos seres culturais e naturais, eis a sua tarefa e também a sua missão.


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ADENDOS
Exemplos de mútua relação negativa entre o social e o ambiental:
l.Morte de aves em Minas Gerais
Em l985 constatou-se uma mortandade fenomenal de aves em Minas Gerais,cerca de 50.000 entre pombos e gaviões. Verificou-se que estas aves haviam visistado uma plantação de arroz,recentemente,regada com o inseticida Furadan,fabricado pela Guaicuhy Agropecuária. Fenômeno análogo ocorreu na cidade do México. Em 1986 morreram de repente na cidade milhares de pombas e aves migratóiras. Os especialistas constataram que morreram durante uma forte inversão térmica da cidade durante a qual o cadmio e o chumbo de uma refinaria de petróleo a noroeste da cidade não pode se dissipar no ar,ocasionando a morte das aves. Milhares de crianças foram também contaminadas,muitas das quais morreram.

2. O fenômeno da inversão térmica
Tanto S.Paulo quanto a cidade do México apresentam,geralmente,no inverso o fenômeno da inversão térmica.Especialmente grave é o problema na cidade do México. A cidade fica a mais de 2.500 metros de altura,numa imensa planície (outrora um lago) cercada de morros. A inversão térmica ocorre porque camadas de ar contaminado mais denso não podem subir verticalmente até dissipar-se na estratofera. Elas permanecem próximas à superfície da cidade. Formam uma camada densa de névoa,tipo fog ou smog. Com isso a circulação de ar fica impedida e se produz a asfixia de muitíssima gente. Calcula-se que,caminhar pelas ruas da cidade do México por um dia,equivale fumar 40 cigarros diários. Sabe-se que durante a grande inversão térmica de l952 em Londres,morreram 4000 pessoas.Calcula-se que por ano morrem no México cerca de 30 mil crianças e ao redor de l00 mil adultos.

Junto com a inversão térmica se produz no verão as chuvas ácidas. O ar contaminado de ácidos, especialmente de enxofre , nitrogênio e dióxido de carbono contamina por sua vez a água das nuvens. Ao chover afeta as fontes,os lagos,as plantações e animais.

Outras vezes se produz a precipitação ácida provocada pela transformação química da atmosfera,sobrecarregada de áxidos industriais. Cainda em forma de chuva,de neve ou de resíduos secos,contaminam os metais que estão in natura na terra,como o zinco,o chumbo,o mercúrio e alumínio. Estes metais são altamente tóxicos para a vida humana. São absorvidos pela água,pelas hortaliças e legumes e mesmo pelo ar. Não somente a saúde humana é afetada,mas também as matas,os lagos,os animais aquáticos,as plantações,os materiais das cidades. Com um nível crescente,pode-se até interromper a cadeia alimentícia,dos lagos. A flora aquática absorve os tóxicos, que é comida pelos peixes pequenos que então se contaminam,estes servem de comida para os peixes grandes e estes para os seres humanos. Todos ficam contaminados por esta cadeia de envenenamento.

3.Hamburguerização das florestas da A.Central
A partir da criação da rede McDonald em 1955,se produziu um enorme problema ecológico em toda a A.Central.Para baratear a carne dos hamburguers americanos,se começou a importar carne barata da A.Central. As companhias exportadoras de canre,começaram a desmatar, para criar gado em pastoreio extensivo. Entre l960-1980 cresceu a exportação de carne na ordem de 160%. Ao mesmo tempo diminuiu enormemente a mancha verde da A.Central. De 400 mil km2 de florestas únidas havia 20 anos após apenas 200 mil. Como disse o ecólogo Ingemar Hedström,produziu-se uma "hamburguerização" da A.Central (Somos parte de un gran equilibrio,op.cit. 46-47).

Fato parecido ocorreu com os famosos projetos de Daniel Ludwig e da Volkswagen na Amazônia. Em Jari de Ludwig foram desmatados 2 milhões de hectares de florestas.A Volkswagen desmatou l44 mil hectares para no território colocar 46.000 cabeças de gado. Para cada cabeça de gado havia 30 mil metros quadrados. Os projetos fracassaram,as pessoas não foram beneficiadas e todos perdemos as florestas.

(extraído de http://www.leonardoboff.com/site/vista/outros/ecologia-social.htm)

CONTRADIÇÃO A PROPÓSITO DA LAGOA DE SÃO BRAZ?


No passado dia 29 de Junho, Ana Paula Marques, Secretária Regional do Ambiente, a propósito da Lagoa de São Braz, afirmou, ao jornal Açoriano Oriental, o seguinte: “Em termos de classificação não está sob a intervenção da SRAM. Mas os dados que eu tenho relativamente à qualidade da água é que, de facto, é a lagoa mais eutrofizada dos Açores”.

Na publicação do Forum 2013, do Partido Socialista, “Açores - Ilhas de Futuro”, na página 20, pode-se ler: “Admite-se contemplar as Lagoas das Flores com idênticos instrumentos [Planos de Ordenamento de Bacia Hidrográfica de Lagoa], bem como as restantes massas de água designadas “zonas vulneráveis” ao abrigo da Directiva Nitratos (Lagoas do Congro e de São Braz, ambas na ilha de São Miguel).".

domingo, 3 de agosto de 2008

Princípios para um Associativismo Ambiental Alternativo


(Em discussão)

Embora plural no que diz respeito à forma de pensar e viver o ecologismo, consideramos que não se pode separar os ecossistemas naturais da vida do homem na sociedade, não esquecendo que a crise ecológica global não atinge de igual modo as pessoas no mundo.


É o modelo actual de produção e consumo o responsável pela violação dos direitos humanos e ambientais da maior parte da humanidade, sendo também responsável pelo sofrimento infligido aos animais

Defendemos uma nova relação do homem com o ambiente, assegurando que todos os recursos estejam equitativamente repartidos entre todas as pessoas, tanto as do Norte como as do Sul, não esquecendo as gerações vindouras.

Pensamos que um mundo mais justo, pacífico e ecológico só será possível através do contributo de todas as pessoas e não apenas das opiniões dos técnicos ou especialistas.

Assim, consideramos importante que sejam respeitados os seguintes pontos:


1. O capitalismo, seja ele liberal ou de estado é o responsável pela crise global que afecta todos os habitantes do Planeta. A política e a economia deverão sofrer alterações profundas, contemplando o desenvolvimento humano e a satisfação equitativa das necessidades, ultrapassando a sua obsessão pelo crescimento ilimitado.


2. Consideramos que é fundamental o respeito do homem para com os restantes animais domésticos e selvagens, assim é imprescindível promover uma educação, cultura e legislação que garantam os direitos dos animais. A sociedade que defendemos não pode aceitar espectáculos onde se torturem animais, como as touradas, etc.
3. Hoje, a nível mundial, assiste-se à crescente extinção de espécies da fauna e flora, o que se traduz numa perda incalculável de património genético e à delapidação de recursos geológicos do planeta. Consideramos imprescindível a tomada de medidas com vista à conservação da biodiversidade e da geodiversidade.


4. Defendemos uma agricultura sustentável, orientada para a protecção da biodiversidade e do direito dos povos à soberania sobre o seu património genético comum. Assim, consideramos que a aposta deverá ser na soberania alimentar e na agricultura biológica. Opomo-nos ao cultivo e uso na alimentação de Organismos Geneticamente Modificados.


5. A única energia limpa é a que não é consumida. Assim, defendemos um modelo energético alternativo ao actual, com produção descentralizada e baseado na poupança e eficiência energética e nas energias renováveis. Opomo-nos à utilização da energia nuclear, tanto para a produção de electricidade como para a construção de armas, não só pelos riscos envolvidos, mas também por fomentar um modelo de sociedade militarizada e monopolista.

6. A terra é de todos os seus habitantes, daí que sejamos solidários com todos os povos do mundo, defendendo o seu direito à autodeterminação, o respeito às suas culturas autóctones e seus modos de vida. Rejeitamos os impedimentos à livre circulação das pessoas e defendemos que nenhum ser humano possa ser considerado ilegal.

7. Defendemos um modelo de democracia real, onde a participação cidadã e o acesso o mais amplo possível e livre à informação seja a coluna vertebral de todas as deliberações. Não aceitamos os totalitarismos políticos e a acumulação de poder, defendemos a máxima descentralização e pugnamos por um associativismo livre e independente.

8. Somos pacifistas, consequentemente defendemos a solução não-violência dos conflitos e opomo-nos à militarização das sociedades e ao uso da ciência e da tecnologia para fins militares. Advogamos o fim dos exércitos e denunciamos o impacto social e ambiental da indústria militar e do comércio de armas.

9. Defendemos para todas as pessoas trabalhos, dignos e livres de exploração, que contribuam para a satisfação das aspirações individuais e colectivas.

10. Reclamamos uma educação integral e multidisciplinar que torne responsável e consciente o indivíduo da sua posição na natureza e que não reproduza a actual sociedade, discriminatória e competitiva.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A energia nuclear não é segura, não é limpa, nunca foi um tabu e não protege dos choques petrolíferos


O nuclear e os enganos do senhor deputado

Aníbal Fernandes
Engenheiro electrotécnico. CEO da Eólicas de Portugal


O eurodeputado José Ribeiro e Castro escreveu neste jornal um extenso artigo ("Nuclear, pois claro!", 22/7/08) em que defendeu a energia nuclear com base em vários enganos que con­vém esclarecer.


1° engano - Com a energia nuclear, Portugal estaria menos vulnerável à actual crise internacional.


O custo médio da produção eléctrica em Julho 2007 com o petróleo a 70 dólares era (em euros por MWh): França, 30; Alemanha, 37,5; Espanha, 39; Portugal, 45.
Estes custos, em Julho 2008, com o barril a 140 dólares, passaram para: França, 70; Alemanha, 75; Espanha, 68; Portugal, 73. Estes números mostram que o aumento dos custos médios de produção se revelaram mais vulneráveis na proporção inversa da sua capacidade nuclear (França, 59 reactores; Alemanha, 17; Espanha, 9; e Portugal, O). Estes são factos, não palpites.

2° engano - O nuclear é uma energia segura.


A produção da energia nuclear baseia-se na cisão de um isótopo radioactivo. Uma vez provocada a reacção, as temperaturas aumentam indefinidamente até valores a que nenhum material pode resistir. Há pois que controlar esta reacção de modo a que se produza a energia neces­sária para o accionamento da turbina e nunca mais que isso. A perigosidade do processo resulta da sua própria natureza e os riscos estão totalmente ligados à fiabilida­de dos mecanismos de controlo. Sejam eles humanos ou técnicos. Uma pequena falha de um sistema pode assumir aqui proporções catastróficas. Por muito seguras que se­jam as instalações, ninguém pode negar a possibilidade de um acidente, mesmo que a probabilidade seja míni­ma. E os cada vez mais frequentes acidentes ocorridos nos últimos meses em instalações da França (Tricastin), Alemanha (Ass), Espanha (Tarragona) e Suécia (Forsmark) aí estão para demonstrar a fragilidade dos mecanismos de controlo.

3° engano - O nuclear tem de deixar de ser um tabu.

Entre 1978 e 1984, teve lugar a discussão e preparação do PEN (Plano Energético Nacional). Foram seis anos de intensas discussões técnicas, envolvendo inúmeras enti­dades: Assembleia da República, CGR, direcções-gerais, municípios, Banco Mundial, empresas energéticas, entidades académicas, LNETI, etc. E concluiu-se pela instalação de três reactores em Portugal. O Conselho de Ministros de Julho de 84 rejeitou o relatório. E a população também. Veementemente, aliás.
Se houve energia que foi ampla, técnica e publicamen­te debatida e escrutinada, foi a energia nuclear. Dizer o contrário é um sound byte.

4° engano - A energia nuclear é limpa.

A única energia limpa é a que não é consumida. Por isso, seria correcto mostrar o seu comportamento em toda a cadeia de produção, desde a fase de mineração até à arma­zenagem dos resíduos. E ficaria bem ao senhor deputado que, quando mencionasse as fatalidades que ocorrem nas minas de carvão, se não esquecesse das que ocorrem nas minas de urânio. Para obter um quilo de urânio é preciso extrair 45 milhões de toneladas de minério. E depois há que transportar e enriquecer este minério para o transfor­mar em combustível. Todo este processo é energívoro e poluente. Já sem falar do flagelo dos resíduos radioactivos que continuam ao fim de cinco décadas sem uma solução credível para a sua armazenagem segura.

Mas para apurar da "limpeza" do nuclear nem é preciso ir muito longe. Basta que o senhor deputado se desloque às minas da Urgeiriça munido de um dosímetro (as radiações não se vêem, não se sentem e não se cheiram) e verifique os níveis de radiação no local. Como deverá saber, está em conclusão um trabalho de requalificação ambiental do que é seguramente o maior desastre ecológico nacional. E que será pago não por quem comprou o minério há 30 anos atrás, mas por todos nós. E quando se surpreender com níveis 16 vezes superiores aos permitidos pela OMS, talvez entenda por que anda a morrer aquela gente.

Artigo do Público de dia 26 de Julho de 2008

A VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO, O GESPEA, A SRAM E OS MEUS CABELOS


De acordo com informações recolhidas na comunicação social, a SRAM- Secretaria Regional do Ambiente e do Mar já investiu ou vai investir as seguintes verbas:
- 391 mil euros para reabilitação da Mata do Dr. Fraga (Maia, São Miguel), que mais não é do que um espaço de lazer;
- 365 mil euros para a execução do Parque de Merendas do Rosário (Santo António, São Miguel);
- 241 mil euros para dotar duas áreas protegidas de Santa Maria com dois trilhos (Trilho do Barreiro da Faneca e Trilho Figueiral- Touril).
Para o GESPEA- Grupo Para o Estudo do Património Espeleológico dos Açores que ficou responsável pela elaboração do Plano Sectorial das Cavidades Vulcânicas e dos Monumentos Naturais dos Açores (que devia estar concluído em Junho de 2007) 15 mil euros.
Isto acontece, por estarmos num ponto crucial de dois ciclos eleitorais, pela falta de interesse do referido Plano Sectorial para a política (se existe?) de ambiente regional ou pela falta de capacidade do referido grupo para executar um trabalho daquela natureza?
Sinceramente não tenho qualquer resposta para as questões levantadas, uma única coisa vos garanto: quando ouço falar de recuperação e valorização, fico logo com os (poucos) cabelos em pé.