quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Alguns marcos históricos da educação ambiental e da defesa do ambiente (2)



Alguns marcos históricos da educação ambiental e da defesa do ambiente (2)

No texto anterior, apresentámos alguns marcos importantes relacionadas com a defesa do ambiente e a educação ambiental que ocorreram na segunda metade do século XIX.
No texto de hoje, damos continuidade ao proposto através da divulgação de alguns acontecimentos ocorridos na primeira metade do século XX.

Em 1901, o estado português publica legislação relativa ao Regime Florestal e à Defesa dos Povoamentos Florestais e no ano seguinte, em 1902, a 19 de março, foi assinada, em Paris, a Convenção Internacional para a Proteção das Aves Úteis à Agricultura.

Em 1905, foi fundada, em Nova Yorque, nos E.U.A., a National Association on Audubon Societies for the Protection of Wild Birds and Animals, designada atualmente por National Audubon Society. O seu primeiro presidente foi o fotógrafo amador de aves, ornitólogo e homem de negócios William Dutcher (1846 -1920), mas o seu nome foi uma homenagem a John Audubon, o mais ilustre e conhecido ilustrador de história natural do século XIX, que nasceu em 1785, Santo Domingo, hoje Haiti, e faleceu em 1851, em Nova Yorque.

Em 1909, o naturalista suíço, Paul Sarasin (1856-1929), propôs a criação de um comité para preparar a criação de uma Comissão Mundial para a Proteção da Natureza. A sua ideia só foi concretizada 39 anos depois com a fundação da UIPN- União Internacional para a Proteção da Natureza. No mesmo ano, foram criadas a Liga Suíça para a Protecção da Natureza, a Sociedade Sueca para a Protecção da Natureza, a Wildlife Preservation Society (Austália) e a National Conservation Associaton (EUA).

Em 1910, ocorreu, nos EUA, um desastre ecológico com petróleo. Com efeito, entre março daquele ano e setembro de 1911, no vale de S. Joaquim, houve um derramanento de petróleo devido à explosão no poço Lakeview Gusher. Estima-se que foram libertados cerca de 9,4 milhões de barris, destes apenas a metade foi recuperada.

Em 1922, foi fundado, em Londres, num encontro que contou com a presença de 40 países, o Conselho Internacional para a Proteção das Aves (ICBP).

Em 1948, em França, foi criada a União Internacional para a Conservação da Natureza no decorrer da Conferência Internacional de Fontainebleau realizada com o apoio da UNESCO, criada três anos antes.

No mesmo ano, em Portugal foi criada a LPN - Liga para a Proteção da Natureza, que tem por missão “contribuir para a Conservação da Natureza e para a defesa do Ambiente, numa perspetiva de desenvolvimento sustentável, que assegure a qualidade de vida às gerações presentes e vindouras”.

Na origem da criação da LPN está o seguinte apelo, em 1947, do poeta Sebastião da Gama ao Eng. Miguel Neves para que intervenha no sentido de impedir a destruição da Mata do Solitário na Arrábida:

"Senhor Engenheiro Miguel Neves.
Socorro! Socorro! Socorro! O José Júlio da Costa começou (e vai já adiantada) a destruição da metade da Mata do Solitário que lhe pertence. Peço-lhe que trate imediatamente. Se for necessário restaure-se a pena de morte. SOCORRO!"

O Prof. Carlos Baeta Neves (1916-1992), Eng.º Silvicultor e Professor Catedrático do Instituto Superior de Agronomia, tendo tomado conhecimento do apelo, interveio, tendo conseguido impedir a destruição da mata. No ano seguinte, em 1948, fundou a mais antiga organização não-governamental de ambiente da Península Ibérica, a LPN.

Em 1949, é publicado, postumamente o livro de Aldo Leopold (1887-1948), Almanaque do País das Areias, que para alguns autores é o “livro mais importante alguma vez escrito”.

No seu livro, traduzido para português com o título “Pensar como uma Montanha”, a propósito dos professores Aldo Leopold escreveu:

“Cada um deles [professores] seleciona um instrumento e passa a vida a separá-lo dos outros e a descrever-lhe as cordas e teclados….Um professor pode tanger as cordas do seu próprio instrumento, mas nunca as de um outro, e se conseguir ouvir a música nunca deverá admiti-lo junto dos seus pares ou dos seus alunos. Pois todos estão coibidos por um tabu férreo que decreta que a construção dos instrumentos é do domínio da ciência, ao passo que a deteção da harmonia é do domínio dos poetas”.
(continua)

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 31442 de 31 de janeiro de 2018, p.17)